O Papa Francisco foi recebido neste domingo (3) no Teatro Hun, a 13 km da capital Ulan Bator, para o primeiro compromisso do dia junto a líderes de mais de dez religiões. O espaço que sediou o encontro é destinado a espetáculos de folclore da Mongólia e construído no formato circular de um ger - uma estrutura tradicional criada três mil anos atrás para a moradia dos povos nômades da Ásia Central e que deixou o Pontífice fascinado, porque sempre está aberta para acolher:
"O ger constitui um espaço humano: dentro dele se desenrola a vida familiar; é lugar de convívio amistoso, de encontro e de diálogo onde, mesmo quando são muitos, sempre se consegue arranjar espaço para mais um. Além disso, é um ponto de referência concreto, facilmente identificável nas imensas extensões do território mongol; é motivo de esperança para quem se extraviou: se existe um ger, há vida."
Em discurso pronunciado após a leitura de mensagens de expoentes das mais diversas religiões presentes especialmente para o Encontro Ecumênico e Inter-religioso, o Pontífice afirmou que além de ser um espaço para a convivência humana, o ger "evoca a essencial abertura ao divino". Essa dimensão espiritual e o conviver harmonioso refletem simbolicamente a contribuição dada pelos "discípulos entusiastas dos respectivos mestres" oriundos de diferentes religiões. Daí o compromisso em "oferecer aquilo que é e aquilo que crê, no respeito pela consciência alheia e visando o maior bem de todos":
"Grande é aqui, queridos irmãos e irmãs, a nossa responsabilidade, especialmente nesta hora da história, porque o nosso comportamento é chamado a confirmar nos fatos os ensinamentos que professamos; não os pode contradizer, tornando-se motivo de escândalo. Nenhuma confusão, portanto, entre credo e violência, entre sacralidade e imposição, entre percurso religioso e sectarismo."
Desde a pequena comunidade católica na Mongólia, o Papa Francisco afirmou que, "com humilade e no espírito de serviço que animou a vida do Mestre", a Igreja católica permanece "em atitude de abertura e escuta a quanto têm para oferecer às outras tradições religiosas":
“Quero confirmar-vos que a Igreja católica deseja caminhar assim, crendo firmemente no diálogo ecumênico, inter-religioso e cultural.”
O Pontífice ainda acrescentou em discurso, que "o fato de nos encontrarmos aqui hoje é sinal de que é possível ter esperança". A própria Mongólia, disse o Papa aos "irmãos na fé", "recorda a todos nós, peregrinos e viandantes, a necessidade de olhar para o alto a fim de encontrar a rota do caminho na terra", ao testemunhar "uma louvável harmonia". As religiões, enfatizou Francisco, "são chamadas a oferecer ao mundo esta harmonia, que o progresso técnico, por si só, não pode dar", junto a um altruísmo que não seja abstrato, mas concreto na colaboração com o outro.
Além disso, o Papa trouxe em discurso aspectos do "patrimônio de sabedoria" que as religiões difundidas na Mongólia contribuíram a criar e o país pode oferecer ao mundo. Entre eles: o bom relacionamento com a tradição, não obstante as tentações do consumismo; o cuidado pelo meio ambiente; o valor do silêncio e da vida interior; o valor do acolhimento; o apreço pela simplicidade.
"O próprio fato de estarmos juntos no mesmo lugar já é uma mensagem: as tradições religiosas, na sua originalidade e diversidade, constituem um formidável potencial de bem ao serviço da sociedade. Se quem possui a responsabilidade das nações escolhesse o caminho do encontro e do diálogo com os outros, contribuiria de forma decisiva para acabar com os conflitos que continuam a causar sofrimento a tantos povos."
- Mongólia: a imagem de Nossa Senhora encontrada no lixo
Antes do inicio do encontro com a comunidade católica, o Santo Padre foi ao encontro da Sra. Tsetsege, mãe de onze filhos em um "ger" (habitação característica do povo da Mongólia). Ela conta que encontrou uma bela estátua de madeira esculpida com as feições de uma bonita mulher em um depósito de lixo. Inicialmente, não percebeu que se tratava da Virgem Imaculada. Ao voltar para casa, ela disse para a família: "Essa linda senhora quis vir morar na minha tenda". E depois, quando percebeu de quem se tratava, a mulher entregou a estátua à comunidade católica, que a exibiu em uma paróquia local.
A história da estátua da Virgem Maria foi então contada ao Cardeal Giorgio Marengo, Prefeito Apostólico de Ulan Bator, e ele mesmo concluiu:
"Imediatamente pensei que a Virgem Maria queria nos dizer algo por meio desse achado. Como aquela estátua tinha ido parar no lixão, já que, especialmente naquela parte do país, há pouquíssimos católicos? Então pensei que o Senhor, por meio de sua Santa Mãe, se faz presente nas situações mais extremas para nos dizer o quanto ele está próximo de cada um de nós."
O Cardeal Marengo também enfatizou que a Virgem "está sempre pronta para nos encontrar, mesmo em lugares de desespero, de descarte, de dor, de abandono". "Também falei sobre a estátua com o Santo Padre quando o visitei com uma pequena delegação de monges budistas da Mongólia: mostrei-lhe uma imagem e ele ficou muito satisfeito".
Em seu discurso durante o encontro com os Bispos, Sacerdotes, Missionários, Consagrados, Consagradas e Agentes da Pastoral, o Santo Padre destacou a importância da presença de Nossa Senhora em meio aquela pequena comunidade:
“Neste caminho de discípulos-missionários, tendes um apoio seguro: a nossa Mãe celeste, que quis dar-vos um sinal palpável da sua presença discreta e solícita ao deixar que se encontrasse a sua imagem numa lixeira. Naquele lugar dos detritos, apareceu esta bela estátua da Imaculada: Ela, sem mácula, imune do pecado, quis chegar tão perto a ponto de ser confundida com os desperdícios da sociedade, para que, da imundície do lixo, emergisse a pureza da Santa Mãe de Deus.”
Ao final do encontro o Papa Francisco abençoou a imagem de Nossa Senhora, venerada como "Mãe do Céu", que desde o dia 08 de dezembro de 2022 foi entronizada na Catedral de Ulan Bator.
Fonte: Vatican News