Cultura

Papa: o sinal da cruz é o abraço de Deus que jamais nos abandona





Na Solenidade da Santíssima Trindade, o Papa falou da "comunhão de amor" que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo numa única família na qual a Igreja deve se espelhar.

O Papa rezou o Angelus com milhares de fiéis na Praça São Pedro neste Domingo em que a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade.

O Evangelho é extraído do diálogo de Jesus com Nicodemos, membro do Sinédrio. Apaixonado pelo mistério de Deus, Nicodemos reconhece em Jesus um mestre divino e, sem que o vejam, vai falar com Ele. Jesus o ouve e lhe revela o coração do mistério, dizendo que Deus amou tão profundamente a humanidade a ponto de enviar o seu Filho ao mundo. Jesus, portanto, o Filho, nos fala do Pai e do seu amor imenso.

Francisco ressaltou a relação familiar de Pai e Filho. "É uma imagem familiar que, se pensarmos, desequilibra o nosso imaginário sobre Deus. A própria palavra 'Deus', com efeito, nos sugere uma realidade singular, majestosa e distante, enquanto ouvir falar de um Pai e de um Filho nos leva de volta para casa."

Para o Pontífice, podemos pensar Deus através da imagem de uma família reunida à mesa, onde se compartilha a vida, já que a mesa é ao mesmo tempo um altar, símbolo com o qual alguns ícones representam a Trindade.

"Mas não é somente uma imagem, é uma realidade! É realidade porque o Espírito Santo nos faz degustar a presença de Deus: presença próxima, compassiva e terna. O Espírito Santo faz conosco o mesmo que Jesus faz com Nicodemos: nos introduz no mistério do novo nascimento, nos revela o coração do Pai e nos torna partícipes da própria vida de Deus."

O convite, portanto, explicou o Papa, é estar à mesa com Deus para compartilhar o seu amor. Isto é o que acontece em cada Missa, no altar do banquete eucarístico, onde Jesus se oferece ao Pai e se oferece por nós.

"Sim, irmãos e irmãs, o nosso Deus é comunhão de amor: assim Jesus nos revelou. E sabem como podemos fazer para recordá-lo? Com o gesto mais simples que aprendemos desde crianças: o sinal da cruz. Traçando a cruz sobre o nosso corpo nos recordamos quanto Deus nos amou, a ponto de dar a vida por nós; e repetimos a nós mesmos que o seu amor nos envolve completamente, de cima a baixo, da esquerda à direita, como um abraço que jamais nos abandona. E, ao mesmo tempo, nos comprometemos a testemunhar Deus-amor, criando comunhão em seu nome."

Antes de concluir, Francisco propôs algumas perguntas aos fiéis: Testemunhamos Deus-amor? Ou Deus-amor se tornou, por sua vez, um conceito, algo já conhecido, que não estimula e não provoca mais a vida? Se Deus é amor, as nossas comunidades o testemunham? Sabem amar? São famílias? Mantemos a porta sempre aberta, sabemos acolher a todos, ressalto todos, como irmãos e irmãs? Oferecemos a todos o alimento do perdão de Deus e o vinho da alegria evangélica? Respira-se uma atmosfera doméstica ou parecemos mais um escritório ou um lugar reservado onde entram somente os eleitos?

"Que Maria nos ajude a viver a Igreja como aquela casa em que se ama de modo familiar, a glória de Deus Pai e Filho e Espírito Santo", foi a exortação final do Pontífice.

 

- A oração do Papa pelas vítimas das guerras e de acidente na Índia

Com o olhar atento aos acontecimentos ao redor do mundo, mais uma vez a oração, a solidariedade e preocupação de Francisco pelos que sofrem.

Após rezar o Angelus, o Papa Francisco voltou a expressar sua proximidade às vítimas do acidente ferroviário ocorrido no Estado de Odisha na noite da última sexta-feira:

Asseguro a minha oração pelas numerosas vítimas do acidente ferroviário ocorrido há dois dias na Índia. Estou próximo dos feridos e de suas famílias. Que o Pai Celestial acolhe as almas dos falecidos em seu reino.

Em telegrama enviado ao núncio apostólico na Índia ainda no sábado, o Santo Padre havia manifestado seu pesar pela "enorme perda de vidas humanas" no acidente, assegurando sua oração pela alma dos mortos, bem como pelos familiares das vítimas e pelas equipes de socorro.

A tragédia ocorreu perto de Balasore, a cerca de 200 quilômetros de Bhubaneswar, capital do Estado de Odisha, no leste da Índia. As operações de busca e resgate foram concluídas na noite de sábado, um dia depois da colisão entre três trens que deixou pelo menos 288 mortos e 900 feridos, um dos piores desastres ferroviários da história do país.

Após o incidente, "as pessoas gritavam e pediam ajuda", declarou Arjun Das, um sobrevivente, a um canal de TV indiano. Os passageiros foram arremessados​​dos beliches onde dormiam, “havia feridos por todo o lado dentro dos vagões e ao longo dos trilhos”. 

"Todos os corpos e passageiros feridos foram evacuados do local do acidente", informou um funcionário da sala de coordenação de emergência de Balasore, perto do local do acidente. Segundo Sudhanshu Sarangi, diretor-geral do corpo de bombeiros do Estado de Odisha, o número de mortos está destinado a aumentar e pode chegar a 380.

Funcionários da ferrovia apontam que um erro de sinalização ocasionou a tragédia. Segundo eles, o Coromandal Express, que liga Calcutá a Chennai, foi desviado e colidiu com um trem de carga parado. Este acidente, por sua vez, causou o descarrilamento de um trem expresso que viajava entre Bengaluru e Calcutá.

Vítimas das guerras

 

Já ao saudar de forma especial os representantes dos Carabinier presentes na Praça São Pedro -  a quem agradeceu pela "proximidade quotidiana à população" -, Francisco pediu que sua padroeira, a Virgo Fidelis, "proteja vocês e suas famílias", estendo o pedido às vítimas das guerras:

A Ela, Mãe solícita, confio as populações provadas pelo flagelo da guerra, especialmente a querida e martirizada Ucrânia.

O tema da busca da paz tem sido constante no pontificado de Francisco, que não obstante sua Encíclica Fratelli tutti, vem testemunhando o dilagar da "ideologia do cainismo diabolicamente presente no mundo", como escreveu em seu recente livro "Dois Papas" o cardeal espanhol Julián Herranz.

Com as vítimas no último ataque russo em Dnipro, as crianças ucranianas mortas no conflito são ao menos 500, informou o escritório da Promotoria de Kiev.  Assim, neste domingo, Solenidade da Santíssima Trindade, este novo apelo do Pontífice pelas vítimas das guerras.

 

- O Papa: "com a paz se ganha sempre, com a guerra se perde tudo"

Francesco protagonista do programa Rai "A Sua Immagine", gravado em 27 de maio. Entre testemunhos no estúdio, clip de histórias e chamadas em vídeo, o Pontífice reflete sobre os problemas do mundo ou da vida pessoal de cada um. “Existe um prazer em torturar”, diz ele, pensando em imagens de guerra ou até mesmo em bullying. Sobre as aparições marianas, adverte: "Nem sempre são verdadeiras". Mensagem aos pais: "Educar os filhos à gratuidade, mas sempre com limites".

“É uma história tão antiga quanto a humanidade: com a paz sempre se ganha, talvez pouco mas se ganha, com a guerra se perde tudo. Todos! E os chamados 'ganhos' são perdas.”

Nos estúdios Rai de Saxa Rubra, convidado do programa dominical "À Sua Imagem", Francisco reverbera o apelo de Pio XII na radiomensagem aos governantes de 1939 quando, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, afirmou: "Nada se perde com paz. Tudo pode ser  perdido com a guerra." Francisco faz seu este alerta, pensando no conflito na Ucrânia que fere a Europa, mas também em todas as guerras e violências que marcam o mundo. Há um “prazer em torturar”, observa a esse respeito: “Estamos vendo isso na guerra, nas filmagens de guerra, o prazer... E tantos soldados que trabalham lá torturando soldados ucranianos. Eu vi os filmes. E isso às vezes acontece com os meninos”.

Primeira vez em Saxa Rubra

A guerra é um dos muitos temas ao qual Francisco dedica uma reflexão durante o aprofundamento religioso na Rai Uno, do qual sempre se disse espectador. Uma conversa - a primeira vez de um Papa em um estúdio de TV - conduzida pela apresentadora Lorena Bianchetti e acompanhada pelas intervenções de padre Marco Pozza, capelão da prisão Due Palazzi em Pádua, irmã Agnese Rondi, religiosa de Cottolengo, e outros convidados. A transmissão, episódio especial de "La forza della vita", foi gravada no último sábado, 27 de maio, quando Francisco havia se dirigido à sede da Rai em Saxa Rubra.

Entre chamadas em vídeo, clipes de histórias de vida, testemunhos ao vivo, seguindo o formato tradicional da transmissão, o Papa Francisco revela que nunca esteve em um estúdio de televisão nem de ter assistido muito à TV: "Vou te contar um segredo, quando era jovem ainda não tinha televisão”, brinca com Bianchetti, para então se debruçar sobre o papel que a informação deve desempenhar no atual cenário mundial: “A mídia deve ajudar a se encontrar, a se entender, a fazer amigos e a afastar os diabinhos que arruínam a vida das pessoas. Isso é a positividade, não é somente falar de religião. Pode-se sim, falar de Deus... mas preservar a humanidade, o humanismo".

O Jubileu, ocasião de perdão 

Espaço na conversa para os grandes acontecimentos da Igreja, como o Jubileu de 2025 - ocasião “para aproximar todos entre nós, com Deus, para resolver os problemas, para perdoar” (“Uma das coisas mais bonitas das pessoas é o perdão” , diz ele) -, ou a lembranças pessoais, como a de sua avó Rosa, a primeira a lhe ensinar o amor por Nossa Senhora: "Ela me falava de São José e de Nossa Senhora, mas sempre Jesus no centro".

Aparições marianas

A centralidade de Cristo é importante, observou o Papa, também para discernir sobre a veracidade das aparições marianas. A aparição "... é um instrumento da devoção mariana que nem sempre é verdade”, adverte. “Houve aparições verdadeiras de Nossa Senhora, mas sempre com o dedo assim, em direção a Jesus. Nunca Nossa Senhora atraiu para si mesma. Quando a devoção mariana é muito centrada em si mesma, não está bem. Quer na devoção como nas pessoas que a levam adiante”.

A gratuidade de Deus

Entre os vários vídeos veiculados durante o episódio, destaca-se o de Fausto Desalu, 29 anos, campeão olímpico de revezamento pela Itália, que conta sua história de renascimento. O jovem fala por vídeo chamada e pergunta ao Papa: "Tudo bem?". “Ainda estou vivo”, responde Francisco, com o espírito brincalhão de sempre.

A história pessoal do jovem dá ao Papa a oportunidade de falar sobre a gratuidade: “O Senhor foi tão bom para nós que nos habituou a ter o sentido da gratuidade. E nós queremos tudo de graça. A gratuidade é uma coisa muito grande de Deus, mas nós devemos fazer a nossa parte... Ninguém pode dar gratuitamente se não experimentou essa gratuidade”.

O "complexo do pavão"

Em contraste com essa atitude de gratuidade, existe o “complexo de pavão”: “Não sei se existe essa categoria na psicologia, mas eu chamo de ‘complexo de pavão’, ou seja,, aquele que não é como o pavão se sente pouca coisa. E tem aquele homem, aquela mulher que vai trabalhar, capaz de comprar uma casa, de constituir família. Nemhum deles faz o papel de pavão! Mas aqueles que são um pouco superficiais caem na tentação do pavão, o buscar aparecer, fazer de conta de...”. “Não é esse o caminho”, diz o Papa, “a vida é para viver, não para ser maquiada”

Do Papa também uma reflexão sobre o sofrimento. O Senhor, diz ele, citando o Gênesis, “não quer que soframos, mas quer a harmonia do refazer... Com isso o Senhor nos colocou protagonistas no progresso do destino. Se tu tens a possibilidadede ter tudo, perde a graça de ser um co-criador, de ter uma família, de levar em frente os filhos, de receber a sabedoria dos velhos, mas esse é o trabalho. O trabalho está no coração da humanidade”.

A propósito da dor, entram no estúdio de surpresa Matteo e Serena, pais da pequena Angélica, a menina gravemente doente de 5 anos que morreu um dia antes da alta do Papa da Policlínica Gemelli. Francisco os havia encontrado em frente ao hospital e o abraço do Papa à mãe em lágrimas viajou pelo mundo.

Diante de histórias do gênero, o Papa recorda a importância da “ternura” e de “acompanhar a dor”: “Também eu fui acompanhado no momento da dor. Uma coisa que aprendi, quando tive aquela doença aos 21 anos, quase até a morte: diante da dor somente os gestos, as palavras são servem... Não há palavras para a dor, somente os gestos, e o silêncio”.

Educar à mansidão

O Papa então ouve a história de Diana Ghini, 19, que sofreu bullying por causa de sua forma física e também por causa de sua irmã com grave deficiência. "A maldade é uma das possibilidades da pessoa", comenta o Papa. Os jovens que perpetram o bullying "parecem vencedores", mas "é uma vitória falsa porque é uma vitória sobre a agressão, sobre a dor dos outros". A verdadeira vitória é harmoniosa, não é agressiva, é branda. A verdadeira palavra é mansidão. Hoje não educa tanto para a mansidão, porque nos faz entender que ser manso significa ser estúpido”.

Também ele, Jorge Mario Bergoglio, recebeu palavras que o magoaram: "Quando jovem, quando criança...". Inicialmente reagiu "engolindo", depois "dizendo..., mas eles dizem isso, mas eu mereço por isso, aquilo e aquilo, e tomando isso como uma palavra que me faz justiça por dentro".

Mensagem aos pais e professores

O Papa reafirma aquele que é o "estilo" de Deus: "Proximidade, compaixão e ternura". Isso deve ser ensinado às crianças: "Não há saída: ou escolhemos o caminho do amor, da ternura, ou escolhemos o caminho da indiferença".

Mas atenção, diz aos pais: “É preciso educar sobre limites. Se tu tens um jovem, uma jovem, um menino, uma menina, e os faz crescer sem limites, estás fazendo mal. Precisam de carinho, de amor, mas também do "não" de amor. Não aos carpichos”.

O mesmo discurso para os professores: “Um mestre que somente te dá balas, não está bem. O mestre é aquele que te ajuda a caminhar, mas te diz o limite e te repreende. E um pai e uma mãe que não repreendem um filho, há algo está errado”.

 

- Confirmada viagem do Papa à Mongólia

Ao visitar este país asiático de 31 de agosto a 4 de setembro, o Pontífice encontrará uma das menores Igrejas do mundo, de apenas 1400 fiéis.

A Sala de Imprensa da Santa Sé confirmou a viagem do Papa à Mongólia.

Segundo comunicado assinado pelo diretor, Matteo Bruni, Francisco aceitou o convite do presidente e das autoridades eclesiásticas e visitará o país de 31 agosto a 4 de setembro. Bruni informa ainda que o programa e os detalhes serão comunicados nas próximas semanas. 

Pequeno rebanho

Ao visitar este país asiático, o Pontítifice encontrará uma das menores Igrejas do mundo. A Mongólia, de fato, é uma terra onde - após a primeira proclamação do Evangelho feita no primeiro milênio, da qual todos os vestígios foram depois perdidos - a Igreja renasceu apenas trinta anos atrás e hoje conta 1400 fiéis no total. Uma periferia à qual o Papa mostrou grande atenção, com a escolha feita no ano passado de criar cardeal o jovem prefeito apostólico Giorgio Marengo, um missionário italiano da Consolata.

Convite oficial 

Justamente por ocasião do Consistório no qual em agosto passado lhe entregou o barrete cardinalício, Francisco recebeu no Vaticano uma delegação do governo mongol liderada pelo ex-presidente Nambaryn Enkhabayar, que na oportunidade fez um convite oficial ao Santo Padre para visitar o país. O Pontífice respondeu imediatamente que pretendia fazer esta viagem, de forma compatível com suas condições de saúde e compromissos já programados.

 

Fonte: Vatican News