Cultura

Papa Francisco diz que a guerra é inimiga do diálogo universal





TV Brasil exibe neste sábado (21), a partir das 19h30, os principais trechos de uma entrevista exclusiva do papa Francisco à agência pública de notícias da Argentina, a Télam. Na entrevista, o pontífice afirma que a guerra é inimiga do diálogo universal e que as crises são capazes de gerar crescimento tanto a um país quanto a uma civilização.

“O diálogo não pode ser apenas nacionalista, é universal, especialmente hoje com todas as facilidades que existem para nos comunicarmos. É por isso que falo de diálogo universal, de harmonia universal, de encontro universal. E é claro, o inimigo disto é a guerra. Desde que a Segunda Guerra Mundial acabou, até agora, tem havido guerras por todos os lugares. Foi o que me levou a dizer que estamos vivendo uma guerra mundial em pedacinhos.”

A entrevista foi concedida à presidenta da Télam, Bernarda Llorente, em setembro, portanto, antes do início do atual conflito entre o grupo Hamas e Israel, em 7 de outubro. Na conversa, o papa aponta situações que propiciam ou favorecem as guerras.

“A exploração é uma das origens da guerra. A outra origem é de tipo geopolítico de controle territorial. Há guerras que parecem infinitas, que nascem por razões culturais, mas na realidade são pelo domínio de território”, avalia.

“Também acredito que as guerras são promovidas pelas ditaduras. Existem ditaduras declaradas, encontramos muitas no mundo, e outras que não são declaradas, mas têm o poder de uma ditadura”, complementa.

Francisco também fala sobre a importância das crises na resolução de conflitos. “As crises são como vozes que nos dizem onde devemos proceder”, observa, ao destacar que as crises também geram crescimento, tanto para uma família quanto para um país ou uma civilização. “Se a resolveram bem, houve crescimento.”

Para o pontífice, é um erro acreditar na existência de um Messias capaz de resolver conflitos. “O Messias foi um só e salvou todos nós. O resto são todos palhaços messiânicos. Ninguém pode prometer a resolução de conflitos, a não ser através de crises ascendentes. E não só isso. Vamos pensar em qualquer tipo de crise política, em um país que não sabe o que fazer, na Europa, são várias... O que se faz? Estamos procurando um Messias que venha e nos salve de fora? Não. Vamos procurar onde está o conflito, agarrá-lo e resolvê-lo. Gerenciar os conflitos é uma sabedoria. Mas sem conflitos não podemos ir para frente.”

Na conversa com a presidenta da Télam, o papa também condenou a exploração do trabalho. “Quando você começa a contratar trabalhadores sem carteira assinada para evitar o pagamento de contribuições e negociar o futuro dessas pessoas com a escravidão, é aí que o trabalho começa a adoecer. E, em vez de dar dignidade, o trabalho confere escravidão. Temos que estar muito atentos a isso. E quero deixar bem claro que não sou comunista como dizem alguns (risos). O papa segue o Evangelho.”

 

Confira outras notícias

- Terceiro encontro na Praça São Pedro com procissão e oração do terço

O cardeal Giuseppe Bertello, presidente emérito do Governatorato, irá presidir a oração na noite de 21 de outubro. Todo sábado de outubro tem procissão com velas e oração do terço na Praça São Pedro. Frei Agnello Stoia, pároco da Basílica do Vaticano, sobre a participação da comunidade: "as pessoas sentem fortemente a necessidade de rezar".

O encontro dos sábados à noite, com o terço e a procissão com velas na Praça de São Pedro, já se tornou um compromisso muito aguardado. E é significativa a participação dos fiéis e dos peregrinos nos momentos de oração organizados no âmbito do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano.

"Há uma resposta maravilhosa das pessoas, que são cada vez mais numerosas", confirmou ao canal católico italiano Telepace o pároco da Basílica Vaticana, Frei. Agnello Stoia, citando os últimos acontecimentos diante da guerra na Terra Santa. 

“O Papa Francisco inicialmente nos convidou a rezar pelo Sínodo. E a esse motivo foi acrescentado o da paz no Oriente Médio.”

Uma intenção cada vez mais sentida pelo povo, na esteira dos apelos sinceros de Francisco para se opor à violência, às armas e à vingança com o suave poder da oração. Trata-se, explica ainda Fr. Agnello, "de nos unirmos em torno de todas as pessoas que, neste momento, no Oriente Médio, estão sofrendo para que o Senhor conceda não apenas àquela terra, mas ao mundo inteiro, justiça e paz".

Sinal de comunhão universal

Na noite deste sábado (21), o cardeal Giuseppe Bertello, presidente emérito da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e presidente emérito do Governo do Estado da Cidade do Vaticano, irá presidir a cerimônia. E, previsivelmente, como já aconteceu em ocasiões anteriores, haverá muitas pessoas, com velas nas mãos, seguindo o caminho do ícone da Virgem ao redor do perímetro da colunata de Bernini. "As pessoas sentem fortemente a necessidade de rezar", comenta ainda o pároco franciscano: "a oração pode ser feita em qualquer lugar, o Senhor a acolhe. Mas rezar no abraço da colunata de Bernini sempre assume um significado de comunhão com o Santo Padre e com toda a Igreja universal".

Um encontro que agora virou tradição

É exatamente a numerosa participação das pessoas que está dando a esse momento de oração noturna na Praça de São Pedro a aparência de uma verdadeira "tradição", depois do primeiro ciclo organizado no último período da primavera e verão. O Fr. Agnello está convencido disso: "houve uma boa divulgação, mas à medida que as pessoas participam, elas 'passam a palavra' e convidam outros amigos. E é também por isso que estamos nos tornando cada vez mais numerosos".

Também vale a pena mencionar que o circuito de TV que opera em várias estações de metrô de Roma também está promovendo o evento, do qual - vale lembrar - você pode participar gratuitamente. "Basta se apresentar sob a estátua de São Pedro", enfatiza o Fr. Agello, lembrando outro fator destinado a incentivar a participação daqueles que não estão em Roma.

Para o próximo sábado (28), quando o cardeal Angelo Comastri, arcipreste emérito da Basílica do Vaticano, presidirá a oração, foi preparada a transmissão ao vivo do evento pela televisão.

 

- Membro da presidência colegiada da Bósnia-Herzegovina com o Papa no Vaticano

A relação Estado-Igreja e questões internacionais estiveram presentes na pauta do encontro no Vaticano.

O Santo Padre Francisco recebeu na manhã deste sábado em audiência no Palácio Apostólico vaticano o Sr. Denis Bećirović, membro da Presidência Colegiada da Bósnia e Herzegovina, que posteriormente se encontrou com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, acompanhado pelo arcebispo Paul R. Gallagher, secretário para Relações com Estados e Organizações Internacionais.

Durante os cordiais colóquios na Secretaria de Estado, foi expresso o apreço pelas positivas relações bilaterais, também com o aceno para algumas questões nas relações Igreja-Estado. Falou-se ainda da realidade interna do país, sendo reiterado que a base da paz e da estabilidade é a igualdade jurídico-social de todos os povos constituintes e o diálogo de todos os atores políticos.

No decorrer das conversações, houve uma troca de pontos de vista sobre a situação internacional, com especial atenção para as consequências da guerra na Ucrânia e do conflito na Terra Santa, o alargamento da União Europeia aos países dos Balcãs Ocidentais, bem como bem aos progressos na trajetória europeia da Bósnia e Herzegovina.

Troca de presentes

Como costuma acontecer nessas ocasiões, o Santo Padre presenteou a autoridade da Bósnia-Herzegovina com o alto relevo em bronze 'A paz é uma flor frágil'; uma cópia da Exortação Apostólica 'C'est la confiance'; a Mensagem para a Paz 2023; o Documento sobre a Fraternidade Humana; o livro sobre Statio Orbisde 27 de março de 2020, editado pela LEV.

O Sr. Denis Bećirović, por sua vez, presenteou o Pontífice com o livro Codex diplomatus Regni Bosnae

O Codex diplomatus Regni Bosnae, retirado do volume final da trilogia sobre a Idade Média bósnia, dedica-se à elaboração, tradução e publicação de vários tipos de fontes históricas (documentos, cartas, bulas, notas notariais, instruções, etc.) provenientes de do Estado medieval da Bósnia ou do estrangeiro, mas que falam sobre as circunstâncias na Bósnia. Estas fontes representam aquelas vozes raras do passado e são o único ponto de apoio para basear a ciência histórica objetiva sobre a Idade Média da Bósnia.

O Codex diplomatus Regni Bosnae contém fotografias profissionais, transcrições e traduções de documentos e a contextualização de fontes históricas, visto que o Codex é dedicado, além de especialistas, também a um círculo mais amplo de leitores apaixonados pela história da Bósnia

As fontes históricas deste livro demonstram que o Estado bósnio tinha todos os atributos característicos daquela época de outras entidades políticas – estatais. A peculiaridade fundamental da história da Bósnia medieval reside no fato de o maior número de documentos e cartas originais protegidos hoje se encontram nos arquivos de Budapeste, Veneza e Dubrovnik, e um número menor nos arquivos de Viena, Split, Zadar, Kotor e outras cidades italianas e da Europa Ocidental.

O segundo presente da autoridade da Bósnia ao Papa foi o Documento solene do Rei Tvrtko I Kotromanić, Žrnovnice, 10 de abril – Trstivnica, 17 de junho de 1378, escrito na corte de Trstivnica em 17 de junho de 1378. Trata-se de um dos documentos mais importantes do corpo diplomático da Bósnia medieval. É o primeiro documento real que contém alguns dados raros e preciosos do ato que o precedia em um ano - aquele sobre a coroação feita do banido/governador provincial Tvrtko e a elevação da Bósnia ao status de reino.

Este documento é uma fonte histórica primordial que testemunha a força do Estado medieval da Bósnia, a sua soberania e autonomia.

 

- Card. Pizzaballa: As igrejas permanecem abertas na Terra Santa, é o momento de rezar

O Patriarca Latino de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa, concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal "O São Paulo", da arquidiocese paulistana, com a participação do Card. Odilo Pedro Scherer.

Há mais de 30 anos vivendo no Oriente Médio, primeiro como missionário franciscano, depois como Custódio da Terra Santa, o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém desde 2020, está empenhado na solução do conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas, que já deixou milhares de mortos entre, israelenses e palestinos.

O Purpurado conversou com exclusividade com a reportagem do O SÃO PAULO, por videochamada, na quarta-feira, 18. Também participaram da conversa o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, e o Padre Michelino Roberto, Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação e diretor do semanário arquidiocesano.

Na conversa, o Cardeal Pizzaballa relatou a tensão vivida na região desde os ataques do Hamas ao território israelense ocorridos no último dia 7 e a contraofensiva de Israel na Faixa de Gaza. O Patriarca lembrou que há cerca de mil cristãos em Gaza, sob condições precárias, sem ter para onde ir.

O Franciscano também afirmou que este conflito provocou uma profunda divisão entre israelenses e palestinos. Sublinhou, ainda, que o Hamas não representa o povo palestino, o que prejudica os caminhos possíveis para a solução da histórica tensão entre israelenses e palestinos.

Por fim, o pastor dos católicos na Terra Santa enfatizou que, para alcançar a verdadeira paz na região, será necessário que ambos os lados reconheçam os erros cometidos no passado e tenham a coragem de escolher prioridades e renunciar àquilo que for necessário em vista de um bem maior. Confira a entrevista.

O SÃO PAULO – Como o Patriarcado de Jerusalém está vivendo estes dias de conflito?

Cardeal Pierbattista Pizzaballa ­– O ataque ao sul de Israel foi para nós uma grande surpresa. Estávamos em um período muito bonito também como Igreja. Começávamos iniciativas muito belas. De repente, nos últimos dias, toda a perspectiva mudou, penso que de forma irreversível, porque nada voltará a ser como era antes. É algo muito profundo. Vivemos muito mal porque temos cristãos que são em grande parte árabes palestinos em Gaza. Em Israel, também temos os cristãos católicos que são de origem judaica. Por isso, podem imaginar as tensões que existem dentro da comunidade, para tentar manter-se unidos e trabalhar juntos pela paz. Está muito difícil.

Temos mil cristãos em Gaza. Todos, agora, estão reunidos em duas igrejas, porque lá há apenas duas: a Igreja Católica [de rito latino] e a Igreja Ortodoxa. São pouco mais 500 de nós, cerca de 400 da Igreja Ortodoxa e uma centena deles está em um instituto evangélico em situações muito precárias. Estão na parte norte de Gaza, que recebeu ordem de evacuação. Também há as irmãs de Madre Teresa [de Calcutá] com 60 pessoas com deficiência muito grave.

Conversando com eles [os cristãos em Gaza], eu os deixei livres para decidirem o que desejam fazer. Todos disseram, de maneira unanime, tanto os ortodoxos quanto os católicos: “Nós ficamos aqui”. Eles não saem de lá porque não sabem para onde ir. Vão evacuar para onde? Sem água, sem luz, sem comida, sem nada. Ir para o meio do deserto? Enfim, são situações muito difíceis para encontrar, mesmo por meio de organizações humanitárias, uma forma de ajudar a nossa comunidade a ter pelo menos água, alguma comida e o diesel necessário para o gerador, porque não há energia. É, portanto, uma situação muito grave.

O que é muito doloroso é que há uma divisão total. Sempre houve uma certa distância entre israelenses e palestinos. Agora, é uma divisão total. Cada um vê apenas a sua própria dor, não, a do outro. Se você diz algo sobre Israel, sobre qualquer coisa, os palestinos se sentem traídos e vice-versa. E isto é algo que irrompeu de uma forma muito profunda e que, na minha opinião, será a coisa mais difícil de reconstruir depois deste conflito.

O senhor pode explicar como ordinariamente conviviam israelenses e palestinos nesta região? Porque, quando falamos de palestinos, não nos referimos apenas a muçulmanos e, igualmente, os cidadãos israelenses não são apenas judeus…

Em Israel, existem 7,5 milhões de judeus, um milhão e meio de árabes muçulmanos e 130 mil árabes cristãos. Além desses, há aproximadamente 100 mil trabalhadores estrangeiros, filipinos, indianos e chineses, que são católicos. Na Palestina, temos cerca de 5 milhões de palestinos muçulmanos e, em toda a Palestina, entre a Cisjordânia de Gaza, são cerca de 50 mil cristãos de todas as denominações. As duas principais confissões são a Ortodoxa Grega e a Católica. Os demais são pequenos grupos distribuídos por todo o território.

Há áreas onde só existem judeus e outras em que só existem palestinos. Também há áreas onde eles estão misturados. Portanto, onde só existem palestinos, a situação é mais tranquila, apesar do problema político do futuro da Palestina etc. Mas há, por exemplo, as cidades de Haifa, Jerusalém e Nazaré, onde existe a parte judaica israelense e a parte árabe. Geralmente, as coexistências são tranquilas, muitos árabes vão trabalhar para judeus e muitos judeus vão aos árabes fazer compras porque as coisas básicas são mais baratas. O mesmo acontece com os hospitais, pois não há hospitais distintos para árabes e judeus. Por isso, há geralmente ocasiões de encontro nestas cidades mistas.

Também Jerusalém se mistura um pouco mais em alguns lugares, menos em outros, porque, enfim, Jerusalém faz parte um pouco do conflito. Tudo isso, contudo, ocorria na vida normal, ordinária. Agora, tudo está paralisado.

Isto significa que o grupo extremista que entrou em conflito com Israel não representa todo o povo palestino ou árabe, certo?

Você está se referindo ao Hamas. O Hamas não é o povo palestino. Que fique claro que isto está fora de discussão. O Hamas não se destrói com bombas, pois é uma ideia, uma ideologia. A ideologia não pode ser destruída com bombas. Na verdade, as bombas o fortalecem porque provocam uma reação. É claro que não existe muita amizade entre os israelitas e os palestinos, porque a questão sobre o futuro dos palestinos como nação continua suspensa, a solução para o conflito israelense não está resolvida. Portanto, a tensão existe sempre. Porém, é uma tensão que se vivia com seus altos e baixos. Agora, com este grupo islâmico, a situação explodiu de uma nova forma.

Como esse conflito poderia ser resolvido concretamente? Existe um caminho?

Olha, se eu tivesse a solução em mãos já teria o prêmio Nobel, eu acho. De qualquer forma, os problemas são conhecidos. São as fronteiras – assentamentos e assim por diante –, os refugiados e Jerusalém. Estes são os três problemas. É claro que a paz “limpa” não existe, no sentido de que a paz não deve ser confundida com a vitória, de que um ganha e o outro perde. A paz exige coragem, porque ambos devem deixar algo para trás. Não será possível que todos fiquem com tudo o que desejam. Isso não existe. Então, é preciso que encontrem um modo, a coragem de escolher prioridades e decidir sobre o que deixar de lado, o que renunciar por um bem maior que é a paz, a estabilidade, o futuro a ser vislumbrado. A paz é sempre um pouco “suja”, no sentido de que é preciso sujar as mãos, ter coragem também de dizer não, às vezes, até sendo impopular. Por isso, a paz pede coragem.

Se quiserem, os israelitas e os palestinos podem alcançar a paz em breve porque sabem bem quais são os problemas, o que podem renunciar e o que não podem. É claro que nem todos os refugiados poderão regressar, porém as fronteiras deverão ser definidas. Certamente, deverá haver plena autonomia para os palestinos como nação. Enfim, se desejam, eles também precisam de um contexto internacional que os estimule a encontrarem-se. Talvez depois desta crise que nos afetou gravemente, ainda é cedo, mas, mais tarde, quando tudo isso passar, a sangue-frio, poderão compreender os erros cometidos no passado e por onde podem começar de novo.

Como a Igreja, por meio do Patriarcado e da Custódia da Terra Santa, atua para minimizar as tensões entre esses povos?

Em primeiro lugar, é preciso trabalhar em diversas áreas. Como Igreja, devemos antes de tudo trabalhar com a nossa comunidade, para que nossa comunidade, e isso não é tão óbvio, não entre nessas narrativas de um contra o outro. Com Cristo, somos por todos, queremos amar a todos com respeito. Naturalmente, apelando à justiça, não podemos nos calar diante da violação dos direitos humanos e assim por diante. Porém, sem cultivar o que vemos neste momento, ressentimento e ódio, no nosso coração e até naquilo que dissemos nos nossos discursos e homilias. Isto é muito importante.

Outra coisa é que, agora, tudo está um pouco paralisado porque estamos no centro da crise. Depois, precisamos trabalhar muito para o que chamamos de diálogo inter-religioso, mas o que é feito na Terra Santa, não aquele de conferências ou congressos, que são úteis enquanto forem necessários… Mas aquele da população, porque nós que moramos juntos somos como um grande condomínio. Precisamos criar ocasiões de encontros entre cristãos, judeus e muçulmanos, não ao nível alto, mas no âmbito do território, nas paróquias, nas comunidades, nas escolas, levando as crianças para conhecer uma sinagoga, para ver uma mesquita, visitar uma igreja. Coisas desse tipo são muito importantes porque fazem compreender, antes de tudo, que o outro existe e não é um monstro, reconhecendo que estas diferentes tradições fazem parte da vida deste país.

O senhor se ofereceu para trocar de lugar com as crianças reféns do Hamas. Houve alguma resposta? Qual foi o impacto deste gesto generoso para salvar a vida dessas crianças?

Isso que repercutiu em todo o mundo nasceu de uma questão feita por um jornalista, que me perguntou se estou disposto a fazer essa troca. Eu disse que aceito absolutamente. Claro que sim! Eu também faria o mesmo pelos palestinos, pois não existem distinções. A resposta foi muito forte por parte dos israelenses e da parte desse movimento islâmico. Digamos que estamos conversando.

E como está o clima em Jerusalém e nos outros lugares santos com a impossibilidade de haver peregrinações?

Todos fugiram. Neste momento, as fronteiras estão praticamente fechadas, porque não há voos. O aeroporto está quase vazio. Só restava um grupo [de peregrinos], me parece que vai embora hoje [quarta-feira]. Então, tudo está vazio. Porém, os lugares santos estão todos abertos e as igrejas permanecem sempre abertas porque é o momento em que mais precisamos rezar.

Que mensagem o senhor deixa aos católicos que acompanham esta situação com angústia e orações? 

Em primeiro lugar, agradeço à Igreja do Brasil pela proximidade. Aqui há muitas peregrinações do Brasil, como aquela conduzida por sua eminência [Dom Odilo]. Continuem a orar e também a fazer com que chegue aos seus governantes que talvez tenham uma palavra a dizer sobre esta questão em contextos internacionais, que falem da necessidade de todos trabalharem para que isso se resolva de uma vez por todas.

 

Fonte: Agência Brasil- Vatican News