Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: Ao monte que Jesus lhes tinha indicado (Mt 28,16)





Reflexão para o domingo da Solenidade da Ascensão do Senhor | 21 de Maio 2023 – Ano “A” 

A solenidade da Ascenção do Senhor não é um momento de despedida, mas uma festa de envio em missão. No trecho do evangelho de Mateus, que proclamamos neste domingo, tudo acontece no “monte que Jesus lhes tinha indicado”. Lá, na Galileia, os discípulos (“amigos” Mt 28,10) deviam ir para encontrá-lo. Assim o Ressuscitado tinha dito às mulheres, que voltavam do túmulo ao amanhecer daquele “primeiro dia da semana”. “Os montes”, no evangelho de Mateus, são lugares privilegiados, onde os discípulos aprendem algo novo e diferente. Lembramos o “monte” das Bem-aventuranças (Mt 5,1). O Senhor quer doar àqueles que buscam o Reino de Deus uma alegria, que riquezas e poder nenhum oferecem. No “monte” da Transfiguração (Mt 17,1), Pedro declara que queria ficar lá, porque era bom.

Quando acolhemos o Senhor, uma nova luz resplandece em nossas vidas. Em Mt 15,30, foi num “monte” que Jesus curou muitos doentes e o povo glorificava a Deus. Houve, porém, também o “monte” das tentações (Mt 4,8) e “um lugar chamado Gólgota” (Mt 27,33) onde Jesus foi crucificado. Estamos agora num monte sem nome na Galileia, e os “onze” escutam palavras surpreendentes. O “ressuscitado”, a partir de então, é o vencedor da morte; é o Senhor da Vida, por isso fala de “autoridade” no céu e na terra. É com essa “autoridade” que ele envia os discípulos para que “todos os povos” possam participar da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O lugar – o monte – e as palavras de Jesus abrem horizontes, convidam a olhar mais longe, a iniciar uma “missão”, que não terá limites nem de espaço e nem de tempo. A sua última promessa garante isso: “Eis que eu estarei convosco, todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20). “Emanuel” – Deus conosco – foi o nome com o qual, segundo a profecia, o Prometido será chamado (Mt 1,23). Assim iniciou o evangelho de Mateus e, com a garantia dessa presença, termina.

Agora, é a vez dos discípulos continuarem a missão de evangelizar. Logo, nasce uma pergunta: será que vamos dar conta? Será que o Senhor Jesus não nos pediu e nos pede demais? Quantas dificuldades apareceram e aparecem à nossa frente! Os tempos e as culturas mudam. Hoje, a humanidade debate sobre a Inteligência Artificial ao mesmo tempo que milhões de seres humanos passam fome ou vivem na miséria. Nem todos dão valor ao que parece certo, incluindo os Direitos Humanos para os povos indígenas, as mulheres e uma paz duradoura. O próprio evangelista Mateus não esconde os problemas. O primeiro é evidente: os apóstolos não são mais “doze”, mas só onze. Judas escolheu outro caminho. Igualmente lemos: “ Ainda assim alguns duvidaram”. “Alguns” entre os onze? Talvez. Mais uma vez, devemos nos lembrar que o “Projeto” da missão evangelizadora não é nosso, é de Deus. Portanto ele, o Pai, através da obra de Jesus Cristo e a ação do Divino Espírito Santo sabe como e quando este projeto de Vida Nova irá chegar à plenitude. O que cabe a nós é participar, colaborar, enfim: acreditar, nunca desistir e, também, pedir para poder enxergar, sempre, os caminhos novos, que a história abre à nossa frente, fiéis ao Evangelho e ao mandato-envio de Jesus. É por isso que o Documento de Aparecida (maio 2007) nos ensinou a falar sempre de nós como “discípulos- missionários”.

Para sermos “missionários” de verdade – e não por empolgação improvisada e superficial – precisamos ser “discípulos” do Senhor, para não anunciarmos as nossas ideias, ideologias, incompreensões sempre parciais da Igreja Povo de Deus. No entanto isso não significa esperar sermos, antes, “doutores” nos ensinamentos da nossa fé para partir em missão. O Batismo já é um envio, sobretudo se acreditamos que a primeira evangelização acontece pelo “testemunho” da nossa vida e não, necessariamente, pelas nossas explicações, mais ou menos, convencedoras. Deixemos ecoar em nossos corações as palavras que nos foram transmitidas pelos Atos dos Apóstolos e proclamadas hoje. Para começar, o campo da “missão” está muito perto de nós: família, comunidade, cidade, país…planeta. Não podemos “ficar parados olhando para o céu” (At 1,11).

Por Dom Pedro José Conti

 

Fonte: Diocese de Macapá