As mesmas preocupações vividas por representantes do Conselho Empresarial da América Latina (CEAL) e apresentadas ao Papa Francisco na manhã desta quinta-feira (1), no Vaticano, também estão presentes em outras partes do planeta. Por isso, disse o Pontífice em discurso, a importância de um intercâmbio para a união de forças diante de problemas sociais comuns como: trabalho, migração, mudança climática e desenvolvimento humano integral.
Ao se dirigir ao grupo que participa de evento em Roma e é formado por líderes empresariais privados da América Latina, Porto Rico, Miami e Península Ibérica - ou seja, de 19 países - Francisco reforçou o que já havia antecipado a empresários europeus de que "é essencial abordar o trabalho a partir de uma cultura do encontro":
"Os valores dessa cultura são aqueles que inspiram o mundo empresarial para poder se defender das sombras do mal, que nos invadem quando o lucro a todo custo distorce as nossas relações a ponto de degradar ou escravizar as próprias pessoas. A cultura do encontro, por outro lado, expressa a busca pelo bem comum, ajudando assim a dissipar essas sombras."
E esses valores, enfatizou o Papa em discurso, devem ser traduzidos concretamente no dia a dia do trabalho, dos sacrifícios para prosperar a empresa ao tratamento digno dos funcionários, "conscientes de que por trás de cada trabalhador há uma família e a sociedade como um todo". Francisco, assim, propôs que os líderes se tornem "construtores de redes" para transformar o ambiente em que vivem, já que estão munidos da ferramenta valiosa da rede, da bússola que é o Evangelho e da âncora que é a esperança.
“Proponho, portanto, que vocês sejam como os primeiros seguidores de Jesus, 'construtores de redes'. Foi para isso que trabalhavam, para poder pescar. Eles, para realizar o ofício de pescadores, precisavam tecer redes, e redes fortes e eficazes. Da mesma forma vocês, para poder enfrentar o mar do mundo e as tempestades que se apresentam, alcançando o objetivo que se quer, devem estar unidos, criando redes, ajudando uns aos outros. O serviço que prestam não é abstrato, mas para cada pessoa e para cada povo; é um serviço para cada pessoa, um serviço para cada povo. E, por isso, é necessário agir em conjunto, sem passar por cima de ninguém e sem deixar ninguém para trás. Um desafio bastante complexo.”
- O Papa, África: investir as melhores energias na educação dos jovens
O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, nesta quinta-feira (1º/06), uma delegação de promotores do Pacto Educativo Africano, membros da Fundação Internacional de Religiões e Sociedades.
Em seu discurso, o Papa frisou que o Pacto Educativo Africano é fruto do Simpósio Internacional organizado, em novembro passado, em Kinshasa, na República Democrática do Congo, pela Fundação Internacional de Religiões e Sociedades e pela Universidade Católica do Congo, com o apoio da Conferência Episcopal do Congo.
Participaram do simpósio vários bispos, sacerdotes, cientistas e estudiosos de vários países africanos e ali o Pacto Educativo Global, lançado pelo Papa Francisco em setembro de 2019, foi apresentado no estilo africano. O Santo Padre se congratulou com os promotores do Pacto Educativo Africano, pois eles foram os primeiros a implementar um Pacto Educativo Continental.
Vocês demonstraram que entenderam bem o que eu pretendia com esta iniciativa, ou seja, que o Pacto Educativo Global se tornasse uma realidade local, fruto de reflexões feitas a partir do próprio contexto e recursos culturais, e que fosse atento às necessidades educativas do território.
Francisco recordou que desde o início, pensou neste projeto tendo como ponto de referência um provérbio da sabedoria africana "Para educar uma criança, é preciso uma aldeia inteira", a fim de sublinhar a dimensão comunitária da educação que sempre fez parte da tradição educativa milenar africana.
Esse provérbio "é uma aliança educativa assinada idealmente por todos os membros da aldeia, para os quais a tarefa de acompanhar cada criança não é responsabilidade exclusiva do pai e da mãe, mas de todos os membros da comunidade. Portanto, todos têm o dever de apoiar a educação, que é sempre um processo coletivo. Na educação devemos arriscar mais e unir forças". A seguir, convidou os africanos a se unirem e recordou que a "dimensão comunitária da existência está perfeitamente expressa no famoso aforismo africano": "Eu sou porque nós somos".
O Pacto Educativo Africano deve contribuir, além de recuperar e fortalecer esta dimensão comunitária e horizontal das relações, também para evidenciar outra dimensão, igualmente antiga, a vertical: a relação com Deus. Alguns povos africanos, como sabemos, chegaram a conceber o monoteísmo bem antes de muitas outras civilizações. Posteriormente, a África abriu-se ao anúncio cristão com grande entusiasmo e atualmente é o continente que vê o maior crescimento no número de cristãos e católicos. Assim, o Pacto Educativo Africano, além do lema “Eu sou porque nós somos”, se fundamenta, com justo orgulho, na afirmação: “Eu sou porque nós somos e acreditamos”. Ali, existe a fé.
"Irmãos, vocês são os pastores do continente mais jovem do mundo: sua maior riqueza são os jovens. Quando tive aquele encontro na plataforma Zoom com os jovens universitários africanos, fiquei maravilhado com o nível de inteligência daqueles jovens. Espertos, inteligentes. E eu comentei isso. Peço-lhes que ouçam a voz dos jovens e suas ideias, sem autoritarismo: o Espírito fala também através deles, e tenho certeza de que eles poderão sugerir coisas bonitas e surpreendentes", disse ainda o Papa.
Francisco os exortou "a investir suas melhores energias na educação" dos jovens.
Depois das políticas de educação de massa que marcaram as primeiras décadas do pós-colonialismo, é agora tempo de trabalhar junto com os governos locais para uma qualificação cada vez maior da educação, formando bem os professores, valorizando-os e criando as condições necessárias para um exercício digno de sua profissão.
"Olhemos para África com muita confiança, porque tem tudo para ser um continente capaz de traçar os caminhos do futuro", disse o Papa, referindo-se "não só aos grandes recursos minerais, ao progresso econômico e aos processos de paz", mas também "aos recursos educacionais", pois "os valores da educação tradicional africana, sobretudo os da hospitalidade, do acolhimento, da solidariedade, são valores que se integram perfeitamente no Pacto Educativo".
"Vocês podem contar com a reflexão de muitos filósofos e pedagogos africanos e imitar o exemplo de tantas figuras de educadores missionários e estadistas educadores como, por exemplo, Nelson Mandela que em seu país oprimido pelo apartheid reconstruiu a unidade entre as diferentes raças através da reconciliação e da educação. Ele dizia que a educação é o instrumento mais poderoso que pode ser usado para mudar o mundo. Vocês também podem se inspirar em outro grande estadista, o servo de Deus Julius Nyerere, chamado de "mestre", que soube criar políticas educacionais para o crescimento de todos os seus compatriotas, independentemente das condições econômicas ou sociais. Ele era sustentado por sua fé católica e afirmava que, sem a celebração da Eucaristia, seria impossível realizar seu trabalho", disse o Pontífice.
"Com o Pacto Educativo Africano vocês confirmam mais uma vez o que disse Plínio o Velho: «Ex Africa semper aliquid novi», «Sempre surge algo novo da África». Este Pacto é uma novidade que se desenvolve a partir de duas grandes raízes: a cultura tradicional e a fé cristã", frisou o Papa, recordando outro provérbio africano que diz: "Quando as raízes são profundas, não há porque temer o vento".
Por fim, agradeceu a todos os presentes pelo seu compromisso, na expectativa de que o Pacto Educativo Africano "seja também seguido por outros continentes". "Que a Virgem Maria, Mãe da África, os acompanhe", concluiu.
- Miriam-Rose, primeira professora aborígene encontra o Papa
Espiritualidade, ecologia e reconciliação entre a Igreja e os indígenas australianos são os sentimentos que acompanham Miriam-Rose Ungunmerr Baumann, uma das líderes aborígenes mais respeitadas da Austrália, um símbolo da luta pelos direitos humanos, que se formou em uma escola católica em sua comunidade perto de Darwin e se tornou a primeira professora aborígene. Atualmente, Miriam-Rose está na Itália, e teve um encontro com o Papa Francisco na Audiência geral da última quarta-feira (31/05) na Praça São Pedro.
A artista revelou que doou uma sua pintura ao Museu etnológico vaticano Anima Mundi, em um evento organizado pela Embaixada da Austrália junto à Santa Sé, por ocasião das celebrações do 50º aniversário das relações diplomáticas. Em seguida explicou que o quadro, como muitas de suas obras de arte, como a famosa Via Sacra aborígene, é inspirado nas tradições indígenas e cristãs. Uma pintura, disse ainda a ativista ao Vatican News que retrata a "estação seca" nos Territórios do Norte, sua região na Austrália. Uma tela "para ilustrar os sinais que a natureza dá para indicar o fim das chuvas: a chegada das libélulas, por exemplo, e o aparecimento dos peixes barramundi no rio". Para Miriam Rose, a relação entre esses fenômenos naturais e a sua fé católica é clara: a natureza é o lugar onde ela encontra Deus, onde se encontra Deus.
A visita de Miriam Rose coincide com Semana da Reconciliação Australiana, uma celebração anual da história e da cultura aborígene. Para a líder resta fundamental o fato de que a construção de pontes entre os povos indígenas e não indígenas deve ser entendida em termos de "reconciliação". “Trata-se de nós aprendermos sobre vocês", explica, "e vocês aprenderem sobre nós". À tarde, participou da missa, celebrada na Dolmus Austrália, pelo cardeal Arthur Roche, prefeito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, por ocasião do 50º aniversário da primeira liturgia. Foi em 1973, em Melbourne, durante o 40º Congresso Eucarístico Nacional, "que incorporava elementos da língua e da cultura indígenas". "Jesus estava lá para todos", explica Miriam Rose, "quando ele se entrega na hóstia, no momento da comunhão, ele está lá para todos, não importa quem seja”.
Não foi a primeira vez que um membro da família de Ungunmerr Baumann se encontrou com um pontífice. João Paulo II, durante a visita à Austrália em 1986, conheceu sua irmã e abençoou o filho dela, Liam, que duas décadas mais tarde tirou a própria vida, fazendo com que as pessoas refletissem sobre as muitas lutas e desigualdades que as comunidades indígenas da Austrália ainda enfrentam.
Fonte: Vatican News