Perguntaram um dia a um sábio persa:
– Tu tens muitos filhos, a qual preferes? O homem respondeu:
– O filho que prefiro é o menor até que cresça; o que está longe até voltar; o que está doente até ficar curado; o que está preso até ser libertado; o que está sofrendo até ser consolado…
Neste 26º Domingo do Tempo Comum, continuamos com a leitura do evangelho de Mateus e também com as perguntas e respostas “polêmicas” dos sacerdotes e anciãos de um lado e de Jesus do outro. Desta vez, porém, a iniciativa é do próprio Mestre. Através de uma simples parábola ele nos deixa, como sempre, um ensinamento que vai além das circunstâncias e, assim, desafia a todos nós. A parábola fala de dois irmãos, filhos do mesmo pai. Ele manda ambos ir trabalhar na vinha da família. Nada de mais óbvio. Na medida do possível, os filhos devem colaborar com a economia da casa da qual fazem parte. No entanto, o pai recebe diferentes respostas verbais, mas sobretudo respostas diferentes no agir dos filhos. O primeiro disse claramente que não queria ir trabalhar. Parece preguiçoso e desinteressado. Depois, porém, “mudou de opinião” (Mt 21,29) e foi trabalhar na vinha. O segundo filho recebeu a mesma ordem, logo respondeu que iria, sim, para a vinha. Contudo ele não foi. Jesus perguntou às autoridades presentes e, indiretamente, também a nós: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”. Não tinha outra resposta a não ser: “O primeiro”, ou seja, aquele filho que, apesar de ter dito que não iria trabalhar, afinal, foi para a vinha. O outro, aparentemente obediente, na realidade desobedeceu ao pai.
Logo em seguida, Jesus repreende os sumos sacerdotes e os anciãos, porque não acreditaram na pregação de João Batista. Ele faz uma afirmação, no mínimo, ofensiva e escandalosa para aquelas pessoas que, por causa da rigorosa obediência à Lei, consideravam-se justas e no direito de julgar os outros. Jesus diz que “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21,31) porque eles acreditaram no batismo de penitência que João pregava. Ou seja: os considerados pecadores e perdidos se entenderam como tais e acolheram a proposta de conversão. Ao contrário, os que se consideravam corretos – as pessoas de bem – achavam que não precisavam mudar em nada a própria vida. Indiretamente, Jesus fala dele mesmo, porque com esta atitude de cegueira e surdez à mensagem de João, aquelas pessoas “perfeitas”, em prática, fecharam-se à chegada daquele que, depois, teria batizado “em Espírito Santo e fogo” (Mt 3,11).
A mensagem da parábola é clara. Deus não precisa de filhos obedientes só com as palavras, exteriormente, nas aparências. Ele quer filhos que pratiquem os ensinamentos daquele Filho único que nos enviou: Jesus. Não importa se antes, por alguma razão, estavam bem longe e andavam por caminhos errados. Nunca é tarde para mudar de vida, de fato e seriamente. Autossuficiência, soberba e orgulho acabam nos afastando da mensagem do evangelho. Assim Jesus se torna inútil. Humildade, consciência dos próprios pecados e reconhecimento da bondade de Deus, fazem-nos admirar a sua misericórdia e experimentar a alegria do perdão. Jesus se torna nosso Amigo e Mestre.
Qual seria, então, o filho que o Pai celestial prefere? O perfeito e o orgulhoso de si mesmo? Provavelmente ele prefere o afastado com saudade da casa paterna, a “ovelha perdida” que se deixa carregar nos ombros do Bom Pastor, o errado que desce da árvore para abrir a sua casa, acolher Jesus e dar a metade dos seus bens aos pobres. Ou seja, o filho e a filha que confiam mais na misericórdia do Pai que nos próprios merecimentos e, sobretudo, não julgam os outros. Os filhos e as filhas que se alegram pelo bem que qualquer um pode fazer, sem fazer propaganda. Toda mudança de vida é sempre e antes de tudo um dom gratuito de Deus e não o resultado dos nossos presunçosos esforços. Todo lugar é a “vinha do Senhor”, toda situação precisa de trabalhadores do Reino que pratiquem o mandamento do amor.
Por Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá