A busca pela paz como um "incômodo" que não deixa o coração descansar. Foi isso que, nos dez anos de seu pontificado, o Papa Francisco se empenhou em fazer, sem perder uma oportunidade, convidando várias vezes, tanto cristãos como não cristãos, a viver dias de jejum e de oração justamente para invocar esse dom tão precioso.
Jejum e oração: um binômio no qual um alimenta o outro, reciprocamente, criando um espaço de descontinuidade dos ritmos cotidianos e uma postura aberta à acolhida. Experimentar uma condição de fraqueza é uma forma de desarmamento, uma consciência do sofrimento alheio que estimula a empatia e a fraternidade, um sentimento de privação que afasta o egocentrismo e convida a se sentir vinculado, e não em conflito, com o outro.
Era 2012, a guerra civil na Síria estava se intensificando: 75% dos rebeldes contra o regime no poder tinham um componente salafista extremista, e o conflito estava se tornando regional. Em 7 de setembro, o Papa Francisco convocou o que hoje lembramos como o primeiro Dia de Oração e Jejum pela paz "na amada nação da Síria, no Oriente Médio, no mundo inteiro!". Na vigília no sagrado da Praça São Pedro, milhares de pessoas se reuniram para direcionar seu olhar interior para essa mesma região que ainda hoje sofre as consequências da destruição, da dor e da morte. "O mundo de Deus é um mundo em que cada um se sente responsável pelo outro, pelo bem do outro", lembrou o Papa. "Quando a harmonia é quebrada, acontece uma metamorfose: o irmão a ser protegido e amado se torna o adversário a ser combatido, a ser suprimido." Em seguida, a denúncia ao fato de que "aperfeiçoamos nossas armas, nossa consciência adormeceu, tornamos mais sutis nossas razões para nos justificar". E o grito: "A violência e a guerra só trazem morte, falam de morte! [...] a guerra é sempre uma derrota para a humanidade".
Era a primeira sexta-feira da Quaresma. O Papa e a Cúria Romana estavam concluindo os exercícios espirituais no que havia sido pensado como um dia especial de jejum e oração pelos povos sul-sudanês e congolês. A preocupação do Pontífice por esses dois países, onde apenas cinco anos depois seria realizada a tão desejada viagem apostólica, ainda se expressava no convite a semear a paz nos lugares onde a guerra civil e a instabilidade política, ao contrário, semeiam morte, insegurança e terror. Já em 23 de novembro de 2017, o sucessor de Pedro participou, na Basílica Vaticana, da iniciativa de oração por essas nações, pedindo também aos não católicos e não cristãos que encontrassem formas adequadas para "dizer concretamente 'não' à violência". "Porque", advertiu o Papa, "as vitórias obtidas por meio da violência são falsas vitórias; enquanto trabalhar pela paz é bom para todos!". Seus pensamentos naquela ocasião se dirigiram especialmente às mulheres que são vítimas de violência em zonas de guerra, às "crianças que sofrem por causa de conflitos aos quais são alheias, mas que lhes roubam a infância e, às vezes, até a vida". O apelo era para que fossem eliminadas todas as formas de hipocrisia, mantendo o silêncio ou negando os massacres de mulheres e crianças. "Aqui", denunciou o Papa, "a guerra mostra sua face mais horrível". E então o apelo aos governantes para que fossem permeados por um espírito nobre, íntegro, firme e corajoso na busca pela paz, "por meio do diálogo e da negociação".
Um mês após a tragédia que atingiu o Líbano, com a explosão no porto da cidade de Beirute, durante a Audiência Geral de 2 de setembro de 2020, o Papa Francisco convocou um dia universal de jejum e oração a ser dedicado em solidariedade, em 4 de setembro, ao País dos Cedros. Porque, como repetiu São João Paulo II em 1989, "o Líbano não pode ser abandonado em sua solidão". Nesse caso, embora não houvesse nenhum conflito em andamento, a estabilidade política, econômica e social do país estava em risco. Considerando que a tolerância, o respeito, a coexistência e o pluralismo moldaram a sociedade libanesa, tornando-a única na região, "para o bem do país", disse Francisco, "mas também do mundo, não podemos permitir que esse patrimônio se disperse". O encorajamento foi para continuar a ter esperança e encontrar a força necessária para recomeçar. O pedido aos políticos e líderes religiosos foi para que "se engajem com sinceridade e transparência no trabalho de reconstrução, deixando de lado os interesses partidários e olhando para o bem comum e o futuro da nação". Para a comunidade internacional, a exortação do Pontífice para apoiar o país e ajudá-lo a sair da grave crise. No dia 4 de setembro, seria o cardeal Parolin quem representaria o Papa no país do Oriente Médio e levaria sua mensagem para que o Líbano "realize sua vocação de fraternidade".
"Intensificar a oração e praticar o jejum, a oração e o jejum, a oração e a penitência, este é o momento de fazê-lo": assim disse o Papa Francisco no Angelus do último domingo de agosto, há dois anos, no auge da crise no Afeganistão. Para o país asiático, que estava passando por semanas terríveis com o retorno violento do Talibã ao poder, o pontífice recomendou que se pedisse misericórdia e perdão ao Senhor. "Estou falando sério", especificou na ocasião, convencido de que a oração e o jejum são eficazes se observados com sinceridade de fé, e que portanto devem ser levados a sério. Portanto, não foi anunciada nenhuma data específica para se reunir dessa maneira, mas o povo de Deus foi mobilizado para não mostrar indiferença a uma população "tão provada". E também neste caso, a preocupação do Papa foi, acima de tudo, com as mulheres e as crianças, a quem pediu que não se esgotasse o envio de sua ajuda e de sua acolhida. A Comunidade de Santo Egídio, acolhendo com particular solicitude o convite de Bergoglio, reuniu-se no dia 15 de setembro em Roma, no coração do Trastevere, segundo as intenções do Pontífice, na certeza de que o jejum e a oração não são experiências anacrônicas ou espiritualistas.
"Que a Rainha da Paz preserve o mundo da loucura da guerra": as palavras de Francisco na Audiência Geral de 23 de fevereiro do ano passado, quando o cenário na Ucrânia parecia estar comprometido. O anúncio do Papa foi o de viver a Quarta-feira de Cinzas, 2 de março, fazendo oração e jejum pela paz no país. Palavras tragicamente proféticas: no dia seguinte ao apelo, o exército russo invadiu a nação ucraniana. Que aqueles com responsabilidade política façam um sério exame de consciência diante de Deus, disse o sucessor de Pedro, que "é o Deus da paz e não da guerra, o Pai de todos, não apenas de alguns, que quer que sejamos irmãos e não inimigos. Rezo a todas as partes envolvidas", continuou o Pontífice, "para que se abstenham de qualquer ação que cause ainda mais sofrimento às populações, desestabilizando a convivência entre as nações e desacreditando o direito internacional". Muitos outros, dezenas e dezenas de apelos de cortar o coração, viriam a seguir. E o povo de Deus não se cansa de vigiar e implorar, ainda, por misericórdia, conversão e reconciliação.
Fonte: Vatican News