Cultura

Papa: Que Nossa Senhora Aparecida cuide do Brasil e de todo povo brasileiro





À margem dos trabalhos do Sínodo, o Papa manifestou mais uma vez seu carinho pelo Brasil e pelos brasileiros no dia da sua Padroeira. De modo especial, Francisco recordou sua visita a Aparecida, 10 anos atrás, ocorrida em 24 de julho de 2013.

“É a festa de Nossa Senhora Aparecida. Eu a levo em meu coração. Recordo-me desta cidade e da Virgem. Que nos abençoe muito, que cuide de vocês e de todo o povo do Brasil. Rezo por vocês, lhes envio a minha bênção e, por favor, rezem por mim. A favor! Obrigado.”

À margem dos trabalhos do Sínodo, o Papa manifestou mais uma vez seu carinho pelo Brasil e pelos brasileiros no dia da sua Padroeira. De modo especial, Francisco recordou sua visita a Aparecida, 10 anos atrás, ocorrida em 24 de julho de 2013.

Naquela ocasião, Francisco abriu um parêntese na sua participação na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro para visitar a Casa da Mãe.

No Santuário, o Pontífice celebrou à Missa e, na homilia, recordou a realização da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe em maio de 2007. 

"Aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: 'Mostrai-nos Jesus'. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria."

Mas nesses 10 anos de pontificado, foram inúmeras as referências à Padroeira do Brasil. Em 3 de setembro de 2016, Francisco inaugurou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida nos Jardins Vaticanos. E convidou os fiéis a rezarem pelos "mais pobres, os descartados, os idosos abandonados, os meninos de rua; que ampare os descartados e os que estão nas mãos dos exploradores de todo tipo; que salve o povo com a justiça social e com o amor de Jesus Cristo, seu Filho". 

"Peçamos com amor por todo o povo brasileiro, que Ela, Mãe, abençoe. Foi encontrada pelos pobres trabalhadores: que hoje seja encontrada por todos, de modo especial por aqueles que têm necessidade de trabalho, de educação, por quantos estão privados de dignidade."

 

Confira outras notícias

- Oração pela paz no Sínodo: que a humanidade, sem guerras, forme uma única família

A oração desta manhã, antes do inícios dos trabalhos sinodais, foi conduzida pelo cardeal Louis Raphaël Sako e pela presidente dos Focolares, Margaret Karram.

Na manhã de hoje, 12 de outubro, na Sala Paulo VI, antes do início dos trabalhos do Sínodo sobre a sinodalidade, foi feita uma oração pela paz, especialmente pelas regiões do mundo atualmente dilaceradas por conflitos. O Cardeal Louis Raphaël Sako, Patriarca de Bagdá dos Caldeus, liderou a oração da manhã e convidou todos os presentes a "rezar pela paz no mundo, especialmente na Terra Santa, mas também na Ucrânia. A violência no Iraque, no Irã, no Líbano". "As pessoas", disse o cardeal iraquiano, "estão esperando com grande esperança para viver com dignidade e fraternidade e não sempre com medo e preocupação. Solidariedade também significa solidarizar-se com todos aqueles que têm medo e sofrem".

A oração de Margaret Karram

Margaret Karram, palestina, presidente do Movimento dos Focolares, fez em seguida uma outra oração. "Senhor, nós te pedimos pela Terra Santa, pelo povo de Israel e da Palestina que está sob o domínio de uma violência sem precedentes, pelas vítimas, especialmente as crianças, pelos feridos, pelos reféns, pelos desaparecidos e suas famílias". "Nessas horas de angústia e tensão", o convite é para se juntar à voz do Papa e daqueles que "em todo o mundo imploram pela paz". Karram também lembrou de todos os outros países do Oriente Médio que "vivem em terror e destruição". "Ajude-nos, Senhor, a nos comprometermos com a construção de um mundo fraterno para que esses povos e aqueles que se encontram nas mesmas condições de conflito, instabilidade e violência possam encontrar o caminho do respeito aos direitos humanos, onde a justiça, o diálogo e a reconciliação são as ferramentas indispensáveis para a construção da paz", foram suas palavras.

Oração final

Por fim, a bênção final do Patriarca Sako e sua oração a Deus: "Que toda a humanidade forme uma só família, sem violência, sem guerras sem sentido e com espírito fraterno viva unida em paz e harmonia".

 

No Sínodo, orações pelas vítimas da guerra e a voz de quem salva vidas no mar

Pobreza, migração, abusos, o papel das mulheres, identidade sexual no centro do trabalho do Sínodo sobre a Sinodalidade. Ruffini: "nenhuma polarização, é uma experiência de compartilhamento". Apelos pela paz e pelo sofrimento dos povos que vivem os conflitos. O cardeal Lacroix: "escutar os outros leva a refinar o próprio pensamento". A voz de Papua Nova Guiné no discurso de Grace Wrackia e o testemunho de Luca Casarini: ajudar os irmãos no Mediterrâneo é um presente.

A sexta Congregação Geral do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano, foi aberta com uma meditação do cardeal Arthur Roche, que evocou o "perigo de uma guerra sangrenta" com a violência em Gaza e Israel nas últimas horas. O presidente da Comissão de Informação, Paolo Ruffini, e a secretária Sheila Pires, apresentaram os trabalhos da assembleia entre a tarde de terça-feira (10) e a manhã desta quarta-feira (11), centrados em temas como os conflitos no mundo, a pobreza, os abusos e a identidade sexual, na coletiva diária aos jornalistas realizada nesta quarta (11) na Sala de Imprensa do Vaticano.

Entre os convidados estava o cardeal Gérald Cyprien Lacroix, arcebispo de Québec, no Canadá, que relatou a experiência do "enriquecimento" destes dias na Sala Paulo VI; além de Grace Wrakia, da Oceania, que testemunhou a voz das "pequenas" comunidades de Papua Nova Guiné; e de Luca Casarini, ativista e fundador de "Mediterranea Saving Humans", uma ONG que nasceu em 2018 da "indignação" diante de milhares de mortes no Mediterrâneo e que hoje se dedica a salvar vidas no mar. Convidado especial para o Sínodo, Casarini compartilhou um forte testemunho sobre esse trabalho realizado pela organização: um "encontro" entre duas pobrezas, disse ele, aquela material, de quem é forçado a deixar "a única riqueza em sua posse", a própria terra, e a pobreza espiritual de um Ocidente que parece ter perdido a capacidade de chorar e rejeitar o "horror".

Um pequeno "Círculo Menor" em Santa Marta

Paolo Ruffini foi o primeiro a tomar a palavra, relatando sobre um "pequeno 'Círculo Menor'" estabelecido na terça-feira (10) na Casa Santa Marta, quando um grupo de pessoas pobres de Roma foi convidado a almoçar com o Papa e o cardeal Konrad Krajewski. A eles chegou a ser perguntado "o que esperavam da Igreja" e "a resposta", segundo Ruffini, "foi: 'amor. Somente amor".

Na esteira do Concílio

339 membros estavam presentes na Congregação de terça (10), 345 na manhã desta quarta (11), que rezaram o Angelus conduzido pelo cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), que pediu a intercessão de São João XXIII, cuja memória foi lembrada neste 11 de outubro, também aniversário da abertura do Concílio Vaticano II. Um momento histórico para a Igreja universal, evocado pelo cardeal Lacroix em seu discurso: "o que estamos vivendo é uma continuidade de tudo isso", disse o cardeal canadense. João XXIII foi "profético", disse ele: idoso, doente, Roncalli foi "inspirado" pelo Espírito sobre a necessidade de "viver um Concílio ecumênico", do qual, a propósito, ele não conseguia nem mesmo ver o final.

Lacroix leu o discurso de abertura do Concílio de João XXIII, que é extraordinariamente atual neste tempo sinodal que a Igreja está vivendo desde outubro de 2021. "A metodologia que estamos usando tem como objetivo ouvir o Senhor, sua Palavra, sua presença em cada pessoa batizada, e isso nos permite estar abertos ao outro e aos outros". Ao ouvir a Palavra de Deus, dos irmãos e das irmãs, "podemos encontrar nuances, mudar o que pensamos e é assim que vemos que Deus está trabalhando e está trabalhando em todas as pessoas", disse o arcebispo de Quebec, revelando que viver tudo isso em nível pessoal "me leva a ajustar, refinar, mudar um pouco meu pensamento". Em todo caso, do Sínodo, acrescentou, "não esperemos mudanças doutrinárias, mas aprendamos a caminhar juntos".

A voz das "pequenas" ilhas da Oceania

Por outro lado, a ideia por trás do próprio Sínodo sobre a Sinodalidade "é deixar-se desafiar pelo que surge nas outras intervenções de maneira livre". E também para dar voz àqueles que até agora permaneceram em segundo plano. Grace Wrackia, a esse respeito, expressou gratidão ao Papa por ter convidado representantes das Ilhas Salomão e de Papua Nova Guiné para o Sínodo. "Por tantos anos", disse ela em um discurso apaixonado, "nós ouvimos e agora gostaríamos de falar, e gostaríamos que vocês ouvissem, porque temos algo a dar ao mundo. É a nossa maneira de viver, viver em comunhão, viver juntos e construir relações".

Fortes apelos à paz

Ao listar os tópicos abordados pelos Círculos e Congregações, o prefeito Ruffini explicou que muitos discursos abordaram o tema da paz e das pessoas que sofrem com a guerra: "foi feita referência a como os cristãos podem ser um sinal de paz e reconciliação em um mundo desfigurado por guerras e violência". Foram também lançados "fortes apelos" pelos países assolados por conflitos e pelo "sofrimento em algumas Igrejas Orientais".

Uma Igreja humilde para os pobres

Outro tema que emergiu, disse Sheila Pires, foi "o desejo de uma Igreja em favor dos pobres, humilde, itinerante, que caminha com os pobres". Pobres que "têm muitas faces": os excluídos, os migrantes, as vítimas das mudanças climáticas e até mesmo as mulheres e religiosas em algumas partes do mundo consideradas "cidadãs de segunda classe". "Foi dito que elas deveriam ser protegidas dos abusos", explicou Pires.

Reflexões sobre abusos e identidade sexual

O tema dos abusos também ganhou centralidade nas reflexões: "falou-se da nossa credibilidade sendo questionada por escândalos como aqueles do abuso sexual e da necessidade de erradicar todo abuso sexual, de poder e espiritual e fazer de tudo, continuar fazendo de tudo, para estar perto das vítimas", disse Ruffini.

Nos grupos e nas intervenções, a questão da identidade sexual foi então abordada. Foi dito que ela deve ser abordada "com responsabilidade e compreensão, permanecendo fiel ao Evangelho e aos ensinamentos da Igreja", explicou o prefeito para a Comunicação. Alguns pediram "maior discernimento sobre o ensinamento da Igreja sobre a sexualidade"; para outros, entretanto, "não há necessidade de maior discernimento". Instigado pelas perguntas dos jornalistas, ele continuou explicando que "não havia nada que pudesse ser enquadrado no estereótipo da polarização. É uma experiência de compartilhamento".

As perguntas que os participantes do Sínodo fizeram a si mesmos foram "como incorporar o cuidado pastoral com relação ao amor entre casais homossexuais, entre os divorciados, enquanto permanecem fiéis aos ensinamentos da Igreja". "Mais ou menos todos os que falaram sobre essas questões disseram que é preciso rejeitar todas as formas de homofobia", observou Paolo Ruffini, explicando que vários membros disseram "que muitas dificuldades surgem do fato de não se conhecer a realidade e o caminho pessoal dos indivíduos". 

A questão dos migrantes

Quanto à questão dos migrantes, alguns bispos - como foi explicado na coletiva de imprensa - "pediram ajuda a outras conferências episcopais" que estão em situações melhores do ponto de vista da integração e do acolhimento. Uma maneira de "poder se beneficiar" das habilidades desenvolvidas para garantir que as pessoas acolhidas possam se integrar à sociedade. Também foi reiterada "a necessidade de os migrantes e refugiados respeitarem as leis dos países em que se encontram".

O depoimento de Luca Casarini

Sobre o tema da migração, o testemunho de Luca Casarini foi comovente para a maioria dos presentes na coletiva na Sala de Imprensa do Vaticano. Ele começou se descrevendo como "um homem privilegiado", porque "em um mundo em que há uma corrida para ver quem mata mais pessoas, um mundo dominado pelo ódio, ajudar uma vida, abraçar irmãos e irmãs no meio do mar, é um presente infinito que muda sua vida. Mudou a minha...".

O ativista também refletiu sobre a questão da pobreza: "nós, no meio do mar, encontramos esses irmãos e irmãs e, naquele momento, você encontra duas pobrezas". Por um lado, a pobreza econômica e social que obriga as pessoas a "deixar sua terra, sua família, sua memória", suas únicas riquezas; por outro lado, a pobreza desoladora de uma parte do mundo que agora considera o "horror normal". "Não somos mais capazes de chorar por uma criança que morre", disse Casarini. "Essas duas pobrezas se ajudam mutuamente e abrem espaço para algo que devemos buscar desesperadamente hoje no mundo do ódio, o amor. Foi assim que conheci Jesus e Deus".

Com graça e ironia, o convidado especial respondeu às perguntas daqueles que lhe perguntaram se ele se sentia "fora de lugar" em um evento como o Sínodo, pontuado por vários rituais e momentos espirituais. "Eu sempre me sinto deslocado e inadequado em todos os contextos", ele sorriu. "Eu realmente considero todos os presentes no Sínodo meus irmãos e irmãs, estou aprendendo a transformar o ressentimento e o rancor em piedade." O segredo que "estou tentando aprender é se colocar no lugar da outra pessoa. Que não devemos esperar resolver tudo sozinhos, mas é o Espírito Santo que age. Portanto, coisas loucas podem acontecer... como o fato de eu estar no Sínodo".

O fundador de Mediterranea também foi questionado sobre seu "arrependimento" pelas ações durante o G8 de 2001, em Gênova, e sobre a acusação de ajudar e incentivar a imigração clandestina. "Em Gênova, passei por oito anos de julgamento e fui absolvido em todos os três níveis de acusação", respondeu Casarini, enquanto a outra acusação "eu não conseguia entender". "Para mim, nenhum ser humano é clandestino.... Eu entendi que estava sendo investigado porque resgatei 38 pessoas durante 38 dias no meio do mar. O maior impasse que a Europa já conheceu. Entre essas pessoas, havia uma garota que foi estuprada por cinco guardas líbios antes de ir para o mar; durante 38 dias, ela não teve sequer um médico. Eu cometi algum crime? Me prendam, estou feliz por ter feito isso".

 

Presidente da COP 28: reduzir 22 gigatoneladas de emissões até 2030

A Mídia do Vaticano conversou com Sultan Al Jaber no dia em que ele foi recebido pelo Papa Francisco, uma semana após a publicação da exortação "Laudate Deum".

Há uma semana foi publicada a Laudate Deum, a exortação que contém o apelo do Papa para responder à crise climática. Na quarta-feira, 11 de outubro, o Pontífice recebeu em audiência o Dr. Sultan Al Jaber, Ministro da Indústria e Tecnologia Avançada dos Emirados Árabes Unidos e presidente da COP 28: um importante encontro que será realizado em Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro e que Francisco indicou como decisivo para uma ação compartilhada antes que seja tarde demais. Nesta entrevista à mídia do Vaticano, Al Jaber explica os objetivos da próxima COP e comenta o conteúdo da exortação.

Presidente, o senhor poderia descrever brevemente os objetivos da próxima COP em Dubai?

Somos guiados por um único ponto fixo: manter o aumento da temperatura dentro de 1,5 grau Celsius. O primeiro ‘Global Stocktake’ já nos mostrou o quanto estamos longe da direção certa. Precisamos agora reduzir 22 gigatoneladas de emissões até 2030. Ao mesmo tempo, como vemos todos os dias nas notícias, a mudança climática já está nos afetando e temos que nos adaptar a essa mudança. Em última análise, para lidar com as mudanças climáticas, precisamos colocar as pessoas e o planeta no centro do processo climático. Esse processo é imperativo. A Presidência da COP 28 desenvolveu sua Agenda de Ação com quatro pilares principais: acelerar uma transição energética justa e ordenada; fixar o financiamento climático; concentrar-se nas pessoas, na natureza, nas vidas e nos meios de subsistência; e apoiar esse processo com total inclusão. Chegou a hora de unir o mundo e agir em conjunto para oferecer soluções viáveis para a crise climática.

O Papa Francisco publicou recentemente a exortação apostólica Laudate Deum: um grito de alarme antes que seja tarde demais para conter as consequências da crise climática. Qual é a sua opinião sobre esse documento?

Acolhemos o apelo urgente do Papa por mais ações climáticas. Compartilhamos sua esperança de que "a COP 28 levará a uma aceleração decisiva da transição energética". A COP 28 será uma COP de ação. E deve ser. Nossa Presidência está totalmente comprometida em fazer todo o possível para unir as partes, garantir a inclusão, alcançar compromissos e ações claras, e realizar ações climáticas ambiciosas para as pessoas em todo o mundo. Durante minha reunião com Sua Santidade, enfatizei o apreço dos Emirados Árabes Unidos por seu forte apoio à ação climática positiva para promover o progresso humano. Precisamos reduzir as emissões anuais em 43% até 2030 para que seja possível manter o aumento da temperatura dentro de 1,5 grau Celsius. Devemos construir rapidamente um sistema de energia livre de todos os combustíveis fósseis inabaláveis, inclusive o carvão, ao mesmo tempo em que descarbonizamos de forma abrangente as energias que usamos atualmente. Precisamos de uma transição energética rápida, justa e equitativa que não deixe ninguém para trás, especialmente os 800 milhões de pessoas que não têm acesso à energia atualmente. E seria irresponsável desligar a tomada do sistema energético atual antes de construir o novo. Devemos nos concentrar nas emissões, independentemente da fonte, e devemos reconhecer que, em um futuro próximo, haverá muitos combustíveis na matriz energética. Precisamos reequilibrar essa combinação e reduzir as emissões das energias usadas atualmente. Reduzimos as emissões, não o progresso. Um dos principais focos será o progresso tangível que move o mundo real, juntamente com um resultado negociado e ambicioso. Portanto, pedi às empresas de petróleo e gás que reduzissem as emissões de metano e a queima de gás a zero até 2030 e que se alinhassem à neutralidade de carbono até 2050. Ao mesmo tempo, precisamos que todos os setores de alta emissão acelerem a transição e eliminem as emissões. E precisamos que os governos estabeleçam políticas inteligentes para expandir e comercializar soluções, incluindo tecnologias de captura de hidrogênio e carbono.

Em sua exortação, o Papa Francisco faz um breve resumo da história das COP’s, sem esconder sua decepção com o fato de que os compromissos assumidos não foram cumpridos e as emissões nocivas continuam a aumentar. Como a COP 28 pode mudar esse rumo?

A COP 28 busca corrigir o curso, traduzindo promessas em projetos, tendências em transformações e acordos em ações. Lançamos nossa Agenda de Ação com apelos ambiciosos, mas realizáveis, à ação para todos. O Papa está absolutamente certo sobre as promessas do passado que não foram cumpridas e que isso é decepcionante. Precisamos que todas as partes cumpram suas promessas, incluindo um segundo e mais ambicioso refinanciamento do Fundo Verde para o Clima e o financiamento climático anual de US$100 bilhões prometido há mais de 10 anos. O financiamento é a chave que pode desbloquear o atual impasse.

O Papa Francisco lamenta a falta de organizações internacionais que atendam a todos os países - não apenas os maiores e mais desenvolvidos economicamente - para garantir que os compromissos assumidos nas COP’s sejam implementados em várias nações. Ele clama por um novo "multilateralismo de baixo para cima". O que precisa ser feito para tornar esse caminho uma realidade?

A transparência e a responsabilidade são fundamentais para uma ação climática bem-sucedida. A Presidência da COP 28 convidou todas as partes a atualizarem suas contribuições nacionalmente determinadas antes da COP 28 e a buscarem as metas mais ambiciosas possíveis.  Ao mesmo tempo, estamos tentando envolver todos e fazer da COP 28 a COP mais inclusiva de todos os tempos. A realização de nossas ambições climáticas coletivas exigirá ações em todos os níveis da sociedade e estamos tomando medidas para permitir a participação de todos os grupos. Essas medidas incluem o apoio ao maior programa de delegados jovens, 1.000 prefeitos, 200 startups de tecnologia climática, entre outros, bem como a garantia de espaços e pavilhões para todos os grupos, incluindo pessoas que professam a fé, povos indígenas e mulheres.

Em sua exortação Laudate Deum, o Papa Francisco afirma que uma transição ecológica adequadamente gerenciada para fontes renováveis cria empregos. Como os Emirados Árabes Unidos, cuja economia depende muito de combustíveis fósseis, pretendem lidar com essa transição?

Em primeiro lugar, gostaria de corrigir essa percepção errônea. Os Emirados Árabes Unidos são uma nação que está passando por uma transição energética há quase 20 anos. Nossa liderança tem visto a transição energética como uma oportunidade de criar resiliência econômica e contribuir para um desafio global que afeta a todos nós. Hoje, mais de 70% do PIB dos Emirados Árabes Unidos vem de setores fora da indústria do petróleo, uma porcentagem que aumenta a cada ano à medida que os Emirados continuam a se diversificar por meio de outros setores. Estamos bem cientes de que a transição gera empregos, pois já passamos por isso diretamente. Por exemplo, a Masdar está entre as maiores empresas de energia renovável do mundo e tem a meta de quintuplicar sua pegada global de energia limpa para 100 gigawatts até 2030. Os Emirados Árabes Unidos também estão em sexto lugar no mundo em consumo per capita de energia solar. Os Emirados investiram US$50 bilhões em energia renovável em 70 países e se comprometeram a investir mais de US$50 bilhões no país e no exterior na próxima década. Esse é o tipo de meta que estamos incentivando o mundo a adotar para acelerar uma transição energética justa e ordenada e não perder de vista o limite de 1,5 grau Celsius. O progresso dos Emirados Árabes Unidos se deve à sua parceria sincera com parceiros que pensam da mesma forma em todo o mundo. Assumimos a função de sediar a COP com um grande senso de responsabilidade, um profundo senso de humildade e um claro senso de urgência. E estamos determinados a garantir que a COP 28 seja uma plataforma que estimule o progresso por meio da colaboração.

Fonte: Vatican News