Extraordinário: esta foi a palavra que o Papa ressaltou comentando o Evangelho deste VII Domingo do Tempo Comum. Diante de milhares de fiéis na Praça São Pedro, Francisco definiu "exigentes e paradoxais" as palavras de Jesus, que nos convida a oferecer a outra face e amar os nossos inimigos.
É normal amar quem nos ama, disse o Pontífice, mas agindo deste modo, o Mestre nos provoca dizendo: Que fazeis de extraordinário?
Com efeito, afirmou o Papa, temendo não ser correspondido ou ficar desiludido, preferimos amar só quem nos ama, fazer o bem só a quem é bom conosco, ser generoso só com quem pode restituir o favor. Mas o Senhor nos adverte que isso não é suficiente:
“Se permanecermos no ordinário, no equilíbrio entre dar e receber, as coisas não mudam. Se quisesse seguir esta lógica, não teríamos esperança de salvação! Mas, felizmente, o amor de Deus é sempre "extraordinário", isto é, vai além dos critérios habituais com os quais nós humanos vivemos as nossas relações.”
Para Francisco, as palavras de Jesus constituem um desafio, já que nos pede para abrir-nos ao extraordinário de um amor gratuito. Enquanto tentamos equilibrar as contas, Cristo nos estimula a viver o desequilíbrio do amor, assim como Ele fez conosco. Se Deus não tivesse se desbalanceado, nós nunca teríamos sido salvos e Jesus não teria abraçado a cruz por nós.
"Deus nos ama enquanto somos pecadores, não porque somos bons ou capazes de dar algo em troca. O amor de Deus é um amor sempre em excesso, sempre além dos cálculos, sempre desproporcional. Hoje pede também a nós para viver deste modo, porque somente assim o testemunharemos verdadeiramente."
A proposta de Cristo, portanto, é sair da lógica da vantagem e não medir o amor sobre a balança dos cálculos e das conveniências. É ousar no bem, a arriscar no dom, mesmo se recebermos pouco ou nada em troca. Porque é este amor que lentamente transforma os conflitos, diminui as distâncias, supera as inimizades e cura as feridas do ódio.
O Papa convidou cada um de nós a se questionar: "Eu, na minha vida, sigo a lógica da retribuição ou a da gratuidade?".
"O amor extraordinário de Cristo não é fácil, mas é possível, porque Ele mesmo nos ajuda doando-nos o seu Espírito, o seu amor sem medida. Rezemos a Nossa Senhora, que respondendo a Deus o seu “sim” sem cálculos, lhe permitiu fazer dela a obra-prima da sua Graça."
Bianca Fraccalvieri
- Papa: deixar-se tocar pelas situações de quem é provado
Um apelo a não esquecer dos que sofrem e a uma caridade concreta, em particular em favor das populações na Turquia, Síria e Ucrânia, onde há pobreza e falta de liberdade. Após rezar o Angelus, o Papa recordou aos cerca de 20 mil presentes na Praça São Pedro que "o amor de Jesus pede que nos deixemos tocar pelas situações de quem é provado":
Penso especialmente na Síria e na Turquia, nas tantas vítimas do terremoto, mas penso também nas tragédias cotidianas do querido povo ucraniano e de tantos povos que sofrem por causa da guerra ou por causa da pobreza, falta de liberdade ou devastação ambiental: tantos povos.
Mais de 46.000 pessoas morreram em função do terremoto de magnitude 7.8 que atingiu a Turquia e a Síria, um número que deve aumentar, diante dos cerca de 345.000 apartamentos na Turquia destruídos. Na Turquia, o número de mortos até o momento é de 40.642, enquanto a vizinha Síria registrou mais de 5.800 mortes, um número que não sofreu alterações há dias. Nem a Turquia nem a Síria disseram quantas pessoas ainda estão desaparecidas após o terremoto.
E enquanto a Turquia tenta administrar seu pior desastre moderno, crescem por outro lado as preocupações com as vítimas da tragédia na Síria, com o Programa Mundial de Alimentos (PAM) pressionando as autoridades do noroeste do país para parar de bloquear o acesso à área enquanto busca ajudar centenas de milhares de pessoas devastadas por terremotos.
Na Síria, já devastada por mais de uma década de guerra civil, a maior parte das mortes ocorreu no noroeste. A área é controlada por insurgentes em guerra com as forças leais ao presidente Bashar al-Assad, o que complicou os esforços para levar ajuda às pessoas. Milhares de sírios que buscaram refúgio na Turquia da guerra civil voltaram para suas casas na zona de guerra - pelo menos por enquanto.
Médicos e especialistas expressaram preocupação com a possível propagação da infecção na área onde dezenas de milhares de edifícios desabaram na semana passada, deixando a infraestrutura de saneamento danificada.
Organizações de ajuda humanitária dizem que os sobreviventes precisarão de ajuda nos próximos meses, com tantas infraestruturas cruciais destruídas.
Na entrevista concedida ao padre Davide Banzato e transmitida no sábado pelo Canal 5, o Papa havia expresso sua angústia pelo confloito na Ucrânia, sobretudo pelas crianças "Esqueceram-se de rir... Muitas crianças vieram aqui, muitas da Ucrânia, não riem... São amáveis, sim, mas não não riem, elas perderam isso. Fui encontrar as crianças que estavam no Bambino Gesù (Hospital da Santa Sé em Roma, ndr), ucranianas, feridas, ninguém (tinha) um sorriso”.
Para Francisco, “tirar o sorriso de uma criança significa... uma tragédia!”. E esta tragédia está marcando o nosso tempo: “Um tempo onde o negócio maior é a venda de armas, a fabricação de armas. Hoje, se por um ano – disse-me um técnico – não se fabricassem armas, acabaria a fome no mundo. Guerras pedem armas. E por que uma guerra? Porque normalmente um império ou um governo, quando enfraquece um pouco, precisa de uma guerra para se recuperar... Isso é ruim."
- A proximidade de Francisco às vítimas de ciclone na Nova Zelândia
Ao saudar os peregrinos na Praça São Pedro, o Papa recordou que o amor de Cristo pede para nos deixarmos tocar pelas situações de quem é provado, quer pelo terremoto na Síria e na Turquia, como pelo drama da guerra na Ucrânia, a fome, a falta de liberdade, as catástrofes ambientais. Neste sentido recordou as devastações sofridas por tantas populações, em particular na Nova Zelândia:
Nesse sentido, estou próximo da população da Nova Zelândia, atingida nos últimos dias por um ciclone devastador.
Subiu para 11 o número de mortos pela passagem do ciclone Gabrielle. Além da perda de vidas humanas, o governo neozelandês teme que os danos, ainda a serem quantificados com exatidão, serão da ordem de bilhões.
O ciclone atingiu o país na segunda-feira, levando à evacuação de 10.000 pessoas e impedindo o contato com outras 4.500. Houve devastação na infraestrutura, bem como em moradias, pomares, vinhas e culturas agrícolas de algumas das regiões mais produtivas da Nova Zelândia. Estradas foram danificadas e milhares de moradores ainda estão sem eletricidade e água.
Falando à mídia local neste domingo, o ministro das Finanças Grant Robertson afirmou que os prejuízos deverão superar aqueles do terremoto de Christchurch em 2011, que chegaram a cerca de £ 13 bilhões de dólares neozelandeses, equivalentes a cerca de 7,6 bilhões EUR.
Já o primeiro-ministro Chris Hipkins afirmou no sábado ser este "o maior desastre natural que provavelmente vimos neste século" na Nova Zelândia, alertando que as pessoas devem "se preparar" para mais vítimas.
Nos últimos dias, o exército enviou helicópteros para entregar alimentos e necessidades básicas para áreas isoladas. Diante da dimensão do desastre, Chris Hipkins também afirmou ter aceitado ofertas de ajuda internacional, depois de inicialmente as ter rejeitado.
Fonte: Vatican News