O presidente ucraniano Volodomir Zelensky chegou na tarde deste sábado ao Vaticano para se encontrar com o Papa Francisco, um encontro há muito esperado. "Agradeço-lhe por esta visita": o Papa, apoiado na bengala, saudou com estas palavras o presidente ucraniano Zelensky antes de iniciar o encontro na antessala da Sala Paulo VI. Na entrada, o aperto de mão e o presidente Zelensky, levando a mão ao peito, disse ao Pontífice "grande honra".
Zelensky chegou ao Vaticano às 16h10, horário local (14h10 GMT), procedente do Palácio Chigi, sede do governo italiano, onde se reuniu com a primeira-ministra, Giorgia Meloni, depois de ter sido recebido anteriormente pelo chefe de Estado, Sergio Mattarella.
O Papa", informa uma nota do Vaticano, "assegurou suas constantes orações, testemunhadas por seus muitos apelos públicos e contínua invocação ao Senhor pela paz, desde fevereiro do ano passado". Ambos concordaram com a necessidade de continuar os esforços humanitários em apoio à população. O Papa enfatizou particularmente a necessidade urgente de "gestos de humanidade" em relação às pessoas mais frágeis, vítimas inocentes do conflito".
O encontro entre o Papa e o presidente Zelensky durou cerca de 40 minutos.
O Papa Francisco doou ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky uma pequena escultura representando um ramo de oliveira, símbolo da paz. A Mensagem para o Dia da Paz deste ano; o documento sobre a fraternidade humana; o livro sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020, editado pela LEV; e o livro "Uma Encíclica sobre a Paz na Ucrânia".
Já o presidente ucraniano deu ao Papa um ícone de Nossa Senhora pintado sobre os restos de um colete à prova de balas e um quadro intitulado “Perda”, sobre o assassinato de crianças durante o conflito.
Em um tuíter após o encontro com o Papa o presidente Zelensky escreveu: "Sou grato por sua atenção pessoal à tragédia de milhões de ucranianos. Falei sobre dezenas de milhares de crianças deportadas. Devemos fazer todos os esforços para que elas voltem para casa. Além disso, pedi para condenar os crimes russos na Ucrânia. Porque não pode haver igualdade entre a vítima e o agressor. Também falei sobre nossa Fórmula da Paz como o único algoritmo eficaz para alcançar uma paz justa".
É o primeiro encontro do Papa com o presidente ucraniano desde o início da guerra, embora os dois já se conheçam porque Francisco recebeu Zelenski em audiência em 8 de fevereiro de 2020, quando discutiram sobre "a situação humanitária e a busca pela paz" no contexto do "conflito que vem ocorrendo na Ucrânia desde 2014".
Poucos minutos depois das 16 horas, Zelensky deixou o Palazzo Chigi para seguir com o cortejo, em meio a uma Roma que já havia sido blindada e reforçada por atiradores de elite desde ontem, em direção à Basílica de São Pedro. Os carros cruzaram a praça e seguiram para a Sala Paulo VI. Foi na "Auletta", e não no Palácio Apostólico, que ocorreu a audiência com o Papa Francisco.
Dando as boas-vindas ao presidente ucraniano estava monsenhor Leonardo Sapienza, regente da Casa Pontifícia. Na comitiva do presidente o embaixador ucraniano junto à Santa Sé, Andrii Yurash, e o chefe do gabinete do presidente, Andriy Yermak. Após a conversa privada com Francisco, o presidente ucraniano teve um encontro com o Secretário para as Relações com os Estados, dom Paul Gallagher. Não esteve presente o cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, que está em Fátima desde ontem para celebrar a festa de Nossa Senhora de Fátima no Santuário da Cova de Iria.
O encontro gerou grandes expectativas, pois muitos esperam que seja um ponto de partida para negociações complexas, começando com a questão humanitária, mas que também poderia levar a uma cessação das hostilidades.
Em 27 de abril, o Papa recebeu o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal, que reiterou seu convite para visitar a Ucrânia, uma viagem que Francisco sempre respondeu que faria quando também pudesse visitar Moscou.
O encontro deste sábado é o segundo encontro presencial, após o de 2020; o primeiro desde o início do conflito na "martirizada" Ucrânia. Quase quinze meses após o primeiro ataque russo a Kiev, o Papa Francisco recebeu o presidente Volodymir Zelensky. O encontro que ocorreu nesta tarde de sábado faz parte de uma viagem do presidente ucraniano a Roma, onde também estava programado um encontro com o presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, e com a primeira-ministra, Giorgia Meloni.
O Papa e Zelensky se encontraram pessoalmente no Palácio Apostólico do Vaticano em 8 de fevereiro de 2020, menos de um ano após as eleições que viram a vitória do presidente. Foi uma conversa que durou cerca de meia hora a portas fechadas, ao final da qual Francisco presenteou o presidente com o Medalhão de São Martinho de Tours, com o desejo de que ele protegesse o povo ucraniano, que já estava atormentado na época pela "guerra" no leste do país. Zelensky também se reuniu com o cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin e com dom Paul Richard Gallagher, Secretário para Relações com Estados e Organizações Internacionais. As "conversas cordiais" na Secretaria de Estado foram dedicadas principalmente à "situação humanitária e à busca pela paz no contexto do conflito que, desde 2014, aflige a Ucrânia", dizia o boletim da Sala de Imprensa daquele dia. A esperança expressa foi "que todas as partes envolvidas demonstrem a máxima sensibilidade às necessidades da população, as primeiras vítimas da violência, bem como o compromisso e a consistência no diálogo".
Desde o ataque russo à Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, houve várias conversas telefônicas entre Francisco e Zelensky. A primeira data de 26 de fevereiro do ano passado, dois dias após o início do conflito: enquanto as notícias dramáticas da frente de guerra aumentavam a cada hora, o Papa expressava ao presidente "sua mais profunda tristeza pelos trágicos eventos que estão ocorrendo no país". O próprio Zelensky relatou esse fato por meio de sua conta no Twitter, explicando que ele havia "agradecido ao Papa Francisco por rezar pela paz na Ucrânia e por uma trégua. O povo ucraniano", disse ele, "sente o apoio espiritual de Sua Santidade".
Uma nova ligação telefônica foi realizada em 22 de março de 2022, dia em que o presidente Zelensky teve um encontro com o Parlamento italiano. "Ele disse palavras muito importantes", afirmou o chefe de Estado aos parlamentares italianos, acrescentando que havia contado ao Papa sobre a resistência demonstrada pelo povo ucraniano "que se tornou um exército quando viu o mal". Ainda no Twitter, Zelensky informou que havia falado ao Papa sobre "a difícil situação humanitária e o bloqueio dos corredores de ajuda pelas forças russas". O papel de mediador da Santa Sé para acabar com o sofrimento humano seria bem-vindo. Agradeci as orações pela paz e pela Ucrânia", disse.
Ainda outro telefonema em 12 de agosto de 2022, em meio a apelos contínuos e vigorosos feitos pelo papa no Angelus e em audiências públicas e contatos privados por meio de autoridades. Dessa vez, também, foi novamente o presidente ucraniano que deu a notícia em um tuíte, afirmando que na conversa havia discutido os horrores sofridos pela população como resultado da invasão russa. O líder ucraniano também expressou gratidão ao Papa por suas orações e desejou uma visita de Francisco a Kiev.
O convite para a capital também foi recentemente reiterado ao Papa pelo primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, que foi recebido em audiência privada no Palácio Apostólico em 27 de abril. Durante uma conversa a portas fechadas que durou cerca de meia hora, Shmyhal pediu a Francisco, entre outras coisas, ajuda para o retorno das crianças deportadas à força para a Rússia e apoio para a continuação do "corredor de grãos" sem obstáculos.
Não deve ser esquecido o Angelus de 3 de outubro de 2022, aquele em que o Papa, deixando de lado a catequese, leu um longo apelo deplorando a escalada da violência e se dirigiu diretamente aos presidentes russo e ucraniano, Vladimir Putin e Volodymir Zelensky, colocando em suas mãos um apelo: ao presidente da Federação Russa "para parar, também por amor ao seu povo, esta espiral de violência e morte"; ao presidente da Ucrânia "para estar aberto a propostas sérias de paz". A isso se seguiu, cerca de um mês depois, no final de novembro, a comovente Carta ao povo ucraniano, na qual, nas últimas linhas, o Bispo de Roma elevou uma oração a Deus pelas autoridades sobre as quais - escreveu - "recaiu o dever de governar o país em tempos trágicos e de tomar decisões perspicazes para a paz e para o desenvolvimento da economia durante a destruição de tantas infraestruturas vitais, tanto na cidade quanto no campo".
Francisco nunca deixou de clamar pela paz, dizendo que está "disposto a fazer o que for preciso". Ele repetiu essas mesmas palavras no voo de volta de Budapeste, no final de sua 41ª viagem apostólica, na habitual entrevista no avião durante a qual falou aos jornalistas sobre uma missão de paz da Santa Sé na Ucrânia, sem dar mais detalhes. "Uma missão está em andamento, mas ainda não é pública... Quando for pública, eu a direi", disse o Papa. As autoridades de Moscou e Kiev responderam a essas palavras dizendo que não tinham conhecimento dessa iniciativa do Vaticano. O cardeal Parolin, se disse "surpreso" com a reação da Rússia e da Ucrânia à margem de um evento em Roma, mas não entrou em detalhes ("O Papa falou nesses termos, vamos deixar que ele dê mais informações", disse ele), mas garantiu que ambas as partes "estavam e estão cientes" da missão de paz. Há alguns dias, Parolin voltou ao assunto, afirmando que houve desenvolvimentos sobre a iniciativa, mas "em nível confidencial".
- O Papa: além da paz, também está em perigo a identidade antropológica das mulheres
Hoje a "identidade antropológica da mulher" está em perigo, instrumentalizada por razões políticas ou ideológicas que "ignoram a beleza com a qual foi criada". O Papa Francisco recebeu no Vaticano as mulheres da União Mundial de Organizações Femininas Católicas, a quem recordou a celebração hoje da Virgem de Fátima, acrescentando: "Estou triste porque no país onde Nossa Senhora apareceu, foi promulgada uma lei para matar. Mais um passo na lista de países que aprovaram a eutanásia".
É precisamente para Nossa Senhora que o Papa nos convida a olhar, como um modelo de vida e ternura. Em seguida, ele exorta os membros da organização, que representa quase 100 organizações de mulheres em todo o mundo, com cerca de 8 milhões de mulheres católicas, a renovar o espírito missionário e a "ouvir o clamor de tantas mulheres no mundo que sofrem injustiça, abandono, discriminação e pobreza".
Além da paz, a estar em perigo também está a identidade antropológica das mulheres, pois elas são instrumentalizadas como argumento de disputas políticas e ideologias culturais que ignoram a beleza com a qual foram criadas. É necessário valorizar mais a sua capacidade de relação e de doação, e que os homens compreendam melhor a riqueza da reciprocidade que devem às mulheres, a fim de recuperar os elementos antropológicos que caracterizam a identidade humana e, com ela, a da mulher e o seu papel na família e na sociedade, onde não deixa de ser um coração pulsante.
Para que elas possam cumprir sua missão evangelizadora e trabalhar pelo desenvolvimento humano, a Umofc criou o Observatório Mundial da Mulher para que, lembra Francisco, "outras possam ajudar a aliviar as necessidades corporais e espirituais da humanidade".
Hoje há uma necessidade urgente de encontrar a paz no mundo, uma paz que começa, acima de tudo, dentro do coração, um coração doente, dilacerado pela divisão do ódio e do ressentimento”.
No dia em que a Igreja comemora as aparições da Virgem Maria em Fátima, Francisco aponta para Maria como o "modelo de mulher por excelência" que vive o dom da maternidade e a tarefa de cuidar de seus filhos na Igreja.
Maria ensina a gerar a vida e a protegê-la sempre, relacionando-se com os outros com ternura e compaixão, e combinando três linguagens: a da mente, a do coração e a das mãos. Como já disse em outras ocasiões, acredito que as mulheres têm essa capacidade de pensar o que sentem, de sentir o que pensam e fazem, e de fazer o que sentem e pensam. Eu as incentivo a continuar a oferecer essa sensibilidade a serviço dos outros.
Em todas as grandes coisas que Deus faz, a cena é caracterizada pela pobreza e pela humildade, como em Fátima, continuou Francisco, onde "uma mulher boa e cheia de luz encontrou crianças pobres e simples". Aquelas crianças pastoras representam a humanidade frágil, os pequenos desnorteados e amedrontados diante do que a vida apresenta e que nem sempre entendemos, porque às vezes os acontecimentos "nos vencem e nos colocam em crise". Em seguida, o Papa explica o que fez com que Maria e os pastorzinhos se tornassem fortes ao serem transformados "de pessoas frágeis e pequenas em autênticas testemunhas da alegria do Evangelho".
O segredo de todo discipulado e da disponibilidade à missão está em cultivar essa união interior com o "hóspede doce da alma" que sempre nos acompanha: o amor a Deus e permanecer unidos a Ele, como os ramos à videira (cf. Jo 15,1-11), para viver - como Maria - a plenitude do ser mulher com a consciência de sentir-se escolhida e protagonista na obra salvífica de Deus. Mas isso, por si só, não é suficiente. Essa união interior com Jesus deve se manifestar externamente, permanecendo em comunhão com a Igreja, com minha família ou com minha organização, que me ajudam a amadurecer na fé.
O convite de Francisco é, portanto, a "rezar as obras e fazer o que se viu na oração", para estar em sintonia com a missão da Igreja, para estar em sintonia com a missão de toda a Igreja, porque "essa é também a essência da sinodalidade, o que faz com que nos sintamos protagonistas e corresponsáveis pelo "bem estar" da Igreja, para saber integrar as diferenças e trabalhar em harmonia eclesial".
Fonte: Vatican News