Cultura

O Papa: não podemos mais devorar os recursos naturais, aprendamos com os indígenas





Francisco recebeu, no Vaticano, os participantes do 6° Encontro Mundial do Fórum dos Povos Indígenas, promovido pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). "Devemos escutar mais os povos indígenas e aprender com seu modo de vida a fim de compreender adequadamente que não podemos continuar devorando avidamente os recursos naturais", disse o Papa.

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (10/02), na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes do 6° Encontro Mundial do Fórum dos Povos Indígenas, promovido pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) em sua sede em Roma.

O tema deste ano "Liderança dos povos indígenas em questões climáticas: soluções baseadas nas comunidades para melhorar a resiliência e a biodiversidade" "é uma oportunidade para reconhecer o papel fundamental que os povos indígenas desempenham na proteção do meio ambiente e destacar sua sabedoria para encontrar soluções globais para os imensos desafios que as mudanças climáticas colocam diariamente à humanidade", ressalta Francisco.

Aprender com os povos indígenas

“Infelizmente, estamos presenciando uma crise social e ambiental sem precedentes. Se realmente queremos cuidar da nossa casa comum e melhorar o planeta em que vivemos, são imprescindíveis mudanças profundas nos estilos de vida, são imprescindíveis modelos de produção e consumo.”

Devemos escutar mais os povos indígenas e aprender com seu modo de vida a fim de compreender adequadamente que não podemos continuar devorando avidamente os recursos naturais, porque "a terra nos foi confiada para que seja mãe para nós, a mãe terra, capaz de dar o necessário a cada um para viver». Portanto, a contribuição dos povos indígenas é fundamental na luta contra as mudanças climáticas. E isso está comprovado cientificamente.

Ignorar as comunidades originárias é um erro

Segundo o Papa, "hoje, mais do que nunca, são muitos os que pedem um processo de reconversão das consolidadas estruturas de poder que regem a sociedade de cultura ocidental e, ao mesmo tempo, transformam as relações históricas marcadas pelo colonialismo, exclusão e discriminação, dando lugar a um diálogo renovado sobre a forma como estamos construindo o nosso futuro do planeta".

Precisamos urgentemente de ações conjuntas, fruto de uma colaboração leal e constante, porque o desafio ambiental que estamos vivendo e suas raízes humanas têm um impacto em cada um de nós. Um impacto não apenas físico, mas também psicológico e cultural.

“Por isso, peço aos governos que reconheçam os povos indígenas de todo o mundo, com suas culturas, línguas, tradições e espiritualidades, e que respeitem sua dignidade e seus direitos, conscientes de que a riqueza de nossa grande família humana consiste em sua diversidade.”

"Ignorar as comunidades originárias na salvaguarda da terra é um grave erro, é o funcionalismo extrativista, para não dizer uma grande injustiça", sublinhou Francisco. "Por outro lado, valorizar seu patrimônio cultural e suas técnicas ancestrais ajudará a trilhar caminhos para uma melhor gestão ambiental", destacou.

Nesse sentido, o Papa disse que é louvável o trabalho do FIDA "em ajudar as comunidades indígenas num processo de desenvolvimento autônomo, graças sobretudo ao Fundo de Apoio aos Povos Indígenas, mas esses esforços devem ser multiplicados e acompanhados de decisões firmes e claras, para uma transição justa".

Viver bem em harmonia

A seguir, o Papa falou a propósito do bem viver e do viver bem em harmonia.

"Viver bem não significa 'não fazer nada', a 'doce vida' da burguesia destilada, não, não. É viver em harmonia com a natureza, é saber buscar aquele equilíbrio, aquela a harmonia que é superior ao equilíbrio. O equilíbrio pode ser funcional, a harmonia nunca é funcional, é soberana em si mesma", disse ainda Francisco.

“Saber mover-se em harmonia é o que dá a sabedoria que chamamos de viver bem. A harmonia entre uma pessoa e sua comunidade, a harmonia entre uma pessoa e o ambiente, a harmonia entre uma pessoa e toda a criação. As feridas contra esta harmonia são as que estamos vendo evidentemente, que destroem os povos. O extrativismo, no caso da Amazônia, por exemplo, o desmatamento, ou o extrativismo de minério.”

"Portanto, procurar sempre a harmonia", reiterou o Papa, ressaltando que "quando os povos não respeitam o bem do solo, o bem do ambiente, o bem do tempo, o bem da vegetação ou o bem da fauna, o bem geral, quando não o respeitam, caem em posturas desumanas, porque perdem esse contato com a palavra, com a mãe terra. Não no sentido supersticioso, mas no sentido que a cultura e a harmonia nos dão".

"As culturas indígenas não devem ser convertidas numa cultura moderna, não. Elas devem ser respeitadas", sublinhou, reiterando a importância de "seguir seu caminho de desenvolvimento e escutar as mensagens de sabedoria que elas nos transmitem, pois não é uma sabedoria enciclopédica. É a sabedoria do ver, escutar e tocar da vida cotidiana".

Francisco concluiu, encorajou os participantes do 6° Encontro Mundial do Fórum dos Povos Indígenas a continuarem "lutando para proclamar essa harmonia que a política funcionalista, a política extrativista  estão destruindo. Que todos possamos aprender do bem viver no sentido harmonioso dos povos indígenas".

Mariangela Jaguraba

 

Papa aos atletas de Pentatlo Moderno: “A versatilidade multiplica a função educativa"

“Uma personalidade multifacetada, pressupõe uma unidade forte, uma grande coerência e, ao mesmo tempo, a capacidade de mudar, de se adaptar... Uma estabilidade na versatilidade” São palavras do Papa Francisco no encontro com os representantes da Federação Italiana de Pentatlo Moderno, que foram recebidos no Vaticano nesta sexta-feira (10)

Na manhã desta sexta-feira (10) o Papa encontrou os representantes da Federação Italiana de Pentatlo Moderno e atletas da equipe nacional. Francisco iniciou anunciando que é a primeira vez que encontrava uma representação deste esporte. Recordando em seguida que o Pentatlo Moderno envolve esgrima, natação, equitação, tiro e corrida. “Uma disciplina muito antiga”, disse, “que foi modificada nos tempos modernos desta maneira”. E completou dizendo que para praticá-la o atleta tem que dar o melhor de si em cinco esportes muito diferentes, que exigem diferentes habilidades e exercícios. Tendo como “a fisionomia de um atleta multifacetado e versátil, que desenvolve vários aspectos do corpo e da mente”.

Multiplica a função educativa

“Esta característica do pentatlo multiplica”, disse o Papa, “a função educativa do esporte. Eu diria que não é apenas uma soma, mas uma multiplicação, porque o pentatleta não é um robô que tem que realizar uma série de performances na perfeição, ele é uma pessoa, e portanto a operação é muito mais complexa”.

“E aí reside o valor educativo, pois na vida somos chamados a agir desta forma, implementando diferentes dimensões de nós mesmos, dependendo dos contextos, relacionamentos, momentos, etc.”

E Francisco esclareceu “por exemplo, uma pessoa pode ser um gênio em matemática, mas não sabe fazer mais nada, certamente terá problemas na vida”. “Aqui”, continuou, “novamente emerge o valor do poliedrode uma personalidade multifacetada, que pressupõe uma unidade forte, um centro sólido, uma grande coerência e, ao mesmo tempo, a capacidade de mudar, de se adaptar, de se mover... Uma estabilidade na versatilidade. E isto é um valor. Um valor que marca a maturidade das pessoas. Estabilidade, mas na versatilidade: sabe se mover, com estabilidade".

Dimensão espiritual

“Mas o esporte pode nos ajudar, porque nos ensina que com paciência, com exercício, com criatividade e perseverança se pode melhorar, se pode alcançar objetivos que pareciam impensáveis".

“E isto acontece através de uma dimensão que está abaixo de todas as outras e as anima a todas, que é a dimensão espiritual”

Afirmando depois que se refere “à nossa relação com o significado de viver, nosso ser e nossas relações. E a capacidade lúdica ajuda esta dimensão espiritual, de fato, está enraizada no fato de ser madura e forte".

Concluindo o encontro Francisco disse ainda: “No centro do ser humano há um coração, não em sentido físico, mas em sentido simbólico, um coração que sabe como receber e dar amor. E eu sei que vocês, como Federação, tentam se engajar nesta dimensão também com gestos concretos de solidariedade”. Agradeço a todos! Esta é uma competição mais exigente, mas o prêmio preenche a vida e dura para sempre.

 

No Circo, a convite do Papa, pobres, sem-teto, refugiados e presos

No dia 11 de fevereiro, a Esmolaria Apostólica levará mais de duas mil pessoas ao espetáculo de circo Rony Roller. Estarão também presentes famílias com crianças da Ucrânia, Síria, Congo, Sudão ou Roma, residentes em edifícios ocupados e dormitórios.

Cerca de duas mil pessoas são convidadas no sábado, 11 de fevereiro, em nome do Papa, pela Esmola Apostólica para participar do espetáculo de circo Rony Roller. Entre as pessoas convidadas, informa um comunicado do Dicastério da Caridade, há refugiados, sem-teto, encarcerados, famílias com crianças da Ucrânia, Síria, Congo e Sudão. Haverá também algumas famílias que vivem em edifícios ocupados em Roma, mais de 150 pessoas das ruas de Torvaianica e de vários dormitórios, acompanhadas por voluntários, dentre as quais as Irmãs de Madre Teresa.

O espetáculo circense “nos põe em contato com a beleza que sempre nos anima”, disse o Papa num encontro com os artistas, e “nos faz ir mais longe, é um caminho para chegar ao Senhor”. “Tornar possível a participação neste espetáculo é uma forma de dar algumas horas de serenidade a quem enfrenta uma vida difícil e precisa de ajuda para alimentar a esperança", explica o cardeal Konrad Krajewski na nota.

O espetáculo também lembra como por trás dessa arte e dessa beleza há horas e horas de treinamento, renúncias, para alcançar a meta: “Os artistas de Circo são a confirmação de que a perseverança pode tornar possível o impossível”.

Fonte: Vatican News