A América Latina precisa de ajuda solidária para "evangelizar as periferias geográficas e existenciais" e para "responder às necessidades dos mais pobres e excluídos". Se isso acontecer, mantendo "o essencial cristão" no centro, a cooperação fraterna e sinérgica entre todas as instituições e organizações católicas de ajuda será um "fruto abundante". O Papa Francisco lembrou disso em uma mensagem dirigida nesta sexta-feira (23) aos participantes de um encontro com as instituições e organizações de ajuda à Igreja, realizada no âmbito da Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL). O evento de dois dias terminou nesta sexta (23), em Roma, .
Uma das tarefas da Comissão - que Francisco explicou ter decidido manter na nova estrutura da cúria designada pela Praedicate Evangelium, preservando assim a intuição que Pio XII teve em 1958 - é aquela de "apoiar financeiramente alguns projetos de evangelização" e de "lidar com situações de emergência e promover algumas atividades significativas para a Igreja na área de sua competência". Para isso, lembrou o Papa, a CAL pôde contar com a colaboração de várias instituições humanitárias, cada uma com sua própria natureza e missão, que compartilham uma identidade católica.
Essa especificidade, enfatizou Francisco, agradecendo-lhes pela colaboração, "deve distinguir seu trabalho daquele de qualquer organização humanitária puramente leiga" e fazer redescobrir a cada dia, "com maravilha e gratidão, que a fé cristã é a certeza da amizade de um Deus que nos 'prepara', nos educa e nos acompanha de maneira próxima e constante". O importante, portanto, não é a eficiência administrativa - que se espera que seja muito boa em qualquer caso - ou "o simples esforço humanitário que vem de um coração generoso", mas "o que é verdadeiramente original em nossa ajuda é a caridade de Jesus Cristo que nos impulsiona, é aquele amor que nos precede e nos convida a confessar Deus Pai, princípio de todo o bem; Jesus Cristo, nosso Irmão, que nos redimiu; o Espírito Santo que guia a Igreja, cria comunhão e orienta a humanidade para a sua plenitude". Se isso não estiver presente, "o que resta é o pragmatismo frio que acaba sufocando as instituições eclesiais e seus membros".
- Francisco: acompanhar a vida espiritual dos sacerdotes e não tolerar a duplicidade
O Papa Francisco recebeu na manhã deste sábado (24), no Vaticano, os membros da Congregação dos Servos do Paráclito, por ocasião do seu Capítulo Geral. Na saudação aos presentes, o Pontífice frisou a importância desse encontro para a Congregação, "um tempo intenso de diálogo com o Espírito Santo, do qual os participantes saem renovados, antes de tudo no coração, na visão, nas resoluções e também nas iniciativas e estruturas. Um tempo de discernimento colegial dos sinais, que provém do caminho e da história da Congregação”. E afirmou:
“Animados pela graça própria do Capítulo, vocês se propõem encontrar novos caminhos de misericórdia e proximidade, para a realização do seu carisma com fidelidade dinâmica. Vocês acolhem os sacerdotes em dificuldade, prestando-lhes um serviço possível e prudente. O próprio lema do Instituto ‘Sacerdotes por Cristo’, que resume bem sua vocação particular: estar a serviço de Cristo nos seus sacerdotes”.
Hoje em dia, disse Francisco, o carisma do Instituto significa também partilhar o caminho da purificação que a Igreja está vivendo, devido às tragédias dos abusos: “o pecado nos desfigura e experimentamos, com sofrimento, a experiência humilhante quando nossos irmãos sacerdotes ou bispos caem no profundo abismo do vício, da corrupção ou, pior ainda, do crime, que destrói a vida dos outros”. Diante dessa situação, recordou o Papa, os "Servos do Paráclito são chamados a dedicar a sua vida ao serviço de alguns sacerdotes e irmãos consagrados, mediante um caminho de ascese, conversão e renovação espiritual e vocacional”. E acrescentou:
“Com o espírito e o estilo do Bom Samaritano, vocês acolhem esses confrades, compartilhando com eles a vida religiosa e a oração diária. Acima de tudo, vocês os inserem em uma comunidade de oração, que os ajuda a redescobrir a harmonia de uma vida, que a crise vocacional sempre compromete. Por isso, convido-os a aprofundar a espiritualidade da reparação, partindo da necessidade de purificação, em prol da santidade dos Pastores do Povo de Deus”.
Neste sentido, disse Francisco aos membros Capitulares da Congregação norte-americana, o carisma de vocês "valoriza, de modo particular, o compromisso ascético e a oração, de raiz contemplativa, que vocês pretendem reassumir plenamente, ao lado dos sacerdotes mais necessitados, mediante as luzes do Espírito Santo, protagonista da vida dos ministros de Cristo".
Com efeito, a vida espiritual de um sacerdote, concluiu o Papa Francisco, "aumenta não com atitudes aparentes, mas quando se deixa levar por iniciativa do Espírito. A duplicidade de vida de um sacerdote não deve ser tolerada, mas denunciada, à luz do Espírito, pois somente Ele cura as infidelidades dos seus ministros. Que o Espírito os ajude a olhar o próximo com os olhos, amor e ternura de Jesus”.
- Papa a jornalistas: olhar cuidadoso sobre a notícia dissipa as sombras de um mundo dividido
Os vencedores da décima quinta edição do Prêmio Internacional de Jornalismo Biagio Agnes - junto à uma delegação italiana que promove a iniciativa - foram recebidos pelo Papa na manhã deste sábado (24) no Vaticano, após a cerimônia de entrega da homenagem realizada na sexta-feira (23) à noite, na Praça do Campidólio, em Roma. Na audiência, Francisco felicitou os premiados e encorajou "à difusão de uma informação correta, educando e formando as jovens gerações", inspirando-se no famoso jornalista italiano que dá nome à distinção: Biagio Agnes (1928-2011), protagonista da empresa pública de rádio e TV da Itália, foi um "defensor do seu serviço público, capaz de intervir com sabedoria e decisão para garantir uma informação autêntica e correta".
Em discurso que foi entregue aos presentes, o Pontífice falou das grandes mudanças atuais que também desafiam o dia a dia do jornalista, "chamado a 'gastar as solas dos sapatos' ou a caminhar pelas ruas digitais sempre ouvindo as pessoas que encontra", inclusive lá onde ninguém vai, para contar sobre a realidade. Como aquela da guerra, já que relatando a tragédia e o absurdo dos conflitos, "faz com que todos se sintam parte do mesmo sofrimento". Para isso, o Papa destacou a importância de três "elementos" do trabalho jornalístico, cada vez menos utilizados, mas que ainda têm muito a ensinar: bloco de anotações, caneta e o olhar.
Francisco começou dando ênfase à ação de anotar, o que "envolve muito trabalho interno" como testemunhas diretas ou através de uma fonte confiável: "o bloco de anotações nos lembra da importância de ouvir, mas, acima de tudo, de nos deixarmos fascinar pelo que acontece. O jornalista nunca é um contador da história, mas uma pessoa que decidiu vivenciar suas implicações com participação, com com-paixão".
Ao descrever o uso da caneta no trabalho jornalístico, apesar de estar cada vez menos sendo usada, recordou o Papa, por estar sendo substituída por instrumentos mais modernos, ela "ajuda a elaborar o pensamento, conectando a cabeça e as mãos, promovendo lembranças e ligando a memória ao presente": "a caneta, portanto, lembra o 'ato criativo' dos jornalistas e dos profissionais da mídia, ato que exige unir a busca da verdade com a retidão e o respeito pelas pessoas, em particular, com o respeito pela ética profissional, assim como Biagio Agnes fez".
"O bloco de anotações e a caneta são meros acessórios se faltar um olhar para a realidade", ponderou o pontífice sobre a necessidade do jornalista ter "um olhar real, não apenas virtual":
"Pensemos, por exemplo, no triste fenômeno das fake news, na retórica belicista ou em qualquer coisa que manipule a verdade. É necessário um olhar cuidadoso sobre o que está acontecendo para desarmar a linguagem e promover o diálogo. O olhar deve ser direcionado a partir do coração: dali 'brotam as palavras certas para dissipar as sombras de um mundo fechado e dividido e construir uma civilização melhor do que a que recebemos. É um esforço exigido a cada um de nós, mas que requer, em particular, um senso de responsabilidade por parte dos profissionais da comunicação, para que possam exercer a própria profissão como uma missão" (Mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de janeiro de 2023)."
Fonte: Vatican News