A dor de Francisco é enorme, tão grande quanto a extensão do "impressionante desastre" que atingiu a Emilia-Romagna nos últimos dias, assolada por inundações e rios que transbordaram, com um número dramático de 9 mortes, um número indefinido de pessoas desaparecidas, mais de 20 mil pessoas deslocadas e prejuízos econômicos incalculáveis. Enquanto o alerta vermelho meteorológico ainda está em vigor, o Papa envia uma mensagem de proximidade e oração ao cardeal Matteo Maria Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana e arcebispo de Bolonha, a cidade onde a situação está se agravando.
"Informado sobre as violentas inundações que atingiram a região da Emilia-Romagna, especialmente sobre as províncias da parte oriental", lê-se no telegrama enviado nesta quinta-feira (18) e assinado pelo substituto da Secretaria de Estado, dom Edgar Peña Parra, o Papa Francisco encarrega Zuppi a manifestar aos parentes e amigos das vítimas "seus sentimentos de profundo interesse pelo impressionante desastre" que atingiu o território. Em particular, o Papa assegura "orações de sufrágio pelos mortos" e expressa suas condolências aos familiares, depois "invoca de Deus o conforto para os feridos e o consolo para aqueles que sofrem as consequências da grave calamidade".
O Papa Francisco não deixa de agradecer "a todos aqueles que, nestas horas de particular dificuldade, estão trabalhando para levar socorro e aliviar todo sofrimento", bem como "às comunidades diocesanas pela manifestação de comunhão e proximidade fraterna com as populações mais provadas". A todos, Francisco envia "a bênção apostólica como sinal de particular proximidade espiritual".
Além das orações do Papa - lê-se no telegrama -, há também a participação do secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, e aquela "pessoal" de Peña Parra, que assegura "uma recordação orante".
Já nesta quarta-feira (17), a presidência da Conferência Episcopal Italiana (CEI) emitiu um comunicado no qual assegurava, em nome dos bispos de todas as regiões da Itália, "a lembrança em oração pelas vítimas, pelos desaparecidos e por todas as famílias envolvidas". A Conferência Episcopal Italiana convidou todas as dioceses, paróquias e institutos religiosos a "rezar e a estar perto dos habitantes dos territórios atingidos pelas inundações e enchentes dos rios". "Diante dessa nova calamidade", diz a nota, que cita as palavras dos bispos da Emilia-Romagna, "entendemos claramente como devemos nos unir na emergência, como escolher juntos cuidar de nossa casa comum, e nos comprometemos a fazer o que for necessário para colaborar com o esforço de socorro e garantir hospitalidade e solidariedade aos necessitados".
A Secretaria Geral da Conferência Episcopal Italiana informa que está em contato com os bispos das dioceses afetadas e com a rede da Caritas para obter um quadro atualizado da situação e identificar as primeiras necessidades a serem atendidas.
Enquanto isso, a situação na região continua dramática. A chuva não para: em 36 horas caiu mais chuva do que a média de todo o mês de maio, fazendo com que o nível dos rios subisse a ponto de transbordar em apenas algumas horas. Mesmo para hoje, a previsão é de alerta vermelho para rios, deslizamentos de terra e tempestades. Milhares de pessoas foram evacuadas e o aviso à população é que procurem abrigo nos primeiros andares ou nos telhados, e não desçam aos porões ou lojas.
Todos os cursos d'água entre as cidades italianas de Rimini e Bolonha, 21 no total, romperam suas margens ou transbordaram, inundando vastas áreas da Romagna: Faenza, parte de Cesena e Forlì, algumas áreas de Ravenna e a própria Bolonha inundada pelo Ravone. Na cidade, entretanto, a rede rodoviária está seriamente comprometida e o convite é para que as viagens sejam feitas somente se forem realmente urgentes. A situação é a mesma na área de Cesena, onde as chuvas estão atingindo com força. As intervenções do Corpo de Bombeiros, da Proteção Civil, da Cruz Vermelha, do Alpine Rescue e dos mergulhadores são ininterruptas em todos os lugares.
No momento, há 40 mil municípios afetados, 280 deslizamentos de terra, 400 estradas interrompidas, especialmente nas províncias de Bolonha, Forlì-Cesena e Ravenna, onde há temores quanto ao destino de pessoas desaparecidas, cujo número pode ser maior. As pessoas estão vivendo sob um apagão total de energia, bem como apagões telefônicos; áreas inteiras também permaneceram isoladas devido à interrupção das linhas ferroviárias. "Um novo terremoto", chamou o governador da região, Stefano Bonaccini, lembrando o iminente aniversário do terremoto de 2012. Agora as pessoas estão olhando não apenas para o clima, mas também para o Conselho de Ministros que, na próxima terça-feira, 23 de maio, lançará medidas de apoio a todo o território.
- Comunidade Papa João XXIII: casas de acolhimento a deficientes evacuadas na Itália
Na região norte da Itália, onde encontramos a Emilia-Romagna, as inundações não dão trégua nestes dias nem mesmo às associações beneficentes, como a de caráter pontifício, a Comunidade Papa João XXIII. "Ninguém esperava um desastre como esse. Estávamos esperando a chuva, mas nunca teríamos pensado naquilo que aconteceria", afirma Andrea Bendandi, responsável pela casa de acolhimento na cidade de Faenza, que teve o andar térreo completamente inundado pela água. Já o administrador do local, Giovanni Belosi, explica que "a geladeira estava flutuando. Somos 8 pessoas, três delas com deficiências graves. Sabemos que as equipes de resgate estão fazendo o máximo possível, mas há muitos pedidos".
A comunidade terapêutica de Albareto, perto de Faenza, também está debaixo d'água. Os 13 jovens hóspedes foram evacuados durante a noite graças à intervenção de dois helicópteros, numa casa com água que já superava dois metros e meio de altura. Andrea Negri, responsável pela estrutura, conta que "no andar térreo, tudo foi completamente destruído, a geladeira flutuava e os carros e o micro-ônibus estavam submersos".
Já na Vila da Alegria, na cidade de Forlì, tem água a poucos metros das casas. A Cabana de Belém, na mesma cidade, um abrigo para os moradores de rua tem água por todo o redor. As duas casas para refugiados nos Apeninosestão completamente isoladas por causa de deslizamentos de terra: falta luz em várias instalações. A comunidade terapêutica de Bagnile, em Cesenate, está inacessível porque se tornou uma ilha em meio a um grande lago. Uma casa de acolhimento em Rimini teve todo o andar térreo inundado e foi evacuada e abrigada em outra instalação da associação, a Colônia Stella Maris.
Todo o território da Emilia-Romagna está sem luz, sem água e sem gás, confirma Luca Luccitelli, um dos expoentes da Comunidade Papa João XXIII. "As situações mais graves estão em Faenza, Forlì e Cesena, mas todas as nossas casas sofreram grandes danos. Aqueles que não têm água em suas casas têm água por toda parte, com rotas de acesso intransitáveis", finalizou ele.
Para lidar com a emergência causada pelo mau tempo, toda a rede de agências diocesanas da Caritas foi ativada desde as primeiras horas do desastre, como explica Mario Galasso, diretor da Caritas de Rimini:
"A situação é muito complicada: em Forlì e Ravenna, os diretores da Caritas coordenaram com a Prefeitura e a Proteção Civil o fornecimento de cobertores e produtos de primeira necessidade aos evacuados, para os quais foram identificados vários centros de coleta. Há uma grande solidariedade também por parte das delegações de outras regiões. Todos estão tentando fazer sua parte para receber as famílias e proporcionar o conforto necessário às pessoas nas áreas inundadas".
"Esses são momentos de grande tensão também porque temos alguns operadores e diretores da Caritas que estão em dificuldades por causa da emergência, como também é o caso do bispo de Forlì, que ficou preso no seminário", continua Galasso. "Apesar de todas as dificuldades, quero destacar o forte compromisso de todos em sentir a comunidade; em fazer comunidade, fazer fraternidade, como diria o Papa Francisco. Devemos fazer tudo o que pudermos para fazer nossa parte e tentar ajudar as pessoas para que elas não se sintam sozinhas e abandonadas. Nosso compromisso também é tentar aliviar as preocupações e os medos".
No que diz respeito aos danos, há também a inundação dos empórios e armazéns da Caritas em Forlì e Reggio Emilia, que ficaram completamente alagados e estavam cheios de gêneros alimentícios e bens de primeira necessidade. "Agora, porém", conclui ele, "a prioridade é ficar perto das comunidades.
Fonte: Vatican News