O momento central da 44ª Viagem Apostólica Internacional do Papa Francisco, foi a sua presença no encerramento dos “Encontros do Mediterrâneos”, que em sua terceira edição aconteceu em Marselha, na França. Ao chegar no Palácio do Farol, sede do encontro, o Pontífice foi recebido pelo presidente da República da França, Emmanuel Macron, e por sua esposa. Também acompanharam este momento o arcebispo de Marselha e o prefeito da Cidade.
Após a saudação inicial por parte do arcebispo, e da exibição de um vídeo-síntese dos “Encontros do Mediterrâneos”, uma jovem italiana que atua como voluntário em uma casa de acolhimento de refugiados na Grécia e um bispo albanês que migrou para a Itália testemunharam suas histórias e destacaram a importância dos dias de reunião, ao tratarem das diversas realidades mediterrânicas.
Seguiu-se então o discurso do Papa, que demonstrou sua alegria e gratidão por estar presente no encerramento deste importante evento. Francisco evidenciou as características históricas de Marselha, e disse que a cidade nos diz que, apesar das dificuldades, a convivência é possível e geradora de alegria. “No mapa, entre Nisa e Montpellier, parece quase desenhar um sorriso; e assim me apraz pensá-la: como o sorriso do Mediterrâneo”, afirmou o Pontífice.
O Santo Padre abordou o significado do mar, e tudo aquilo que ele representa, seja historicamente ou nos desafios da atualidade, e ressaltou que o Mediterraneo tem uma vocação específica:
“No mar dos conflitos de hoje, estamos aqui a fim de valorizar a contribuição do Mediterrâneo, para que volte a ser laboratório de paz. Pois esta é a sua vocação: ser lugar onde países e realidades diferentes se encontrem com base na humanidade que todos partilhamos, e não nas ideologias que se contrapõem. É verdade que o Mediterrâneo exprime um pensamento que não é uniforme e ideológico, mas poliédrico e aderente à realidade; um pensamento vital, aberto e conciliador: um pensamento comunitário. Quanto necessitamos dele no momento atual, quando nacionalismos antiquados e belicosos querem fazer cair o sonho da comunidade das nações! Mas lembremo-nos de que, com as armas, se faz a guerra, não a paz; e com a ganância de poder volta-se ao passado, não se constrói o futuro.”
O Papa recordou as inúmeras pessoas que vivem imersas na violência e padecem por situações de injustiça e perseguição. “Penso em tantos cristãos, muitas vezes obrigados a abandonar as suas terras ou a habitá-las sem ver reconhecidos os seus direitos, sem gozar de plena cidadania. Por favor, empenhemo-nos para que quantos fazem parte da sociedade possam tornar-se cidadãos de pleno direito”, ressaltou Francisco ao se recordar dos migrantes.
O Pontífice sublinhou que esta situação não é uma novidade dos últimos anos, “nem este Papa vindo da outra parte do mundo é o primeiro a senti-la com urgência e preocupação”, destacou, “a Igreja fala disto com tons vivos há mais de cinquenta anos”.
“Tinha terminado há pouco o Concílio Vaticano II, quando São Paulo VI escreveu, na Encíclica Populorum progressio: Os povos da fome dirigem-se, hoje, de modo dramático aos povos da opulência. A Igreja estremece perante este grito de angústia e convida cada um a responder com amor ao apelo do seu irmão. O Papa Montini enumerou três deveres das nações mais desenvolvidas, enraizados na fraternidade humana e sobrenatural: o dever de solidariedade, ou seja, o auxílio que as nações ricas devem prestar aos países em vias de desenvolvimento; o dever de justiça social, isto é, a retificação das relações comerciais defeituosas, entre povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, quer dizer, a promoção, para todos, de um mundo mais humano e todos tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros.”
Para o Pontifice é certo que estão à vista de todos as dificuldades em acolher, proteger, promover e integrar pessoas não esperadas, o critério principal, porém, não pode ser a manutenção do próprio bem-estar, mas a salvaguarda da dignidade humana. “Aqueles que se refugiam junto de nós não devem ser vistos como um peso a carregar: se os considerarmos irmãos, aparecer-nos-ão sobretudo como dons”, afirmou o Papa.
“Pensando no mar, que une tantas comunidades católocas diversas, creio que se possa refletir sobre percursos de maior sinergia, talvez avaliando mesmo a oportunidade de uma Conferência dos Bispos do Mediterrâneo, que permita novas possibilidades de intercâmbio e dê maior representatividade eclesial à região”, disse Francisco, pensando nos desafios da questão migratória, sendo necessário desenvolver um trabalho em prol de uma pastoral específica ainda mais conectada, de modo que as dioceses mais expostas possam assegurar melhor assistência espiritual e humana às irmãs e aos irmãos que chegam necessitados de tudo.
O Santo Padre concluiu o seu discurso evidenciando a juventude: “jovens bem formados e orientados para fraternizar poderão abrir portas inesperadas de diálogo. Se queremos que se consagrem ao Evangelho e ao nobre serviço da política, é preciso antes de tudo que nós próprios sejamos credíveis: esquecidos de nós mesmos, livres de autorreferencialidade, dedicados a gastar-nos incansavelmente pelos outros”, exortou Francisco.
Em suas palavras finais aos participantes, o Papa Francisco lhes encorajou:
“Continuai em frente! Sede mar de bem, para fazer frente às pobrezas de hoje com uma sinergia solidária; sede porto acolhedor, para abraçar quem procura um futuro melhor; sede farol de paz, para atravessar, através da cultura do encontro, os tenebrosos abismos da violência e da guerra.”
-"Apreciei sua humanidade": o pesar Papa pela morte de Giorgio Napolitano
Giorgio Napolitano, o ex-presidente da República Italiana, eleito por duas vezes para o mais alto cargo do Estado, faleceu na noite de sexta-feira, 22 de setembro. Ele tinha 98 anos e estava internado na clínica Salvator Mundi, em Roma. O seu estado de saúde se agravou nos últimos tempos, tanto que o Papa Francisco na Audiência Geral da última quarta-feira, convidou os fiéis a dirigirem um pensamento e uma oração ao presidente emérito da República Italiana, definindo-o como um “servidor da pátria".
Em telegrama enviado à senhora Clio Bittoni Napolitano ainda na noite de sexta-feira, o Santo Padre expressou seus “sentimentos de comoção e ao mesmo tempo de reconhecimento por este estadista, que no desempenho de seus altos cargos institucionais, demonstrou grandes qualidades de intelecto e sincera paixão pela vida política italiana, bem como um grande interesse pelo destino das nações".
O Papa escreve ter “grata memória dos encontros pessoais tidos com ele, durante os quais – afirma – apreciei nele a humanidade e a clarividência em fazer corretamente escolhas importantes, especialmente em momentos delicados para a vida do país, com a constante intenção de promover a unidade e a harmonia num espírito de solidariedade, animado pela busca do bem comum”.
- Papa encontra Macron em Marselha
Primeiro, uma saudação informal no terraço em frente ao auditório sob o Palais du Pharo, em Marselha, onde o Papa participou na sessão conclusiva dos Rencontres Méditerranéennes, depois o encontro privado no Salon d'honneur du Maire.
Na manhã deste sábado, Francisco encontrou-se duas vezes com o presidente da República francesa, Emmanuel Macron, que foi recebê-lo na cidade do sul da França acompanhado por sua esposa Brigitte.
Macron estava sentado na primeira fila da grande sala onde o Papa proferiu o seu discurso no encerramento dos “Encontros do Mediterrâneo”, no final do qual, contou em tom de brincadeira que “uma vez o presidente me convidou para visitar a França e ele me disse isso: o importante é que vá a Marselha."
Por volta das 11h30, o Pontífice e o presidente reuniram-se em privado no Salão de Honra. Conforme informa a Sala de Imprensa do Vaticano, após a foto oficial, ocorreu a conversa reservada que foi seguida pela apresentação da família e da troca de presentes.
Ao mesmo tempo, na sala adjacente – segundo uma nota do Vaticano – teve lugar um breve encontro entre o cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, e a primeira-ministra Élisabeth Borne, na presença do substituto da Secretaria de Estado, monsenhor Edgar Peña Parra, do núncio apostólico na França, arcebispo Celestino Migliore, e conselheiro da Nunciatura.
No final do encontro com o presidente da República, o Papa regressou de carro ao Arcebispado onde almoçou privadamente.
Dar-se a mão é um gesto de fraternidade e viver como irmãos é uma profecia. Francisco sorri enquanto fala, dirigindo-se a um público que fez desta profecia a sua missão.
O segundo dia do Papa em Marselha inicia com um encontro privado com algumas pessoas em graves dificuldades econômicas e realiza-se na Casa das Missionárias da Caridade, as irmãs de Madre Teresa de Calcutá, em Saint Mauront, um dos bairros entre os mais pobres do França.
“Obrigado pela acolhida – diz-lhes Francisco – somos todos irmãos, isto é importante: a fraternidade”. Muitas vezes as nossas civilizações, continua ele, seguido de perto por religiosas e hóspedes, “nos levam a viver como inimigos ou como estranhos. O gesto profético é viver como irmãos: isto é uma profecia!”, a de uma fraternidade que vai além do “pensamento político e religioso”. A saudação do Papa é um forte agradecimento às religiosas, “obrigado pelo vosso testemunho – diz-lhes – e estou feliz por estar aqui."
Irmã Crosvita escuta o Papa com emoção: há dois anos em Marselha, ela e as suas irmãs administram um refeitório para os pobres, que acolhe 50 pessoas de cada vez, 3-4 vezes por dia, das 9h30 às 11h30 e em um dia pode servir até 250.
“São pobres – explica a freira – alguns vivem na rua, recentemente há um grupo de pessoas que chegou do Sudão, não têm onde ficar, dormem na rua. Depois também há pessoas que, se tiverem onde dormir, não têm como comer, os encontramos aqui desde de manhã cedo.”
Entre os que fazem fila para comer, além dos migrantes, estão também os franceses, “pessoas que tiveram problemas e que não conseguem sustentar-se”.
As freiras não fazem perguntas, acolhem e estendem a mão. “Simplesmente quando perguntamos a eles como estão, começam a falar e isso é bom para eles, porque eles não têm com quem desabafar, às vezes também há confusão, mas é sempre por isso, porque há a angústia de não conseguirem e têm necessidade de desabafar com alguém, às vezes conversando, outras vezes ficam um pouco mais agitados."
Esta é a profecia de acolhimento e fraternidade que Irmã Crosvita e suas irmãs testemunham ao Papa a quem falam da sua missão: “Ver Cristo no outro, nas outras pessoas, qualquer pessoa que se aproxima de nós e que encontramos é Cristo” .