Eu entrego o timão da minha vida a Jesus? Foi a pergunta que o Papa Francisco fez aos fiéis reunidos na Praça São Pedro para o Angelus dominical.
O Pontífice comentou o Evangelho do XIX Domingo do Tempo Comum, que narra um prodígio "especial" de Jesus: Ele, de noite, caminha sobre as águas do lago da Galileia ao encontro dos discípulos que estão realizando a travessia no barco.
Por trás desse caminhar sobre as águas há uma mensagem não imediata a ser compreendida, explicou o Papa. Naquele tempo, com efeito, as grandes extensões de água eram consideradas moradas de forças malignas não domináveis pelo homem; especialmente se agitadas pela tempestade, os abismos eram símbolo do caos e evocavam as obscuridades dos ínferos.
Ao se encontrarem bem no meio do lago, no escuro, os discípulos sentiram medo de afundar, de serem aspirados pelo mal. Eis então que chega Jesus, caminhando sobre as águas, ou seja, sobre aquelas forças do mal, e diz aos seus: «Coragem, sou eu, não tenhais medo!».
"Eis o sentido do gesto: as potências malignas, que nos assustam e não conseguimos dominar, com Jesus são imediamente redimensionadas. Ele, caminhando sobre as águas, quer nos dizer: 'Não tenham medo, eu domino seus inimigos'. Bela mensagem, domino os seus inimigos, não as pessoas! Não são elas os inimigos, mas a morte, o pecado, o diabo: esses são inimigos das pessoas, os nossos inimigos. E Jesus espezinha esses inimigos por nós."
Francisco ressaltou que hoje Cristo repete a cada um de nós: “Coragem, sou eu, não tenham medo!”. Coragem, ou seja, porque estou aqui, porque você não está mais sozinho nas águas agitadas da vida. Aos nos depararmos em mar aberto e à mercê de ventos contrários, acrescentou o Papa, devemos fazer duas coisas que os discípulos fazem no Evangelho: eles invocam e acolhem Jesus.
Na narração, Pedro caminha brevemente sobre as águas em direção a Jesus, mas depois se assusta, afunda e grita: «Senhor, salva-me!».
"É bela esta oração, com a qual se expressa a certeza de que o Senhor pode nos salvar, que Ele vence o nosso mal e os nossos medos, disse ainda o Papa, convidando os fiéis a repeti-la todos juntos três vezes: "Senhor, salva-me!".
Depois, os discípulos acolhem Jesus no barco. Diz o texto que, assim que entrou a bordo, «o vento se acalmou». O Senhor sabe que o barco da vida, assim como o barco da Igreja, está ameaçada por ventos contrários e que o mar no qual navegamos está com frequência agitado.
Ele não nos preserva da fadiga de navegar, pelo contrário – destaca o Evangelho – impulsiona os seus a partir: isto é, nos convida a enfrentar as dificuldades, para que também essas se tornem locais de salvação, ocasiões para encontrá-Lo. Ele, com efeito, nos nossos momentos de escuridão vem ao nosso encontro, pedindo para ser acolhido, assim como aquela noite no lago.
“Perguntemo-nos então: nos medos, nas dificuldades, como me comporto? Vou adiante sozinho, com as minhas forças, ou invoco o Senhor com confiança? E como vai a minha fé? Creio que Cristo é mais forte do que as ondas e os ventos contrários? Mas sobretudo: navego com Ele? Eu o acolho, lhe dou lugar no barco da minha vida, nunca só, sempre com Jesus, confio o timão a Jesus? Que Maria, mãe de Jesus, estrela do mar, nos ajude a procurar, nas travessias obscuras, a luz de Jesus.”
- Drama dos migrantes, chaga aberta na humanidade, diz Papa no Angelus
"Dor e vergonha": duas palavras usadas pelo Papa no Angelus ao se referir aos quase dois mil migrantes mortos ao tentar chegar às costas europeias somente em 2023:
Outro trágico naufrágio ocorreu há poucos dias no Mediterrâneo: 41 pessoas perderam a vida. Eu rezei por eles. E com dor e vergonha devemos dizer que desde o início do ano quase dois mil homens, mulheres e crianças já morreram neste mar tentando chegar à Europa. É uma chaga aberta da nossa humanidade. Encorajo os esforços políticos e diplomáticos que procuram curá-la com espírito de solidariedade e fraternidade, assim como o empenho de todos aqueles que trabalham para prevenir os naufrágios e resgatar os migrantes.
Na última tragédia do canal da Sicília, ocorrida na última terça-feira, 41 migrantes morreram quando a pequena embarcação em que viajavam há cinco dias, que saiu de Sfax, na Tunísia, foi atingida por uma onda e virou. Entre as vítimas também três crianças. Quatro sobreviventes foram transferidos de Lampedusa no sábado. “Pediram para continuar a viagem mantendo-se unidos e assim foi feito”, precisou Pierluigi De Ascentiis, da área de Emergências da Cruz Vermelha Italiana em Lampedusa, acrescentando que para este domingo estçao previstas cerca de mil transferências, enquanto os alojados na estrutura tem capacidade para 2.610.
Os tragédias ligadas às migrações não conhecem pausas nos mares que banham a Europa: pelo menos seis pessoas morreram e duas continuam desaparecidas após o naufrágio de um barco que tentava atravessar o Canal da Mancha saído de França.
Contemporaneamente, no sul do Mediterrâneo, pelo menos dois migrantes morreram, incluindo uma criança, e outros 5 estão desaparecidos após o naufrágio de um barco com pelo menos 20 pessoas a bordo. O barco afundou a apenas 120 metros da costa de Gabés, no sudeste da Tunísia. O anúncio foi feito pela Guarda Nacional da Tunísia, especificando que as buscas estão em andamento para encontrar os desaparecidos; mas no Golfo de Gabes as correntes são muito fortes e as esperanças de encontrar alguém vivo são mínimas.
Enquanto isso, subiu para 17 o número de mortos no naufrágio na costa de Mianmar, que deixou um número desconhecido de desaparecidos. Pelo menos 58 pessoas da etnia rohingya, etnia muçulmana que há anos sofre perseguição e violência em Mianmar, viajavam no barco com destino à Malásia - que partiu no domingo de Sittwe, capital do estado de Rakhine, na ex-Birmânia. Precisamente por isso, desde 2017 mais de 700 mil pessoas deixaram o país para se refugiar no vizinho Bangladesh.
O tema da imigração estará no centro do Med23 "Rencontres Méditerranéennes" de Marselha, encontro no qual o Papa Francisco participará de 22 a 23 de setembro junto com representantes de todas as confissões e religiões do Mediterrâneo. Os Encontros Mediterrâneos serão realizados na cidade francesa de 17 a 24 de setembro de 2023.
- Papa assegura sua oração às vítimas de incêndios no Havaí
No Angelus, o Santo Padre voltou a rezar pelas vítimas dos devastadores incêndios na ilha de Maui. Já o havia assegurado publicamente no telegrama enviado ontem ao núncio apostólico nos Estados Unidos, dom Cristophe Pierre, em que expressou seu pesar pelos mortos e vários desaparecidos, e sua “solidariedade com os que sofrem com esta tragédia, em particular aqueles cujos entes queridos estão mortos ou desaparecidos".
Enquanto isso, o número de mortos na ilha de Maui aumentou para 93, de acordo com o governador do Havaí, Josh Green, durante uma coletiva de imprensa. 1.400 deslocados estão alojados em abrigos temporários montados para atender as pessoas afetadas pela mais grave tragédia natural que o arquipélago dos Estados Unidos já viveu em sua história. Os números tendem a aumentar, afirmou Josh Green.
As chamas envolveram a ilha na semana passada, tornando este incêndio o mais devastador nos Estados Unidos desde o século passado, ainda pior do que o que matou 85 vidas no norte da Califórnia em 2018.
Pelo menos dois outros incêndios foram registrados em Maui, sem mortes registradas até agora: na área de Kihei, no sul da ilha, e nas comunidades na região montanhosa do interior conhecida como Upcountry. Um quarto incêndio ocorreu na noite de sexta-feira em Kaanapali, uma comunidade costeira em West Maui, ao norte de Lahaina, mas as equipes de resgate conseguiram apagá-lo.
- Francisco convida a rezar pela paz em Camarões
Rezar pela paz, um pedido recorrente nos últimos anos, que voltou a ser feito por Francisco no Angelus deste domingo. Além de orações pela "martirizada Ucrânia, que tanto sofre com a guerra", o Papa convidou todos a unirem-se em oração pela paz em Camarões, em iniciativa que terá lugar nesta segunda-feira na capital do departamento de Mifi:
Amanhã, véspera da festa de Nossa Senhora da Assunção ao Céu, realiza-se em Bafoussam, Camarões, a peregrinação para pedir a paz no país, ainda marcado pela violência e pela guerra. Unamo-nos em oração aos nossos irmãos de Camarões para que, por intercessão da Virgem, Deus sustente a esperança do povo que sofre há anos e abra caminhos de diálogo para alcançar a concórdia e a paz.
Desde 2017 a República de Camarões é assolada por uma guerra civil, até agora confinada às regiões ocidentais, e que teve início devido a disputas socioculturais. O medo é de uma possível escalada.
Também conhecido como "crise anglófona", o conflito teve origem na insurreição realizada por separatistas de língua inglesa contra as forças armadas regulares. Em resposta, o governo enviou o exército às regiões de língua inglesa conhecidas como "Southern Cameroons" para reprimir a dissidência.
Nos primeiros seis meses de 2023, a violência e a repressão aumentaram com o assassinato de jornalistas e a prisão de importantes empresários locais. No fundo, as lacerações políticas estão ligadas à sucessão do presidente Paul Biya, 90 anos, no cargo desde 1982.
- Papa: nosso trabalho como cristãos não se limita às paredes de nossas igrejas
«Construindo pontes, derrubando muros. Igreja no mundo do trabalho tecendo laços de fraternidade» é o tema da XIV Assembleia Geral da Irmandade Operária da Ação Católica (HOAC, sigla em espanhol), movimento dos trabalhadores cristãos da Ação Católica espanhola, que de 12 a 15 de agosto reúne em Segóvia 700 de seus membros. O objetivo é dialogar e tomar decisões sobre os desafios, prioridades e propostas do movimento para os próximos seis anos, a partir de um olhar cristão sobre a realidade, da experiência do compromisso dos seus membros e dos desafios que tem como Igreja, em um mundo com enormes fraturas sociais, desigualdades e injustiças que afetam particularmente o mundo dos trabalhadores e do trabalho, onde continua a ser essencial ser testemunha e impulsionador do projeto de humanização proposto por Jesus Cristo.
O Papa em sua mensagem destaca a dignidade do trabalho, expressando no início da mensagem seu "profundo apreço" pela "valiosa dedicação e compromisso" deste movimento "de continuar sendo uma Igreja que caminha no mundo do trabalho".
E fazendo alusão ao que escreveu na Evangelii gaudium, recorda que o trabalho é "componente essencial da vida e da dignidade das pessoas. Não é simplesmente uma atividade produtiva, mas um meio através do qual colaboramos com Deus na obra da criação e nos realizamos como seres humanos, "porque, no trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano exprime e engrandece a dignidade da sua vida." O trabalho, em todas as suas formas - reiterou - nos permite ser cocriadores e participar da construção de um mundo mais justo e fraterno.
O Santo Padre enfatizou ainda "a necessidade de ser uma Igreja que acompanha desde as periferias do mundo do trabalho", cujo compromisso "não pode se limitar a discursos ou ações isoladas, mas deve ser um testemunho constante de solidariedade e apoio a quem se encontra em situação de vulnerabilidade laboral e social.
"Ser uma Igreja que acompanha desde as periferias - precisou - significa estar perto daqueles que sofrem com a precariedade do trabalho e a falta de oportunidades":
Devemos ser uma presença ativa, caminhando com eles, ouvindo-os e colaborando na busca de soluções justas e duradouras. Nosso trabalho como cristãos não se limita às paredes de nossas igrejas, mas nos encoraja a ir ao encontro daqueles que mais precisam de nosso amor e fraternidade.
É essencial - reiterou o Papa - que estejamos ao lado dos trabalhadores que enfrentam desesperança e exclusão devido à falta de trabalho:
Num mundo onde o desemprego continua a afetar muitas famílias, a nossa função como Igreja é oferecer-lhes o nosso acompanhamento e a nossa esperança, encorajando-as a não perder a confiança e a procurar oportunidades de reinserção no mundo do trabalho.
Francisco encorajou os participantes do encontro a "continuar tecendo laços de fraternidade, levando a luz do Evangelho e construindo uma sociedade mais justa, exortando-os "a continuar a ser povo de Deus no meio da vida laboral e a tecer histórias de encarnação e de abraço... A Igreja precisa de vocês."
Que o Espírito Santo - disse ao concluir - vos guie no vosso trabalho e vos fortaleça no vosso empenho quotidiano. "Continuemos para diante, empenhemo-nos totalmente, mas deixemos que seja Ele a tornar fecundos, como melhor Lhe parecer, os nossos esforços." (EG 279).
E, por favor - foi seu pedido final - "não deixem de rezar pelo Sínodo e por mim."
Fonte: Vatican News