O Papa Francisco participou, nesta sexta-feira (12/05), no Auditório da Conciliação, em Roma, do encontro conclusivo da 3ª edição dos Estados Gerais da Natalidade, um evento promovido pelo Fórum das Associações Familiares, dedicado ao destino demográfico da Itália e do mundo, que reúne expoentes da política, das empresas, dos bancos, do esporte, do entretenimento e do jornalismo.
Segundo Francisco, "o nascimento dos filhos é o principal indicador para medir a esperança de um povo. Se nascem poucos, significa que há pouca esperança. E isto não só tem repercussões do ponto de vista econômico e social, mas prejudica a confiança no futuro".
No ano passado, a Itália atingiu o menor número de nascimentos de todos os tempos: apenas 393 mil recém-nascidos.
É um fato que revela grande preocupação com o amanhã. Hoje, colocar filhos no mundo é visto como uma tarefa a ser assumida pela família. Isso, infelizmente, condiciona a mentalidade das novas gerações, que crescem na incerteza, quando não na desilusão e no medo. Vivem num clima social em que constituir família está se transformando num esforço titânico, ao invés de um valor compartilhado que todos reconhecem e apoiam. Sentir-se sozinho e obrigado a confiar exclusivamente nas próprias forças é perigoso: significa desgastar lentamente a vida comum e resignar-se a existências solitárias, nas quais cada um tem que fazer por si. Com a consequência de que apenas os mais ricos podem, graças aos seus recursos, ter maior liberdade para escolher que forma dar à sua vida. E isso é injusto, além de humilhante.
A seguir, Francisco disse que "talvez nunca como neste tempo, entre guerras, pandemias, deslocamentos em massa e crises climáticas, o futuro pareça incerto. Tudo passa rápido e até as certezas adquiridas passam rápido. Com efeito, a velocidade que nos rodeia aumenta a fragilidade que carregamos dentro de nós. E neste contexto de incerteza e fragilidade, as novas gerações experimentam um sentimento de precariedade, de tal forma que o amanhã parece uma montanha impossível de escalar".
Dificuldade em encontrar trabalho estável, dificuldade em mantê-lo, moradias muito caras, aluguéis altos e salários insuficientes são problemas reais. São problemas que desafiam a política, porque está à vista de todos que o mercado livre, sem as indispensáveis medidas corretivas, torna-se selvagem e produz situações e desigualdades cada vez mais graves. E para descrever o contexto em que nos encontramos, penso numa cultura que não é amiga, senão inimiga, da família, centrada nas necessidades do indivíduo, onde direitos individuais contínuos são reivindicados e os direitos da família não são mencionados. Em particular, existem condicionamentos quase intransponíveis para as mulheres. As mais prejudicadas são elas, mulheres jovens muitas vezes obrigadas a escolher entre carreira e maternidade, ou esmagadas pelo peso de cuidar de suas famílias, principalmente na presença de idosos frágeis e pessoas não autônomas.
"São necessárias políticas voltadas para o futuro", frisou o Papa. "É preciso preparar um terreno fértil para florescer uma nova primavera e deixar este inverno demográfico para trás. E, dado que o terreno é comum, a sociedade e o futuro, é preciso enfrentar o problema juntos, sem barreiras ideológicas e posições pré-concebidas. É verdade que, também com a ajuda de vocês, muito foi feito e estou muito grato por isso, mas ainda não é o suficiente. É necessário mudar a mentalidade: a família não é parte do problema, mas parte da solução." E Francisco perguntou: "Há alguém que saiba olhar adiante com a coragem de apostar nas famílias, nas crianças, nos jovens?"
Segundo o Pontífice, "não podemos aceitar que nossa sociedade deixe de ser generativa e se degenere em tristeza. Uma comunidade feliz desenvolve naturalmente o desejo de gerar e integrar, enquanto uma sociedade infeliz se reduz a uma soma de indivíduos que buscam defender a todo custo o que têm".
O Papa, concluiu o seu discurso, destacando a palavra esperança. De acordo com ele, "o desafio da natalidade é uma questão de esperança", mas, "a esperança não é, como muitas vezes se pensa, otimismo, não é um vago sentimento positivo sobre o futuro. Não é ilusão ou emoção. É uma virtude concreta e tem a ver com escolhas concretas. Alimentar a esperança é uma ação social, intelectual, artística, política no mais alto sentido da palavra.É colocar as próprias capacidades e recursos a serviço do bem comum, é semear o futuro. A esperança gera mudança e melhora o futuro. A esperança nos chama a buscar soluções que deem forma a uma sociedade à altura do momento histórico que vivemos, um tempo de crises atravessado por tantas injustiças".
Dar novamente impulso à natalidade significa reparar as formas de exclusão social que afetam os jovens e o seu futuro. É um serviço para todos: os filhos não são bens individuais, mas pessoas que contribuem para o crescimento de todos, trazendo riqueza humana e geracional. A vocês que estão aqui para encontrar boas soluções, fruto de seu profissionalismo e de suas competências, eu gostaria de dizer: sintam-se chamados para a grande tarefa de regenerar a esperança, de iniciar processos que deem impulso e vida à Itália, à Europa, ao mundo.
- Natalidade: a urgência em combater o inverno demográfico na Itália
O Papa Francisco e a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, subiram ao palco para participar, na manhã desta sexta-feira (12), da terceira edição dos "Estados Gerais da Natalidade". O evento de dois dias, intitulado 'SOS-Tenere#quota500mila', começou nesta quinta (11), no Auditorium della Conciliazione, em Roma, próximo da Praça São Pedro.
O objetivo da iniciativa é incentivar pelo menos 500 mil novos nascimentos por ano frente à necessidade de combater o declílio demográfico - já descrito em muitas oportunidades pelo Pontífice como 'inverno demográfico' -; caso contrário, a Itália corre o risco de perder 11 milhões de pessoas nos próximos anos. Em mensagem, o presidente da República da Itália, Sergio Mattarella, afirmou que "as instituições são responsáveis pela implementação de políticas ativas".
Mattarella escreveu que é necessário "permitir que os jovens casais realizem o seu projeto de vida, superando as dificuldades de caráter material e de acesso a serviços que tornam árduo o caminho da parentalidade". Já o presidente do ISTAT, Giancarlo Blangiardo, ressaltou que "há alguns anos a Itália tem sido um país com mais mortes do que nascimentos: os números mais recentes são de 713 mil mortes em comparação com os 393 mil nascimentos. Um grande país que está começando a perder população. As previsões para os próximos anos são de que os 59 milhões de italianos de hoje cairão para míseros 48 milhões, ou seja, 11 milhões de pessoas desaparecerão". Portanto, precisamos enviar um sinal claro para evitar que a Itália continue a ser a camisa preta da Europa, e isso é feito primeiramente com a prestação de serviços.
A taxa de natalidade é uma questão que diz respeito à saúde econômica e social do país. Gianluigi De Palo, presidente da Fundação para a Natalidade, abriu os trabalhos do evento nesta quinta-feira (11) e afirmou que "não se trata de uma questão de valores ou orientação política, mas do que acontece no presente e do que acontecerá no futuro com todos nós, sem excluir ninguém. Um número acima de tudo: estamos no recorde negativo de 339 mil nascimentos contra 700 mil mortes. Se algo não mudar, tudo entrará em colapso em alguns anos". A escola, por outro lado, já está sofrendo. No próximo ano letivo, de fato, haverá 110 mil alunos a menos, e em 10 anos a população estudantil poderá passar dos atuais 7,4 milhões para 6 milhões.
Um em cada três trabalhadores gostaria de ampliar a sua família, mas muitas vezes é difícil conciliar o tempo dedicado ao trabalho com o tempo para se dedicar ao núcleo familiar. Para a ministra da Família, Eugenia Roccella, "há uma necessidade primordial de conciliar o trabalho feminino com a maternidade, porque todas as pesquisas concordam que as mulheres italianas querem ter filhos, principalmente dois. Se esse desejo não for realizado, porque elas não têm nenhum ou têm um e já é tarde, é porque elas sentem que estão diante da alternativa entre a realização profissional e o fato de se tornarem mães".
Fonte: Vatican News