O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (04/05), na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Congresso da Organização de Universidades Católicas da América Latina e Caribe (ODUCAL), por ocasião de seu 70º aniversário de fundação.
A ODUCAL foi fundada, no Chile, por dom Alfredo Silva Santiago, arcebispo de Concepción, com o apoio de outras universidades. É composta por 115 universidades, que atualmente representam um milhão e quinhentos mil alunos, mais de cento e dez mil professores e mais de cinco mil programas acadêmicos de diferentes níveis. É a maior organização dentro da Federação Internacional de Universidades Católicas (FIUC). A organização tem solidez no trabalho acadêmico e, ao mesmo tempo, tem em suas mãos uma grande responsabilidade, tanto no presente quanto no futuro da América Latina. Um dos objetivos da ODUCAL é «Contribuir para a formulação de políticas públicas relacionadas com a educação, tanto no âmbito nacional quanto supranacional».
“Nesse sentido, e olhando para a realidade da nossa América Latina, a pobreza e a desigualdade são uma chaga que aprofunda em vez de aliviar. A pandemia e as suas consequências, o agravamento do contexto mundial político, econômico e militar, bem como a polarização ideológica, parecem fechar as portas aos esforços de desenvolvimento e aos desejos de libertação.”
Segundo o Papa, "a crise atual não é apenas uma oportunidade para verificar o esgotamento dos sistemas e modelos econômicos, mas também nos encoraja a superar soluções preconceituosas como as que alimentam os esquemas de polarização ideológica, emocional, política, de gênero e exclusão cultural. Em todo o caso, não nos assustemos com o “caos”, porque é precisamente a partir daí que Deus faz as suas obras mais belas e criativas".
"Se a palavra "universidade" vem de "universo", ou seja, o "conjunto de todas as coisas", o adjetivo "católico" a reforça e inspira. A tarefa de vocês é contribuir para formar mentes católicas, capazes de observar não só o objeto do seu interesse. Um olhar extremamente preciso e focado pode se tornar fixo e exclusivo. Tem a precisão de um radar, mas perde o panorama. Ao contrário, ser “católico” significa ter uma visão panorâmica sobre o mistério de Cristo e do mundo, sobre o mistério do homem e da mulher. Precisamos de mentes, corações e mãos para corresponder ao panorama da realidade, não à estreiteza das ideologias", disse ainda Francisco.
O Papa citou o início da Constituição Pastoral Gaudium et spes, sobre a Igreja no mundo atual, para dar um exemplo de perspectiva católica. "Afirmando que «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo», a Gaudium et spes nos fala da vida humana “catolicamente”, não seletivamente", disse Francisco.
“Estou convencido de que a catolicidade da mente, do coração e das mãos, promovida por suas universidades e sua associação, pode contribuir decisivamente para curar as feridas dolorosas que hoje ofendem nossa amada América Latina, onde os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Alimentem o fogo aceso por Deus na América Latina.”
Segundo o Papa, o Pacto Educativo Global, que ele confiou à então Congregação para a Educação Católica e agora ao novo Dicastério para a Cultura e a Educação, poderá ajudar nisso. Muitas universidades "promovem com energia ideias e projetos inspirados no Pacto Educativo Global". "Por favor, continuem. Acredito que o Pacto - não apenas educacional, mas também cultural - dá uma contribuição significativa para o que chamei de "terceira missão" da universidade. É bonito que as universidades tenham missões", disse Francisco.
Uma universidade católica deve ser missionária, isto é, com as portas voltadas para fora, porque a missão é a inspiração, o impulso, o esforço e o prêmio de toda a Igreja. Talvez a missão da universidade seja formar poetas sociais, homens e mulheres que, aprendendo bem a gramática e o vocabulário da humanidade, tenham centelha, tenham um brilho que lhes permita imaginar o inédito. Não se esqueça dessa expressão: formar poetas sociais.
O Papa traduziu a palavra "missão" no âmbito acadêmico, coma palavra "pesquisa". Segundo ele, o "pesquisador tem mente e coração missionários. Não se contenta com o que tem, sai em busca".
"O missionário conhece a alegria do Evangelho e não vê a hora que outros a experimentem. Por isso, deixa a pátria de suas convicções e de seus costumes, indo para lugares inexplorados. O missionário ama a reciprocidade: ensina e aprende, convencido de que todos têm algo a ensinar. Assim, o pesquisador, se não estiver disposto a sair e aprender, abrirá mão sabe-se lá de que conhecimento maravilhoso, mutilando sua própria inteligência. É muito triste encontrar intelectuais, homens e mulheres de grande inteligência, mas com inteligência mutilada", concluiu o Pontífice.
- Vaticano: Francisco recebe presidente da Câmara dos EUA
Na agenda de audiências desta quinta-feira (4), como confirma um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa Francisco recebeu Kevin Owen McCarthy, atual presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos - cargo que também é conhecido como o de "speaker" e considerado o terceiro posto mais poderoso na política americana. A eleição do representante do 23º distrito da Califórnia aconteceu em 7 de janeiro deste ano, tendo sido escolhido pela primeira vez para o Congresso em 2006.
O político e empresário norte-americano está na Itália desde quarta-feira (3), após as visitas a Israel e ao Egito, liderando uma delegação bipartidária do Congresso. Segundo a agência de notícais Adnkronos, McCarthy participa de uma série de reuniões institucionais nesta quinta-feira (4) em Roma, entre elas, com a primeira-ministra, Giorgia meloni; com o presidente da República, Sergio Mattarella; e o com o presidente da Câmara dos Deputados, Luciano Fontana.
- Francisco aos jovens: participem da JMJ em Lisboa
Aproxima-se o dia da Jornada Mundial da Juventude! A contagem regressiva está agora em três meses. Lisboa de 1º a 6 de agosto, receberá milhares de jovens de todo o mundo, e para incentivar e motivar esta preparação, o Papa Francisco enviou uma breve mensagem em vídeo especial para os jovens que partirão para Portugal. O vídeo foi gravado na Casa Santa Marta por Dom Américo Manuel Alves Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, no último dia 27 de abril.
Na mensagem o Papa imagina a organização e o trabalho que deve estar ocupando a mente e o coração dos jovens por estes meses: "como fazer, como pedir licença do trabalho, dos estudos, como arranjar dinheiro para a viagem, tantas preocupações", porém, sempre olhando para um horizonte de encontro com entusiasmo.
“A Igreja tem a força dos jovens”
"Participar da Jornada é uma coisa linda e quando se tem consciência disso, você fica animado para participar. Preparem-se para este momento entusiasmante, ponham lá a vossa esperança, porque se cresce muito numa Jornada como esta. Não nos damos conta, mas as coisas ficam dentro de nós, os valores ficam, as relações construídas com os jovens de outros países, os encontros, tudo fica dentro de nós e sobretudo ver a força juvenil, a Igreja tem a força dos jovens."
Por fim, Francisco partilha um "segredo" para se preparar bem para a Jornada Mundial da Juventude: "Olhem para as suas raízes, procurem encontrar os idosos". E exorta aqueles que têm avós a dialogar com eles, perguntar se no seu tempo existia a jornada - mesmo sabendo que não - e pedir conselhos sobre como viver esse evento: "Falem um pouco com seus os avós, porque eles lhes dão sabedoria, mas sigam sempre em frente. Espero vocês em Lisboa. Tchau!"
- Papa Francisco: o diálogo inter-religioso parte da união de valores comuns
Na manhã desta quinta-feira (4), entre a série de audiências no Palácio Apostólico, o Papa Francisco recebeu uma delegação de participantes do VI Colóquio "Comunalidades criativas entre o Cristianismo e o Islamismo" do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso e do Instituto Real de Estudos Inter-Religiosos (Royal Institute for Interfaith Studies) de Amã, na Jordânia.
Em discurso, o Pontífice saudou tanto o príncipe El Hassan bin Talal, também líder da organização, como enviou sua saudação ao Rei da Jordânia, Abdullah II, a quem demonstrou apreço e gratidão pela atenção às comunidades cristãs "não apenas do seu país, mas também às do Oriente Médio, especialmente em tempos marcados por conflitos e violência. Sua Majestade não se cansa de repetir que os cristãos daquelas terras abençoadas são autóctones, ou seja, vivem onde seus ancestrais viveram por muitos séculos", disse o Papa.
Ao se direcionar aos participantes do Colóquio, Francisco disse ser motivo de alegria a sexta edição do evento, o que demonstra "perseverança no caminho do diálogo inter-religioso e intercultural, e também é demonstração de uma amizade fiel que continua apesar das mudanças de pessoas e de responsabilidades", mas sempre "confirmando o sentimento de fraternidade que é a base das relações entre os povos". O Instituto, reconheceu ainda o Papa, procura preservar e valorizar o patrimônio árabe cristão, beneficiando "os cidadãos cristãos de ontem e de hoje, protege e consolida tal patrimônio em todo o Oriente Médio, tão diverso e rico em etnias, religiões, culturas, idiomas e tradições".
"O diálogo que vocês praticam e promovem, para ser frutífero, requer um estilo de sinceridade e respeito mútuo, com consciência seja das convergências seja das divergências. É no primeiro caso que devemos nos concentrar acima de tudo, ou seja, no que nos une, tanto em nível religioso e espiritual quanto em nível ético e moral. Nesse sentido, vocês pretendem enfatizar muitos valores comuns, como a adoração ao Deus único, a oração, o jejum, a peregrinação, a compaixão, o compartilhamento, o cuidado com os desfavorecidos e sofredores: o órfão, a viúva, o doente, o idoso, o imigrante, o refugiado."
No entanto, ponderou o Pontífice, "também seria desejável, sempre que possível, colaborar estreitamente com institutos cristãos que têm o mesmo nobre objetivo". E ao sair do texto escrito e falando espontaneamente, o Papa Francisco finalizou:
“E não quero ir embora sem dizer uma palavra. Encontrei o embaixador e ele me lembrou do que é o drama da Turquia e do norte da Síria. Também os nossos corações estão próximos a tantas pessoas que sofreram com esse terrível terremoto. Vamos rezar por elas e façamos o melhor de nós para ajudá-las. Há muçulmanos, cristãos, nossos irmãos e irmãs.”
Fonte: Vatican News