Cultura

Educar é evangelizar: Papa propõe o exemplo de Santa Mary Mackillop





O zelo apostólico da santa australiana Mary Mackillop foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral deste 28 de junho, a última antes da pausa de verão. O tradicional encontro das quartas-feiras será retomado no dia 9 de agosto.

O Papa realizou hoje a Praça São Pedro sua última Audiência Geral antes da pausa de verão. Com efeito, ao tomar a palavra, Francisco agradeceu a "paciência" dos fiéis, que comparecem não obstante o calor. Durante o mês de julho estão suspensas todas as atividades públicas de Francisco, com exceção do Angelus dominical.

A Audiência desta quarta foi também a primeira desde a sua operação no intestino. O Pontífice foi internado no dia 7 de junho e recebeu alta no dia 16. E mesmo sob o forte calor romano, Francisco fez o giro entre os milhares de fiéis presentes na Praça São Pedro, beijou as crianças, tomou chimarrão e acenou aos peregrinos. Ao se dirigir a eles, retomou o ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico, destacando figuras exemplares de homens e mulheres que deram a sua vida pelo Evangelho.

O testemunho de hoje veio da Oceânia, mais precisamente da Austrália: Santa Mary Mackillop, fundadora das Irmãs de São José do Sagrado Coração, que dedicou sua vida à formação intelectual e religiosa dos pobres da zona rural.

Mary MacKillop nasceu nos arredores de Melbourne de pais emigrados da Escócia. Desde jovem, sentiu o chamado de Deus a servi-Lo e testemunhá-Lo não só com as palavras, mas sobretudo com a vida. E compreendeu que o modo melhor de evangelizar o seu mundo passava pela educação dos jovens, ciente de que a educação católica é uma forma de evangelização. Dedicou-se principalmente aos jovens pobres que habitavam em periferias onde mais ninguém queria ou podia ir.

"E isto é muito importante: no caminho da santidade, os pobres, os marginalizados são os protagonistas e uma pessoa não pode avançar na santidade se não se dedica a eles. São a presença do Senhor", disse o Papa.

Francisco contou que cerca vez leu uma frase que o impressionou, que dizia o seguinte: o protagonista da história é o mendicante. "São eles que chamam à atenção para esta grande injustiça, que é a grande pobreza no mundo. Gasta-se tanto dinheiro para fabricar armas e não para a comida. E não se esqueçam: não existe santidade se num modo ou de outro não há cuidado com os pobres, com os necessitados, com aqueles que estão um pouco à margem da sociedade."

Falando ainda sobre Santa Mary, o Pontífice prosseguiu recordando que em 19 de março de 1866, dia de São José, ela abriu a primeira escola num pequeno subúrbio. Seguiram-se, depois, muitas outras, inclusive na Nova Zelândia, nas quais os professores eram convidados a acompanhar e encorajar os estudantes rumo a um desenvolvimento integral da sua pessoa, isto é, sem esquecer a dimensão espiritual.

Com efeito, a educação não consiste em encher a cabeça de ideias, mas acompanhar e encorajar os estudantes no caminho de crescimento humano e espiritual, mostrando a eles quanto a amizade com Jesus dilata os corações e torna a vida mais humana. Esta visão, disse o Papa, é plenamente atual hoje, “quando sentimos a necessidade de um pacto educativo capaz de unir as famílias, as escolas e toda a sociedade”.

O zelo de Mary MacKillop para a difusão do Evangelho a levou a empreender outras obras de caridade, como a “Casa da Providência” inaugurada em Adelaide para acolher idosos e crianças abandonados. Aliás, o seu segredo foi sempre a fé na Divina Providência, a relação contínua com o Senhor: era em Deus que ela encontrava tranquilidade, readquiria o entusiasmo e reavivava a alegria, mesmo em meio às dificuldades e desafios. “Há muitos anos aprendi a amar a Cruz”, confidenciou certa vez a uma coirmã. "Todos os santos tiveram oposição, inclusive dentro da Igreja. É curioso isto", disse o Papa. 

Francisco concluiu fazendo votos de que seu discipulado missionário inspire a todos nós, chamados a ser fermento de Evangelho nas nossas sociedades em rápida transformação. “O seu exemplo e a sua intercessão amparem o trabalho cotidiano dos pais, professores, catequistas e de todos os educadores, pelo bem dos jovens e por um futuro mais humano e cheio de esperança.”

 

. O apelo do Papa: que a querida Ucrânia logo encontre a paz

Nas saudações ao final da Audiência Geral, Francisco confiou o povo do país em conflito à intercessão dos Santos Pedro e Paulo, cuja solenidade será celebrada nesta quinta-feira, 29 de junho. O Pontífice voltou então à necessidade de um pacto educativo e ao pedido de apoio a todos aqueles que se preocupam com o "bem da juventude em vista de um futuro de paz e fraternidade".

"Sejam uma testemunha concreta do Evangelho para aqueles que sofrem com a pobreza e a guerra na Ucrânia", foi o que o Papa Francisco pediu na saudação dirigida aos peregrinos poloneses ao final da Audiência Geral desta quarta-feira (28). Aos fiéis de língua italiana, lembrou que nesta quinta-feira, 29 de junho, é de Solenidade dos Santos Pedro e Paulo:

“Que o exemplo e a proteção desses dois Apóstolos sustentem cada um de nós no seguimento de Cristo. Confiamos à intercessão deles o querido povo ucraniano, para que logo possa encontrar a paz: se sofre tanto na Ucrânia, não nos esqueçamos disso.”

A necessidade de um "pacto educativo"

Após a catequese, Francisco voltou à figura da religiosa australiana Santa Mary MacKillop, fundadora das Irmãs de São José do Sagrado Coração, reiterando seu zelo apostólico e a importância de suas obras de caridade "como a fundação de escolas e casas para os mais necessitados, especialmente nas áreas rurais". Em um momento em que é evidente a necessidade de "um pacto educativo que una famílias, escolas e toda a sociedade", explicou Francisco, o apostolado de MacKillop "ainda é muito relevante".

O pedido do Papa é, portanto, apoiar o trabalho dos pais, professores e todos aqueles que se dedicam à educação e ao "bem da juventude em vista de um futuro de paz e fraternidade", bem como trabalhar, à maneira da santa australiana, "para o desenvolvimento humano de todos, especialmente dos mais vulneráveis, a fim de construir uma sociedade mais justa e fraterna".

 

O Papa: caminhemos juntos com a oração e com as obras de caridade

 

Não tenhamos medo de trilhar os caminhos da concórdia que o Espírito indica: não os do mundanismo espiritual, que quer nos adequar às necessidades e às modas do tempo, mas os caminhos da comunhão e da missão: disse Francisco aos membros da Comissão Internacional de Diálogo entre a Igreja Católica e os Discípulos de Cristo - Igreja protestante radicada nos EUA e Canadá -, recebidos em audiência pelo Pontífice na manhã desta quarta-feira, 28 de junho

 

Precisamos sempre começar e recomeçar a partir do Espírito, memória e guia que abre caminhos novos e impensados, onde pensávamos que as estradas estavam impedidas ou bloqueadas. Não tenhamos medo de trilhar os caminhos da concórdia que o Espírito indica: não os do mundanismo espiritual, que quer nos adequar às necessidades e às modas do tempo, mas os caminhos da comunhão e da missão.

 

Foi a premente exortação do Papa ao receber em audiência na manhã desta quarta-feira, 28 de junho, na sala adjacente à Sala Paulo VI, no Vaticano, os membros da Comissão Internacional de Diálogo entre a Igreja Católica e os Discípulos de Cristo, Igreja protestante radicada nos EUA e Canadá. Um diálogo que procede desde 1977 e que na sexta fase de trabalhos tem como tema "o ministério do Espírito".

 

O Espírito é memória e guia

 

Como é belo ser também hoje, como no tempo dos Apóstolos, "aqueles que anunciam o Evangelho por meio do Espírito Santo, enviado do céu", ressaltou Francisco aos presentes.

 

O Santo Padre havia iniciado seu discurso expressando-lhes sua satisfação ao tomar conhecimento de que, reafirmando o objetivo da plena unidade visível que os caracterizou desde 1977, nesta sexta fase de seus trabalhos, eles têm se dedicado a explorar "o ministério do Espírito".

 

Como bem afirmais em um documento anterior, "o Espírito Santo não só dá à Igreja a memória que lhe permite permanecer na Tradição Apostólica, mas também está presente na Igreja guiando os cristãos e toda a comunidade dos batizados para aprofundar o mistério de Cristo". O Espírito é, portanto, memória e guia, ressaltou o Pontífice.

 

Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da missão

 

Mas o Espírito Santo, além de ser memória viva, é um guia. Como afirma o Concílio Vaticano II, "pela força do Evangelho, faz rejuvenescer a Igreja; renova-a continuamente e a conduz à perfeita união com seu Esposo; impele-a a cooperar para que o plano de Deus se cumpra na plenitude da verdade; unifica-a na comunhão e no ministério; a provê-a e a dirige com diferentes dons hierárquicos e carismáticos, e a embeleza com seus frutos".

 

Francisco continuou destacando que o Espírito Santo mantém a comunidade cristã jovem, e que Ele é o verdadeiro protagonista da missão. "Não se esqueçam disso: o verdadeiro protagonista da missão é o Espírito Santo", frisou.

 

Queridos irmãos e irmãs, um olhar de fé sabe reconhecer, na vida e na realidade, a presença e a semeadura do Espírito Santo, sabe ver sua obra mesmo além dos confins de nossas comunidades. Se lhe formos dóceis, Ele saberá harmonizar até mesmo o que nos parece difícil de conciliar, porque Ele, em si mesmo, é a harmonia.

 

Unidade dos cristãos é alcançada caminhando juntos

 

Também a este ponto de seu discurso, Francisco fez questão de destacar que que o Espírito Santo é harmonia, "não nos esqueçamos disso", evidenciou, ressaltando que a harmonia não é uma negociação de equilíbrio. "A harmonia vai além. E este é o caminho do Espírito", precisou.

 

No caminho da comunhão eclesial, mas também do diálogo com outras Igrejas e outras comunidades cristãs, há uma coisa que sempre me fez pensar. O que o Patriarca Atenágoras disse, em tom de brincadeira, a Paulo VI: "Mandemos todos os teólogos para uma ilha e nós caminhemos juntos". A unidade dos cristãos é alcançada caminhando juntos. Os teólogos são necessários, certamente: que estudem, que falem, que discutam. Mas, enquanto isso, nós caminhemos: juntos com a oração e com as obras de caridade. Para mim, esse é o caminho: que não decepciona. Não decepciona.

 

Francisco concluiu agradecendo-lhes pelos passos à frente que estão dando, sob a guia do Espírito, e desejando-lhes que continuem com coragem o caminho.

 


- Papa recebe prêmio 'Cinema for Peace' pelo trabalho em favor da Ucrânia

Jaka Bizilj, fundador da organização internacional que promove valores e mudanças no mundo por meio de filmes, presenteou o Papa Francisco com uma honorificência pelo que fez nos últimos meses, muitas vezes "em silêncio", pela população do país agredido: “Ajudou as pessoas e procurou salvar as crianças e levar para casa os prisioneiros. Ele favoreceu os corredores humanitários e, indo à Embaixada da Rússia no primeiro dia, tentou conter o conflito".

Um "verdadeiro homem de paz" e um "diplomata de Deus" que "no silêncio" bateu em todas as portas possíveis neste ano e meio de guerra na Ucrânia para "levar a liberdade ao povo", para tentar "ajudar o pessoas, salvar as crianças, negociar para levar para casa os prisioneiros de guerra”. Que enviou ajuda e até ambulâncias ao país, que privilegiou a criação de corredores humanitários e que “no primeiro dia do ataque, se dirigiu à Embaixada da Rússia para contactar Putin numa tentativa de deter a guerra”.

Um reconhecimento

 

É elencando todas as ações realizadas pelo Papa por trás da cortina selvagem da guerra travada na Europa Oriental, que Jaka Bizilj, escritor e produtor de origem eslovena, explicou as razões pelas quais escolheu conferir ao Papa Francisco o prêmio honorário de Cinema for Peace. Ele mesmo fez a entrega nas mãos do Papa na tarde de terça-feira, 27 de junho, na Casa Santa Marta.

A honorificência é o reconhecimento da organização internacional de mesmo nome, criada após o ataque de 11 de setembro às Torres Gêmeas, com o objetivo de influenciar por meio de filmes a perceção e resolução dos desafios sociais, políticos e humanitários globais e de opor-se à guerra e ao terrorismo.

Em 2008, nasceu a Cinema for Peace Foundation, organização internacional sem fins lucrativos que promove a mudança e os valores por meio do cinema, falando das desigualdades e injustiças e, ao mesmo tempo, oferecendo esperança e soluções para um futuro melhor. Nos últimos anos, o Cinema for Peace tem apoiado uma série de causas importantes e filmes com atores e personalidades de Hollywood, como o Dalai Lama e Nelson Mandela.

Em memória das crianças mortas

 

Agora é o Papa quem recebe este “humilde símbolo”, entregue com evidente emoção por Bizilj na sala da Casa Santa Marta onde se sobressai o ícone de Maria Desatadora de Nós. O motivo é o trabalho humanitário "singular" realizado pelo Bispo de Roma em favor das vítimas da guerra na Ucrânia, a começar pelas crianças. E o reconhecimento é dedicado a todas as “crianças mortas” no país do Leste Europeu.

Acima de tudo, explicou Bizilij ao Papa, queremos lembrar um menino de um ano que morreu em um ataque com mísseis russos em 8 de março de 2022. O pai, disse ele, participou na terça-feira da exibição na Universidade Europeia do documentário sobre a Ucrânia Freedom on FireUkraine’s Fight for Freedom, do diretor Evgeny Afineevsky. “Ele acredita que seus filhos estão agora no céu, em um mundo melhor”, disse Bizilj.

"Eu preciso que rezem por mim"

 

Uma esperança dada a ele pela fé cristã, mas também pelas constantes mensagens do Papa Francisco nestes meses de horror: "O senhor é o homem que deu esperança a tantas pessoas... É uma honra para nós para poder lhe dar este prêmio, milhões de pessoas depositam tanta esperança no senhor e todos os pais que perderam seus filhos pensam que agora estão no paraíso. O senhor dá esperança e inspiração às pessoas”, disse o fundador do Cinema For Peace.

“Um verdadeiro diplomata de Deus - acrescentou. Pensamos que o senhor é o homem de paz mais importante do mundo, um exemplo não só para os cristãos, mas também para todas as pessoas do mundo”. "Thank you.Obrigado! É muito gentil de sua parte”, foi a resposta do Papa que, como sempre, pediu para rezar por ele: “Pray for me.... preciso que rezem fortemente por mim”.

 

Fonte: Vatican News