"Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus": este versículo do Evangelho deste 29o. Domingo do Tempo Comum inspirou a reflexão do Papa no Angelus dominical.
Diante de milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, Francisco comentou o episódio extraído de São Mateus, que narra a cilada que alguns fariseus e herodianos armam contra Jesus. Vão até Ele e lhe perguntam: "É lícito ou não pagar imposto a César?".
"É uma farsa", explica o Pontífice. Pois se Jesus legitimar o imposto, coloca-se da parte de um poder político pouco tolerado pelo povo, enquanto se disser para não pagá-lo, pode ser acusado de rebelião contra o império. O Mestre, porém, foge desta trapaça. Pede que lhe mostrem uma moeda, que traz impressa a imagem de César, e lhes diz: "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (v. 21).
Essas palavras de Jesus se tornaram de uso comum, prossegue o Papa, mas às vezes foram utilizadas de modo errôneo para falar das relações entre Igreja e Estado. Jesus não quer separar “César” e “Deus”, ou seja, a realidade terrena e daquela espiritual.
"Às vezes, também nós pensamos assim: uma coisa é a fé com as suas práticas e outra coisa é a vida de todos os dias. Não. Esta é uma 'esquizofrenia', como se a fé não tivesse nada a ver com a vida concreta, com os desafios da sociedade, com a justiça social, com a política e assim por diante."
Na realidade, Jesus dá a César e Deus sua devida importância. A César – isto é, à política, às instituições civis, aos processos sociais e econômicos – pertence o cuidado com a ordem terrena e os cidadãos contribuem promovendo o direito, a justiça e pagando honestamente os impostos. Mas a Deus pertence o homem, todo o homem e todo ser humano.
“Isso significa que nós não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum 'César' de turno. Somos do Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano. Sobre a moeda, portanto, há a imagem do imperador, mas Jesus nos recorda que na nossa vida está impressa a imagem de Deus, que nada e ninguém pode obscurecer. A César pertencem as coisas do mundo, mas o homem e o próprio mundo pertencem a Deus: não o esqueçamos!”
Francisco então dirige algumas perguntas aos fiéis: "Sobre a moeda deste mundo está a imagem de César, mas você, que imagem leva dentro de si? De quem você é imagem na sua vida? Nós nos lembramos de pertencer ao Senhor ou nos deixamos plasmar pelas lógicas do mundo e fazemos do trabalho, da política e do dinheiro os nossos ídolos a adorar?"
E concluiu fazendo votos de que a Virgem Santa nos ajude a reconhecer e honrar a nossa dignidade e a de cada ser humano.
- Parem! A guerra é uma derrota, a destruição da fraternidade humana
É o décimo sexto dia de guerra: mais de 4.000 mortos entre os palestinos, 1.400 entre os israelenses, 212 são os reféns.
“É preocupante a possível ampliação do conflito enquanto tantas frentes de guerra já estão abertas no mundo. Silenciem as armas, ouçam o grito de paz dos pobres, das pessoas, das crianças", havia dito o Papa na Audiência Geral da última quarta-feira. Mas a escalada de violência na Terra Santa que se seguiu nesses dias, continua a trazer preocupação e dor:
"Mais uma vez o meu pensamento dirige-se para o que está acontecendo em Israel e na Palestina", disse logo após rezar o Angelus com os milhares de fiéis presentes na Praça São Pedro. "Estou muito preocupado, entristecido, rezo e estou próximo a todos aqueles que sofrem, os reféns, os feridos, as vítimas e a seus familiares."
Diante das notícias que continuam a chegar do conflito no Oriente Médio, Francisco demonstrou particular preocupação pela "grave situação humanitária em Gaza", dizendo-se entristecido de "que também o hospital anglicano e a paróquia greco-ortodoxa tenham sido atingidos nos últimos dias". E renovou seu apelo "para que sejam abertos espaços, que a ajuda humanitária continue a chegar e que os reféns sejam libertados":
A guerra, cada guerra que há no mundo – penso também na martirizada Ucrânia – é uma derrota. A guerra é sempre uma derrota, é uma destruição da fraternidade humana. Irmãos, parem! Parem!
O Pontífice reitera o seu convite feito na Audiência Geral da última quarta-feira para um dia de jejum e oração pela paz:
Recordo que para a próxima sexta-feira, 27 de outubro, convoquei um dia de jejum, oração e penitência, e que naquela tarde, às 18 horas, em São Pedro, teremos uma hora de oração para implorar a paz no mundo.
Na sequência, o Santo Padre recordou o Dia Mundial das Missões celebrado neste domingo, 22 de outubro, e cuja mensagem havia sido publicada na Solenidade da Epifania do Senhor, em 6 de janeiro:
Hoje celebramos o Dia Mundial das Missões, que tem como tema “Um coração ardente, pés que caminham”. Duas imagens que dizem tudo!
Seguiram-se então as saudações aos diversos grupos reunidos na Praça São Pedro para o tradicional encontro dominical com o Papa. Entre os quais:
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos, em particular as Irmãs Siervas de los Pobres hijas del Sagrado Corazón de Jesús, de Granada; os membros do Centro Académico Romano Fundación; a Confraria do Señor de los Milagros, dos peruanos em Roma: e obrigado, obrigado pelo seu testemunho! Continue assim, com essa piedade tão bela...
- Chamada telefônica entre o Papa e Biden: individuar caminhos de paz
Durou cerca de 20 minutos a conversa telefônica que aconteceu na tarde deste domingo, 22 de outubro, entre o Papa Francisco e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O anúncio foi feito pela Sala de Imprensa vaticana, enfatizando que a conversa se concentrou em situações de conflito no mundo e na necessidade de individuar caminhos para a paz.
Foi o Papa quem quis a conversa telefônica.
Ainda nesta manhã de domingo, no Angelus, o Pontífice, com seus pensamentos sobre Israel e Palestina, relançou o apelo para silenciar as armas. E dizendo estar entristecido com os terríveis ataques dos últimos dias ao hospital anglicano e à paróquia greco-ortodoxa, ele pediu que a ajuda humanitária continue a chegar e que os reféns sejam libertados. "A guerra, toda guerra que existe no mundo", disse o Papa, referindo-se também à "martirizada Ucrânia", "é uma derrota. A guerra sempre é uma derrota, é uma destruição da fraternidade humana, Irmãos, parem! Parem!".
Fonte: Vatican News