"Vocês já fizeram muito nestes primeiros seis meses" de trabalho, disse o Papa Francisco à delegação da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores recebida na manhã desta sexta-feira (5), no Vaticano. Eles participam até este sábado (6) da segunda assembleia plenária do órgão após o anúncio dos novos membros e justamente para fazer um balanço desse primeiro período. No grupo há de colaboradores provenientes do mundo inteiro, inclusive do Brasil, "que são uma nova e bem-vinda adição", disse o Pontífice.
Francisco elogiou os planos de formação e de serviço às vítimas pensados para a América Latina, África e Ásia, pois demonstra que a Igreja está se esforçando para enfrentar as desigualdades com as outras áreas mais prósperas do planeta: "espero receber informações sobre esse empenho e um relatório anual sobre o que vocês acreditam que está funcionando bem e sobre o que não está, para que possam ser feitas as devidas alterações", enalteceu Francisco, ao se referir às diretrizes e os padrões de comportamento do clero e dos religiosos.
O Papa, então, aprofundou o discurso dirigido à delegação tomando como referência "as sementes lançadas há cerca de 10 anos, quando o Conselho de Cardeais recomendou a criação deste órgão": "nos últimos 10 anos, todos nós aprendemos muito, inclusive eu!", comentou Francisco. A consciência desse problema se estendeu por toda a comunidade cristã, escandalizando muita gente, pelo fato "de não fazermos o que deveríamos ter feito, especialmente por parte dos líderes da Igreja":
"O abuso sexual de menores pelo clero e a sua má administração pelos líderes eclesiásticos foram um dos maiores desafios para a Igreja do nosso tempo. Muitos de vocês dedicaram a própria vida a essa causa. As guerras, a fome e a indiferença ao sofrimento dos outros são realidades terríveis do nosso mundo, são realidades que clamam ao céu. A crise dos abusos sexuais, no entanto, é particularmente grave para a Igreja porque prejudica a sua capacidade de abraçar plenamente a presença libertadora de Deus e de ser testemunha. A incapacidade de agir corretamente para deter esse mal e ajudar as suas vítimas deturpou o nosso próprio testemunho do amor de Deus. No 'Confiteor', nós pedimos perdão não apenas pelos erros que cometemos, mas também pelo bem que não fizemos. Pode ser fácil esquecer os pecados de omissão, porque, de certa forma, eles parecem menos reais; mas eles são muito concretos e ferem a comunidade tanto quanto os outros, se não mais."
Ao mesmo tempo, porém, destacou o Papa, "não permanecemos em silêncio ou inativos". Para reforçar essa atuação da Igreja diante da crise dos abusos sexuais, Francisco traçou três princípios a serem seguidos como parte de uma "espiritualidade de reparação".
Primeiramente, lembrou Francisco, "onde a vida foi ferida, somos chamados a recordar o poder criativo de Deus para emergir a esperança do desespero e a vida da morte". Diante da terrível sensação de perda sentida por tantas pessoas devido ao abuso, e até mesmo dos líderes da Igreja "que compartilham um senso comum de vergonha por não terem agido" frente ao problema, "não desanimem", exortou o Papa, "perseverem, sigam em frente!".
Em segundo lugar, "o abuso sexual provocou lacerações no nosso mundo e não apenas na Igreja", inclusive dentro de casa ou no trabalho. A indicação do Papa foi de retomar a relação com as partes envolvidas construindo, assim, um "caminho de reparação e redenção":
“As comunidades são destruídas; a natureza insidiosa do abuso destrói e divide as pessoas, em seus corações e entre si. Mas a nossa vida não deve permanecer dividida. O que está quebrado não deve permanecer quebrado. [...] Lá onde a vida foi quebrada, então, peço que vocês ajudem concretamente a juntar as peças, na esperança de que o que está quebrado possa ser recomposto novamente.”
O último e terceiro princípio indicado pelo Papa sobre a espiritualidade da reparação foi de "cultivar o respeito e a bondade de Deus em vocês", sendo gentis ao agir, "carregando os fardos uns dos outros (cf. Gl 6:1-2), sem reclamar, mas pensando que este momento de reparação para a Igreja dará lugar a outro momento na história da salvação". Enfim, os princípios de respeito pela dignidade de todos, boa conduta e estilo de vida saudável devem se tornar uma norma universal, concluiu o Pontífice: "afinal de contas, uma cultura de tutela só ocorrerá se houver uma conversão pastoral para esse fim entre seus líderes".
"Agora é o momento de reparar os danos causados às gerações anteriores a nós e àqueles que continuam sofrendo. Esta época pascal é um sinal de que um novo tempo está sendo preparado para nós, uma nova primavera fecundada pelo trabalho e pelas lágrimas compartilhadas com aqueles que sofreram. É por isso que é importante que nunca paremos de avançar. Vocês dediquem as suas habilidades e conhecimentos para ajudar a reparar uma ferida terrível na Igreja, colocando-se a serviço das várias Igrejas particulares. Desde a vida cotidiana de uma diocese, em suas paróquias e seminários, até a formação de catequistas, professores e outros agentes pastorais, a importância da proteção de menores e pessoas frágeis deve ser uma norma para todos."
- Papa: a família mudou muito e está mudando, mas continua sendo um valor fundamental
O Papa Francisco teve na manhã desta sexta-feira, 5 de maio, um encontro de forte sabor familiar ao receber em audiência na Sala Clementina, no Vaticano, um significativo grupo de 400 peregrinos da Diocese de Asti, região italiana do Piemonte, norte da Península.
Ao recebê-los, Francisco disse estar feliz por acolher esta peregrinação, que renova nele as lembranças e os sentimentos da sua visita a Asti em novembro passado para a festa de Cristo Rei.
Aquele um dia e meio que passei entre vós foi um momento de consolação para mim. Um momento de grande calor humano - feito com madeira piemontesa, que não aquece imediatamente, mas só depois de um tempo e depois dura! Um momento de família, no sentido amplo: família de origem, as raízes, os encontros com meus parentes; família da Igreja, a celebração na Catedral, com a participação de todo o povo de Deus; e depois família da comunidade civil, a colaboração com as Autoridades, a presença do povo. Esse sentimento de calor humano que eu dizia não é apenas uma emoção: ele se acendeu em mim ao olhar para vossos rostos alegres, ao sentir vosso afeto, ao ver que há uma família seguindo em frente, caminhando pela estrada do Evangelho, com todas as suas limitações e dificuldades.
E assim podemos nos deter um pouco nessa palavra: família, prosseguiu o Santo Padre.
Porque a família é uma realidade que mudou muito, e está mudando, e ainda assim a família continua sendo um valor fundamental. Mas sabeis quando ocorreu a verdadeira "revolução" da família? Sabeis quem a fez? É fácil responder, porque as novidades, as verdadeiras novidades, foram trazidas a este mundo somente por um: Jesus Cristo. E também a família, Ele a renovou, a transformou.
Em que sentido? Perguntou o Pontífice. Conta-nos um episódio do Evangelho, onde há uma daquelas palavras de Jesus que nos deixam perplexos, que nos colocam em crise. Mateus, Marcos e Lucas relatam o fato. Jesus está pregando no meio de seus discípulos e de outras pessoas e, em certo momento, dizem a ele: "Aqui fora estão tua mãe e teus parentes procurando por ti". Lembrais do que Jesus responde? Ele volta o olhar para os que estão ao seu redor e diz: "Aqui estão minha mãe e meus irmãos!" E acrescenta: "Pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai é para mim irmão, irmã e mãe". Essa palavra de Jesus, se pensarmos bem, gera uma nova maneira de entender a família, observou Francisco.
E, como vos disse, essa palavra de Jesus renovou radicalmente a família, de modo que o vínculo mais forte e mais importante para nós, cristãos, não é mais o de sangue, mas o amor de Cristo. Seu amor transforma a família, liberta-a da dinâmica do egoísmo, que deriva da condição humana e do pecado, liberta-a e enriquece-a com um novo vínculo, ainda mais forte, mas livre, não dominado pelos interesses e convenções do parentesco, mas animado pela gratidão, pelo reconhecimento, pelo serviço mútuo.
Irmãos e irmãs de Asti, quis compartilhar esta reflexão convosco porque em vossa terra estão as raízes paternas de minha família. As raízes são importantes! E damos graças a Deus pelo dom da vida e por aqueles que o transmitiram a nós. Mas, acima de tudo, agradecemos porque Jesus Cristo nos chamou para fazer parte de sua família, na qual o que conta é fazer a vontade do Pai que está nos céus. E essa nova família de Jesus, embora dê um novo significado aos relacionamentos familiares - entre cônjuges, entre pais e filhos, entre irmãos - ao mesmo tempo também "fermenta" a vida da comunidade eclesial e civil. Por exemplo, eleva a gratuidade, o respeito, a aceitação e outros valores humanos.
Nesta sexta-feira, 5 de maio, o Papa Francisco publicou a seguinte mensagem em sua conta oficial do Twitter:
“Se não tens muito tempo para rezar, pode vir em teu auxílio uma sábia prática espiritual, as orações jaculatórias, orações muito curtas que podemos repetir frequentemente durante o dia para ficarmos “sintonizados” com o Senhor.”
Na mensagem dirigida aos fieis, durante a oração do Angelus do dia 16 de outubro de 2022, o Papa falou sobre este tema e destacou que é importante não negligenciarmos o que mais importa deixando que nosso amor por Deus se esfrie pouco a pouco, e sugeriu:
“Hoje Jesus nos oferece o remédio para aquecer uma fé ressequida. E qual é? A oração. Sim, a oração é o remédio da fé, o reconstituinte da alma. Porém, deve ser uma oração constante”
Francisco afirmou que a constância significa “nutrir” todos os dias como uma planta, senão a nossa fé pode “entrar em letargo” e secará. E fazendo analogia com a planta disse ainda para dedicarmos tempo a Deus, com orações. Assim Ele pode entrar em nosso tempo; precisamos de momentos constantes nos quais lhe abrimos nossos corações, para que Ele possa derramar sobre nós todos os dias amor, paz, alegria, força, esperança; isto é, nutrir a nossa fé. Então o Papa ponderou, que alguns poderiam dizer: "Como eu faço? Não vivo em um convento, não tenho muito tempo para rezar".
A solução oferecida pelo pontífice naquela ocasião foi justamente a prática das orações jaculatórias:
“Pode vir em nosso auxílio, uma prática espiritual sábia, mesmo que hoje seja um pouco esquecida, que nossos idosos, especialmente as avós, conhecem bem: a das chamadas orações jaculatórias. O nome é um pouco ultrapassado, mas a substância é boa”
Francisco explicou que “são orações muito curtas, fáceis de memorizar, que podemos repetir com frequência durante o dia, no decorrer das várias atividades, para ficar "em sintonia" com o Senhor. Dando em seguida alguns exemplos: “Assim que acordamos, podemos dizer: ‘Senhor, eu te agradeço e te ofereço este dia’; depois, antes de uma atividade, podemos repetir: ‘Vem, Espírito Santo’; e entre uma coisa e outra, podemos rezar assim: ‘Jesus, eu confio em ti e te amo’. Com quanta frequência enviamos ‘pequenas mensagens’ às pessoas que amamos! Façamos isso também com o Senhor, para que os nossos corações permaneçam conectados a Ele”.
- Papa Francisco: o diálogo inter-religioso parte da união de valores comuns
Na manhã desta quinta-feira (4), entre a série de audiências no Palácio Apostólico, o Papa Francisco recebeu uma delegação de participantes do VI Colóquio "Comunalidades criativas entre o Cristianismo e o Islamismo" do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso e do Instituto Real de Estudos Inter-Religiosos (Royal Institute for Interfaith Studies) de Amã, na Jordânia.
Em discurso, o Pontífice saudou tanto o príncipe El Hassan bin Talal, também líder da organização, como enviou sua saudação ao Rei da Jordânia, Abdullah II, a quem demonstrou apreço e gratidão pela atenção às comunidades cristãs "não apenas do seu país, mas também às do Oriente Médio, especialmente em tempos marcados por conflitos e violência. Sua Majestade não se cansa de repetir que os cristãos daquelas terras abençoadas são autóctones, ou seja, vivem onde seus ancestrais viveram por muitos séculos", disse o Papa.
Ao se direcionar aos participantes do Colóquio, Francisco disse ser motivo de alegria a sexta edição do evento, o que demonstra "perseverança no caminho do diálogo inter-religioso e intercultural, e também é demonstração de uma amizade fiel que continua apesar das mudanças de pessoas e de responsabilidades", mas sempre "confirmando o sentimento de fraternidade que é a base das relações entre os povos". O Instituto, reconheceu ainda o Papa, procura preservar e valorizar o patrimônio árabe cristão, beneficiando "os cidadãos cristãos de ontem e de hoje, protege e consolida tal patrimônio em todo o Oriente Médio, tão diverso e rico em etnias, religiões, culturas, idiomas e tradições".
"O diálogo que vocês praticam e promovem, para ser frutífero, requer um estilo de sinceridade e respeito mútuo, com consciência seja das convergências seja das divergências. É no primeiro caso que devemos nos concentrar acima de tudo, ou seja, no que nos une, tanto em nível religioso e espiritual quanto em nível ético e moral. Nesse sentido, vocês pretendem enfatizar muitos valores comuns, como a adoração ao Deus único, a oração, o jejum, a peregrinação, a compaixão, o compartilhamento, o cuidado com os desfavorecidos e sofredores: o órfão, a viúva, o doente, o idoso, o imigrante, o refugiado."
No entanto, ponderou o Pontífice, "também seria desejável, sempre que possível, colaborar estreitamente com institutos cristãos que têm o mesmo nobre objetivo". E ao sair do texto escrito e falando espontaneamente, o Papa Francisco finalizou:
“E não quero ir embora sem dizer uma palavra. Encontrei o embaixador e ele me lembrou do que é o drama da Turquia e do norte da Síria. Também os nossos corações estão próximos a tantas pessoas que sofreram com esse terrível terremoto. Vamos rezar por elas e façamos o melhor de nós para ajudá-las. Há muçulmanos, cristãos, nossos irmãos e irmãs.”
Fonte: Vatican News