Francisco agradeceu pela presença, saudando de modo especial o patriarca Bartolomeu. A Santa Sé retribui o gesto, enviando à Turquia uma delegação por ocasião da festa de Santo André, irmão de São Pedro, em 30 de novembro.
Já em seu discurso, o Pontífice expressou sua alegria pelo bom êxito da 15ª sessão plenária da Comissão mista internacional para o diálogo teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa, que se realizou recentemente em Alexandria, no Egito.
Na ocasião, foi debatido como se desenvolveu no Oriente e no Ocidente a relação entre sinodalidade e primazia no segundo milênio. Para Francisco, isto pode contribuir para a superação de argumentos polêmicos. O que é certo, disso o Papa, é que não é possível pensar que as mesmas prerrogativas que o Bispo de Roma tem em relação à sua Diocese sejam estendidas às comunidades ortodoxas. E quando as Igrejas estiverem plenamente unidas, a forma com a qual o Bispo de Roma exercitará o seu serviço de comunhão na Igreja em nível universal será fruto da relação inseparável entre primazia e sinodalidade.
Estas questões, todavia, acrescentou o Papa, não nos devem fazer esquecer que a unidade é dom do Espírito e que Nele deve ser buscada. “Rezemos ao Espírito sem nos cansar, invoquemo-Lo uns para os outros! E compartilhemos fraternalmente o que levamos no coração: dores e alegria, fadigas e esperanças.”
Uma preocupação comum, sem dúvida, é a paz, especialmente na martirizada Ucrânia. Uma guerra, disse o Papa, que deixa evidente que todas as guerras são só “desastres, desastres totais”: para os povos, para as cidades e para a criação, como demonstra a destruição da barragem de Nova Kakhovka.
“Como discípulos de Cristo, não podemos nos resignar à guerra, mas temos o dever de trabalhar juntos pela paz”, exortou Francisco, pedindo “esforços criativos” para imaginar e realizar percursos de paz.
A paz, assim como a unidade, é um dom a implorar ao Senhor. Mas em contrapartida, requer uma atitude da parte do homem. A paz não é só ausência de guerra, mas nasce do coração humano. Interesses pessoais, comunitários, nacionais e até mesmo religiosos devem ser deixados de lado.
O único remédio é aquele proposto por Jesus: a conversão do coração. “Se a nossa vida não anuncia a novidade deste amor, como podemos testemunhar Jesus ao mundo?”, questiona o Papa. Serviço e renúncia de si são os antídotos aos egoísmos e fechamentos.
O Pontífice concluiu pedindo ao Senhor que, por intercessão dos Santos Pedro, Paulo e André, este encontro possa ser um passo a mais no caminho rumo à unidade visível na fé e no amor.
- Zuppi encontra Kirill: importante que Igrejas trabalhem pela paz
O trabalho comum das Igrejas "para servir a causa da paz e da justiça" esteve no centro da conversa entre o patriarca de Moscou e toda a Rússia Kirill e o cardeal Matteo Zuppi, enviado do Papa a Moscou para "aliviar as tensões" do conflito na Ucrânia.
Na sede do Patriarcado, na tarde desta quinta-feira, sentados em uma mesa frente a frente na presença de um tradutor, de colaboradores do patriarca e do núncio Giovanni D'Aniello, os dois falaram sobre a importância de que "todas as forças do mundo se unam para evitar um grande conflito armado".
Palavras semelhantes às compartilhadas na conhecida videochamada de Kirill e do Papa Francisco em 16 de março de 2022, menos de um mês após o primeiro ataque a Kiev, durante o qual o Pontífice reiterou a importância de "unir-se" como pastores "em um esforço para ajudar a paz” e também que a Igreja não use “a linguagem da política, mas a linguagem de Jesus”.
Segundo agências estatais russas, Kirill saudou o cardeal dizendo estar "contente" com sua chegada a Moscou "acompanhado de irmãos que conheço bem". “Apreciamos que Sua Santidade o tenha enviado a Moscou. O senhor está à frente de uma das maiores dioceses metropolitanas da Itália e é um arcebispo famoso, que está realizando um importante serviço para o seu povo”, afirmou o patriarca ortodoxo.
O encontro na tarde desta quinta-feira, 29, é o primeiro do patriarca ortodoxo com um representante do Papa desde o início da guerra, após não ter se concretizada a eventualidade de um encontro entre ele e Francisco após aquele de Cuba em 2016, concluído com a assinatura de um comunicado conjunto.
O cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, à margem de um evento em Roma meses atrás, afirmava: “Estamos em um momento difícil, devemos reconhecê-lo. Mas isso não significa que estamos no ponto zero ou que há um gelo entre a Igreja Ortodoxa Russa e a Católica. Existem canais e existem tentativas de diálogo”.
Neste sentido, deve ser lembrada a visita a Roma do Metropolita Antonij de Volokolamsk, presidente do Departamento para as relações eclesiásticas externas do Patriarcado de Moscou, que também esteve presente no encontro desta quinta-feira com Zuppi, sentado à direita de Kirill.
Em 3 de maio passado, Antonij esteve na Praça de São Pedro na Audiência Geral e cumprimentou o Papa, falando com ele por alguns momentos. No dia anterior, Antonij havia se encontrado com o arcebispo Claudio Gugerotti, prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais, para discutir "uma ampla gama de questões de recíproco interesse". O metropolita voltou à Itália em meados de junho, onde teve um encontro com o fundador da Comunidade de Sant'Egidio, Andrea Riccardi.
Após o encontro no Patriarcado de Moscou - que marcou o segundo e último dia da missão, junto com aquele com Marija L'vova-Belova, comissária do Kremlin para os direitos da criança - Zuppi foi à Catedral dedicada à Mãe de Deus, sede episcopal da Arquidiocese Metropolitana da Mãe de Deus em Moscou. Ali o cardeal celebrou uma solene concelebração e ao final se encontrou com a comunidade católica, à qual transmitiu “a saudação, a proximidade e as orações do Santo Padre”, como informou o núncio na manhã desta quinta-feira. Amanhã, 30 de junho, no início da tarde, o cardeal retornará a Roma.
Fonte: Vatican News