Cultura

Papa: não calar diante do flagelo das mulheres vítimas de abuso e violência





Dar voz às mulheres, vítimas de abuso e violência. Ao encontrar no Vaticano os participantes no encontro promovido pela "Aliança Estratégica de Universidades Católicas de Investigação (SACRU)" e pela Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, o Papa faz este apelo e condena a discriminação, reiterando a necessidade de uma maior inclusão.

A diversidade nunca deve levar à desigualdade, mas sim à uma agradecida e recíproca acolhida. Mais uma vez, Francisco enfatiza a necessidade de maior inclusão e condena com veemência a violência e os abusos aos quais ainda hoje as mulheres são submetidas com muita frequência.

Fazer-se voz das mulheres vítimas de abuso

A ocasião é oferecida pela apresentação do livro “Maior liderança feminina por um mundo melhor. O cuidar como motor da nossa casa comum” por cerca de 90 membros da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice e da rede entre universidades católicas SACRU, recebidos na Sala Clementina na manhã deste sábado, 11.

“Cada pessoa deve ser respeitada na sua dignidade e em seus direitos fundamentais” reiterou o Papa, ao pensar na tragédia da violência contra as mulheres:

Não podemos calar diante deste flagelo do nosso tempo. Não deixemos sem voz as mulheres vítimas de abuso, exploração, marginalização e pressões indevidas! Sejamos voz de sua dor e denunciemos com veemência as injustiças a que são submetidas, muitas vezes em contextos que as privam de qualquer possibilidade de defesa e redenção.

Inclusão, um princípio sagrado 

Um claro "não" do Bispo de Roma a qualquer forma de discriminação contra as mulheres, assim como outras categorias frágeis da sociedade: a diversidade não pode levar à desigualdade, mas a uma grata e recíproca acolhida. Disto o apelo a “caminhar juntos”, integrando todos, “especialmente os mais frágeis a nível econômico, cultural, racial, religioso e de gênero”:

Ninguém deve ser excluído: este é um princípio sagrado. De fato, o projeto de Deus Criador é um projeto “essencialmente inclusivo”, que coloca precisamente no centro “os habitantes das periferias existenciais”; é um projeto que, como faz uma mãe, olha para seus filhos como aos diferentes dedos de uma mesma mão.

Mulheres e o bem comum

Neste sentido, segundo o Pontífice, a contribuição feminina para o bem comum é insubstituível e inegável: assim o demonstram as mulheres da Sagrada Escritura, determinantes em momentos decisivos da história da salvação; ou mesmo na história da Igreja figuras como Catarina de Sena, Josefina Bakhita, Edith Stein, Teresa de Calcutá “impressionam pela determinação, coragem, fidelidade, capacidade de sofrer e transmitir alegria, honestidade, tenaz humildade:

Nossa história está literalmente constelada de mulheres assim, quer daquelas famosas como das desconhecidas – mas não para Deus! – que levam adiante o caminho das famílias, das sociedades e da Igreja. Constatamos isso também aqui, no Vaticano, onde já são muitas as mulheres que "trabalham muito", mesmo em cargos de grande responsabilidade.

Mente, coração e mãos, uma síntese no feminino

Da mesma forma, em um momento de profunda transformação, diante de mudanças epocais como a do progressivo e rápido desenvolvimento da inteligência artificial, as mulheres - segundo o Papa - podem ajudar a humanidade a não decair e elas têm muito a dizer por meio de sua capacidade de síntese das três linguagens: mente, coração e mãos:

É uma síntese própria somente do ser humano e que a mulher encarna de forma maravilhosa, como nenhuma máquina poderia realizar, porque não sente bater dentro de si o coração de um filho que traz no ventre, não desanda, cansada e feliz, ao lado da cama dos filhos, não chora de dor e alegria participando das dores e alegrias das pessoas que ama.

Francisco agradece aos participantes da audiência e elogia o livro que lhe foi apresentado, "resultado de uma notável variedade de contribuições" e da "colaboração, até então inédita, entre Universidades espalhadas pelo mundo e uma Fundação vaticana inteiramente leiga: "uma nova modalidade - aponta – em que a riqueza dos conteúdos advém do contributo de experiências, competências e modos de sentir complementares”. Multidisciplinaridade, multiculturalismo, partilha de diferentes sensibilidades são de fato, segundo o Papa, “valores importantes não só para um livro, mas para um mundo melhor”.

Paolo Ondarza – Cidade do Vaticano

 

Papa: o desafio é abrir a Igreja à missão

Francisco encontrou-se no Vaticano com os membros da Comissão da Conferência Episcopal Espanhola para as missões e a cooperação com as Igrejas e com o comitê executivo da ONG "Misión América". O Pontífice indicou a eles a imagem de Jesus que envia a sua Igreja ao mundo: seja um estímulo "para dar visibilidade às chagas ainda palpáveis ​​no seu Corpo Místico"

São quatro as palavras que definem o caminho da "Misión América", organização não governamental comprometida com a promoção integral da pessoa em sua dimensão social, cultural e religiosa, nos países da América Latina e da África: visibilidade, respeito, voluntariado e colaboração.

O Papa Francisco as ilustra quando no encxontro na manhã deste sábado, 11, com a diretoria executiva da ONG, que celebra o trigésimo aniversário de sua fundação, e com a Comissão da Conferência Episcopal Espanhola para as missões e a cooperação com as Igrejas. O desafio de hoje, disse o Pontífice em seu discurso em espanhol, é abrir a Igreja à missão.

Visibilidade

O Pontífice sublinha que Jesus foi enviado pelo Pai: “Agora Ele envia a nós, dando visibilidade à realidade da dor, do pecado, da morte, não para condenar ninguém, mas para curar profundamente a humanidade, assumindo-a na sua pessoa”.

Ao mesmo tempo, ao organizar campanhas de sensibilização para fazer conhecer a realidade da América Latina, o horizonte "não pode ser outro senão mostrar sobre ela a mão estendida de Cristo, que nas suas chagas nos oferece o melhor refúgio".

Respeito

A outra palavra indicada pelo Papa é respeito: “respeito pelo outro, pelos seus tempos, pelos seus espaços”. Jesus respeita as pessoas" e "a verdadeira igualdade, a verdadeira justiça - diz Francisco - não é impor um caminho único e unitário para todos". Mas ser capazes de "acompanhar cada um, na sua liberdade e na sua necessidade, para que todos possam responder ao chamado de Deus".

Voluntariado 

O voluntariado é outro traço distintivo da "Misión América": nada mais é do que "apoiar aqueles que caminham pelo mundo com a oração, o trabalho, a solidariedade - explica Francisco -". O voluntariado, acrescenta o Papa saindo do texto escrito, é "uma das coisas mais belas que as sociedades têm".

Colaboração

A quarta palavra mencionada por Francisco é colaboração. A "paz" que Deus estabelece com o homem e entre os homens, afirma, "torna-se quotidiana no caminhar de cada dia, na busca do bem, na difusão do amor e da concórdia; gera novas realidades, construindo pontes, destruindo medos e mágoas”.

Entre as pessoas que ouvem as palavras do Papa, há também uma criança. “Ela nunca esteve – sublinha o Papa falando de improviso – em um lugar coberto de tapetes como este. Ela está feliz. Deixem-o à vontade”.

Dar visibilidade às chagas de Jesus

Por fim, Francisco acrescenta uma imagem às palavras visibilidade, respeito, voluntariado e colaboração: a de Jesus que envia a sua Igreja em missão.

Que seja um estímulo, sublinha o Papa, “para dar visibilidade às chagas ainda palpáveis ​​no seu Corpo Místico”; “para exigir e exigir de nós o respeito por cada ser humano e seu direito de poder discernir o caminho que Deus traça para ele”; “trabalhar e sustentar a obra de todos os que foram enviados a colaborar, com todos os homens de boa vontade, para a glória de Deus”.

Por fim, referindo-se ao trabalho da "Misión América", o Papa afirma que são "as pequenas coisas aquelas que mais duram, enquanto às vezes aquelas grandiosas não duram". E exorta a “não perder o bom humor. “Como ele não o perdeu”, conclui Francisco, voltando o olhar para a criança presente no encontro.

 

Fonte: Vatican News