Cultura

Papa a caminho da Hungria





"Estamos vivendo na Europa a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial", declarou ao Vatican News antes da viagem o secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, ao mesmo tempo em que destacou a "fé viva da Hungria" e que "superada a fase das ameaças do comunismo", os novos desafios para o clero e os jovens são aqueles "aparentemente mais inócuos que o materialismo e o consumismo".

Às 8h21min desta sexta-feira, 28 de abril, o voo A320 da ITA Airways, tendo a bordo o Papa, decolou do areoporto Fiumicino, em Roma com destino a Budapest, onde deverá aterissar por volta das 10 horas após percorrer 990 km em 1h50 de voo. É a segunda viagem internacional de Francisco em 2023, após a visita à República Democrática do Congo e Sudão do Sul. No voo, além do séquito papal, cerca de 75 profissionais da mídia, entre jornalistas, fotógrafos e cameramen de diversos países.

Antes de deixar a Casa Santa Marta às 7h30, Francisco foi saudado por quinze pessoas em situação de rua que vivem nas proximidades da Praça São Pedro, acompanhadas pelo prefeito do Dicastério para a Caridade, cardeal Konrad Krajewski.

"Cristo é nosso futuro" é o lema da 41ª Viagem Apostólica de Francisco. No logotipo desta peregrinação, o elemento central é a Ponte das Correntes em Budapeste, que representa a capital e o país. O Papa esteve poucas horas em Budapeste em 12 de setembro de 2021, antes de seguir para a Eslováquia, quando concluiu o 52° Congresso Eucarístico Internacional. Francisco é o segundo Pontífice a viajar para a Hungria, país também visitado duas vezes por São João Paulo II em 1991 e 1996.

 

“Será também uma viagem ao centro da Europa onde continuam soprando os ventos gelados da guerra enquanto os deslocamentos de tantas pessoas colocam na ordem do dia questões humanitárias urgentes", disse no Regina Coeli do último domingo, dirigindo-se aos fiéis reunidos na Praça São Pedro. E aos "irmãos e irmãs húngaros", falou da  expectativa de sua visita "como peregrino, amigo e irmão de todos" e de "encontrar suas autoridades, os bispos, os sacerdotes, os consagrados, os jovens, os estudantes universitários e os pobres (...). Eu sei que vocês estão preparando a minha visita com muito empenho. Agradeço-lhes de coração por isso. Peço a todos que me acompanhem com a oração, nesta viagem.”

O Pontífice será recebido no aeroporto internacional pelo vice-primeiro-ministro Zsolt Semjen. A cerimônia de boas-vindas terá lugar às 11h00 na praça do Palácio "Sandor", a residência presidencial. Ali Francisco, às 11h30, fará sua visita de cortesia ao presidente da República Katalin Novak, e às 11h55 se reunirá com o primeiro-ministro Viktor Orban.

Às 12h20, no antigo Mosteiro Carmelita, o encontro com o autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, aos quais o Papa fará o primeiro dos seis discursos que pronunciará durante os três dias de visita, todos em italiano. À tarde, por volta das 17h00, na Concatedral de Santo Estêvão, está marcado o encontro com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais.

 

Parolin: Papa na Hungria será peregrino da paz, acolhida e encontro

Os três dias de Francisco em Budapeste não deixarão de destacar seu compromisso com a construção de uma sociedade fraterna, em uma Europa ferida pela guerra e que vive - como reitera o secretário de Estado do Vaticano - "a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial"

Os preparativos finais estão em pleno andamento na Hungria para a visita do Papa, que estará em Budapeste de amanhã, 28 de abril, até o final do mês. Uma viagem apostólica que verá Francisco encontrar os fiéis pela segunda vez na "pérola do Danúbio": em 2021 houve de fato o encontro por ocasião do Congresso Eucarístico Internacional. Ele é o segundo Papa a fazer uma viagem apostólica a essa nação, depois de São João Paulo II em 1991 e 1996. Durante três dias, os eventos se concentrarão na capital. É grande a expectativa de encontrar o Sucessor de Pedro, que virá para confirmar a fé. Há expectativa entre a população pelas palavras do Papa sobre os temas da família e do acolhimento. "Estamos vivendo na Europa a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial", disse o secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, à mídia vaticana, destacando a "fé viva da Hungria" e que "superada a fase das ameaças do comunismo", os novos desafios para o clero e os jovens são aqueles "aparentemente mais inócuos que o materialismo e o consumismo". 

Cardeal Parolin, a 41ª viagem apostólica de Francisco será para a Hungria, um país firmemente enraizado na fé que sofreu com a ditadura comunista. Como surgiu essa viagem?

Eu diria que essa viagem é um pouco como o feliz cumprimento de uma promessa. Como sabemos, o Santo Padre tinha de fato viajado a Budapeste há um ano e meio, em setembro de 2021, para a conclusão do Congresso Eucarístico Internacional e, nesse contexto, além da missa solene, houve uma série de encontros: em nível privado com as autoridades, depois com os bispos e, finalmente, com cristãos de outras denominações e com representantes das comunidades judaicas. Agora, com essa viagem apostólica que está prestes a realizar, o Santo Padre pretende, antes de tudo, dar continuidade e completar sua visita anterior a Budapeste, e por isso a viagem será dedicada, na maior parte do tempo, a encontros com os vários grupos, com os vários componentes do povo húngaro. Estão previstos encontros públicos com as Autoridades, com o Clero, Diáconos, Consagrados, Agentes de Pastoral, com o mundo dos marginalizados - pensamos sobretudo nos numerosos refugiados da vizinha Ucrânia -, com os jovens - estamos quase às vésperas da Jornada Mundial da Juventude, que se realizará desta vez no continente europeu, em agosto, em Lisboa - e depois com o mundo da cultura.

A visita se concentra na capital Budapeste, não haverá outras paradas. Por que essa modalidade foi escolhida?

Foi escolhida, sobretudo, porque permite concentrar o maior número possível de reuniões na capital, evitando deslocamentos e fazendo convergir as várias realidades do país em Budapeste, uma cidade que, a propósito, comemora um aniversário importante este ano, o 150º aniversário de sua fundação.

O Santo Padre estará no coração da Europa ferida pela guerra. A Hungria faz fronteira com a Ucrânia. Qual é o significado da presença do Papa?

Essa visita vem sendo planejada há algum tempo e, portanto, não é motivada principalmente pela situação atual, que é marcada pela guerra na Ucrânia. Mas, como sabemos, essa tragédia que está sendo perpetuada está muito próxima do coração do Papa e tenho certeza de que, nessa visita, nenhuma oportunidade será ignorada para promover a paz. Essa atenção especial do Santo Padre, portanto, também enriquece sua presença na Hungria com esse incentivo para um maior compromisso com a paz.

“Nessa visita, nenhuma oportunidade será ignorada para promover a paz.”

A Hungria está muito empenhada em apoiar a família e o Papa sempre tem os jovens e os avós em seu coração. Esse encontro com o Sucessor de Pedro incentivará a construção de pontes entre gerações e nações?

Certamente também terá esse resultado. Lembremos que o Papa decidiu há dois anos, em 2021, estabelecer o Dia Mundial dos Avós e Idosos, que cai todos os anos no quarto domingo de julho, e este ano será em 23 de julho. E esse tema no contexto da Hungria é ainda mais atual se considerarmos que a Senhora Presidente - que também ocupou o cargo de Ministra da Família de 2020 a 2021 - presta muita atenção à família; também pudemos ver isso quando ela visitou o Santo Padre aqui e a encontramos na Secretaria de Estado. Atenção ao menor, mas também ao mais importante bloco de construção de qualquer sociedade. Parece-me que uma convivência harmoniosa entre os membros de uma família gera efeitos positivos, digamos que tem um efeito dominó no círculo mais amplo de famílias e assim por diante. Portanto, a partir da família, também é possível tentar construir sociedades mais pacíficas. Portanto, esperamos que, com base nessa ponte familiar intergeracional, uma ponte de paz também possa ser construída entre as nações. 

O país está no centro dos fluxos migratórios da rota dos Bálcãs e daqueles que fogem da guerra entre Moscou e Kiev. Na Igreja de Santa Isabel da Hungria, haverá um encontro com os pobres e refugiados, como o senhor também mencionou anteriormente. A visita do papa incentivará ainda mais o reconhecimento e a ajuda aos necessitados?

Estamos vivenciando na Europa a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial: mais de 8 milhões de refugiados ucranianos entraram na União Europeia. E a Hungria, nessa situação, comprometeu-se a manter suas fronteiras abertas para as pessoas que fugiam da guerra na Ucrânia, e mais de 4 milhões de pessoas passaram pela Hungria, seja diretamente da Ucrânia ou da Romênia. E, apesar de restarem apenas alguns deles - os números indicam cerca de 35.000 -, a Igreja Católica local, por meio da Caritas em particular, mas também com a ajuda do governo, tem feito o possível para acolher e cuidar desses refugiados enquanto eles continuam sua jornada para outros países europeus. E parte desse trabalho também tem sido evitar que mulheres e crianças, em particular, sejam vítimas do tráfico humano. Ao mesmo tempo, porém, a Igreja continua preocupada com a situação da migração irregular ao longo da rota dos Bálcãs e com a situação difícil que muitos enfrentam, por exemplo, ao longo da fronteira entre a Hungria e a Sérvia. Embora muitos dos que estão na fronteira não sejam refugiados, a maioria precisa de proteção e todos devem ser tratados com o respeito que merecem como pessoas humanas. Mas também ressaltamos, e é correto fazê-lo, que esse é um problema que não diz respeito apenas à Hungria, mas a todos os países da região, especialmente aqueles ao longo da fronteira com a União Europeia, que estão lutando para lidar com os crescentes fluxos de migração mista de países em conflito e pobreza extrema. Nesse sentido, toda a Europa deve encontrar uma maneira de assumir a responsabilidade por aqueles que buscam uma vida melhor dentro de suas fronteiras. E isso, é claro, inclui trabalhar para ajudar os migrantes a permanecerem em seus países de origem, em paz e segurança, para que não sejam forçados a fugir ou buscar paz, segurança e trabalho decente no exterior.

Há uma grande expectativa no país: a Igreja e o governo estão trabalhando juntos para dar a todos a oportunidade de participar do encontro com o Papa. Por exemplo, o transporte para os locais da visita será gratuito. Então o país inteiro tem uma fé viva?

Uma fé viva e admirável a do povo húngaro, especialmente ligada a muitos santos que são venerados no país, desde São Martinho, Santo Estêvão, até Santa Isabel. Mas também é uma fé que tem sido exemplarmente testemunhada por figuras recentes: pense nos vários mártires e confessores da fé ligados ao período de perseguição ateísta - como não lembrar aqui a figura emblemática do Venerável Cardeal József Mindszenty! Uma fé, portanto, forjada pelo sofrimento e praticada durante anos por uma Igreja oculta que, como uma semente, brotou e floresceu após anos de repressão. A Hungria é um país com uma fé viva; nas circunstâncias atuais, que mudaram, ela precisa, digamos, manter essa fé viva, tendo em mente que vivemos em um contexto diferente daquele do passado, em um contexto que - como o Papa nos lembrou repetidamente - não é apenas um momento de mudança, mas uma mudança de época. Assim, há novos desafios a serem enfrentados que dizem respeito ao clero, que dizem respeito aos jovens: são os desafios de uma fé que, tendo superado a fase das ameaças do comunismo, agora está enfrentando outros desafios, por exemplo, aqueles que são apenas aparentemente mais inócuos do que o materialismo e o consumismo.

“Uma fé viva e admirável a do povo húngaro, especialmente ligada a muitos santos que são venerados no país, desde São Martinho, Santo Estêvão, até Santa Isabel.”

Eminência, o que o senhor espera dessa viagem?

Que o Papa cumpra os objetivos que se propôs ao ir à Hungria e ao concluir sua visita anterior, sempre com o aspecto do pastor universal que confirma seus irmãos na fé, onde confirmar na fé significa também consolar, encorajar, relançar a beleza do anúncio de Jesus. É o próprio lema da visita que nos leva a isso: "Cristo é o nosso futuro"; olha para a esperança em nome do Evangelho e tem a ver precisamente com a intenção prioritária do Pontificado do Papa Francisco, como ele a expressou na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, a promoção da atividade missionária, de uma Igreja que vai ao mundo para testemunhar a beleza do Evangelho de Jesus. E a visita também será uma oportunidade de abraçar um povo particularmente querido pelo Papa desde a época das freiras húngaras que ele conheceu na Argentina. E, finalmente, cito algumas de suas palavras, as que ele disse no domingo após o Regina caeli: "Será também uma viagem ao centro da Europa, onde continuam a soprar ventos gelados de guerra, enquanto os movimentos de tantas pessoas colocam na agenda questões humanitárias urgentes".

Fonte: Vatican News