O dia 24 de fevereiro de 2023 marca um triste aniversário: um ano do início da guerra na Ucrânia com a invasão russa. Um exemplo de que o homem não aprende com a história, e repete atrocidades e destruições que não eram vistas nesta dimensão desde a II Guerra Mundial.
E ao final da Audiência Geral desta quarta-feira, como fez desde o início do conflito, o Papa recordou das tantas vítimas, lançando um novo apelo por um cessar-fogo e pelo diálogo:
Queridos irmãos e irmãs, depois de amanhã, 24 de fevereiro, fará um ano desde a invasão da Ucrânia, um ano desde o início desta guerra absurda e cruel, um triste aniversário. O número de mortos, feridos, refugiados, isolados, destruição, danos econômicos e sociais falam por si. Poderá o Senhor perdoar tantos crimes e tantas violências, Ele é o Deus da paz.
Francisco, que ontem recebeu do secretário geral da Caritas Spes-Ucrânia, padre Vyacheslav Grynevych, uma cruz feita com estilhações de vidros de residências destruídas por bombardeios, voltou a pedir proximidade à população ucraniana e perguntou: "foi feito todo o possível para deter a guerra?", reiterando que vitória construpída sobre escombros nunca será uma verdadeira vitória:
Permaneçamos próximos ao povo ucraniano agredido que continua sofrendo e nos perguntemos: tudo foi feito para deter a guerra? Apelo aos que têm autoridade sobre as nações para que se empenhem concretamente pelo conflito, a chegar a um cessar-fogo e a iniciar as negociações de paz. Aquela construída sobre escombros nunca será uma verdadeira vitória.
Os civis ucranianos mortos desde o início da invasão russa são cerca de 7.200, segundo um relatório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (OHCHR). Já o porta-voz do UNICEF Italia, Andrea Iacomini, informa que desde o início da guerra na Ucrânia, 438 crianças foram mortas e 854 ficaram feridas. Cerca de 3,4 milhões de crianças precisam de assistência humanitária no país. 1,5 milhões de crianças correm o risco de depressão, ansiedade, TEPT e outras doenças mentais, mais de 5 milhões de crianças sofreram interrupções em sua educação, 2 em cada 3 crianças refugiadas ucranianas não estão matriculadas no sistema escolar do país anfitrião, mais de 1.000 instalações de saúde foram danificadas ou destruídas, assim como mais de 2.300 escolas primárias e secundárias.
- Papa recebe uma cruz, símbolo da dor do povo ucraniano
Um encontro comovente, três dias antes do primeiro aniversário da invasão russa da Ucrânia. Esta é a experiência contada ao Vatican News pelo padre Vyacheslav Grynevych, secretário geral da Caritas Spes-Ucrânia, que na tarde de terça-feira, 21, se encontrou com o Papa em audiência privada na Casa Santa Marta. O sacerdote ucraniano deu a Francisco uma cruz feita com estilhaços de vidro das janelas das casas destruídas pelos bombardeios.
Padre Vyacheslav, como foi o encontro com o Papa Francisco?
Este encontro foi realmente um bom momento para testemunhar o que, como Caritas local e como Caritas Internationalis, estamos fazendo na Ucrânia. Também nós, como agentes eclesiais, somos vítimas da guerra. Temos que lutar não apenas por nossas vidas, mas também por nossa espiritualidade. O Papa está conosco, em oração, está fazendo muitas coisas, mas quando não se vislumbra a possibilidade de resolver a situação de guerra nos deparamos com o cansaço e ele nos exortou como Caritas a continuar nosso trabalho. Ele repetiu que está conosco de todo o coração e está fazendo tudo o que é possível nesta terrível situação. Deixei para ele uma Cruz feita com vidros de janelas destruídas por bombardeios. Eu disse a ele que essas janelas destruídas não apenas mostram as casas destruídas que tentamos reconstruir, mas também mostram nossos corações, o que temos dentro. E no centro da cruz está a imagem de uma borboleta que é um sinal de esperança, porque esperamos a ressurreição. E junto com toda a sociedade e com a ajuda internacional, podemos avançar e reconstruir tudo o que os russos destruíram nesta terrível guerra. Também entreguei ao Papa o texto de uma Via Crucis que nós operadores da Caritas Spes na Ucrânia havíamos preparado mostrando nossa experiência de guerra. É uma reflexão muito íntima, e pedi ao Santo Padre que a lesse porque será uma oração muito forte para nós. Acredito que o Santo Padre em sua oração possa unir todos os nossos corações.
O que dizem as meditações sobre esta Via Sacra?
Há tantas histórias relacionadas à nossa experiência. Na estação onde Jesus encontra sua mãe, é lembrado quando as mães de soldados na Ucrânia esperam seus filhos da guerra e alguns não voltam e recebem a informação de que seu filho está morto. E essas são histórias verdadeiras, histórias de nossos entes queridos e de nossos amigos. Em outra estação, são descritos os sentimentos das crianças sob bombardeio, quando as crianças não conseguem dormir. Depois, há uma meditação sobre as tantas sepulturas que agora existem emtoda a Ucrânia com corpos de pessoas sem nome, ninguém sabe quem são, mas para nós essas sepulturas são lugares sagrados.
De onde vêm os vidros da Cruz que foi doada ao Santo Padre?
Da região de Kiev, principalmente dos locais bombardeados nos primeiros dias da guerra.
Nesta quarta-feira o senhor apresenta o trabalho que as Caritas de tantos países está fazendo em favor da Ucrânia…
Esta solidariedade internacional é muito importante para nós, é importante estarmos unidos para responder às necessidades humanitárias causadas pela guerra. Acho que é mais fácil seguir em frente quando você sabe que não está sozinho e para nós isso é um sinal muito importante. Estamos na linha de frente e sempre corremos o risco de ser atacados, mas nos sentimos unidos a todos os outros agentes da Caritas que trabalham com refugiados ucranianos na Itália e em outros países: todos estamos vivendo a mesma experiência. Digamos que nós também somos soldados, mas da guerra social. Por isso, acho muito importante estarmos unidos como a Caritas: não estamos sozinhos.
- O Papa: O Evangelho não é uma ideologia. É um anúncio que toca e muda o coração
«Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo». Com estas palavras de Jesus o Papa Francisco iniciou a catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (22/02), realizada na Sala Paulo VI, sobre a paixão de evangelizar.
Ide, diz o Ressuscitado, não para doutrinar, nem para fazer prosélitos, mas para fazer discípulos, ou seja, para oferecer a cada um a possibilidade de entrar em contato com Jesus, de o conhecer e de o amar livremente. Ide, batizando: batizar significa imergir e, portanto, antes de indicar uma ação litúrgica, exprime um ato vital: mergulhar a própria vida no Pai, no Filho, no Espírito Santo; experimentar todos os dias a alegria da presença de Deus que está próximo de nós como Pai, como Irmão, como Espírito que age em nós, no nosso próprio espírito. Batizar é imergir-se na Trindade.
Segundo o Papa, "quando Jesus diz aos seus discípulos - e também a nós – “Ide!”, não comunica apenas uma palavra. Não! Comunica, ao mesmo tempo, o Espírito Santo, pois só graças a Ele, ao Espírito, podemos receber a missão de Cristo e cumpri-la. Com efeito, os Apóstolos permanecem fechados no Cenáculo, com medo, até chegar o dia de Pentecostes e descer o Espírito Santo sobre eles. O anúncio do Evangelho só se realiza na força do Espírito, que precede os missionários e prepara o coração: Ele é «o motor da evangelização»".
No Livro dos Atos dos Apóstolos, "vemos que o protagonista do anúncio não é Pedro, Paulo, Estêvão ou Filipe, mas o Espírito Santo". Os Apóstolos, "não obstante as diferentes sensibilidades e opiniões, põem-se à escuta do Espírito. E Ele ensina algo, válido até hoje: cada tradição religiosa é útil, se facilitar o encontro com Jesus.
"Tudo na Igreja deve conformar-se com as exigências do anúncio do Evangelho; não com as opiniões dos conservadores ou dos progressistas, mas com o fato de que Jesus alcance a vida das pessoas. Por isso, cada escolha, uso, estrutura e tradição devem ser avaliados na medida em que favorecerem o anúncio de Cristo", frisou o Papa, acrescentando:
E quando se encontram divisões na Igreja, por exemplo, divisões ideológicas, eu sou conservador, ou eu sou progressista, onde está o Espírito Santo? Prestem atenção, pois o Evangelho não é uma ideia, o Evangelho não é uma ideologia, o Evangelho é um anúncio que toca e muda o seu coração, mas se você se refugia numa ideia, numa ideologia seja de direita, de esquerda, ou de centro, você está fazendo do Evangelho um partido político, uma ideologia, um clube de pessoas. O Evangelho sempre dá a liberdade do Espírito que age em você e o conduz. Quanto é preciso hoje tomar a liberdade do Evangelho nas mãos e deixar-se conduzir pelo Espírito!
"Assim, o Espírito lança luz sobre o caminho da Igreja. Com efeito, Ele não é apenas a luz do coração, é a luz que orienta a Igreja: esclarece, ajuda a distinguir, a discernir", frisou ainda o Papa.
Por isso, é necessário invocá-lo frequentemente; o façamos também hoje, no início da Quaresma. Pois, como Igreja, podemos ter tempos e espaços bem definidos, comunidades, institutos e movimentos bem organizados, mas sem o Espírito, tudo permanece sem alma. Não basta a organização. É o Espírito que dá vida à Igreja.
Segundo Francisco, se a Igreja não rezar, não invocar o Espírito, "fecha-se em si mesma, em debates estéreis e extenuantes, em polarizações desgastantes, enquanto a chama da missão se extingue. É muito triste ver a Igreja como se fosse um parlamento, somente. A Igreja é outra coisa. A Igreja é a comunidade de homens e mulheres que creem e anunciam Jesus Cristo movidos pelo Espírito Santo e não pelas próprias razões. Sim, se usa a razão, mas é o Espírito a iluminá-la e a movê-la".
O Espírito "nos faz sair, nos impele a anunciar a fé para nos confirmarmos na fé, a ir em missão para reencontrarmos quem somos. Por isso, o Apóstolo Paulo recomenda: «Não extingais o Espírito!»", disse ainda o Papa, convidando a rezar "com frequência ao Espírito", invocá-lo, pedir-lhe "todos os dias que acenda em nós a sua luz". Façamos isso "antes de cada encontro, para nos tornarmos apóstolos de Jesus com as pessoas que encontrarmos. Não extinguir o Espírito na comunidade cristã e dentro de cada um de nós".
"Como Igreja comecemos e recomecemos do Espírito", disse ainda o Papa, convidando a nos perguntar "se nos abrimos a esta luz, se lhe damos espaço". "Invoco o Espírito? Deixo-me orientar por Ele, que me convida a não me fechar, mas a levar Jesus, a dar testemunho do primado da consolação de Deus sobre a desolação do mundo? Que Nossa Senhora que entendeu isso muito bem, nos ajude a entender", concluiu Francisco.
- Na Quarta-feira de Cinzas, a Missa com o Papa na Santa Sabina
Na Quarta-feira de Cinzas, dia que marca o início da Quaresma, terá lugar uma celebração, em forma de “Estações” romanas, presidida pelo Santo Padre Francisco, com o seguinte desenvolvimento:
Às 16h30, horário local, na Igreja de Santo Anselmo no Aventino, terá início a liturgia da Statio, seguida da procissão penitencial rumo à Basílica de Santa Sabina.
A procissão contará com a presença de cardeais, arcebispos, bispos, monges beneditinos de Santo Anselmo, padres dominicanos de Santa Sabina e alguns fiéis.
Ao final da procissão, na Basílica de Santa Sabina, terá lugar a Celebração Eucarística com o rito da bênção e imposição das cinzas.
O Vatican News transmitirá a celebração, com comentários em português.
Fonte: Vatican News