"Quem ama não permanece nas próprias posições, mas se deixa mover e comover; sabe como mudar seus programas. O amor é criativo. E nós, cristãos, se quisermos imitar Cristo, somos convidados à disponibilidade da mudança”. Foi o que disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo na Praça São Pedro, repleta de fiéis e peregrinos de todas as partes do mundo, apesar do forte calor europeu. Na sua alocução comentou o episódio evangélico da mulher cananeia.
Como faz bem em nossos relacionamentos, - disse Francisco - mas também na vida de fé, ser dócil, realmente ouvir, ser carinhoso em nome da compaixão e do bem dos outros, como Jesus fez com a mulher cananeia. “A docilidade para mudar".
A esse respeito, o Pontífice enfatizou: "aqui está a concretude da fé, que não é uma etiqueta religiosa, mas um relacionamento pessoal com o Senhor. Quantas vezes caímos na tentação de confundir a fé com uma etiqueta. A fé da mulher cananeia não é feita de etiqueta teológica, mas de insistência; não de palavras, mas de oração. E Deus não resiste quando se reza a ele".
Vemos que Jesus muda sua atitude, - disse o Papa - e o que o faz mudar é a força da fé da mulher. Francisco se detém então brevemente em dois aspectos: a mudança de Jesus e a fé da mulher.
A mudança de Jesus. Ele estava dirigindo sua pregação ao povo eleito; depois, o Espírito Santo levaria a Igreja até os confins da terra. Mas aqui, poderíamos dizer, ocorre uma antecipação, pela qual, no episódio da mulher cananeia, a universalidade da obra de Deus já se manifesta.
E nós, cristãos, se quisermos imitar Cristo, somos convidados a estar prontos para a mudança.
Vejamos então a fé da mulher, que o Senhor elogia, dizendo que é "grande". Para os discípulos, apenas a insistência dela parece grande; em vez disso, Jesus vê a fé. Se pensarmos bem, - disse ainda o Papa - aquela mulher estrangeira provavelmente sabia pouco, ou quase nada, sobre as leis e os preceitos religiosos de Israel. Em que, então, consiste a sua fé? Ela não é rica de conceitos, mas de fatos: a mulher cananeia se aproxima, prostra-se, insiste, mantém um diálogo íntimo com Jesus, supera todos os obstáculos para falar com ele.
"À luz de tudo isso, podemos nos fazer algumas perguntas", acrescentou Francisco. Começando com a mudança de Jesus: sou capaz de mudar opinião? Sou capaz de ser compreensivo e compassivo ou permaneço rígido em minhas posições? E a partir da fé da mulher, disse ainda o Papa: como está a minha fé? Ela se limita a conceitos e palavras, ou é realmente vivida, com a oração e as ações? Sei dialogar com o Senhor, insistir com Ele, ou me contento em recitar alguma fórmula bonita?".
“Que Nossa Senhora nos torne disponíveis ao bem e concretos na fé", finalizou o Papa.
- Papa reza pela paz no Níger e pela estabilidade no Sahel
Após a oração mariana do Angelus, na Praça São Pedro, o Papa expressou sua preocupação com o que está ocorrendo no Níger.
"Eu me uno ao apelo dos bispos em favor da paz no país e da estabilidade na região do Sahel. Acompanho com a oração os esforços da comunidade internacional para encontrar uma solução pacífica o mais rápido possível para o bem de todos".
E, ao mesmo tempo em que convida a rezar pelo amado povo do Níger, o pontífice recomenda de invocar a paz "para todos os povos feridos pelas guerras e violências, especialmente", enfatiza, "rezemos pela Ucrânia, que vem sofrendo há tanto tempo".
Há vários anos, o Níger tem sido regularmente atingido por ataques jihadistas sangrentos. Na última terça-feira, pelo menos 17 soldados foram mortos em um ataque perto de Burkina Faso, o mais mortal desde o golpe de Estado. A situação é tensa e pede a atenção das diplomacias.
A delegação da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas), que chegou neste sábado, 19 de agosto, a Niamey para tentar encontrar uma solução diplomática para a crise no Níger, declarou estar pronta para uma intervenção armada. Ela se reuniu com o presidente deposto Mohamed Bazoum, mantido prisioneiro desde o golpe de 26 de julho, e exigiu sua libertação e o retorno ao poder. Enquanto isso, o general Abdourahamane Tiani, que assumiu o poder com o golpe, declarou que o período de transição não ultrapassaria três anos e advertiu os países estrangeiros contra a intervenção militar em seu país. Nossa ambição não é tomar o poder", disse Tiani em um discurso televisivo. Tiani continuou alertando que, se houvesse uma "agressão" contra o novo regime, "não seria tão fácil como alguns pensam".
Em 10 de agosto, os líderes da África Ocidental ordenaram o envio de uma "força de contenção", cujos contornos foram delineados na sexta-feira em Accra, sem fornecer detalhes ou cronograma. Em Niamey, os militares insistem que a população apoia sua tomada de poder. Na manhã de sábado, milhares de voluntários se reuniram em torno do estádio Seyni Kountché, no centro da capital, respondendo a um apelo de várias organizações para que se juntassem às listas de auxiliares civis que poderiam ser mobilizados em apoio às forças armadas, observaram os repórteres da Afp. À tarde, os Estados Unidos, um dos principais parceiros do Níger na luta contra os jihadistas, anunciaram a presença de um novo embaixador em Niamey.
"Estamos alarmados com o fato de que nossos suprimentos que salvam vidas permanecem bloqueados em vários pontos de entrada no país", diz o Unicef, que precisa urgentemente chegar ao Níger, que não tem litoral. No momento, a organização humanitária tem dois contêineres presos na fronteira com o Benin com equipamentos essenciais; 19 contêineres no porto de Cotonou com equipamentos de vacinação; e 29 contêineres destinados ao Níger atualmente no mar com suprimentos de alimentos terapêuticos e seringas. Essas ajudas que salvam vidas, "para o tratamento da desnutrição e para a imunização, correm o risco de perder sua eficácia para as crianças que estamos ajudando", é o apelo, "se sua entrada no Níger for ainda mais atrasada e se forem expostas ao mau tempo". É por isso que o UNICEF está pedindo a todas as partes envolvidas na crise que "garantam que os trabalhadores humanitários e os suprimentos cheguem com segurança às crianças e famílias mais vulneráveis onde são necessários".
Fonte: Vatican News