Na conclusão da Santa Missa no Mausoléu de “John Garang na manhã deste domingo (05/02), o Papa Francisco fez a sua última saudação aos fiéis que chegaram, não sem esforço, de todo o país para participara da celebração e ouvir suas palavras. O Santo Padre afirmou mais uma vez: "no Sudão do Sul há uma Igreja corajosa". A peregrinação de Francisco pela paz chegou ao fim e o Papa, aproveita o momento para agradecer à acolhida recebida, pelo trabalho de tantos, pela fé e pelo afeto demonstrado por todos. Em suas palavras há um reconhecimento especial pela contribuição dada à Igreja e à sociedade pelas mulheres.
Retomando o que o arcebispo de Juba, dom Stephen Ameyu Martin Mulla, havia dito pouco antes, Francisco afirmou que "nossa Igreja produziu dois santos: São Daniel Comboni e Santa Josefina Bakhita". Sobre Bakkhita disse que ela era "uma grande mulher, que com a graça de Deus transformou em esperança o sofrimento que padeceu", uma esperança que ela foi capaz de transmitir aos outros. E o Papa continua:
“Esperança é a palavra que eu gostaria de deixar para cada um de vocês, como um presente a ser compartilhado, como uma semente que dá frutos. Como nos recorda a figura de Santa Josefina, a esperança, especialmente aqui, está no signo da mulher e eu gostaria de agradecer e abençoar de maneira especial a todas as mulheres do país”.
E há outra palavra que Francisco quer deixar para o Sudão do Sul: a palavra é paz, que marcou estes dias e que "desejo com todas as minhas forças" também para os dias que virão e aos quais não lhe faltará o seu apoio junto com o dos líderes religiosos - o arcebispo anglicano Welby e o pastor Iain - que o acompanharam nesta viagem.
“Com meus irmãos Justin e Iain, a quem agradeço de coração, viemos aqui e continuaremos a acompanhar seus passos, fazendo tudo o que pudermos para torná-los passos de paz, passos em direção à paz. Gostaria de confiar o caminho da reconciliação e da paz a outra mulher, a maior e ao mesmo tempo a menor, a mais alta e ao mesmo tempo a mais próxima de nós, a cada uma de nós. Ela é nossa terna Mãe Maria, a Rainha da Paz”.
Maria, a "Nossa Senhora da África está sempre conosco", diz o Papa Francisco, e a ela confia a grande causa da paz em todo o mundo.
“A ela confiamos a causa da paz no Sudão do Sul e em todo o continente africano, onde tantos de nossos irmãos e irmãs na fé sofrem perseguição e perigo, onde tantas pessoas sofrem por causa de conflitos, exploração e pobreza. A Nossa Senhora também confiamos a paz no mundo, especialmente nos muitos países que estão em guerra, como a martirizada Ucrânia”.
As palavras finais de Francisco ainda são de afeto ao povo do Sudão do Sul, "vocês estão no meu coração, vocês estão nos nossos corações, vocês estão no coração dos cristãos do mundo inteiro", assegura. E repete: "Nunca percam a esperança". E não se perca a oportunidade de construir a paz".
Silvonei José
- Papa no Sudão do Sul: deponhamos as armas do ódio, o amor muda a história
No seu último dia de visita ao Sudão do Sul, o Papa celebrou a Santa Missa no Mausoléu de “John Garang” na manhã deste domingo 5 de fevereiro na presença, segundo as autoridades locais de mais de 100 mil pessoas. Na sua homilia, o Papa Francisco recordou as palavras do Apóstolo Paulo à comunidade de Corinto quando disse: “Não me apresentei com o prestígio da linguagem ou da sabedoria, para vos anunciar o mistério de Deus. Julguei não dever saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo e, Este, crucificado” (1 Cor 2, 1-2). “A trepidação de Paulo”, disse o Papa, “é também a minha, ao encontrar-me aqui convosco em nome de Jesus Cristo, o Deus do amor, o Deus que realizou a paz através da sua cruz”. E disse: “Jesus conhece-vos e ama-vos; se permanecemos n’Ele, não devemos temer, porque, também para nós, cada cruz se há de transformar em ressurreição, cada tristeza em esperança, cada lamento em dança”. “Por isso”, acrescentou, “quero deter-me nas palavras de vida que Jesus nosso Senhor nos dirigiu hoje no Evangelho: ‘Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo’ (Mt 5, 13.14). Estas imagens, o que nos dizem a nós, discípulos de Jesus?
“Em primeiro lugar, somos sal da terra” observou o Papa , pois o sal “é o ingrediente invisível que dá gosto a tudo. Por isso mesmo, desde a antiguidade, foi visto como símbolo da sabedoria, uma virtude que não se vê, mas que dá gosto à vida e sem ela a existência torna-se insípida, sem sabor”. E o Papa questiona sobre a sabedoria que Jesus no fala afirmando que ele usa esta imagem do sal imediatamente depois de ter proclamado aos seus discípulos as Bem-aventuranças: compreendemos assim que são elas o sal da vida do cristão. E pede a todos para que se recordem bem:
“Se pusermos em prática as Bem-aventuranças, daremos bom gosto não apenas à nossa vida mas também à sociedade, ao país onde vivemos”
“Além de dar sabor”, continuou, “o sal tem outra função, que era essencial no tempo de Cristo: conservar os alimentos para não se corromperem estragando-se. Mas a Bíblia diz que havia um ‘alimento’, um bem essencial que se devia conservar antes de qualquer outro: a aliança com Deus”. Por conseguinte, o discípulo de Jesus, enquanto sal da terra, é testemunha da aliança que Ele realizou e nós celebramos em cada Missa: uma aliança nova, eterna, inquebrável. Prosseguindo sua homilia o Santo Padre disse aos presentes, “somos testemunhas desta maravilha”.
“Nós, que somos sal da terra, estamos chamados a testemunhar a aliança com Deus na alegria, com gratidão, mostrando que somos pessoas capazes de criar laços de amizade, viver em fraternidade, impedir que prevaleçam a corrupção do mal, a patologia das divisões, a sujeira dos negócios iníquos, a praga da injustiça”
E o Papa agradeceu a todos por serem o “sal da terra neste país”. Entretanto, continuou, “vendo tantas feridas, as violências que alimentam o veneno do ódio, a iniquidade que causa miséria e pobreza, poder-vos-ia parecer que sois pequenos e impotentes”. E Francisco chamou a atenção sobre este ponto afirmando: “Quando vos assaltar a tentação de vos sentirdes inadequados, procurai olhar para o sal e seus grãos minúsculos: é um pequeno ingrediente que, uma vez espalhado sobre a iguaria, desaparece, derrete-se, mas é justamente assim que dá sabor a todo o conteúdo”.
“De igual modo nós cristãos, apesar de ser frágeis e pequenos, mesmo quando nos as nossas forças parecem insignificantes se comparadas com a grandeza dos problemas e a fúria cega da violência, podemos oferecer uma contribuição decisiva para mudar a história”
E sugere: “Comecemos precisamente do pouco, do essencial, daquilo que não aparece nos livros de história, mas muda a história: em nome de Jesus, das suas Bem-aventuranças, deponhamos as armas do ódio e da vingança para embraçar a oração e a caridade; superemos as antipatias e aversões que, com o passar do tempo, se tornaram crónicas e correm o risco de levar à contraposição de tribos e de etnias; aprendamos a colocar nas feridas o sal do perdão, que causa ardida mas cura.
Depois Francisco passou à segunda imagem usada por Jesus: “Vós sois a luz do mundo”. Deus Pai enviou o seu Filho; é Ele a luz do mundo. Mas o próprio Jesus, luz do mundo, diz aos seus discípulos que também eles são luz do mundo. Isto significa que nós, acolhendo a luz de Cristo, a luz que é Cristo, tornamo-nos luminosos, irradiamos a luz de Deus.
“Irmãos e irmãs, o convite de Jesus para ser luz do mundo é claro: nós, seus discípulos, somos chamados a refulgir como uma cidade situada no alto, como um candelabro cuja chama não deve ser apagada”
"A nós, pois, é-nos pedido para arder de amor”, prosseguiu Francisco, “não suceda que a nossa luz se apague, que desapareça da nossa vida o oxigênio da caridade, que as obras do mal tirem o ar puro ao nosso testemunho”.
“Esta terra, tão bela e tão martirizada, precisa da luz que tem cada um de vós, ou melhor, da luz que cada um de vós é”
Por fim o Papa concluiu fazendo votos que que todos sejam o sal que se espalha e derrete generosamente para dar sabor ao Sudão do Sul com o gosto fraterno do Evangelho; serem comunidades cristãs luminosas que lancem uma luz benéfica sobre todos e mostrem que é belo e possível viver a gratuidade, ter esperança, construir todos juntos um futuro reconciliado”.
- Papa Francisco se despede do Sudão do Sul
O Papa Francisco deixou o Sudão do Sul às 11h56, (hora local) desta manhã de domingo com destino a Roma onde deve chegar por volta das 17h15, hora local, ao aeroporto de Internacional Leonardo da Vinci, Roma-Fiumicino, encerrando a sua 40º Viagem Apostólica Internacional.
No aeroporto Internacional de Juba o Papa Francisco, junto com o arcebispo de Cantuária Justin Welby, e o moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, Iain Greenshields, foram acolhidos pelo presidente da República Salva Kiir Mayardit. O Papa se deteve por alguns momentos com o presidente do Sudão do Sul. Após a saudação das delegações e a guarda de honra Francisco subiu a bordo do avião a ITA Airways que o traz para Roma. Justin Welby e Iain Greenshields também viajam com o Papa. Prevista, como já é habitual, a coletiva de imprensa durante o voo, desta vez com a participação de Welby e Iain.
Concluiu-se assim a intensa programação do Papa no Sudão do Sul, que teve início na última sexta-feira, em continuação à visita à República Democrática do Congo, no âmbito da 40ª Viagem Apostólica internacional que teve início no dia 31 de janeiro.
O lema da visita ao Sudão do Sul foi "Para que todos sejam um", extraída do Evangelho de João, capítulo 17. A esperança vivida nestes dias em terras do sul-sudanesas com a presença dos três líderes religiosos era de ajudar a selar definitivamente o acordo de paz no país, nascido oficialmente em 9 de julho 2011, após a separação do Sudão.
De fato, a presença dos três líderes religiosos foi uma expressão muito significativa do ecumenismo, um ecumenismo de testemunho, afirmou antes da viagem o cardeal secretário Pietro Parolin, observando que "as Igrejas cristãs trabalham a serviço de toda a população, onde muito frequentemente o Estado e às vezes até mesmo as agências internacionais não conseguem chegar. Portanto, elas gozam de confiança e autoridade entre a população e isto lhes permitiu desempenhar um papel significativo no complexo diálogo internacional".
O Sudão do Sul vem sendo marcado pela violência desde sua independência. Recordamos que na véspera da chegada do Papa, 27 pessoas foram mortas no Estado da Equatoria Central, no confronto entre pastores de gado e membros de uma milícia.
Nas suas palavras conclusivas na Santa Missa nesta manhã de domingo no Mausoléu Mausoléu de “John Garang o Papa disse ao povo do Sudão do Sul que palavra que ele gostaria de deixar para cada um é "esperança", como um presente a ser compartilhado, como uma semente que dá frutos. "Como nos recorda a figura de Santa Josefina, a esperança, especialmente aqui, está no signo da mulher e eu gostaria de agradecer e abençoar de maneira especial a todas as mulheres do país”.
E há outra palavra que Francisco quis deixar para o Sudão do Sul é paz. Paz que marcou estes dias e que "desejo com todas as minhas forças" também para os dias que virão e aos quais não lhe faltará o seu apoio junto com o dos líderes religiosos - o arcebispo anglicano Welby e o pastor Iain - que o acompanharam nesta viagem.
Fonte: Vatican News