Cultura

Papa: se deixarmos espaço para o Espírito Santo, o Sínodo correrá bem





Na abertura dos trabalhos da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo sobre a Sinodalidade, que começou hoje (04) no Vaticano, o Papa Francisco recordou que “se o Espírito Santo estiver no comando, será um bom sínodo, e se Ele não estiver, não será”.

Na tarde desta quarta-feira, 04 de outubro, na Sala Paulo VI, no Vaticano, teve inicio a primeira Congregação Geral da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com a presença do Papa, que de forma espontânea discursou aos participantes.

Francisco iniciou recordando “que foi São Paulo VI quem disse que a Igreja no Ocidente tinha perdido esta ideia de sinodalidade, e por isso criou o secretariado do Sínodo dos Bispos, que realizou muitos encontros, muitos sínodos sobre temas diferentes”.

Ao discorrer sobre o conceito de sinodalidade, o Santo Padre observou que este ainda não atingiu pleno amadurecimento e não é amplamente compreendido dentro da Igreja. No entanto, ele destacou que ao longo de quase seis décadas, a Igreja tem gradualmente trilhado esse caminho, "e hoje podemos chegar a este Sínodo com este tema”. De acordo com o Pontífice, esse enfoque surgiu através dos bispos de todo o mundo. Após o Sínodo da Amazônia, um questionário foi enviado às dioceses, e a questão da sinodalidade emergiu como um tema amplamente evidenciado e apoiado pela grande maioria dos bispos.

Não somos um parlamento

“O Sínodo não é um parlamento, é outra coisa; o Sínodo não é uma reunião de amigos para resolver algumas questões atuais ou dar opiniões, é outra coisa. Não esqueçamos, irmãos e irmãs, que o protagonista do Sínodo não somos nós: é o Espírito Santo”, enfatizou Francisco.

O Papa então sublinhou a importância da presença do Espírito Santo, que traz harmonia a comunidade eclesial, e que deve guiar o Sínodo. E em seguida fez um alerta aos participantes: “se entre nós houver outras formas de avançar pelos interesses humanos, pessoais, ideológicos, não será um Sínodo, será uma reunião parlamentar”.

A harmonia do Espirito Santo

“Se neste Sínodo chegarmos a uma declaração que é tudo igual, sem nuances , o Espírito não está aqui, ficou do lado de fora” destacou o Santo Padre ao afirmar que  a Igreja é composta de uma única harmonia de vozes que são conduzidas pelo Espírito Santo: “é assim que devemos conceber a Igreja, cada comunidade cristã, cada pessoa tem a sua peculiaridade, mas estas particularidades devem ser incluídas na sinfonia da Igreja, e esta sinfonia é criada somente pelo Espírito”.

Francisco destacou ainda que o Espírito Santo nos conduz pela mão e nos consola: “a presença do Espírito é assim – permitam-me a palavra – quase materna, como uma mãe nos conduz, nos dá esta consolação. Devemos aprender a ouvir as vozes do Espírito: são todas diferentes. Aprendamos a discernir”.

Atenção às palavras

Outro alerta do Papa foi sobre as palavras vazias e mundanas: "a tagarelice é contrária ao Espírito Santo e é uma doença muito comum entre nós. Palavras vazias entristecem o Espírito Santo, e se não permitirmos que Ele nos cure dessa enfermidade, será difícil seguir um caminho sinodal adequado. Pelo menos aqui: se você discorda do que um bispo, uma freira ou um leigo estão dizendo, seja franco com eles. Isso é o que significa um Sínodo: falar a verdade, não ter conversas por baixo da mesa."

“Cuidado com isso: não devemos ocupar o lugar do Espírito Santo com coisas mundanas, mesmo que sejam boas, como o bom senso. Isso é útil, mas o Espírito Santo vai além. Devemos aprender a viver em nossa Igreja com a orientação do Espírito Santo.”

Mensagem aos jornalistas

Francisco relembrou como a controvérsia e a pressão da mídia se sobrepuseram às discussões em Sínodos anteriores. "Quando ocorreu o Sínodo sobre a família, houve uma opinião pública de que a comunhão deveria ser concedida aos divorciados, e isso influenciou o Sínodo. Quando aconteceu o Sínodo para a Amazônia, havia pressão e opiniões públicas sobre a ordenação de homens casados."

Agora", disse o Papa, "existem algumas suposições sobre este Sínodo: 'O que eles vão fazer? Talvez permitir o sacerdócio para as mulheres.' Eu não sei, essas são as coisas que estão sendo ditas lá fora. E essas coisas são ditas com tanta frequência que os bispos às vezes têm medo de comunicar o que está acontecendo." Por isso, o Pontífice se dirigiu diretamente aos "comunicadores", pedindo que desempenhem bem o seu papel, com integridade e imparcialidade.

“Portanto, peço a vocês, comunicadores, que cumpram bem o seu papel, com integridade, para que a Igreja e as pessoas de boa vontade, compreendam que também na Igreja a prioridade é a escuta. Transmitam essa mensagem, pois é de extrema importância.”

Francisco encerrou seu discurso expressando profunda gratidão a todos que contribuem para este momento de pausa e reflexão, onde a Igreja se dedica à escuta durante o Sínodo, enfatizando que, em sua perspectiva, isso representa o aspecto mais significativo e essencial do processo sinodal.

 

- Sínodo: textos de São Basílio indicados pelo Papa para reflexão

Durante seu discurso na abertura da primeira Congregação Geral do Sínodo sobre a sinodalidade, o Papa pediu que fosse distribuído uma compilação de textos patrísticos sobre o tema do Espírito Santo.

O Espírito Santo é o protagonista da vida da Igreja: o projeto de salvação para a família humana é realizado pela graça do Espírito

Quer se considere os tempos antigos - as bênçãos dos patriarcas, o auxílio da Lei, as figuras, as profecias, os feitos de guerra, os milagres realizados pelos justos - quer se considere as coisas preparadas em vista da vinda do Senhor em carne, (tudo se realizou) pelo Espírito. Primeiro, o Espírito esteve com a própria carne do Senhor, convertendo-se no seu crisma inseparável, como está escrito: "Aquele sobre quem viste o Espírito descer e permanecer, este é o meu Filho amado"; e "Jesus de Nazaré, a quem Deus ungiu com o Espírito Santo". Depois, todas as ações de Cristo foram realizadas sob a assistência do Espírito. O Espírito estava presente quando Cristo foi submetido às tentações do demónio [...], enquanto realizava milagres [...]. Após a ressurreição dos mortos, nunca mais O abandonou. Querendo renovar o homem e devolver-lhe a graça que tinha recebido pelo sopro de Deus e que tinha perdido, que quere dizer Cristo quando soprou no rosto dos discípulos? "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem não perdoardes os pecados, não lhes serão perdoados". E não é a ordenação da Igreja clara e inegavelmente realizada pelo Espírito? Com efeito, ele deu à Igreja - diz - "em primeiro lugar apóstolos, segundo lugar profetas, em terceiro lugar doutores; depois os que têm poder de operar milagres; depois os que têm o dom das curas, de assistir, de governar e de falar diversas línguas". Esta ordem está de acordo com a distribuição dos dons do Espírito. (Bas., Spir. 16, 39, 4-32)

a.    O Espírito Santo desencadeia na comunidade eclesial uma dinâmica profunda e variada: a "agitação" de Pentecostes 

Mas também a vinda do Espírito Santo tem lugar na terceira hora, como aprendemos nos Actos, porque quando os fariseus escarneciam dos discípulos (que se expressavam) na multiforme energia das línguas (ἐν τῇ ποικίλῃ τῶν γλωσσῶν ἐνεργείᾳ), Pedro diz que os que dizem essas coisas não estão embriagados: efetivamente era a terceira hora. (Bas. [?], ascet. 13: PG 31, 877, 24)

b.    O Espírito Santo é o compositor harmónico da história da salvação: harmonianão significa síntese, mas vínculo de comunhão entre partes diferentes

Mas Deus, antes que existisse qualquer uma das coisas que agora vemos, quando ideava e quando começava a trazer à existência o que ainda não existia, ao mesmo tempo concebeu como tinha que ser o mundo, e criou a matéria que harmonizava com a sua ideia. Aos céus atribuiu a natureza apropriada ao céu; à forma da terra deu a essência própria e devida a ela. Em seguida, deu forma ao fogo, à água e ao ar, como quis, e trouxe-os à existência como a razão de ser de cada um dos elementos exigia. Com um vínculo indissolúvel de concórdia, ele uniu o mundo inteiro, composto de partes diferentes, numa única comunhão e harmonia, de modo que mesmo os elementos colocados à maior distância uns dos outros pareciam unidos por afinidade. (Bas., hex. 2,49-61)

-       A Igreja: uma única harmonia a muitas vozes, realizada pelo Espírito Santo

"Voz de nações entre os montes, semelhante (à) de muitas nações, voz de reis e nações reunidas" (Is 13,4). Provavelmente, a voz das nações numerosas nos montes é a Igreja. É por isso que foi escolhida por ser um monte plano, para que tenha espaço livre para a reunião da multidão dos que sobem às alturas do conhecimento de Deus. Por isso, vê no monte plano uma grande multidão de gente de muitos lugares com uma só voz de fé. E diz o Espírito Santo através do Profeta: "Voz de muitas nações sobre os montes (sobre os quais se ergueu o sinal) semelhante (à) de muitas nações. E a voz é única, mas é semelhante às muitas vozes das nações. Única, portanto, de acordo com a harmonia (sinfonia) da fé, mas semelhante a muitas vozes porque foi repartido em línguas de fogo pelo Espírito Santo sobre cada um dos Apóstolos que estavam prestes a semear o Evangelho (Εὐαγγέλιον) nas nações da terra. (Bas. [?], En. in Is. 13, 259: PG 30, 573B)

-       O Espírito Santo está na origem da harmonia entre as Igrejas: Basílio aos seus irmãos bispos do Ocidente

Como, então, consideramos como nosso bem a vossa mútua concórdia e unidade, assim também vos convidamos a participar dos nossos sofrimentos causados pelas divisões, e a não nos separarmos de vós por estarmos distantes por causa da localização, mas em virtude de estarmos unidos em comunhão segundo o Espírito, (convidamos-vos) a recebermos uns aos outros na harmonia de um só corpo. (Bas., ep. 90, 1, 26-32)

c.     O Espírito Santo conduz-nos pela mão e conforta-nos

"Esperai, de facto, tribulação sobre tribulação, e esperança sobre esperança, ainda um pouco mais de tempo, ainda um pouco mais de tempo" (Is 28,10). Desta forma, o Espírito Santo sabe consolar (lit.: ψυχαγωγεῖν = conduzir pela mão, encorajar, consolar) com a promessa do futuro os seus filhos que alimenta. Depois das tribulações, de facto, a esperança: as realidades esperadas estão ao alcance. (Bas., ep. 140, 1, 34-38)

-       A ação consoladora do Espírito Santo é representada pelo estalajadeiro, a quem é confiado o homem que se deparou com assaltantes (cf. Lc 10, 25-37)

O orvalho de Deus é necessário para não nos queimar e não nos tornar estéril, e aí onde temos o Acusador, representado pelos salteadores, aí também temos o Defensor, o Espírito representado pelo estalageiro acolhedor (Lc 10,35). O Senhor confiou o "seu" homem, que tinha caído no poder dos salteadores, ao Espírito Santo. Teve piedade dele, ligou-lhe as feridas e deu-lhe dois denários reais para que, recebendo, pelo Espírito, a imagem e a inscrição do Pai e do Filho, fizesse frutificar os dons recebidos e os devolvesse, multiplicados, no último dia. (Iren., haer. III, 17, 3)

-       Aquele que nos guarda é o Espírito Santo

Quando, portanto, a alma dá frutos dignos dos celeiros eternos (cf. Mt 3,12), (o Espírito) permanece perto e (guarda) e afasta os ataques de javalis selvagens (cf. Sl 74,14). (Bas. [?], En. em Is 1,20: PG 30, 152C-153A)

-       O exercício paraclético multiforme do Espírito Santo

Se o Espírito Santo encontra um cobrador de impostos que tem fé, faz dele um evangelista (cf. Mt 9, 9); se encontra um pescador, converte-o em teólogo (cf. Mt 4, 19); se encontra um perseguidor arrependido, transforma-o em apóstolo dos gentios, em anunciador da fé, em vaso de eleição (cf. Act 9, 15). Através dele, os fracos tornam-se fortes, os pobres tornam-se ricos, os plebeus sem instrução tornam-se mais sábios do que os sábios. Paulo era fraco, mas, pela presença do Espírito, o seu linho pessoal trazia a cura àqueles que o recebiam (cf. Act 19, 12). E o próprio Pedro tinha o corpo débil, mas, pela graça do Espírito Santo que nele habitava, a sombra que saía do seu corpo afugentava as doenças dos que estavam debilitados (cf. Act 5,15). Pedro e João eram pobres, não tinham prata nem ouro (cf. Act 3,6), mas deram saúde mais valiosa do que muitas moedas de ouro. O coxo, depois de ter recebido ouro de muitos, continuava a ser um mendigo, mas depois de ter recebido o benefício de Pedro, deixou de mendigar, saltando como uma cria de cervo e louvando a Deus. João não conhecia a sabedoria do mundo, mas, pelo poder do Espírito, disse palavras sobre as quais nenhuma sabedoria pode suster o olhar. O Espírito habita no céu, encheu a terra, está presente em todo o lado e não está contido em lado nenhum. O Espírito habita inteiramente em cada um e inteiramente em Deus. Desempenha o serviço de proporcionar os seus dons, mas não exerce na função de servo; pelo contrário, distribui as suas graças com a sua própria autoridade: de facto, "reparte", diz a Escritura, "os seus dons, atribuindo-os individualmente a cada um, como quer" (1 Cor 12, 11). Ele é enviado de acordo com o plano da redenção, mas actua com total independência. Peçamos-lhe que esteja presente nas nossas almas e que não nos abandone em caso algum, pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem seja dada glória e poder pelos séculos dos séculos. Amém. (Bas., fid. 3)

d.    O Espírito Santo é aquele que nos faz Igreja

"Escutai isto, todos os povos, dai ouvidos, vós todos os habitantes do mundo, vós plebeus e nobres, ricos e pobres juntamente" (Sl 49, 2-3). Porque aquele que, chamando-nos dos mais diversos lugares, faz a unidade, faz de nós a Igreja (ὁ ἐκκκλησιάζων) e convoca todos com o anúncio (τῷ κηρύγματι), é o Paráclito, o Espírito da verdade (Jo 14,17), que reúne todos os que se salvam por meio dos profetas e dos apóstolos; porque por toda a terra se estende o seu anúncio, e até aos confins da terra as suas palavras (Sl 18,5); por isso diz: Ouvi isto, todos os povos e todos os habitantes do mundo (Sl 48,2). Também por isso a Igreja é composta por homens das mais diversas condições, para que ninguém seja excluído do benefício. (Bas., hom. in Ps. 48: PG 29, 433, 9-18)

Assim, o Espírito é verdadeiramente o lugar dos santos. E o santo é, por sua vez, um lugar familiar ao Espírito, porque se oferece para habitar com Deus e também chamado seu templo. (Bas., Spir. 26, 62, 22-24)

-       A ingratidão e a indocilidade entristecem o Espírito Santo que habita em nós

Por isso, pelo facto de o Espírito estar em vós - se é verdade que está completamente em vós - e pelo facto de estar cegos, instruí-nos e guia-nos na escolha do que nos é útil, não sois prejudicados na vossa reta e santa opinião sobre ele. De facto, o cúmulo da deslealdade é fazer da benevolência do benfeitor uma ocasião de ingratidão (ἀφορμὴν ἀχαριστίας). "Não entristeçais o Espírito Santo" (Ef 4,30). Escutai o que diz Estêvão, oferecido como primícias dos mártires, quando censura o povo por desobediência e insubordinação: "Vós", diz ele, "sempre resistis ao Espírito Santo". E ainda Isaías: "Provocaram a indignação do Espírito Santo, que se tornou inimigo deles". E em outra passagem: "A casa de Jacó indignou o Espírito do Senhor". (Bas., Spir. 19: 50, 5-17)

-       As palavras vazias entristecem o Espírito Santo

Pergunta 23. Quando podemos julgar uma conversa como tagarelice (maledicente)? De um modo geral, toda a palavra que não contribui para a realização da vontade do Senhor é inútil. E o perigo de tal palavra é tão grande que, por melhor que seja o que se diga, se não for ordenado à edificação da fé (cf. Ef 4,29), aquele que falou não escapa ao perigo por essa palavra ser boa, mas entristece o Espírito Santo porque o que diz não é ordenado à edificação. O Apóstolo ensinou-nos isto claramente quando disse: "Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só palavras boas para a edificação da fé, de maneira que façam bem aos que ouvem" (Ef 4,29), e acrescentou: "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, pelo qual fostes marcados com um selo" (Ef 4,30). É preciso dizer o grande mal que é entristecer o Espírito Santo de Deus? (Bas., reg. brev. 23: PG 31, 1098D-1100A)

"Lembra-te destas coisas, dando testemunho, diante de Deus, de que é preciso evitar contendas de palavras, porque isto nada aproveita, senão para a ruína dos que as ouvem" (2Tm 2,14)... "Evita também as discussões insensatas e ignorantes, sabendo que elas provocam contendas" (2Tm 2,23). Não se deve proferir conversas inúteis, das quais não se tira nenhum proveito. Efetivamente, mesmo falar ou fazer o bem sem ser para a edificação da fé, é entristecer o Espírito Santo de Deus. (Bas., reg. mor. 25, PG 31, 744B)

Uma vez que o Senhor não deixa sem julgamento aqueles que produzem conversa ociosa, e de uma forma ainda mais forte julga preguiçosos aqueles que deixam os seus talentos intactos na inatividade, o Apóstolo transmitiu-nos que mesmo aquele que profere uma boa palavra, mas não providencia para a edificação da fé, entristece o Espírito Santo (cf. Ef 4, 30), e por isso somos obrigados a considerar o julgamento daquele que indignamente come e bebe. (Bas., bapt. I, 3: PG 31, 1577BC)

e.     O Espírito Santo confirma-nos na fé

"Pela palavra do Senhor se afirmaram os céus, e pelo sopro da sua boca todo o seu poder" (Sl 32,6). [...] Entenda-se, então, que são três: o Senhor que ordena, o Logos que cria, o Sopro (o Espírito) que confirma. O que seria a confirmação (ἡ στερέωσις) senão a aperfeiçoamento (ἡ τελείωσις) na santidade, já que "confirmação" significa aquilo que é constante, imutável, firmemente estabelecido no bem? A santidade não existe sem o Espírito. (Bas., Spir. 16, 38, 37-42)

 

- O Papa: ser uma Igreja unida e fraterna, que escuta e dialoga

"O Sínodo serve para nos recordar isto: a nossa Mãe Igreja sempre precisa de purificação, de ser «reparada», porque todos nós somos um Povo de pecadores perdoados, sempre necessitados de regressar à fonte que é Jesus e de nos colocarmos novamente nos caminhos do Espírito para chegar a todos com o seu Evangelho", disse Francisco em sua homilia na missa de abertura do Sínodo.

Em sua homilia, o Pontífice destacou este versículo do Evangelho de Mateus: «Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos». Jesus "eleva os olhos ao Céu e louva o Pai por ter revelado aos simples os mistérios do Reino de Deus".

Antes dessas palavras de Jesus, o texto é precedido "pela narração de um momento difícil da missão de Jesus, que poderíamos definir de «desolação pastoral»", sublinhou Francisco. "João Batista duvida que Ele seja realmente o Messias; muitas cidades por onde passou, apesar dos prodígios realizados, não se converteram; as pessoas o acusam de ser um glutão e bebedor de vinho, enquanto pouco antes se queixavam do Batista porque era demasiado austero."

Caminhar juntos com o olhar de Jesus

Porém, Jesus não se deixa tomar pela tristeza. "No momento da desolação, tem um olhar capaz de ver mais além: louva a sabedoria do Pai e consegue vislumbrar o bem escondido que cresce, a semente da Palavra acolhida pelos simples, a luz do Reino de Deus que abre caminho mesmo na noite", disse o Papa, acrescentando:

Queridos Cardeais, irmãos Bispos, irmãs e irmãos, estamos na abertura da Assembleia Sinodal. E não nos ajuda um olhar imanente, feito de estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas. Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar nem um plano de reformas; não é para isso.

“O Sínodo, queridos irmãos e irmãs, não é um parlamento. O protagonista é o Espírito Santo. Não estamos aqui para fazer um parlamento. Estamos aqui para caminharmos juntos com o olhar de Jesus, que bendiz o Pai e acolhe a quantos estão cansados e oprimidos.”

Uma Igreja que tem Deus no centro

A seguir, o Papa refletiu sobre o olhar de Jesusum olhar bendizente e acolhedor.

"Este olhar bendizente do Senhor nos convida a sermos uma Igreja que, de ânimo feliz, contempla a ação de Deus e discerne o presente; uma Igreja que, no meio das ondas por vezes agitadas do nosso tempo, não desanima, não procura escapatórias ideológicas, não se barrica atrás de convicções adquiridas, não cede a soluções cômodas, nem deixa que seja o mundo a ditar a sua agenda, disse ainda o Papa.

“Esta é a questão fundamental. E este é o dever primário do Sínodo: centrar de novo o nosso olhar em Deus, para sermos uma Igreja que olha, com misericórdia, a humanidade. Uma Igreja unida e fraterna, ou pelo menos que tenta ser unida e fraterna, que escuta e dialoga.”

Uma Igreja que abençoa e encoraja, que ajuda quem busca o Senhor, que estimula benevolamente os indiferentes, que abre caminhos para iniciar as pessoas na beleza da fé. Uma Igreja que tem Deus no centro e, consequentemente, não se divide internamente e nunca é dura externamente. Uma Igreja que se arrisca com Jesus. É assim que Jesus quer a Igreja, é assim que Ele quer a sua Esposa.

Diálogo sinodal, «marcha no Espírito Santo»

Depois do olhar bendizente, o Papa convidou a contemplar o olhar acolhedor de Cristo. "Enquanto os que se consideram sábios não conseguem reconhecer a obra de Deus, Jesus exulta de alegria no Pai porque se revela aos pequeninos, aos simples, aos pobres em espírito. Por isso, ao longo da sua vida, assume este olhar acolhedor para com os mais frágeis, os atribulados, os descartados", sublinhou o Pontífice.

Segundo Francisco, "este olhar acolhedor de Jesus nos convida a sermos uma Igreja hospitaleira, não de portas fechadas". "Num tempo complexo como o nosso, surgem novos desafios culturais e pastorais que exigem uma atitude interior cordial e gentil para os podermos encarar sem medo. No diálogo sinodal, durante esta maravilhosa «marcha no Espírito Santo» que realizamos juntos como Povo de Deus, oxalá possamos crescer na unidade e na amizade com o Senhor, para ver com o seu olhar os desafios de hoje", disse o Papa.

De acordo com Francisco, "o olhar bendizente e acolhedor de Jesus nos impede de cair em algumas tentações perigosas", como a de "ser uma Igreja rígida, uma alfândega, que se arma contra o mundo e olha para trás; de ser uma Igreja morna, que se rende às modas do mundo; de ser uma Igreja cansada, fechada em si mesma". 

"No livro do Apocalipse, o Senhor disse: “Estou à porta e bato para que a porta se abra”, mas muitas vezes irmãos e irmãs Ele bate à porta, mas de dentro da Igreja para que deixemos o Senhor sair com a Igreja para proclamar o seu Evangelho", sublinhou Francisco.

O Papa convidou a caminhar seguindo as pegadas de São Francisco de Assis, "o Santo da pobreza e da paz, o «louco de Deus» que trouxe no corpo os estigmas de Jesus e, para se revestir d’Ele, despojou-se de tudo. Quão difícil é este despojamento interno e também externo de todos nós e também das instituições! Conta São Boaventura que, enquanto rezava, o Crucificado lhe disse: «Vai e repara a minha igreja»".

Nossa Mãe Igreja sempre precisa de purificação

O Sínodo serve para nos recordar isto: a nossa Mãe Igreja sempre precisa de purificação, de ser «reparada», porque todos nós somos um Povo de pecadores perdoados, sempre necessitados de regressar à fonte que é Jesus e de nos colocarmos novamente nos caminhos do Espírito para chegar a todos com o seu Evangelho. Francisco de Assis, num tempo de grandes lutas e divisões entre o poder temporal e o religioso, entre a Igreja institucional e as correntes heréticas, entre cristãos e outros fiéis, não criticou nem atacou ninguém, mas limitou-se a pegar nas armas do Evangelho, ou seja, a humildade e a unidade, a oração e a caridade. Façamos assim também nós!

No final de sua homilia, o Papa Francisco recordou mais uma vez que o Sínodo "não é uma reunião política, mas uma convocação no Espírito; não é um parlamento polarizado, mas um lugar de graça e comunhão", e convidou todos a se abrirem e invocarem o "protagonista" do Sínodo, o Espírito Santo, e com Ele caminhar "com confiança e alegria".

 

Fonte: Vatican News