O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (26/01), alguns membros do Instituto Europeu de Estudos Internacionais de Salamanca, na Espanha.
"É um prazer para mim recebê-los novamente nesta casa e partilhar mais uma vez com vocês o fruto de suas pesquisas sobre a realidade política e social atual", disse o Papa no início de seu discurso, ressaltando que "Roma é o cadinho de culturas e povos há milênios. Herdeira desta vocação universal, a Sé de Pedro sempre esteve atenta às vicissitudes de todos os povos, aos seus anseios, aos seus esforços e às suas dificuldades para obter uma vida melhor, procurando fazer com que alcancem a paz que Jesus prometeu aos seus discípulos".
Esta paz não só vai além do que podemos obter por meios meramente humanos, mas também nos desafia para que não se baseie simplesmente em equilíbrios de poder ou em silenciar as justas demandas dos desfavorecidos. No entanto, a paz entre os homens é um bem essencial pelo qual devemos trabalhar com zelo e suplicar com fervor a Deus.
Segundo o Papa, é "difícil pacificar", "porque a primeira reação que temos é a de pegar uma pedra e jogá-la no outro, declarar guerra. Depois, negociar, não". "Pacificar é mais fácil se você tomar as providências", disse ele.
A seguir, Francisco citou um trecho de sua Encíclica Fratelli tutti: «Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e um fracasso da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal».
"Se pensarmos que no último século houve três guerras mundiais, de 1914 a 1918, de 1939 a 1945, e essa atual que é uma guerra mundial. Como entendemos isso?", perguntou.
Se pensarmos que o orçamento mais importante é o da fabricação de armas, e que com um ano sem fabricar armas, o problema da fome no mundo seria resolvido, ou seja, já temos uma orientação belicista de destruição. Se pensarmos que hoje a tecnologia das armas chega a um ponto que com uma única bomba uma cidade inteira como esta pode ser destruída. O que esperamos? Estamos a caminho... parece não se entende isso. É por isso que a luta pelo entendimento humano e pela paz deve ser incansável, não podemos nos dar ao luxo de tirar férias disso.
"A guerra é terrível. Porém, não devemos desistir, algo novo pode nascer dessas cinzas, nesse fracasso podemos tirar uma lição de vida", disse ainda o Papa. A seguir, Francisco disse que quando foi ao Sacrário Militar de Redipuglia, um cemitério militar situado no município de Fogliano Redipuglia, nordeste da Itália, e viu as sepulturas, ele chorou "como um menino". Depois, disse que quando foi ao cemitério americano em Anzio, próximo a Roma, e viu as idades dos soldados, 19, 20, 21, 22 anos, que aquilo mexeu com ele. "Nós não aprendemos", sublinhou. A seguir, recordou os desembarques na Normandia e as pessoas mortas naquela batalha. "É o drama da guerra, quando vamos entender isso?", disse ele. Depois, recordou que quando foi à Romênia e à Eslováquia, passando pelas cidades, as pessoas acenavam, mas notou que quase não havia homens idosos. "A guerra. Isso é muito difícil. Acho que temos que reagir, a guerra é terrível. Temos que fazer algo novo com esse fracasso, tirar uma lição de vida", sublinhou.
"O que parece uma derrota e um motivo de vergonha pode, como o escândalo da cruz, transformar-se numa vitória", disse ainda o Pontífice. "Como?" Perguntou o Papa. "Se com a nossa oração e com o nosso trabalho soubermos dar soluções, unir esforços, testemunhar que o amor, a fraternidade e o verdadeiro humanismo que nasce da fé vencem o ódio, a rejeição e a brutalidade", respondeu ele.
"É um desafio que vocês aceitaram e agradeço-lhes por esse desejo de contribuir, a partir de sua ciência, com elementos válidos que ajudem a todos a seguir adiante no caminho da fraternidade, no caminho da paz e da unidade humana", concluiu.
Mariangela Jaguraba
- Francisco pede maior envolvimento das mulheres na busca da paz
O Papa recebeu em audiência os participantes do Congresso “Mulheres que constroem uma cultura do encontro inter-religioso”. Um evento, afirmou, “que não é comum”, pois reúne fiéis de 12 religiões de todo o mundo para discutir questões importantes acerca do encontro e do diálogo para promover a paz e a compreensão num mundo ferido.
Para Francisco, o Congresso é ainda mais significativo porque é dedicado à escuta das experiências e das perspectivas das mulheres.
“Com efeito, a paz deve ser buscada envolvendo mais a mulher, porque é ela quem oferece cura e vida ao mundo: é o caminho rumo à paz.”
Cada tradição religiosa pode oferecer a sua riqueza. Com efeito, o Congresso tem por objetivo descobrir os aspectos femininos que podem contribuir para uma cultura do encontro, superando o narcisismo e promovendo o acolhimento.
“A atividade do encontro e a abertura que requer estão se tornando raras e a sua prática é um dos maiores dons que podem oferecer a suas famílias, comunidades e sociedades.”
Diante desses propósitos, o Pontífice encoraja os participantes a prosseguirem neste esforço de promover a dignidade das mulheres e, em particular, das jovens.
O evento é organizado pelo Dicastério para o Diálogo Inter-religioso e pela União Mundial das Organizações Femininas Católicas.
- Francisco: proximidade aos últimos, uma das qualidades de Deus
O Papa Francisco recebeu em audiência, na Sala Clementina, no Vaticano, nesta quinta-feira (26/01), os membros da "Assifero", Associação Italiana de Fundações e Organizações Filantrópicas.
Em seu discurso, o Pontífice recordou que esse organismo reúne "várias fundações privadas que, na Itália e no exterior, trabalham em vários campos, para a promoção da pessoa e para o desenvolvimento de modelos sociais e econômicos saudáveis e solidários, colocando em sinergia diferentes competências e recursos".
O Papa recomendou aos membros da associação, "três importantes valores: a promoção do bem integral da pessoa, a escuta das comunidades locais e a proximidade aos últimos". "Não se esqueçam da proximidade que é uma das qualidades de Deus: proximidade, compaixão e ternura. Deus é assim: próximo, compassivo e terno. São as três "atitudes", por assim dizer, de Deus. Esta proximidade leva à compaixão e à ternura", reiterou.
O primeiro valor indicado por Francisco, "a promoção do bem integral da pessoa" deve ser feita "nas suas dimensões fundamentais: material, intelectual, moral e espiritual". O Papa ressaltou que é importante que "a assistência material visa emancipar as pessoas, tornando-as protagonistas do seu crescimento, no desenvolvimento de suas capacidades e talentos, tanto no âmbito individual quanto comunitário. Tudo isso de acordo com sólidos princípios éticos, para que o crescimento econômico se realize na solidariedade e na justiça". "Vocês podem se inspirar nas palavras de Jesus que disse: "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância", sublinhou.
A seguir, o Papa se deteve no segundo valor: a escuta das comunidades locais.
É muito importante, para que a sua ação não se reduza a uma ajuda esporádica, mas plante as sementes para o futuro nos lugares onde as pessoas vivem, nas situações que a Providência indicar a vocês. A humildade da escuta, assim entendida, é um elemento fundamental do agir para bem comum, ainda mais quando permite ser porta-voz das necessidades dos mais frágeis nas instituições públicas.
No terceiro e último valor, a proximidade aos últimos, Francisco citou um provérbio que diz que "uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco".
Estar próximo aos últimos, curvar-se diante de suas feridas, cuidar de suas necessidades, é lançar uma boa base na construção de comunidades unidas e sólidas, para um mundo melhor e um futuro de paz. É o próprio Cristo que vem ao nosso encontro nos pobres, para nos mostrar o caminho para o Reino dos Céus, Ele que "se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza".
Fonte: Vatican News