No início do século passado, uma pobre família do Sul da Europa decidiu emigrar para os Estados Unidos. As viagens eram de navio e duravam muitos dias. Levaram consigo bastante pão e queijo; era o que tinham para se alimentarem durante a viagem. O dinheiro não dava para comer no restaurante do navio. Com o passar dos dias e das semanas, porém, o pão ficou duro e o queijo mofou. A certa altura, o filho do casal começou a chorar porque não aguentava mais aquela comida velha. Os pais, então, juntaram o pouco dinheiro que tinham e decidiram pagar um almoço para o filho. Este foi, comeu e voltou chorando mais ainda, mas, desta vez, de raiva e amargura. Os pais, preocupados, perguntaram por que, depois de ter feito tudo o que podiam, não estava satisfeito e chorava tanto. Entre os soluços, o filho respondeu: “O almoço no restaurante estava incluído no preço da passagem e nós comemos pão e queijo todos estes dias!”.
No evangelho de Mateus, deste 17º Domingo do Tempo Comum, encontramos mais três parábolas sobre o Reino dos Céus. Duas delas se assemelham, apresentam a busca por um tesouro escondido e por uma pérola de grande valor. A terceira parábola compara o Reino a uma rede lançada ao mar que apanha peixes bons e peixes que não prestam. Essa última pode ser entendida à luz da parábola do joio e do trigo, que encontramos domingo passado. O final do trecho é curioso. À pergunta de Jesus se os discípulos tinham compreendido o que ele acabava de ensinar, eles disseram que sim. A resposta permitiu ao Mestre fazer mais uma comparação entre os discípulos e um pai de família que “tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52). É a conclusão do discurso em parábolas e serve para nos lembrar da dinamicidade das mesmas.
As parábolas não são simples casos para contar, elas nos envolvem e sempre suscitam mais perguntas que respostas. Nesse sentido, as duas parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa são exemplares. Em ambos os casos, estamos à frente de pessoas que sabem dar o valor merecido àquilo que encontraram. Para o que descobre o tesouro escondido no campo pode ser simplesmente um caso de muita sorte. Contudo ele guarda o segredo antes de comprar aquele campo, porque sabe quanto vale o que encontrou. No caso da outra parábola, o comprador de pérolas está atrás mesmo de uma de grande valor. Ou seja: nenhum dos dois pensa duas vezes ou despreza e descarta o achado. Ambos vendem logo “todos os seus bens” para adquirir o campo e a pérola preciosa.
A mensagem é evidente: o tesouro e a pérola são o próprio Reino dos Céus. Pelo jeito, os dois consideraram tão valioso o que encontraram que eles decidiram se desfazer de qualquer outro bem. Por que uma decisão tão radical? Não seria, talvez, uma loucura ou uma imprudência? Obviamente não é assim para o Senhor como ele ensinou no Discurso do Monte: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33).
A lição vale para todos nós. Muitas vezes falamos bonito de Deus, da sua bondade e misericórdia, mas resistimos a arriscar algo da nossa vida por causa do Reino dos Céus. Admiramos e falamos bem daqueles e daquelas que fazem escolhas mais radicais, que empregam os seus talentos a serviço dos pobres, que gastam a sua vida por causa do Evangelho.
No entanto, parece que a maioria dos cristãos continua desconfiando do valor inestimável do Reino e prefira preciosidades mais mundanas e passageiras, mas que se possam contar e guardar no cofre. Sem dúvida, a disposição de fazer escolhas mais corajosas é um dom de Deus que podemos pedir, mas as parábolas, desde domingo, convidam a todos nós a superar o comodismo, o medo de ser julgados esquisitos e fanáticos ou, pior, de sermos enganados pelo próprio Senhor.
Enfim, continuar comendo pão e queijo, quando os passageiros tinham direito ao almoço, foi burrice. Por que não se informaram antes? O Reino dos Céus está próximo (Mt 3,2), é oferecido a todos, basta reconhecer o seu valor e buscá-lo de verdade.
Por Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá