Cultura

Papa Francisco: a água não pode ser objeto de desperdício ou abuso





No Dia Mundial da Água o apelo do Papa Francisco: “a água não pode ser objeto de desperdício ou abuso ou motivo de guerra, mas deve ser preservada para nosso benefício e para as gerações futuras”.

A água é um recurso natural vital para o ser humano, mas tem se tornado cada vez mais escassa em diversos países do mundo. Em alguns deles, particularmente os mais pobres, ela vem sendo utilizada como arma de guerra, e os ataques a instalações de abastecimento de água se multiplicam como tática para desalojar as comunidades. Vale ainda ressaltar que já estão na casa dos milhões o número de crianças que acabam sofrendo mais com as doenças por falta de saneamento básico, entre outros efeitos negativos desta escassez. 

 

Um apelo universal

O Pontífice ainda relembrou nesta quarta-feira, as palavras de São Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é muito útil e humilde, preciosa e casta”. Comentando que nesta oração “sentimos a beleza da criação e a consciência dos desafios que implicam o seu cuidado”.

A Conferência de Nova Yorque

Ao final, recordou a segunda conferência sobre a água da organização das Nações Unidas que está sendo realizada nestes dias em Nova York:
"Rezo pelo sucesso dos trabalhos e espero que este importante evento acelere as iniciativas em favor daqueles que sofrem com a escassez de água, deste bem primário. A água não pode ser objeto de desperdício ou abuso ou motivo de guerra, mas deve ser preservada para nosso benefício e para as gerações futuras”.

 

- Papa: a Igreja vira peça de museu se não evangelizar a si mesma

Você acredita verdadeiramente naquilo que anuncia? Vive aquilo em que acredita? Prega verdadeiramente aquilo que vive? Estas são três perguntas, feitas por São Paulo VI, que o Papa repropôs aos fiéis ao dar prosseguimento ao ciclo de catequeses sobre a evangelização.

Uma obra-prima, a “magna carta” da evangelização no mundo contemporâneo: assim o Papa definiu a a Exortação apostólica Evangelii nuntiandi, de São Paulo VI, tema de sua catequese na Audiência Geral deste 22 de março.

Na Praça São Pedro, diante de milhares de fiéis, Francisco deu continuidade ao ciclo sobre o zelo apostólico, recordando que evangelizar não é uma mera transmissão doutrinal ou moral, mas o testemunho de um encontro pessoal com Jesus Cristo.

"Não se pode evangelizar sem testemunho", recordou o Pontífice. A coerência é fundamental. A credibilidade não vem ao se proclamar uma doutrina ou uma ideologia.

“Uma pessoa é crível se há harmonia entre aquilo que crê e aquilo que vive: como crer e como viver. Muitos cristãos só dizem crer, mas vivem de outra coisa, como se não fossem. E isto é hipocrisia. O contrário do testemunho é a hipocrisia.”

O Papa então repropôs três perguntas contidas no documento de Paulo VI: você acredita verdadeiramente naquilo que anuncia? Vive aquilo em que acredita? Prega verdadeiramente aquilo que vive?

Para o Papa, não podemos contentar-nos com respostas fáceis, predefinidas. Somos chamados a aceitar até o risco desestabilizador da busca, confiando plenamente na ação do Espírito Santo que age em cada um de nós.

Uma peça de museu

A evangelização, prosseguiu, pressupõe um caminho de santidade. Aliás, a santidade é fulcral: sem a santidade, a evangelização corre o risco de ser vã e infecunda. "Palavras, palavras, palavras", acrescentou o Francisco. 

Da santidade, nasce o zelo pela evangelização, que, por sua vez, faz crescer cada um dos fiéis em santidade na medida em que, antes de levar o Evangelho aos outros, ele próprio se reconhece como seu destinatário. 

Em outras palavras, devemos estar conscientes de que os destinatários da evangelização não são somente os outros, aqueles que professam outras crenças ou que não as professam, mas também nós mesmos, Povo de Deus.

“E devemos nos converter todos os dias, acolher a Palavra de Deus e mudar de vida: todos os dias. E assim se faz a evangelização do coração. (...) Para dar este testemunho, também a Igreja enquanto tal deve começar com a evangelização de si mesma. Se a Igreja não evangeliza a si mesma permanece uma peça de museu.”

Sem o Espírito Santo, a Igreja faz só propaganda

Uma Igreja que se evangeliza para evangelizar é uma Igreja que, guiada pelo Espírito Santo, é chamada a percorrer um caminho exigente, de contínua conversão e renovação. Isto implica também a capacidade de mudar os modos de compreender e viver a sua presença evangelizadora na história, evitando refugiar-se nos âmbitos protegidos da lógica do “sempre se fez assim”, uma mentalidade que o Papa definiu como "refúgios que adoecem a Igreja". "A Igreja deve ir adiante, deve crescer continuamente, assim permanecerá jovem."

Francisco então concluiu:

"A Igreja deve ser uma Igreja que dialoga com o mundo contemporâneo, que encontra todos os dias o Senhor e dialoga com o Senhor, e deixa entrar o Espírito Santo que é o protagonista da evangelização. Sem o Espírito Santo, nós podemos somente fazer propaganda da Igreja, não evangelizar. É o Espírito em nós que nos impulsiona para a evangelização e esta é a verdadeira liberdade dos filhos de Deus."


Bianca Fraccalvieri 

 

Papa: há um ano da consagração da Rússia e Ucrânia a Maria, confiar a paz a Ela

Francisco, no final da Audiência Geral desta quarta (22), recordou o Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria celebrado em 25 de março de 2022: "Ela é mãe e que possa nos guardar na unidade da paz". O convite aos fiéis e comunidades de oração a renovar esse ato solene todos os anos, no mesmo dia, e a não esquecer "a atormentada Ucrânia que tanto sofre".

O pensamento remonta a 25 de março de um ano atrás quando, sentado diante de uma estátua da Virgem Maria, sozinho mas em união com milhares de fiéis na Basílica e na Praça de São Pedro e em comunhão com as paróquias do mundo todo, o Papa consagrava a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, suplicando a Nossa Senhora que extinguisse o ódio e apaziguasse toda vingança.

Francisco, no final da Audiência Geral desta quarta-feira (22), lembrou daquele intenso momento de oração, que aconteceu no contexto da iniciativa "24 Horas para o Senhor". O Pontífice pediu que esse ato pudesse prosseguir todos os anos, na mesma data, sem perder a esperança de que, mesmo com a escalada do conflito, o desejo de paz possa ser realizado:

"No sábado será celebrada a Solenidade da Anunciação do Senhor e o nosso pensamento remonta a 25 de março do ano passado quando, em união com todos os bispos do mundo, a Igreja e a humanidade foram consagradas, especialmente a Rússia e a Ucrânia, ao Imaculado Coração de Maria", disse o Pontífice.

“Não nos cansemos de confiar a causa da paz à Rainha da Paz.”

O Papa se dirigiu depois a "cada crente e comunidade, especialmente aos grupos de oração", pedindo para que "renovassem a cada 25 de março o Ato de Consagração a Nossa Senhora, para que ela, que é Mãe, possa nos guardar na unidade e na paz. E não esqueçamos, nestes dias, a atormentada Ucrânia que tanto sofre".

A recordação no Angelus

Já no Angelus de 12 de março, Francisco, ao relançar a iniciativa "24 Horas para o Senhor", também recordou o solene ato de consagração para pedir "o dom da paz":

"Que a nossa confiança não falhe, que a esperança não vacile! O Senhor ouve sempre as súplicas que o seu povo lhe dirige por da intercessão da Virgem Mãe. Permaneçamos unidos na fé e na solidariedade com os nossos irmãos que sofrem por causa da guerra; sobretudo, não nos esqueçamos do martirizado povo ucraniano!"

Salvatore Cernuzio 

 

 

- Observatório Vaticano, em busca de novos mundos com o telescópio vaticano

"Auguste Comte, o fundador do positivismo francês, uma vez escreveu que nunca saberíamos de que são feitas as estrelas. Mal sabia ele que a luz das estrelas trazia consigo as ‘impressões digitais’ que poderiam nos dizer muito sobre as estrelas. A criação parece ter sido feita para nos permitir compreendê-la, um paralelo ao que a revelação bíblica nos diz sobre como Deus quer ser conhecido", afirma padre Gabor, jesuíta, um dos astrônomos do Observatório Vaticano

Astrônomos do Instituto Leibniz de Astrofísica de Potsdam (AIP) e do Observatório Vaticano (SP) colaboraram para realizar uma investigação espectroscópica sobre mais de mil estrelas brilhantes suspeitas de abrigar exoplanetas próprios. A "equipe" - composta pelos astrônomos do SP padre Paul Gabor, S.J., padre David Brown, S.J., e padre Chris Corbally, S.J., e pelo engenheiro do SP Michael Franz - apresenta agora os valores precisos de 54 parâmetros espectroscópicos para cada estrela no primeiro de uma série de artigos da revista Astronomia & Astrofísica e torna todos os dados públicos para a comunidade científica. Este número sem precedentes de parâmetros será essencial para interpretar a luz estelar e encontrar conexões entre as propriedades das estrelas e seus possíveis planetas, explica uma declaração do Observatório Vaticano.

Luz

As estrelas contam histórias sobre si mesmas e, às vezes, sobre seus planetas ainda não descobertos. Sua linguagem é a luz. A luz estelar revela muitas propriedades físicas de uma estrela, tais como temperatura, pressão, movimento, composição química e muito mais. Os pesquisadores analisam a luz usando um método chamado espectroscopia de absorção quantitativa. Para isso, os telescópios capturam a luz estelar e os espectrógrafos a decompõem por comprimento de onda em um espectro semelhante ao arco-íris, que representa a impressão digital da luz da estrela. Quando os astrônomos conhecem estes parâmetros com precisão, podem usá-los para testar seus modelos teóricos de estrelas. Muitas vezes acontece que os modelos têm lacunas ou que as observações de espectros estelares ainda são muito imprecisas. Mas às vezes isso revela que uma estrela tem uma história surpreendente para os astrônomos. Foi isso que levou a "equipe" a conduzir uma investigação ultra-precisa de possíveis estrelas que hospedam planetas.

Investigações

"Uma vez que as estrelas e seus planetas se formam juntos, foi levantada a questão se a existência de certos elementos químicos em uma atmosfera estelar, ou suas proporções isotópicas ou de abundância, são indicativos de um sistema planetário", explica o Professor Klaus G. Strassmeier, autor principal, diretor do AIP e pesquisador principal da investigação. Os astrônomos têm especulado que a quantidade de diferentes elementos químicos dentro de uma estrela pode indicar a presença de planetas terrestres (mundos rochosos como a Terra ou Marte), pode sugerir a idade de tais planetas e pode até fornecer pistas sobre se a estrela "comeu" alguns de seus planetas. Isto precisa ser investigado mais profundamente, e os dados agora publicados formam a base para isto.

Dos mais de 5 mil exoplanetas confirmados (planetas que orbitam estrelas diferentes do Sol), 75% foram descobertos do espaço através da observação da luz das estrelas que são diminuídas à medida que os planetas passam diante delas. A missão do satélite Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS) da NASA descobriu os exoplanetas exatamente desta forma. Ele detectou mais exoplanetas observando as partes do céu mais distantes do eclíptico (o plano no qual a Terra orbita em torno do Sol), chamado de pólos eclípticos. Os observadores no hemisfério norte são capazes de observar o pólo norte do eclíptico e esta busca por potenciais estrelas que hospedam planetas dentro desta região é chamada de busca do Pólo Eclíptico Norte do Vaticano-Potsdam (VNEP).

A investigação concentrou-se no campo de observação mais rico do TESS, uma área do céu cerca de 4 mil vezes maior do que a lua cheia. Foram analisadas todas as aproximadamente 1.100 estrelas que potencialmente hospedam um planeta neste campo. Foram necessárias até 1,5 horas de telescópio para capturar luz suficiente para obter um único espectro de alta qualidade. Com várias observações para cada estrela, levou cinco anos para completar a pesquisa. A investigação utilizou telescópios em dois locais: no Arizona, o "Alice P. Lennon" do SP e a instalação astrofísica "Thomas. J. Bannan" (Telescópio de Tecnologia Avançada do Vaticano ou VATT) forneceram luz para o Instrumento Polarimétrico e Espectroscópico "Potsdam Echelle (PEPSI) do AIP. Estes instrumentos geraram os espectros das menores estrelas com precisão sem precedentes.

"Compreender" a criação

 

Em Tenerife, o Observatório STELLA do AIP (Atividade StellTELLar) usou o espectrógrafo Echelle STELLA para capturar a luz de estrelas gigantes com uma precisão menor, mas ainda alta. Martina Baratella, uma das pesquisadoras pós-doutoradas do AIP envolvidas na investigação, comenta: "Os espectros revelaram elementos que estão entre os mais difíceis de serem observados". Razões de abundância como carbono/ferro ou magnésio/oxigênio sugerem a existência e a idade de planetas rochosos desconhecidos de outra forma. O Prof. Strassmeier acrescenta: "Embora demore algum tempo para analisar completamente os dados da pesquisa, esperamos anunciar novas descobertas em breve". Padre Gabor observa: "Auguste Comte, o fundador do positivismo francês, uma vez escreveu que nunca saberíamos de que são feitas as estrelas. Mal sabia ele que a luz das estrelas trazia consigo as ‘impressões digitais’ que poderiam nos dizer muito sobre as estrelas. A criação parece ter sido feita para nos permitir compreendê-la, um paralelo ao que a revelação bíblica nos diz sobre como Deus quer ser conhecido".

As principais áreas de pesquisa do AIP são os campos magnéticos cósmicos e a astrofísica extragaláctica. Uma parte considerável dos esforços do instituto é dedicada ao desenvolvimento de tecnologias de pesquisa nos campos da espectroscopia, telescópios robóticos e 'e-science'. O AIP é o sucessor do Observatório de Berlim, fundado em 1700, e do Observatório Astrofísico de Potsdam, fundado em 1874. Este último foi o primeiro observatório no mundo a enfatizar explicitamente a área de pesquisa da astrofísica.

Fonte: Vatican News