Cultura

Papa Francisco: gestos concretos e escolhas compartilhadas para uma cultura de paz





Mensagem do Santo Padre por ocasião da 44ª edição do "Encontro para a amizade entre os povos". Esse tradicional "Meeting de Rimini", na Itália, terá início no próximo domingo, dia 20.

“O Santo Padre pede aos cristãos e a todos os homens e mulheres de boa vontade que não permaneçam surdos diante do grito que se eleva a Deus a partir deste nosso mundo. Os discursos não são suficientes, o que é necessário são "gestos concretos" e "escolhas compartilhadas" que construam uma cultura de paz”: é o que se lê na mensagem do Santo Padre assinada pelo cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin e enviada a dom Nicolò Anselmi, bispo de Rimini, por ocasião da 44ª edição do "Encontro para a amizade entre os povos". Esse tradicional "Meeting de Rimini", na Itália, terá início no próximo domingo, dia 20, com a Santa Missa presidida pelo cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI).

Neste ano, o tema central do Encontro é “A existência humana é uma amizade inesgotável”.

O Santo Padre envia mais uma vez a sua mensagem dirigida aos organizadores e participantes do Encontro, enquanto, infelizmente, a guerra e as divisões – escreve - semeiam nos corações ressentimentos e medo, e o outro que é diferente é muitas vezes visto como um rival. A comunicação global e generalizada – continua a mensagem – “faz com que essa atitude generalizada se torne uma mentalidade, as diferenças apareçam como sintomas de hostilidade e ocorra uma espécie de epidemia de inimizade.

Nesse contexto, o título do Encontro parece ousado: "A existência humana é uma amizade inesgotável". Ousado – diz Francisco - porque vai claramente contra a tendência, em uma época marcada pelo individualismo e pela indiferença, que geram solidão e muitas formas de descarte.

É uma situação da qual é impossível sair com as próprias forças. A humanidade sempre experimentou isso: ninguém pode se salvar sozinho. É por isso que, em um momento preciso da história, Deus tomou a iniciativa: "Ele nos envia seu Filho, ele o doa, o entrega, o compartilha, para que possamos aprender o caminho da fraternidade, o caminho do dom". É definitivamente um novo horizonte, é uma nova palavra para tantas situações de exclusão, de desintegração, de fechamento, de isolamento.

Dirigindo-se aos jovens, o Santo Padre exalta o valor da verdadeira amizade, que alarga o coração: "Os amigos fiéis [...] são um reflexo do afeto do Senhor, da sua consolação e da sua presença amorosa. Ter amigos nos ensina a nos abrir, a compreender, a cuidar dos outros, a sair de nosso conforto e isolamento, a compartilhar a vida" (Christus vivit, 151).

Citando ainda uma reflexão de Dom Giussani o Papa recorda que "a verdadeira natureza da amizade é viver livremente juntos para o destino. Não pode haver amizade entre nós, não podemos nos chamar de amigos, se não amarmos o destino do outro acima de todas as coisas, além de qualquer ganho".

A atitude de abertura ao outro como irmão é uma das marcas do pontificado do Papa Francisco, de seu testemunho e de seu magistério: "O amor ao outro pelo que ele é nos impele a buscar o melhor para a sua vida. Somente cultivando esse modo de se relacionar, tornaremos possível a amizade social que não exclui ninguém”. É precisamente a amizade social, que o Papa continua a recomendar como a única chance, mesmo nas situações mais dramáticas - mesmo diante da guerra - "quando é genuína [...] dentro de uma sociedade, é uma condição de possibilidade para a verdadeira abertura universal".

A lei da amizade foi estabelecida por Jesus com estas palavras: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos". É por isso que o Santo Padre pede aos cristãos e a todos os homens e mulheres de boa vontade que não fiquem surdos diante do grito que se eleva a Deus deste nosso mundo. Os discursos não são suficientes, mas são necessários "gestos concretos" e "escolhas compartilhadas" para construir uma cultura de paz onde cada um de nós vive: "reconciliar-se na família, com amigos ou vizinhos, rezar por aqueles que nos feriram, reconhecer e ajudar os necessitados, levar uma palavra de paz à escola, à universidade ou à vida social, ungir com proximidade alguém que se sente só...". É um caminho que todos podem percorrer, e a Igreja não se cansa de incentivar as pessoas a percorrê-lo, praticando quase obstinadamente essa suprema virtude humana e cristã.

Nesta hora conturbada da história, o Papa encoraja para que nunca falte a disponibilidade para uma "amizade inesgotável" - porque fundada em Cristo e sobre a rocha de Pedro -, pronta para captar o bem que qualquer pessoa pode trazer à vida de todos, porque "as outras culturas não são inimigas contra os quais se defender, mas são reflexos diferentes da riqueza inesgotável da vida humana".

Em seguida cita o Papa Bento XVI: "o encontro de culturas é possível porque o homem, apesar de todas as diferenças em sua história e criações comunitárias, é um idêntico e único ser. Esse ser único que é o homem, na profundidade de sua existência, é interceptado pela própria verdade".

O Papa Francisco espera que o Encontro para a Amizade entre os Povos continue a promover a cultura do encontro, aberta a todos, sem excluir ninguém, porque em todos há um reflexo do Pai que "dá a todos a vida, o respiro e todas as coisas". Que cada um dos participantes aprenda um pouco a se aproximar dos outros à maneira de Jesus, que "sempre estende a mão, sempre procura levantar, fazer com que as pessoas sarem, fazê-las felizes, fazê-las encontrar Deus". Assim crescerão a amizade social e a amizade entre os povos.

 

- Quirógrafo do Papa: Copaju será uma Associação Privada de Fiéis

O Papa Francisco estabelece por meio de um quirógrafo que o Comitê Pan-americano de Juízas e Juízes para os Direitos Sociais e a Doutrina Franciscana, o Copaju, será uma Associação Privada de Fiéis de caráter internacional, criando, sob sua dependência, o Instituto de Pesquisas Jurídicas "Frei Bartolomé de las Casas". O Pontífice designa como presidente do Comitê o juiz argentino Roberto Andrés Gallardo e, como vice-presidente, a juíza Ana Algorta Latorre do Brasil.

"Fazendo eco do pedido feito pelos seus fundadores, expresso a minha aprovação para que o Comitê Pan-Americano de Juízas e Juízes para os Direitos Sociais e a Doutrina Franciscana se torne uma Associação Privada de Fiéis de caráter internacional, em conformidade com os cânones 298-311 e 321-329, erigida como pessoa jurídica privada dentro da ordem canônica, de acordo com o cânone 322, § 1". Assim escreve o Papa Francisco em quirógrafo publicado nesta sexta-feira, 18 de agosto. Por meio desse documento, o Estatuto e o logotipo do Copaju também são aprovados e entram em vigor a partir de 31 de agosto de 2023.

A presidência do Copaju

O Pontífice designa como presidente do Comitê para o período de 2023-2028 o juiz Roberto Andrés Gallardo da Argentina, como vice-presidente a juíza Ana Algorta Latorre do Brasil, como secretário o juiz argentino Gustavo Daniel Moreno e como membros: os juízes María Julia Figueredo Vivas da Colômbia, Tamila Ipema dos Estados Unidos, Daniel Urrutia Laubreaux do Chile e Janet Tello Gilardi do Peru.

A criação do Instituto de Pesquisa e Promoção dos Direitos Sociais "Frei Bartolomé de las Casas" também é aprovada por Francisco, "com fins acadêmicos, didáticos e de formação sobre a temática dos Direitos Sociais, migração e colonialismo, que será apoiado financeiramente, dirigido e administrado pelo Copaju e funcionará no âmbito da Pontifícia Academia das Ciências Sociais". O Papa nomeia os professores Raúl Eugenio Zaffaroni, Alberto Filippi e Marcelo Suárez Orozco como membros do Conselho Acadêmico Fundador do referido instituto para o período de 2023-2028.

O Pontífice esclarece que, "a partir de agora, as autoridades do Copaju devem ter a aprovação pontifícia, com base nas propostas que a instituição faz para cada período de cinco anos". "Tudo o que está estabelecido no presente quirógrafo é plenamente válido e eficaz, não obstante qualquer disposição em contrário", conclui.

A promoção dos direitos sociais por meio do judiciário

A organização "teve origens locais incipientes na Cidade de Buenos Aires e depois uma atuação destacada na República da Argentina desde o ano de 2017, dando origem ao primeiro encontro regional em junho de 2018 na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires", recorda Francisco no texto. Formalmente, foi criada no Vaticano sob a assinatura do Pontífice em junho de 2019 e com a participação de 120 magistrados das três Américas, no âmbito da reunião realizada na Casina Pio IV, sede da Pontifícia Academia das Ciências Sociais.

Desde então, a instituição "desenvolveu uma tarefa prolífica voltada para a proteção e promoção dos direitos sociais a partir da magistratura, dando ênfase especial aos setores sociais descartados, afetados por distintos processos de neocolonialismo". A organização estabeleceu representações em diferentes países (denominados de "capítulos nacionais"): Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Brasil, México, Estados Unidos e Paraguai, e se encontra em permanente expansão pelo resto do continente americano.

Também organizou vários eventos internacionais, incluindo os encontros de Roma em 2019 e 2023; o de Iguazú na Argentina em 2021; o do México em 2022; e o de Assunção, no Paraguai, em 2023. Também emitiu vários documentos que fornecem orientação e definem posições públicas sobre várias situações que se enquadram em sua competência, e publicou textos especializados que podem ser conferidos em www.copaju.org.

Fonte: Vatican News