Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: Corações ardentes, pés a caminho (Lc 24,32-33)





Reflexão para o 3º domingo de Páscoa| 23 de Abril 2023 – Ano “A” 

No Terceiro Domingo de Páscoa, deste ano, a Liturgia da Palavra nos propõe a página bem conhecida do Evangelho de Lucas que nos apresenta o episódio dos discípulos de Emaús. Aproveito dessa oportunidade para refletirmos um pouco sobre o 3º Ano Nacional Vocacional, que iniciamos no Domingo de Cristo Rei em novembro do ano passado e que concluiremos na mesma festividade em 2023. O “lema” do Ano Vocacional: “Corações ardentes, pés a caminho” faz referência aos discípulos de Emaús. Eles, lemos no evangelho, estavam desanimados e, por isso, queriam deixar para trás Jerusalém e virar, por assim dizer, uma página decepcionante e dolorosa de suas vidas. No caminho, porém, encontram um peregrino misterioso que lhes pergunta sobre qual assunto eles estavam conversando.

Iniciam, assim, um diálogo tão interessante que, no final, eles mesmos afirmaram que lhes “ardia o coração”, quando aquele estranho companheiro de caminhada lhes “abria” as Escrituras. Além das palavras iluminadoras e reconfortadoras, aquele peregrino lhes oferece algo mais. Ao anoitecer, aceita o convite para ficar com eles mais um pouco e, no gesto de repartir o pão, o reconhecem como o próprio Jesus vivo e ressuscitado. Ele “desaparece”, mas as suas palavras e o seu gesto foram mais do que suficientes para que os dois mudassem os seus planos. Imediatamente, regressaram a Jerusalém e lá encontraram os Onze reunidos com os demais. Todos juntos, confirmaram a própria fé na ressurreição do Senhor Jesus. Até aqui, o evangelho; uma página sempre surpreendente e cheia de mensagens para nós.

Para entender a escolha da referência aos discípulos de Emaús, neste Ano Vocacional, basta lembrar o tema proposto: Vocação: Graça e Missão. Falar em “vocação” significa acreditar que a existência de cada um de nós não pode ser uma mera coincidência  da “loteria genética” da espécie humana. Essa, no fundo, é a primeira pergunta que toda pessoa que pensa um pouco se faz: por que eu sou eu e agora estou aqui? Todas as vocações começam com o chamado à vida, mas logo desembocam na busca do próprio lugar neste mundo e na motivação do lugar procurado. Devemos ser agradecidos se no tempo da juventude podemos tomar com esperança e entusiasmo as grandes decisões da nossa vida: o trabalho, a família ou outros caminhos entre os muitos que se abrem à nossa frente. Muitas opções são nossas, mas muitas dependem das circunstâncias e das pessoas que encontramos, ou seja, são-nos oferecidas e, somente depois percebemos como e quando isso aconteceu. Cada um também sabe, em sua consciência, quanto a fé no Senhor e o pertencer, ou não, a uma comunidade cristã possa ter influenciado as suas escolhas.

“Vocação”, portanto, é “Graça” quando nos faz sentir felizes por estarmos no lugar onde estamos, fazendo o que podemos e sabemos fazer. Mas “Vocação” é também “Missão”, porque compreendemos que Alguém – e não simplesmente o acaso – colocou-nos naquela situação para colaborar e contribuir com algo muito maior do que nós. Podemos chamar isso de “vocação” a colaborar na construção do Reino de Deus? Esta é a primeira “Vocação” de todo cristão consciente do seu chamado. Desde o início, Jesus chamou colaboradores para segui-lo. Os acompanhou com paciência e carinho e os enviou para que fossem “à sua frente”. “E dizia-lhes: A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita”(Lc 10,2). Por que devemos rezar pelas “vocações”? Não é ele o “Senhor da colheita”? Não sabe de quantos operários precisa? Sem dúvida alguma, é sempre ele que chama. Mas a nossa oração abre os nossos ouvidos ao seu chamado, abre os nossos olhos para ver as necessidades dos irmãos, da comunidade, da Igreja, do país, da paz mundial; faz abrasar o nosso coração na alegria da resposta comprometida e generosa. Rezamos pelas vocações porque desejamos, ardentemente, que o Senhor não deixe faltar trabalhadores e trabalhadoras na sua vinha, que é a Igreja toda e a nossa Diocese de maneira especial. Porque temos tão poucos padres daqui? Será que rezamos mesmo com fé e esperança?

Por Dom Pedro José Conti

 

Fonte: Diocese de Macapá