Cultura

Papa Francisco: testemunhar a fé não com palavras, mas com o exemplo





O Papa falou sobre o zelo apostólico do Beato José Gregório Hernández Cisneros, na Audiência Geral desta quarta-feira. Ele "não segue as próprias aspirações, mas a sua disponibilidade aos desígnios de Deus". Segundo Francisco, "o Beato compreendeu que, por meio do cuidado dos doentes, colocaria em prática a vontade de Deus. Chegou assim, nesta estrada interior, a acolher a medicina como um sacerdócio: «o sacerdócio da dor humana»".

Na catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (13/09), realizada na Praça São Pedro, o Papa Francisco falou sobre o zelo apostólico de um leigo: o Beato José Gregório Hernández Cisneros. Nascido na Venezuela, em 26 de outubro de 1864, "recebeu a fé sobretudo da mãe, como contou: «A minha mãe ensinou-me a virtude desde o berço, fez-me crescer no conhecimento de Deus e deu-me a caridade como guia»". "São as mães que transmitem a fé. A fé se transmite em dialeto, ou seja, com a linguagem das mães, aquele dialeto que as mães sabem falar com os filhos. Vocês mães fiquem atentas a transmitirem a fé com aquele dialeto materno", sublinhou o Pontífice.

Segundo Francisco, "a caridade foi a estrela que norteou a existência do Beato José Gregório: pessoa boa e radiante, de caráter alegre, era dotado de uma inteligência marcante; tornou-se médico, professor universitário e cientista".

Viver a serviço de Deus e do próximo

Mas foi antes de tudo um médico próximo dos mais fracos, tanto que era conhecido na sua pátria como “o médico dos pobres”. À riqueza do dinheiro preferiu a do Evangelho, dedicando sua existência para socorrer os necessitados.

“Nos pobres, nos doentes, nos migrantes, nos sofredores, José Gregório via Jesus. E o sucesso que nunca buscou no mundo o recebeu, e continua recebendo, das pessoas, que o chamam de "santo do povo", "apóstolo da caridade", “missionário da esperança”.”

O Papa prosseguiu, dizendo que "José Gregório era um homem humilde, gentil e disponível. E ao mesmo tempo era movido por um fogo interior, pelo desejo de viver a serviço de Deus e do próximo. Movido por esse ardor, tentou várias vezes tornar-se religioso e sacerdote, mas vários problemas de saúde o impediram de fazê-lo. No entanto, a sua fragilidade física não o levou a fechar-se em si mesmo, mas a tornar-se um médico ainda mais sensível às necessidades dos outros; agarrou-se à Providência e, fortalecido na alma, foi mais ao essencial".

«O sacerdócio da dor humana»

Eis o zelo apostólico dele: não segue as próprias aspirações, mas a sua disponibilidade aos desígnios de Deus. E assim o Beato compreendeu que, por meio do cuidado dos doentes, colocaria em prática a vontade de Deus, socorrendo os que sofrem, dando esperança aos pobres, testemunhando a fé não com palavras, mas com o exemplo.

“Chegou assim, nesta estrada interior, a acolher a medicina como um sacerdócio: «o sacerdócio da dor humana». Quão importante é não sofrer passivamente as coisas, mas, como diz a Escritura, fazer tudo com bom coração, para servir ao Senhor.”

Esse entusiasmo, esse zelo de José Gregório vinham "de uma certeza e de uma força". "A certeza era a graça de Deus", sublinhou o Pontífice. "Ele por primeiro sentia a necessidade da graça, que a mendigava nas ruas e tinha extrema necessidade do amor. E eis a força que ele almejava: a intimidade com Deus. Era um homem de oração, a graça de Deus e a intimidade com Deus. Era um homem de oração que participava da missa", disse o Papa.

Promover o bem, construir a paz na justiça e na verdade

No contato com Jesus, José Gregório "se oferece no altar por todos". Ele "sentiu-se chamado a oferecer a sua vida pela paz. O primeiro conflito mundial estava em andamento. Chegamos assim ao dia 29 de junho de 1919: um amigo o visita e o encontra muito feliz. José Gregório soube de fato que foi assinado o tratado que põe fim à guerra. Sua oferta foi aceita e é como se ele sentisse que sua missão na terra estivesse concluída. Naquela manhã, como sempre, tinha ido à missa e depois saiu às ruas para levar remédios a um doente. Mas, enquanto atravessava a rua, foi atropelado por um veículo; levado ao hospital, morreu pronunciando o nome de Nossa Senhora. Assim terminou o seu caminho terreno, em uma rua, enquanto realizava uma obra de misericórdia, e em um hospital, onde fez de seu trabalho uma obra-prima como médico".

Ele nos estimula ao compromisso diante das grandes questões sociais, econômicas e políticas de hoje. Muitos falam sobre isso, tantos falam mal sobre isso, tantos criticam e dizem que tudo vai mal.

“Mas o cristão não é chamado a isto, mas sim a se ocupar disso, a sujar as mãos: antes de tudo, como nos disse São Paulo, a rezar, e depois a empenhar-se não em falatórios, a fofoca é uma praga, mas na promoção do bem, na construção da paz e da justiça na verdade.”

Também isto é zelo apostólico, é anúncio do Evangelho, é bem-aventurança cristã: “Bem-aventurados os pacificadores”.

"Sigamos em frente no caminho do Beato Gregório, um leigo, um médico, um homem de trabalho cotidiano que o zelo apostólico o impeliu a viver fazendo a caridade durante toda a vida", concluiu Francisco.

 

- Que o Senhor lhes dê forças, afirmou o Papa, ao se recordar da Líbia e do Marrocos

O Papa Francisco, em seu apelo final durante a catequese desta quarta-feira (13/09), manifestou seu pesar pelas tragédias recentes que atingiram a Líbia e o Marrocos.

No final da audiência geral, Francisco expressou sua proximidade às vítimas e a toda a população da Líbia e do Marrocos, ao recordar os desastres sofridos nos últimos dias por esses países, dos quais já havia manifestado seu pesar anteriormente. O Papa reforçou, sobretudo, o pedido de orações pelas duras realidades enfrentadas nessas nações.

A busca por milhares de pessoas desaparecidas na Líbia continua

Ao se recordar da Líbia, o Santo Padre disse que seus pensamentos estão voltados para aquele povo "duramente atingido por violentas chuvas que causaram enchentes e inundações, resultando em inúmeras mortes e ferimentos, além de grandes danos."

O Papa, ao fazer seu apelo, sublinhou: "convido-os a se unirem a mim em minhas orações por aqueles que perderam suas vidas, por suas famílias e por aqueles que ficaram desabrigados. Que nossa solidariedade com esses irmãos e irmãs, provados por uma calamidade tão devastadora, não falhe."

Os números do desastre na costa do país ainda seguem imprecisos, com pelo menos 5 mil mortos. A passagem do furacão Daniel e a ruptura das barreiras na cidade de Derna a fizeram praticamente submergir quando o furacão atingiu o país no domingo (10/09). Estima-se que cerca de 10.000 pessoas estejam desaparecidas. Acredita-se que muitas tenham sido levadas pelo mar, e as buscas pelas vítimas são incessantes.

O Pontífice havia dirigido suas palavras ao país norte-africano através de um telegrama, divulgado na terça-feira (12/09), assinado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, e direcionado ao núncio apostólico dom Savio Hon Tai-Fai. No texto, o Papa afirma que recebeu "com profunda tristeza a notícia da imensa perda de vidas humanas e na ocasião, expressou também "uma sincera proximidade espiritual aos feridos, aos que temem pelos seus entes queridos desaparecidos e às equipes de emergência que prestam socorro e assistência".

No Marrocos, mais de 300 mil pessoas foram afetadas

Francisco se recordou também do terremoto que atingiu o Marrocos: "meus pensamentos se voltam novamente para o nobre povo marroquino que sofreu esses tremores de terra, esses terremotos. Oremos pelo Marrocos, oremos por seus habitantes. Que o Senhor lhes dê forças para superar esse terrível incidente que passou por sua terra".

O número de mortos pelo terremoto da sexta-feira (08/09) no Marrocos é de aproximadamente 3 mil, e estima-se que cerca de 5,5 mil pessoas foram feridas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 mil pessoas foram afetadas pelo terremoto, definido como o mais mortal no Marrocos desde 1960.

Durante a oração do Angelus no último domingo (10/09), o Papa expressou sua proximidade ao povo do Marrocos: "rezo pelos feridos, por aqueles que perderam a vida - tantos! - e por seus familiares. Agradeço aos socorristas e a todos os que estão trabalhando para aliviar o sofrimento das pessoas; que a ajuda concreta de todos possa apoiar a população neste momento trágico. Estamos próximos ao povo do Marrocos".

A mente e o coração do Papa estão sempre voltados para a Ucrânia

Em suas palavras finais, o Santo Padre recordou ainda a Ucrânia e pediu novamente orações pela paz e por este martirizado país: "continuemos a orar pela paz no mundo, especialmente na martirizada Ucrânia, cujo sofrimento está sempre presente em nossas mentes e em nossos corações."

 

-  Papa recebe tela feita por detentos que retrata tragédia de migrantes mortos na Itália

Para recordar uma das maiores tragédias da imigração, registrada em fevereiro deste ano em Cutro, quando 94 pessoas morreram - entre as quais 35 menores -, os presos do Cárcere de Crotone, na Calábria, produziram uma obra de arte. Ela foi entregue ao final da Audiência Geral desta quarta (13).

Em memória dos migrantes que morreram em 26 de fevereiro deste ano, nas águas de Steccato di Cutro, na Calábria, perto de Crotone, na Itália, os detentos do cárcere local presentearam o Papa Francisco com uma tela, contida em uma caixa de vidro, na qual o evento dramático é reproduzido. A entrega oficial aconteceu ao final da Audiência Geral desta quarta-feira (13).

O Pontífice nunca deixou de levantar sua voz em defesa das muitas pessoas que fogem da guerra, da violência, da perseguição e da pobreza. No mesmo dia em que 94 migrantes a bordo do barco da Turquia morreram na costa de Steccato di Cutro, entre os quais, 35 menores, o bispo de Roma expressou profunda tristeza durante o Angelus e, uma semana depois, voltou novamente da janela do palácio apostólico para implorar:

“As viagens da esperança não devem mais se transformar em viagens da morte. Que as águas límpidas do Mediterrâneo não sejam mais ensanguentadas por incidentes tão trágicos.”

Convidando as pessoas a rezar pelas muitas vítimas do mar, o Pontífice, naquela oportunidade, também pediu para não ceder à tentação do hábito, à "globalização da indiferença" repetidamente denunciada: "que o Senhor nos dê a força para entender e chorar".

A tela em memória aos migrantes mortos em Cutro

"A criação da obra é também uma forma de dar voz aos detentos", disse o capelão da prisão de Crotone que acolhe 143 pessoas, Pe. Oreste Mangiacapra, "que são sensíveis a questões como essas, demonstrando que querem mudar e se preparar, uma vez cumprida a pena, para uma verdadeira reintegração social, humana e laboral, como o Pontífice sempre desejou". A obra, acrescentou Federico Ferraro, representante municipal dos direitos dos detentos, "representa o sentimento de solidariedade de todos os presidiários para com as vítimas e a proximidade com os sobreviventes e suas famílias. Isso mostra como, nas prisões, há pessoas que mantêm um senso de participação social".

A obra entregue ao Papa é uma das três que os detentos realizaram em memória às vítimas da tragédia de Cutro. Elas chegaram a fazer parte de uma exposição por iniciativa do Departamento de Cultura do município, do Representante Municipal dos Direitos dos Detentos e da administração da prisão de Crotone. Além da tela entregue ao Papa, por desejo expresso dos detentos, as outras duas são destinadas ao presidente da Itália, Sergio Mattarella, e ao Departamento de Administração Prisional. 

A pedra fundamental do Redemptoris Mater em Uzhgorod

"Um sinal de paz e uma expressão do desejo de reconstruir": foi assim que o Pe. Francesco Andolfatto, reitor do seminário Redemptoris Mater em Uzhgorod, na Ucrânia, descreveu a pedra fundamental da nova estrutura "que estamos construindo nesta cidade ucraniana na fronteira com a Eslováquia e a Hungria", abençoada por Francisco ao final da Audiência Geral destas quarta (13).

"O tempo que estamos vivendo na Ucrânia é muito difícil", explicou, "e estamos aqui graças a uma permissão especial para tirar todos os seminaristas e instrutores do país, algo que, por causa do recrutamento, não é possível para os ucranianos de 18 a 60 anos. Assim, também fizemos uma peregrinação para comemorar o aniversário de 10 anos da fundação do seminário".

 

A bênção do Papa às relíquias da Família Ulma, recém beatificada na Polônia

 

No domingo (10), a beatificação em Markowa, na Polônia. Nesta quarta (13), a bênção do Papa tanto às relíquias dos Ulma, a primeira família beatificada inteira pela Igreja de uma só vez, como a uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, que seguirão em peregrinação a Przemyśl. A partir de 24 de setembro, como antecipa o arcebispo Adam Szal, as relíquias irão percorrer todas as dioceses para "dar continuidade à beatificação", "para fazer da família o foco da atenção pastoral de todos".

 

“Saúdo cordialmente os poloneses e, em particular, o arcebispo Adam Szal que, com uma delegação, trouxe a Roma as relíquias dos novos beatos mártires: Józef e Wiktoria Ulma e seus sete filhos. Que essa Família de Beatos possa ser para vocês e para as suas famílias polonesas um modelo de devoção ao Sagrado Coração de Jesus, cuja imagem, que hoje irei abençoar, vocês levarão em peregrinação à arquidiocese.”

 

Da saudação aos peregrinos poloneses durante a Audiência Geral desta quarta (13) à bênção especial ao final da catequese na Praça São Pedro. O Papa Francisco rezou e deu a sua bênção às relíquias da Família Ulma, beatificada no último domingo (10) em Markowa, na Polônia, junto à cópia de um quadro que retrata a família beatificada trazidos ao Vaticano pelo arcebispo metropolitano de Przemyśl, dom Adam Szal. Uma imagem do Sagrado Coração de Jesus também ganhou a bênção do Papa e deve seguir em peregrinação àquela arquidiocese como sinal de ação de graças pela beatificação de Józef Ulma, a esposa Wiktoria Ulma e seus sete filhos.

 

No vilarejo da Polônia onde moravam, eram muito ativos na comunidade paroquial e conhecidos como os samaritanos de Markowa. São considerados mártires, pois foram massacrados na noite entre 23 e 24 de março de 1944 pelos soldados nazistas, por terem sido considerados culpados de esconder judeus em sua fazenda. Foi a primeira vez que uma família inteira foi beatificada pela Igreja de uma só vez.

 

A beatificação dos Ulma enaltece o valor das famílias

 

Em entrevista à Rádio Vaticano, o arcebispo Adam Szal comentou da importância da beatificação dos Ulma e a bênção das relíquias pelo Papa, na Praça São Pedro, que acaba enaltecendo a questão da família e dos desafios enfrentados no mundo moderno:

 

"Esta é uma viagem extraordinária para nós, porque ainda estamos na euforia da beatificação dos nossos compatriotas que, durante a II Guerra Mundial, apoiaram os refugiados, os judeus perseguidos da época. Famílias de judeus que precisavam de ajuda. Acredito que o mais bonito é o fato da beatificação ter voltado nossa atenção para a família, para fazer da família o foco da atenção pastoral de todos nós, para que os filhos tenham tempo para os pais e os pais para os filhos. Que também devemos nos inclinar para a união sacramental. Por isso, a celebração litúrgica da família do novo Beato será no dia 7 de julho, aniversário de casamento dos Ulma. Gostaríamos de pedir aos nossos compatriotas na Polônia que se concentrem nesse mistério que é a família. Ainda mais porque o Conselho para a Família da Conferência Episcopal Polonesa deu início à ideia de que as relíquias do Beato percorrerão cada uma das dioceses. Essa peregrinação terá início em 24 de setembro, com uma cerimônia em Jasna Góra. Em nossa arquidiocese, da melhor forma possível, queremos dar continuidade a essa beatificação, ou seja, não parar no mero fato, mas que haja uma continuação dessa beatificação em nosso trabalho pastoral".

 

Já o postulador da causa, Pe. Witold Burda, explicou ao jornal vaticano L'Osservatore Romano, que a delegação veio da Polônia especialmente para agradecer ao Papa a decisão de beatificar a família Ulma, "esperando que esse evento extraordinário produza frutos duradouros e numerosos na vida da Igreja. Acreditamos que a peregrinação da imagem do Sagrado Coração de Jesus, que começa em 18 de setembro e também chegará à França, também será de grande ajuda para esse fim".

 

Fonte: Vatican News