Em seu discurso, o Papa disse que este encontro lhe dá a oportunidade de incentivar o caminho de formação sócio-política, que dá continuação ao "Projeto Policoro" da Igreja italiana. Aqui, aproveitou para ressaltar: “A exigência deste caminho veio de baixo, do seu desejo de se formar para o serviço à sociedade e à política, como também, por sua vez, poder colaborar para a formação de outros jovens”.
A seguir, o Santo Padre recordou o tema que os jovens escolheram, este ano, para seu encontro: a paz. Trata-se – disse - de um tema que não pode faltar na formação sócio-política e, infelizmente, também se torna urgente na conjuntura atual. E acrescentou:
“A guerra, caríssimos, é resultado da falência da política. Ela se alimenta com o veneno que considera o outro como inimigo. A guerra nos faz tocar com a mão a absurdidade da corrida aos armamentos e seu uso para resolver os conflitos. Por isso, é preciso de uma ‘política melhor’, que pressupõe, precisamente, o que vocês estão fazendo, ou seja, se educar à paz. Esta é uma responsabilidade de todos”.
A este respeito, Francisco frisou que “a política não goza de boa fama, principalmente entre os jovens. E elencou algumas de suas muitas causas: corrupção, ineficiência, distância na vida das pessoas”.
Eis porque, - afirmou - é preciso ainda mais de uma boa política, que depende das pessoas, como nas administrações locais: uma coisa é ter um prefeito ou vereador disponível e a outra é ser inacessíveis; uma coisa é a política, que vê a realidade e dá atenção aos pobres e a outra é a que se tranca em suas sedes.
A propósito Francisco citou o episódio bíblico do rei Acab e a vinha de Nabot, comentado por Santo Ambrósio, que pode ser útil para a formação dos jovens do “Projeto Policoro”: “A política, que exerce o poder para dominar e não para servir, não é capaz de cuidar dos pobres, pelo contrário, os pisoteia, tira proveito da terra e enfrenta os conflitos com a guerra”.
Mas, o Papa citou ainda outro exemplo bíblico, esta vez positivo, que se refere à figura de José, filho de Jacó que, como se sabe, foi vendido como escravo por seus irmãos invejosos e levado para o Egito. Ali, ao ser libertado, passa a servir o Faraó, como uma espécie de vice-rei. José não age como mestre, mas como pai: cuida do país, sobretudo, nos momentos de maior carestia. Diante da fome do povo, pensou ao bem comum, tanto que o Faraó disse: "Façam tudo o que José lhes disser", a mesma frase que Maria disse aos servos nas Bodas de Caná referindo-se a Jesus. Enfim, José, que passou por injustiças, buscou apenas os interesses do povo, foi um pacificador e renovou a sociedade.
Estes dois exemplos bíblicos, um negativo e outro positivo, disse o Papa aos presentes, nos levam a entender qual espiritualidade que pode alimentar a política: a ternura e a fecundidade.
"A ternura é o amor que se torna concreto, como fizeram tantos homens e mulheres corajosos. A fecundidade é composta de partilha, visão profética, diálogo, confiança, compreensão, escuta, tempo e respostas concretas. Significa encarar o futuro e investir nas gerações futuras".
O Santo Padre concluiu seu discurso aos jovens do “Projeto Policoro” da Igreja italiana, levantando questões, que todo bom político deve se fazer, sobre seu trabalho, o trato com as pessoas, e a paz social semeada. A preocupação do político não deve ser o pacto eleitoral ou seu sucesso pessoal, mas envolver as pessoas, levando-as a participar da comunidade. Por isso, Francisco disse: “A participação é o bálsamo para as feridas da democracia”.
- Os Papas e a Quaresma: o valor da esmola, um gesto de amor gratuito
Os elementos do caminho espiritual durante a Quaresma são a oração, o jejum e a esmola. O termo "esmola", em particular, vem do grego e significa "misericórdia". E indica gratuidade. Na esmola, como o Papa Francisco assinalou durante a Santa Missa de 5 de março de 2014, "você dá a alguém de quem você não espera receber algo em troca". "A esmola nos ajuda a viver a gratuidade do dom, que é a liberdade da obsessão da posse, do medo de perder o que se tem, da tristeza daqueles que não querem compartilhar seu bem-estar com os outros".
Uma característica típica da esmola cristã é que ela deve ser escondida. O Papa Francisco nos lembrou disso durante a Audiência Jubilar de 9 de abril de 2016: Jesus "nos pede para não dar esmola a fim de sermos louvados e admirados pelos homens por nossa generosidade: assegure-se de que sua mão direita não saiba o que sua mão esquerda está fazendo (cf. Mt 6,3)". "Não é a aparência que conta, mas a capacidade de parar e olhar a pessoa pedindo ajuda no rosto". Não devemos, portanto, identificar a esmola com a simples moeda oferecida com pressa, sem olhar para a pessoa e sem parar para falar e entender o que ela realmente precisa". A esmola é "um gesto de amor que se faz àqueles que encontramos".
A esmola, sublinha o Papa Bento XVI em sua mensagem para a Quaresma de 2008, "representa uma forma concreta de ajudar os necessitados e, ao mesmo tempo, um exercício ascético para libertar-se do apego aos bens terrenos". Quão forte é a sugestão de riquezas materiais e quão clara deve ser nossa decisão de não as idolatrar, Jesus afirma de forma peremptória: Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Lc 16,13). "A esmola", continua a mensagem, "nos ajuda a superar esta tentação constante, educando-nos a satisfazer as necessidades do próximo e a compartilhar com os outros tudo o que possuímos através da bondade divina". Este é o propósito das coletas especiais em favor dos pobres, que são promovidas em muitas partes do mundo durante a Quaresma".
"Cristo - e, depois dele, a Igreja - também nos propõe, no tempo da Quaresma, os meios que servem a esta conversão. Trata-se antes de tudo da oração; depois a esmola e o jejum". O Papa João Paulo II recorda isto em sua mensagem para a Quaresma de 1979. "A esmola e o jejum como meios de conversão e de penitência cristã estão intimamente ligados". Jejum significa domínio sobre si mesmo; significa ser exigente de si mesmo, estar pronto para renunciar às coisas - e não apenas à comida - mas também aos prazeres e aos vários prazeres. E esmola - em seu sentido mais amplo e essencial - significa disponibilidade para compartilhar alegrias e tristezas com os outros, para dar ao próximo, aos necessitados em particular; para compartilhar não somente bens materiais, mas também os dons do espírito".
O Papa Paulo VI na quarta-feira de Cinzas, 8 de fevereiro de 1967, lembra como é difícil, na caridade material, "privar-se de algo querido, útil, talvez necessário: dar esmolas que realmente tenham um impacto em nossas economias, em nossas peculiaridades". Dá-se de boa vontade o supérfluo, aquilo que não custa nada". "A verdadeira caridade, por outro lado, se propõe a dar uma parte do que custa, do que nos parece indispensável. Eis a sábia regra que pode abrir horizontes inexplorados".
- No confessionário com o Papa: "de joelhos diante dele com nossas fragilidades"
A cura e uma maior consciência do sacramento da reconciliação. É o que expressam alguns fiéis que o pároco de Santa Maria delle Grazie al Trionfale escolheu para as confissões com o Papa Francisco que foram realizadas na paróquia romana na tarde desta sexta-feira, como parte da décima edição das "24 horas para o Senhor", a iniciativa quaresmal que prevê a abertura de igrejas por um dia inteiro para que os fiéis e peregrinos possam experimentar um momento de adoração com a possibilidade de se confessarem.
"É um grande presente que o pároco tenha me escolhido", diz uma jovem mãe, entre as cinco pessoas que se confessaram com o Papa. No ano passado, nasceu Pietro, uma criança 'especial', diz ela. Ele tem a síndrome de Down, "um dom de graça para nossa família". Uma maternidade que "certamente entregarei ao Papa", acrescenta. "Quando ouvimos a notícia, vacilamos um pouco, meu marido e eu". Mas depois pensamos que, como ambos éramos crentes, se nos foi dado este presente é porque também temos as ferramentas para poder criá-lo bem", enfatiza. Ela também explica que existem famílias que apoiam estes pais e que, também graças à ajuda deles, eles estão vivendo bem esta aventura. "A viagem de fé ajudou muito, uma vez ouvido o batimento do coração do bebê não teríamos feito escolhas diferentes daquela que fizemos". A jovem mãe também sente que representa toda a sua comunidade que o Papa está visitando.
Certamente é uma ocasião extraordinária, mas "é também uma experiência que deve ser vivida em normalidade": assim diz um jovem da paróquia romana, que também se preparou para viver o rito penitencial com o Papa. "É verdade que é o Papa que confessa, mas também é verdade que o Papa é um sacerdote, e é Jesus que perdoa naquele momento". O que torna única a preparação desta confissão", observa ele, "é poder entregar o coração e a fragilidade nas mãos do Sucessor de Pedro". E ele também quer dizer que este tempo tem a peculiaridade de fazer "redescobrir o valor de voltar à Igreja".
O jovem obviamente dedicou um tempo específico ao exame de consciência, preparando-se "com mais cuidado e consciência, porque geralmente vivemos com uma certa pressa". Ele se debruçou sobre um aspecto geralmente compartilhado: "a confissão é um assunto delicado porque o confessionário é um pouco assustador", admitiu o jovem, "a confissão é experimentada com um certo peso". Mas o Papa pede aos padres que sejam misericordiosos. Afinal de contas, Jesus fez isto". Ele acrescenta: "Perdoar-se a si mesmo é ainda mais difícil. É algo a ser aprendido". Sua esperança é que no futuro possam ser vistos os frutos desta experiência, "além do que deve permanecer em segredo". E ao lembrar como a constância da presença da Igreja e a gratuidade marcaram sua vida, ele se preparou para experimentar o encontro com o Papa como um encontro de plena confiança com seu bispo, o bispo de Roma.
Fonte: Vatican News