Na tarde deste sábado (04/02), na Freedom Hall, em Juba, o Papa Francisco encontrou-se com os deslocados internos sul-sudaneses.
"Há muito tempo que penso em vós, alimentando no coração o desejo de vos encontrar, fixar-vos nos olhos, cumprimentar-vos e abraçar-vos. Eis-me aqui finalmente, na companhia dos irmãos com quem partilho esta peregrinação de paz, para vos testemunhar a minha proximidade, o meu amor. Estou convosco, sofro por vós e convosco", disse ele.
"Devido às devastações provocadas pela violência humana e também pelas inundações milhões de nossos irmãos e irmãs como vós, incluindo tantas mães com os filhos, tiveram que deixar as suas terras e abandonar as suas aldeias, as suas casas. Infelizmente, neste martirizado país, ser deslocado ou refugiado tornou-se uma experiência habitual e coletiva", frisou o Papa.
Por isso, renovo com todas as forças o mais sentido apelo para que se faça cessar todo o conflito, se retome seriamente o processo de paz, para que acabem as violências e o povo possa voltar a viver dignamente. Só com a paz, a estabilidade e a justiça poderá haver desenvolvimento e reintegração social.
“Mas não se pode esperar mais: um número enorme de crianças nascidas nos últimos anos só conheceu a realidade dos campos de deslocados, esquecendo-se do ambiente de casa, perdendo a ligação com a própria terra de origem, com as raízes, com as tradições.”
Segundo o Papa, "o futuro não pode ser nos campos de deslocados. Há necessidade de crescer como sociedade aberta, misturando-se, formando um único povo através dos desafios da integração, inclusivamente aprendendo as línguas faladas em todo o país e não apenas na própria etnia. É preciso assumir o risco estupendo de conhecer e acolher quem é diferente, para encontrar a beleza de uma fraternidade reconciliada e experimentar a aventura inestimável de construir livremente o próprio futuro juntamente com o da comunidade inteira. E é absolutamente necessário evitar a marginalização de grupos e o levantamento de guetos dos seres humanos. Mas, para todas estas carências, há necessidade de paz e da ajuda de muitos, de todos".
A seguir, Francisco agradeceu à Representante Especial Adjunta Sara Beysolow Nyanti "por nos dizer que hoje é a ocasião para todos verem aquilo que, há anos, está a acontecer neste país.
“De fato, aqui perdura a maior crise de refugiados do continente, pelo menos com quatro milhões de filhos desta terra deslocados, com a insegurança alimentar e desnutrição que afetam dois terços da população e com previsões que falam de uma tragédia humanitária que se pode agravar ainda mais no decurso do ano.”
Mas quero agradecer sobretudo porque a senhora e muitos outros não ficaram parados a estudar a situação, mas desceram em campo. A senhora percorreu o país, fixou nos olhos as mães, presenciando a tristeza que sentem pela situação dos filhos; fiquei impressionado quando afirmou que, apesar de tudo o que sofrem, nos seus rostos nunca se apagaram o sorriso e a esperança.
"E subscrevo aquilo que disse sobre as mães: as mulheres são a chave para transformar o país. Se lhes forem concedidas as justas oportunidades, elas, com a sua laboriosidade e destreza para guardar a vida, terão a capacidade de mudar a fisionomia do Sudão do Sul, de lhe dar um desenvolvimento sereno e coeso. Mas peço, por favor, a todos os habitantes destas terras: que a mulher seja protegida, respeitada, valorizada e honrada. Por favor, protegei, respeitai, valorizai e honrai toda a mulher, menina, adolescente, jovem, adulta, mãe, avó. Sem isso, não haverá futuro", sublinhou.
"Encontrando-vos hoje, queremos dar asas à vossa esperança. Temos fé, acreditamos que agora mesmo nos campos de deslocados, onde a situação do país infelizmente vos obriga a permanecer, pode nascer, como da terra nua, uma semente nova que dará fruto", disse ainda o Papa, acrescentando:
Quero dizer-vos: sois vós a semente de um novo Sudão do Sul, a semente para o crescimento fértil e exuberante do país. Sois vós, de todas as etnias, vós que sofrestes e continuais a sofrer, mas não quereis responder ao mal com o mal.
“Vós, que desde agora escolhestes a fraternidade e o perdão, estais a cultivar um amanhã melhor. Um amanhã que nasce hoje, no lugar onde estais, da capacidade de colaborar, de tecer teias de comunhão e percursos de reconciliação com quem, diferente de vós por etnia e proveniência, vive ao vosso lado.”
"Sois sementes de esperança, nas quais já se vislumbra a árvore que um dia – esperemos próximo – dará frutos. Sim, sereis vós as árvores que absorverão a poluição de anos de violência e restituirão o oxigênio da fraternidade. É verdade que agora estais «plantados» onde não quereis, mas precisamente nesta situação de desconforto e precariedade podeis estender a mão a quem está junto de vós e experimentar que estais radicados na mesma humanidade: daqui é preciso voltar a partir para se descobrir como irmãos e irmãs, filhos na terra do Deus do céu, Pai de todos", frisou.
A seguir, Francisco disse que "no Sudão do Sul os jovens crescem aprendendo com as histórias dos idosos e, se a narrativa dos últimos anos aparece caraterizada pela violência, é possível – aliás, é necessário – inaugurar, a partir de vós, uma nova: uma nova narrativa do encontro, onde aquilo que se sofreu não fique esquecido, mas seja habitado pela luz da fraternidade; uma narrativa que, no centro, coloque não só a dimensão trágica que vemos nos noticiários, mas também o desejo ardente da paz. Sede vós, jovens de diferentes etnias, as primeiras páginas desta narrativa! Se os conflitos, as violências e os ódios arrancaram das primeiras páginas de vida desta República as memórias boas, sede vós a escrever de novo a sua história de paz!"
O Papa agradeceu "às comunidades eclesiais pelas suas obras, que merecem ser apoiadas, aos missionários, às organizações humanitárias e internacionais, em particular às Nações Unidas pelo grande trabalho que realizam".
Claro que um país não pode viver longamente de apoios externos, sobretudo tendo um território tão rico de recursos! Mas agora aqueles são extremamente necessários. Quero também prestar homenagem aos numerosos agentes humanitários que perderam a vida, e exortar ao respeito por quem ajuda e pelas estruturas de apoio à população, que não podem ser alvo de assaltos e vandalismo.
“A par das ajudas urgentes, considero que seja muito importante, numa perspectiva futura, acompanhar a população na via do desenvolvimento, por exemplo ajudando-a a aprender técnicas atualizadas de agricultura e pecuária, de modo a facilitar um crescimento mais autônomo.”
"A todos peço, com o coração nas mãos: ajudemos o Sudão do Sul, não deixemos sozinha a sua população, que tanto sofreu e continua a sofrer", sublinhou.
Francisco dirigiu "um pensamento aos muitos refugiados sul-sudaneses que se encontram fora do país e a quantos não conseguem reentrar porque o seu território foi ocupado". "Estou solidário com eles e espero que possam voltar a ser protagonistas do futuro da sua terra, contribuindo para o seu desenvolvimento de modo construtivo e pacífico", disse ele. O Papa concedeu uma bênção especial a todas as crianças do Sudão do Sul, para que possam crescer juntas na paz.
- Sudão do Sul, crianças deslocadas: queremos a paz para voltarmos para casa
Johnson não tem espaço suficiente para jogar futebol, mas também não tem uma escola. Seu endereço é B2, respectivamente o bloco e o setor do local para a proteção de civis onde ele vive. Joseph tem 16 anos de idade, oito deles passados no acampamento. "Se tivesse havido paz", diz ele com dificuldade, emocionado e comovido, "eu teria aproveitado minha infância". Rebecca, como os outros, está "muito feliz" por ter o Papa na sua frente, aqui "apesar de seu joelho dolorido". Gratidão, esperança, tristeza, oração. Isto e muito mais foram expressos pelas vozes das crianças e jovens que o Papa encontrou no campo de deslocados de Juba, cujos testemunhos precederam seu discurso.
Já se passaram dez anos desde que conflitos e violências em larga escala em todo o país levaram as pessoas a fugir de suas casas em busca de segurança. Muitos encontraram abrigo perto das bases da UNMISS, a missão da ONU no Sudão do Sul. Em vários locais do país, incluindo Juba, Melut, Wau, Bor, Bentiu e Malakal, a Missão acolheu as populações nos PdCs, locais para a proteção de civis. A UNMISS então transferiu gradualmente alguns locais para campos de deslocamento convencionais sob controle governamental. Em janeiro do ano passado, havia cerca de 33 mil pessoas em campos de deslocados em Juba, 2.000 a mais do que no ano anterior.
Após a oração de abertura do moderador da Igreja da Escócia, Iain Greenshields, e a projeção de um vídeo, três menores representando os jovens deslocados de tantos campos sudaneses falaram. Rebecca vive no acampamento de Juba e disse que estava "feliz e honrada" por estar ali, na frente do Papa. "O senhor é um bom guia porque, apesar de seu joelho dolorido, veio para estar conosco", diz ela dirigindo-se a Francisco, recordando o adiamento de uma viagem particularmente esperada por este povo. "Sabemos que ama as crianças e que sempre diz que somos importantes", acrescentou, enfatizando que "nós, as crianças do Sudão do Sul, realmente gostamos de dançar e cantar". Uma maneira, esta, de "louvar a Deus". E é precisamente "em nome de Jesus" que Rebeca pede ao bispo de Roma "uma bênção especial para todas as crianças, para que possamos crescer juntos em paz e amor". A voz trai a emoção, a menina repete mais uma vez seu "obrigado" e conclui: "Nunca esqueceremos este dia".
Seus pais não têm trabalho, seu tio lhe envia alguma ajuda, "para que possamos comprar roupas". Ele frequenta a terceira série, mas não esquece os muitos colegas que não podem fazê-lo "porque não há escolas e professores suficientes para todos". Não há sequer "espaço suficiente para jogar futebol". Johnson, 14 anos, vive no campo Malakal com sua mãe e seu pai. "A paz é um bem, os problemas não são", ele recorda e expressa claramente o que ele e muitos, muitos colegas precisam: "queremos paz para que as pessoas possam voltar para suas casas, ter um bom futuro, queremos que se reze na Igreja para que Deus nos permita voltar para a cidade de Malakal". Cidade, casa, família: tudo isso só é possível se constrói a paz juntos.
Dezesseis anos, metade deles passados no acampamento na cidade de Bentiu. A história de Joseph é a de um menino chamado a crescer muito cedo e agora consciente do drama que ele está vivendo. Seus pensamentos são para o futuro, pessoal sim, "mas também de outras crianças", porque aqueles que conheceram a fome, o medo de morrer, desejam que tais páginas nunca mais sejam escritas novamente. "Por que sofremos no campo para os desalojados? Por causa dos conflitos em curso em nosso país", diz ele. Sua análise é lúcida, ele sabe que a sobrevivência não era uma coisa certa. "Meus pais e eu, juntamente com outras famílias, estamos aqui graças à ajuda humanitária", mas "se tivesse havido paz, eu teria ficado em minha casa". Joseph pede aos líderes religiosos que continuem rezando por "uma paz definitiva", e finalmente faz um apelo sincero aos líderes de seu país: "tragam amor, paz, unidade e prosperidade".
"O apelo pela paz é evidente”. Quem diz isso é o Representante Especial do Secretário-Geral na Missão da ONU no Sudão do Sul, coordenadora residente e humanitária para o país. "Os agentes estão trabalhando 24 horas por dia para atender às necessidades urgentes das comunidades afetadas. Entretanto, os desafios de segurança muitas vezes forçam o pessoal humanitário a se deslocar e suspender as atividades e", admite ela, "o Sudão do Sul continua sendo o contexto mais perigoso para os trabalhadores humanitários, seguido pelo Afeganistão e Síria. Apesar disso, o compromisso é total. Isto", ela enfatiza, "não é apenas nosso trabalho, mas também nosso objetivo. Estamos aqui para servir o povo sudanês, conscientes de nossas limitações, mas conscientes das oportunidades". Recordando que hoje existem dois milhões de deslocados internos e um número igual de refugiados que emigraram do país, ela conclui dirigindo-se ao Papa: "sua visita renova minha esperança de que, trabalhando em conjunto, o povo do Sudão do Sul possa alcançar a paz e desenvolver o potencial deste incrível país".
Andrea De Angelis
- Sudão do Sul: diante do Papa as histórias de duas religiosas assassinadas
Os sonhos de duas religiosas sul-sudanesas assassinadas em meados de agosto de 2021, enquanto voltavam do centenário da paróquia de Nossa Senhora da Assunção, de construir um albergue para financiar a educação de meninas resgatadas da violência da guerra civil, e uma clínica de obstetrícia em Juba, são lembrados por uma irmã diante do Papa Francisco. O da irmã Regina Achan é o segundo dos dois testemunhos levados ao Papa durante o encontro com os bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas e seminaristas do Sudão do Sul, na Catedral de Santa Teresa, em Juba. Diante dela, o padre Luka Hassan Arnu, da diocese de El Obeid, no Sudão, falou, elevando sua oração a Deus para que, graças à visita histórica de Francisco, "possa tocar o coração de todos os sudaneses e nos trazer uma paz duradoura".
Irmã Mary Daniel Abut e irmã Regina Roba Luate, diz Irmã Achan, foram mortas em 16 de agosto de 2021 em uma emboscada por bandidos em seu ônibus, a 30 quilômetros de Juba, quando voltavam de Loa, a cidade da missão de fundação de sua Congregação, a do Sagrado Coração. Também morrem com elas Leon Zozimo e Taban Caesar, que estavam no mesmo ônibus atacado por bandidos. A Irmã Mary tinha quase 68 anos de idade e a Irmã Regina 67. Ambas nascidas no Sudão do Sul, "haviam encontrado sua vocação enquanto refugiadas em Uganda", lembra a irmã Regina Achan. Juntas, elas haviam feito sua primeira profissão em 7 de janeiro de 1973 no convento de Moyo, Uganda, onde também fizeram seus votos perpétuos em 1º de janeiro de 1979. E celebraram juntas, em janeiro de 1998, o 25º aniversário de sua profissão religiosa em Cartum, Sudão.
Recordando a figura da irmã Mary Abut, a irmã Regina, que fala em nome das 218 religiosas professas do Sudão do Sul, assinala que ela tinha sido eleita Superiora Geral duas vezes, entre 2006 e 2018. "Como educadora, ela havia sido diretora da escola primária em Usratuna, Juba, e na época de sua morte residia na comunidade de Kator". Em seus 12 anos como superiora geral, ela havia servido, com grande simplicidade, "como sacristã na Igreja de São Miguel, lavando, varrendo e limpando a igreja com a ajuda de apenas um assistente". Seus sonhos para a congregação incluíam "a criação de um albergue como fonte de renda" para apoiar atividades como a educação de meninas resgatadas, "nossos orfanatos e sua administração". O trabalho, explica a irmã Regina, "tinha começado mas ainda não foi concluído devido à falta de fundos". A irmã Mary "também queria construir uma biblioteca para os alunos da escola primária Usratuna, em Juba". Esperamos que tudo isso seja realizado em sua memória".
A irmã Regina Roba, recorda depois a irmã Achan, que tinha se formado como enfermeira primeiro em Kampala, Uganda, e depois em Cartum, Sudão, e "havia trabalhado como enfermeira e agente de saúde em vários locais no Sudão do Sul". No momento de seu falecimento, ela estava ensinando e treinando enfermeiras no Instituto Católico de Treinamento em Saúde, em Wau". Seu sonho, diz ela, "era construir um centro de maternidade em Juba". Esperamos, com a ajuda de bons samaritanos, construir uma clínica de obstetrícia em sua memória". Em homenagem às irmãs, a Arquidiocese de Juba declarou o fechamento de todas as instituições eclesiásticas durante uma semana e celebrou missas diárias para elas. As irmãs foram enterradas no cemitério de Rejaf, ao sul de Juba.
O padre sudanês Luka Hassan Arnu, da diocese de El Obeid, que falou ao Papa antes da irmã Regina, recorda que ele veio a Juba junto com outros irmãos "para adorar o Senhor e celebrar a unidade do povo de Deus destes dois países irmãos". E ele assegura a Francisco que no Sudão e no Sudão do Sul "apesar de viver com a guerra civil e todos os danos consequentes, a Igreja nunca deixou de desempenhar seu papel sacerdotal, profético e pastoral". Através de suas instituições pastorais, sanitárias e educacionais, "a Igreja coordena e oferece serviços ao próximo, apesar dos recursos limitados".
O padre Luka lembra os muitos desafios enfrentados pela Igreja dos dois países irmãos, unida em uma única conferência episcopal, a Scbc (Conferência dos Bispos Católicos Sudaneses), liderada pelo bispo de sua diocese, Dom Yunan Tombe Trille Kuku Andali. Ateísmo sistêmico, indiferença às práticas religiosas", assinala o padre, "conflitos tribais e confrontos pela terra e outros recursos naturais, fome, serviços sociais deficientes devido à escassez de alimentos, preços altos, falta de trabalho e salários inadequados". Tudo isso, frisou ele, "se deve à prolongada guerra civil e à relutância de nossos líderes políticos em trabalhar juntos pela paz". E ele termina seu testemunho com uma oração ao Senhor, para que ele possa "com esta visita histórica, tocar os corações sudaneses e nos trazer uma paz duradoura". E invocou a intercessão da Virgem Maria, Rainha da Paz, e de Santa Josefina Bakhita, que nasceu no oeste do Sudão e morreu em Schio, perto de Vicenza, Itália.
- Papa: a herança ecumênica do Sudão do Sul é um exemplo para a unidade dos cristãos
O último compromisso do Papa Francisco neste sábado (04) em Juba, no Sudão do Sul, foi a Oração Ecumênica junto ao Mausoléu “John Garang”, com a presença do Arcebispo de Cantuária Justin Welby e o moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, Iain Greenshields. Francisco iniciou seu discurso recordando as orações das confissões cristãs presentes: “Acabam de se elevar, desta amada e atribulada terra, para o Céu tantas orações: vozes diferentes uniram-se, formando uma só voz. Juntos, como Povo santo de Deus, rezamos por este povo ferido”.
E logo disse que como cristãos, a primeira coisa – e a mais importante – que somos chamados a fazer é rezar, para podermos trabalhar bem e termos a força de caminhar. Rezar, trabalhar e caminhar, disse o Papa: “três verbos sobre os quais precisamos de refletir”.
“Rezar, antes de tudo. Sem a oração, seria vão o notável empenho das comunidades cristãs na promoção humana, na solidariedade e na paz”, disse o Papa. Em seguida recordou que tinha se inspirado na figura de Moisés em um encontro precedente e agora queria se deter em um episódio decisivo, no início do caminho rumo à liberdade, ao se deparar na a barreira intransponível das águas diz ao povo: “Não tenhais medo. Permanecei firmes e vede a salvação que o Senhor fará”. A Moisés donde lhe vinha semelhante certeza, enquanto o seu povo continuava a lamentar-se apavorado?, então o Papa explica: “A união com Deus, a confiança n’Ele cultivada na oração, foi o segredo que permitiu a Moisés acompanhar o povo da opressão à liberdade”. E Francisco esclarece: Dá-se o mesmo conosco:
“Rezar dá a força para seguir em frente, superar os medos, vislumbrar, mesmo na escuridão, a salvação que Deus prepara”
“Irmãos, irmãs, apoiemo-nos nisto: nas nossas várias Confissões, sintamo-nos unidos entre nós, como uma só família; e sintamo-nos encarregados de rezar por todos”.
“Rezemos assíduos e concordes para que o Sudão do Sul, como o povo de Deus na Escritura, ‘alcance a terra prometida’”
Jesus quer-nos ‘pacificadores’, por isso disse ainda o Papa “somos chamados a trabalhar precisamente pela causa da paz”. E explica que a paz de Deus “não é apenas uma trégua entre os conflitos, mas uma comunhão fraterna, que brota de congregar, não de absorver; de perdoar, não de suplantar; de reconciliar-se, não de impor-se”. “Trabalhemos incansavelmente”, disse, “por esta paz que o Espírito de Jesus e do Pai nos convida a construir: uma paz que integra as diversidades, que promove a unidade na pluralidade. Esta é a paz do Espírito Santo, que harmoniza as diferenças, ao passo que o espírito inimigo de Deus e do homem aproveita as diversidades para dividir”.
“Amigos caríssimos, quem se diz cristão deve escolher de que parte estar.
“Quem segue Cristo escolhe a paz, sempre; quem desencadeia guerra e violência atraiçoa o Senhor e renega o seu Evangelho”
E recorda a todos que “o amor do cristão não é só para os vizinhos, mas para cada um, porque cada um em Jesus é nosso próximo, irmão e irmã – até mesmo o inimigo – e, com maior força de razão, aqueles que pertencem ao nosso próprio povo, embora de etnia diferente”.
Trabalhemos, exortou Francisco “por esta unidade fraterna entre nós, cristãos, e ajudemo-nos a fazer passar a mensagem da paz na sociedade”, para que “não haja espaço para uma cultura baseada no espírito de vingança”.
Depois de falar sobre rezar e trabalhar, o Papa aprofunda a palavra “caminhar” como caminho da paz. “Aqui”, disse, “ao longo dos decênios, as comunidades cristãs empenharam-se fortemente na promoção de percursos de reconciliação. Quero agradecer-vos por este luminoso testemunho de fé, nascido do fato de reconhecer, não só nas palavras, mas também nas obras, que, antes das divisões históricas, existe uma realidade imutável: somos cristãos, somos de Cristo.
“A herança ecumênica do Sudão do Sul é um tesouro precioso, um louvor ao nome de Jesus, um ato de amor à Igreja sua esposa, um exemplo universal para o caminho de unidade dos cristãos”, disse o Papa aos presentes, recordando que deve ser guardada com o mesmo espírito. Advertindo em seguida:
“O tribalismo e o somos cristãos, somos de Cristo que alimentam as violências no país não afetem as relações interconfessionais; pelo contrário, derrame-se sobre o povo o testemunho de unidade dos crentes”
Francisco sugeriu duas palavras-chave para a continuação do caminho: memória e compromisso. Ao falar sobre a memória disse: “os passos que dais recalcam as pegadas dos predecessores. Não tenhais medo de não estar à altura, mas senti-vos impelidos por quem vos preparou a estrada: como numa corrida com estafetas, recolhei o testemunho para apressar a conquista da meta duma comunhão plena e visível”. E depois o compromisso: “caminha-se para a unidade, quando o amor é concreto, quando nos damos as mãos para socorrer quem está na margem da estrada, quem é ferido e descartado”.
Por fim o Papa concluiu seu discurso com um agradecimento: “Obrigado! Continuai assim: nunca concorrentes, mas familiares; irmãos e irmãs que, através da compaixão pelos que sofrem, os prediletos de Jesus, dão glória a Deus e testemunham a comunhão que Ele ama”.
Fonte: Vatican News