Neste domingo, realizaremos mais um Círio em honra a Nossa Senhora de Nazaré. De novo, Maria nos convoca para rezarmos e cantarmos juntos os louvores a Deus, Pai de bondade, que olhou com especial predileção para aquela jovem e viu a pureza do seu coração. O “sim” dela, livre e generoso, colaborou com a obra do Divino Espírito Santo e ela se tornou a mãe do Filho de Deus que assumiu em tudo, menos no pecado, a nossa natureza humana. A obediência humilde e feliz de Maria contrasta com a página do evangelho que proclamaremos neste 27º Domingo do Tempo Comum.
A parábola que Jesus contou aos sumos sacerdotes e anciãos do povo foi mais uma denúncia clara e inequívoca da recusa que ele mesmo estava sofrendo. Jesus retoma a imagem da vinha cara aos profetas para representar o zelo e a preocupação de Deus com o povo de Israel. Como nos lembra a primeira leitura do profeta Isaías, deste domingo, Deus desejava que a vinha por ele cuidada com tanto trabalho produzisse “uvas de verdade”, mas ela produziu “uvas selvagens” (Is 5,4).
Na parábola de Jesus, mais do que de uva, fala-se de “vinhateiros”, ou seja, daqueles a quem a vinha tinha sido entregue. A sorte dos enviados pelo dono da vinha para cobrar os frutos devidos foi triste e chegou ao ponto que os vinhateiros decidiram matar nada menos que o filho do dono, o herdeiro, para poder ficar, definitivamente, com a vinha e não ser mais cobrado pelo arrendamento. Para os ouvintes da parábola, o mais certo que o dono da vinha deveria fazer com aqueles vinhateiros assassinos seria um castigo cruel.
No entanto, Jesus comenta a própria parábola com uma citação do Salmo 118,22 onde se diz que a pedra descartada pelos construtores se tornará a pedra angular de uma nova construção, evidentemente, entregue a outros construtores. Não se fala mais da vinha, mas do Reino de Deus oferecido, agora, a um povo novo que produzirá frutos” (Mt 21,43).
Se queremos atualizar a parábola de Jesus para nós, hoje, podemos pensar que não há nada ou muito pouco para nos dizer. Jesus já foi morto na cruz naquele tempo e nós não corremos mais o perigo de repetir aquele acontecimento. No entanto, não é difícil entender que existem muitas maneiras de “matar” Jesus; basta, por exemplo, continuar a excluí-lo da nossa vida, deixando-o fora mesmo ou colocando-o como enfeite ou suporte para as nossas ideias e os nossos projetos.
Hoje, entendemos que, ao longo da história, até guerras foram feitas usando, ou abusando, do nome do Senhor. Outros tempos, dizemos, mas se não tomarmos cuidado a tentação de domesticar o Evangelho é sempre muito grande.
É o antigo pecado: querer ser nós os donos da situação e não aceitar a nossa condição de criaturas. Sobretudo não aceitar ter recebido, como dom de Deus totalmente gratuito, a vida e o planeta Terra no qual temporariamente moramos. Deus é “o dono” sim, mas nos entregou toda a responsabilidade daquilo que recebemos. É demais entender que ele nos cobra paz e fraternidade, partilha e dignidade para todos? Isso corresponde a dizer que não queremos um Deus que nos ama sempre e que nunca desistiu e nem desiste de nos procurar de tantas maneiras. Ele enviou o seu próprio Filho na carne humana para que fosse ouvido e seguido. Contam que São Francisco concluiu o seu encontro com o Saladim, lá na Terra Santa, com estas palavras: “Ó rei, o amor não é amado”.
O Amor neste mundo é sempre crucificado. Não julguemos, então, aqueles vinhateiros. Olhemos para Maria com confiança e gratidão. Se pela recusa do amor de Deus vem o mal e a morte, quando nos deixamos amar por ele e praticamos confiantes a sua Palavra, frutos maravilhosos aparecem. Maria “cheia de graça” obediente aceitou ser amada e, sempre por amor, ofereceu com o Pai celestial aquele, também seu Filho, na cruz. Tudo porque o próprio Deus, que é Amor, não pode deixar de amar nem aqueles que o rejeitam e escarnecem ainda hoje. Aprendamos com Maria a acolher o amor de Deus, a imitá-lo, a transmiti-lo, a partilhá-lo. Somente praticando o bem seremos “missionários da vida e da fé” como Nossa Senhora sempre nos lembra e ensina.
Por Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá