Comunicado do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni:
“Com pesar informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 9h34, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Assim que possível, serão enviadas novas informações”
Desde quarta-feira passada, quando o Papa Francisco afirmou que seu predecessor estava muito doente, fiéis do mundo inteiro se uniram em oração pela saúde do Papa emérito. Bento XVI tinha 95 anos e vivia no Mosteiro Mater Ecclesiae desde sua renúncia ao ministério petrino, em 2013.
O corpo do Papa emérito estará na Basílica de São Pedro para a saudação dos fiéis a partir da segunda-feira, 2 de janeiro. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.
- "Deus é amor", a chave do pontificado
Desde 1417, a morte de um (ex) Papa não significava o fim de um pontificado. A morte de Bento XVI, nome de batismo Joseph Ratzinger, ocorreu hoje no Vaticano, quase dez anos após sua renúncia, que ele anunciou de surpresa em 11 de fevereiro de 2013, com a leitura de uma breve declaração em latim diante dos cardeais estupefatos. Nunca em dois milênios de história da Igreja um Papa deixou a Cátedra por sentir-se fisicamente inadequado para suportar o peso do pontificado. Ademais, em uma resposta dada ao jornalista Peter Seewald no livro-entrevista "Luz do Mundo" publicada três anos antes, ele havia de algum modo antecipado um: "Quando um Papa chega à conclusão clara de que não é mais capaz física, mental e espiritualmente de realizar a tarefa que lhe foi confiada, então ele tem o direito e em algumas circunstâncias até o dever de renunciar". Apesar do fato de que o epílogo de seu reinado foi anterior ao fim de sua vida, constituindo um precedente histórico de enorme significado, não seria generoso lembrar Bento XVI apenas por isso.
Nascido em 1927, filho de um gendarme, em uma família simples e muito católica na Baviera, Joseph Ratzinger foi um protagonista na Igreja do século passado. Ordenado sacerdote junto com seu irmão Georg em 1951, tornou-se doutor em teologia dois anos mais tarde e em 1957 recebeu a licença para ensinar como professor de teologia dogmática. Ele ensinou em Freising, Bonn, Münster, Tübingen e, por fim, em Regensburg. Com ele falece o último dos Pontífices pessoalmente envolvidos nos trabalhos do Concílio Vaticano II. Como um teólogo muito jovem e já estimado, Ratzinger havia acompanhado de perto a assembleia como um especialista do cardeal Frings de Colônia, que estava próximo à ala reformista. Ele estava entre aqueles que criticaram fortemente os esquemas preparatórios feitos pela Cúria Romana, mais tarde varridos pela decisão dos bispos. Para o jovem teólogo Ratzinger, os textos "devem dar respostas às perguntas mais urgentes e devem fazê-lo, na medida do possível, não julgando e condenando, mas usando uma língua materna". Ratzinger elogia a reforma litúrgica que estava chegando e as razões de sua inevitabilidade providencial. Ele diz que, para redescobrir a verdadeira natureza da liturgia, era necessário "romper o muro do latim".
Mas o futuro Bento XVI também testemunhou diretamente a crise pós-conciliar, a contestação nas universidades e nas faculdades teológicas. Ele testemunha o questionamento das verdades essenciais da fé e da experimentação selvagem em âmbito litúrgico. Já em 1966, um ano após o final do Concílio, ele disse ver o avanço de um "cristianismo a preços rebaixados".
Paulo VI o nomeou arcebispo de Munique em 1977, aos 50 anos de idade e algumas semanas mais tarde o criou cardeal. Em novembro de 1981, João Paulo II confiou-lhe a condução da Congregação para a Doutrina da Fé. Era o início de uma forte parceria entre o Papa polonês e o teólogo bávaro, destinada a desfazer-se somente com a morte de Wojtyla, que até o final recusou a renúncia de Ratzinger, não querendo se privar dela. Estes foram os anos em que o ex Santo Ofício colocou os pontos nos "is" em muitos assuntos: colocou freios na Teologia da Libertação, que usa a análise marxista, e tomou uma posição diante do surgimento de grandes problemas éticos. A obra mais importante é certamente o novo Catecismo da Igreja Católica, um trabalho que durou seis anos e que viu a luz em 1992.
Após a morte de Wojtyla, o conclave de 2005 chamou para sucedê-lo em menos de 24 horas um homem já idoso - ele tinha 78 anos de idade - universalmente estimado e respeitado até mesmo por seus oponentes. Da sacada da Basílica de São Pedro, Bento XVI se apresenta como "um humilde trabalhador na vinha do Senhor". Alheio a qualquer protagonismo, ele diz que não tem "programa", mas quer "ouvir, com toda a Igreja, a palavra e a vontade do Senhor".
Inicialmente tímido, ele não renunciou a viajar: seu pontificado também será itinerante como o de seu antecessor. Um dos momentos mais comoventes foi a visita a Auschwitz em maio de 2006, com o Papa alemão dizendo: "Em um lugar como este, as palavras falham, só um silêncio perplexo pode permanecer - um silêncio que é um grito interior a Deus: Por que pudeste tolerar tudo isso?" 2006 é também o ano do caso Regensburg, quando uma frase antiga sobre Maomé, que o Pontífice cita sem fazer sua na universidade onde foi professor, é instrumentalizada e desencadeia protestos no mundo islâmico. Desde então, o Papa multiplicará seus sinais de atenção em relação aos muçulmanos. Bento XVI enfrenta viagens difíceis, se confronta com a secularização galopante das sociedades descristianizadas e a dissidência dentro da Igreja. Ele celebra seu aniversário na Casa Branca junto com George Bush Jr. e alguns dias depois, em 20 de abril de 2008, reza no Ground Zero abraçando os parentes das vítimas do 11 de setembro.
Embora, como prefeito do ex Santo Ofício, ele foi frequentemente etiquetado como "panzerkardinal", como Papa ele fala constantemente da "alegria de ser cristão", e dedica sua primeira encíclica ao amor de Deus, "Deus caritas est". No começo do ser cristão - escreve ele - não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um evento, com uma Pessoa". Ele também encontra tempo para escrever um livro sobre Jesus de Nazaré, uma obra única que será publicada em três tomos. Entre as decisões a serem lembradas estão o Motu proprio liberalizando o missal romano pré-conciliar e o estabelecimento de um Ordinariato para permitir que as comunidades anglicanas retornem à comunhão com Roma. Em janeiro de 2009, o Papa decidiu revogar a excomunhão dos quatro bispos ordenados ilicitamente por dom Marcel Lefebvre, entre eles também Richard Williamson, negacionista das câmaras de gás. As polêmicas explodem no mundo judeu, o Papa pega caneta e papel e escreve para os bispos do mundo assumindo toda a responsabilidade.
Os últimos anos são marcados pelo retorno explosivo do escândalo da pedofilia e pelo Vatileaks, o vazamento de documentos retirados da escrivaninha papal e publicados em um livro. Bento XVI é determinado e duro em enfrentar o problema da "sujeira" dentro da Igreja. Ele introduz regras muito rigorosas de combate ao abuso contra menores, pede à Cúria e aos bispos que mudem mentalidade. Ele chega a dizer que a mais grave perseguição para a Igreja não vem de seus inimigos externos, mas do pecado dentro dela. Outra reforma importante é a financeira: é o Papa Ratzinger quem introduz a regulamentação contra a lavagem de dinheiro no Vaticano.
Diante dos escândalos e do carreirismo eclesiástico, o idoso Papa alemão continua a fazer apelos à conversão, à penitência e à humildade. Durante sua última viagem à Alemanha, em setembro de 2011, pediu que a Igreja fosse menos mundana: "Exemplos históricos mostram que o testemunho missionário de uma Igreja "desmundanizada" emerge mais claramente. Livre de fardos e privilégios materiais e políticos, a Igreja pode dedicar-se melhor e de forma verdadeiramente cristã ao mundo inteiro, pode estar verdadeiramente aberta ao mundo...".
- Bento XVI: o Papa que uniu fé e razão, esperança e caridade
Na reportagem especial de Alessandro Gisotti, voltamos a reviver alguns dos momentos do Pontificado de Bento XVI, o Papa que, por amor à Igreja, renunciou ao Ministério Petrino.
27 de abril de 2014. Um milhão de olhares se dirige ao sagrado da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Em maior número são aqueles que assistem ao evento em cadeia internacional: Bento XVI, o Papa emérito, abraça Francisco, o Papa reinante.
O abraço fraterno acontece sob as tapeçarias dos dois Pontífices Santos, João XXIII e João Paulo II. O primeiro remete imediatamente ao Concílio Vaticano II, onde o jovem e brilhante teólogo Joseph Ratzinger participou como conselheiro do Cardeal Frings. O segundo refere-se, naturalmente, à especial amizade e à fecunda colaboração entre o Papa polonês e o cardeal alemão. Naquele momento, impensável até um ano antes, se encerra o sentido da vida e do ministério petrino de Papa Bento XVII.
O dia memorável dos “quatro Papas”
Dois Papas que celebram dois Papas santos: são as manchetes dos jornais em todo o mundo. Um evento quase inacreditável. Mas “inacreditável” já tinha sido o primeiro sentimento com o qual o mundo inteiro tinha escutado estas palavras, em 11 de fevereiro de 2013:
“Conscientia mea iterum atque iterum coram Deo explorata ad cognitionem certam perveni vires meas ingravescente aetate non iam aptas esse ad munus Petrinum aeque administrandum…” (11 de fevereiro de 2013)
A Renúncia pelo amor à Igreja
Um conhecido teólogo italiano afirma – com sinceridade – que “não estamos preparados para um Papa que se demite”. Reação que une crentes e não-crentes, e levanta um dilúvio de comentários e declarações quase como se se fosse obrigado a dizer alguma coisa para acalmar a inquietação gerada por um evento imprevisível. Ainda mais enunciado numa língua, o latim, que na era do hi tech parece um eco que soa da pré-história.
Quando, porém, se deposita o pó erguido pelo terremoto – que teve seu epicentro na Sala do Consistório do Palácio Apostólico – a figura do Pastor é que permanece em pé e que, para o bem do seu rebanho, não tem medo de escolher uma estrada nunca antes percorrida:
“Queridos irmãos e irmãs, como sabem, decidi… (aplausos)… Obrigado pela simpatia… (aplausos)… Decidi renunciar ao ministério que o Senhor me confiou em 19 de abril de 2005. Fiz isso em plena liberdade para o bem da Igreja, depois de ter rezado por muito tempo e de ter examinado diante de Deus a minha consciência, bem consciente da gravidade desse ato, mas também consciente de já não estar em condições de prosseguir no ministério petrino com aquela força ele exige.” (Audiência Geral de 13 de fevereiro de 2013)
São passadas 48 horas do clamoroso anúncio quando Bento XVI pronuncia essas palavras e abre a porta do seu coração aos fiéis, reunidos na Sala Paulo VI, de maneira que possam aproximar-se aos seus sentimentos. Então se começa a compreender que a Renúncia do Papa não é nenhum “abandono”, mas, ao contrário, um ato supremo de amor a Cristo, inspirado pelo Espírito Santo.
Não deixo a Cruz, servirei à Igreja em oração
Depois de poucas horas da conclusão do seu ministério, em 27 de fevereiro, na sua última Audiência Geral, Bento XVI reitera che não está deixando a Cruz, “mas à serviço da oração” permanece, “por assim dizer, no recinto de São Pedro”. Naquele mesmo dia, o Papa encontra os purpurados que se preparam ao Conclave. Entre eles, está inclusive o Cardeal Bergoglio. Para todos o Pontífice tem palavras de afeto e incentivo:
“Que o Senhor lhes mostre aquilo que é da vontade dEle. E, entre os senhores, no Colégio dos cardeais, está também o futuro Papa, ao qual prometo, já de hoje, a minha reverência incondicional e obediência.” (Encontro com os cardeais em 28 de fevereiro de 2013)
Um humilde trabalhador na Vinha do Senhor
A humildade de Bento XVI comove, mas não surpreende, porque é bem essa a virtude que sempre o caracterizou, como o mundo já pôde apreciar das primeiras palavras pronunciadas depois da eleição como Sucessor de Pedro:
“Queridos irmãos e irmãs, depois do grande Papa João Paulo II... (aplausos)... os senhores cardeais me elegeram, um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me o fato de que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, confio nas suas orações. Na alegria do Senhor ressuscitado, confiantes do seu apoio permanente, vamos em frente. O Senhor nos ajudará, e Maria, Sua Santíssima Mãe, está do nosso lado.” (19 de abril de 2005)
Um trabalhador humilde a quem a coragem não falta. “O pastor moderado e firme” enfrenta com excepcional determinação alguns escândalos que surgiram na Igreja, como a terrível ferida dos abusos sexuais em menorespor parte de membros do clero. Bento XVI é o primeiro Pontífice que encontra as vítimas desse crime horrível: e faz sem clamor, longe dos refletores, em Malta, nos Estados Unidos, na Austrália e no Reino Unido.
Dispõe novas regras que assegurem uma “tolerância zero” àqueles que se mancham desse delito. E, no Ano Sacerdotal, há 150 anos da morte de Curato d’Ars, envoca uma nova transparência. As suas palavras têm a força de uma profecia:
“Devemos encontrar uma nova resolução na fé e no bem. Devemos ser capazes de penitência. Devemos nos esforçar para tentar tudo o que for possível, na preparação do sacerdócio, para que uma coisa semelhante não aconteça mais. Mas este também é o lugar para agradecer de coração todos aqueles que se comprometem em ajudar as vítimas e em dar, novamente a elas, a confiança na Igreja, na capacidade de acreditar na sua mensagem.” (20 de dezembro de 2010)
Pastor moderado e firme, comprometido com a transparência
Bento XVI expressa a mesma determinação no processo de renovação do Ior e da gestão das atividades econômicas no Vaticano. E isso, mesmo com os sofrimentos, inclusive pessoais, que deverá suportar por causa do escândalo “Vatileaks”. Mais uma vez, atinge a brandura do Papa que perdoa o assistente de quarto que lhe tinha roubado documentos privados. Um gesto que lembra o perdão de João Paulo II a Ali Agca.
Mesmo empenhado em reagir à crise e imprevistos, o Pontificado de Bento XVI será pró-ativo e inovativo em muitos aspectos, como demonstra também a instituição de um Ordinariado pessoal para os anglicanos que entram em plena comunhão com a Igreja Católica, depois da publicação da Constituição “Anglicanorum Coetibus”.
Nasce o “Pátio dos Gentios”, dialogar com os não-crentes
O Papa leva adiante o confronto com os não-crentes e acelera a nova evangelização para combater “a eclipse de Deus”. Convicto, como o seu amado Santo Agostinho que a opção cristã é “aquela mais racional”, Papa Bento lança a ideia de um “Pátio dos Gentios” (Cortile dei gentili), um espaço privilegiado de diálogo com os “distantes”:
“Ao diálogo com as religiões se deve acrescentar hoje, sobretudo, o diálogo com aqueles pelos quais a religião é uma coisa estranha, aos quais Deus não é conhecido e que, todavia, não gostariam de ficar simplesmente sem Deus, mas aproximá-lo ao menos como Desconhecido.” (21 de dezembro de 2009)
Peregrino no mundo, do Ground Zero à Mesquita Azul
O humilde trabalhador da vinha planta sementes inclusive no terreno do diálogo inter-religioso. Visita as sinagogas de Roma, Colônia e Nova Iorque, e convoca um novo Dia pela Paz em Assis, em outubro de 2011, aberta não somente aos homens de fé, mas também aos não-crentes.
Também com o mundo muçulmano, depois da incompreensão desencadeada por uma citação no discurso de Ratisbona, o diálogo se reforça graças inclusive à carta aberta de 38 “sábios muçulmanos” que se transformam em 138 e, depois, em 216, para encontrar um terreno comum de encontro. O que sintetiza esse diálogo renovado é a imagem de Bento XVI que, na Mesquita Azul, se recolhe em meditação ao lado do Imam de Istambul.
“Permanecendo alguns minutos em recolhimento naquele lugar de oração, me dirigi ao único Senhor do céu e da terra, Pai misericordioso da inteira humanidade. Possam todos os crentes se reconhecer como suas criaturas e dar testemunho de verdadeira fraternidade!” (Audiência Geral de 6 de dezembro de 2006)
O diálogo ecumênico merece um capítulo especial. Papa Bento recolhe frutos importantes: encontra várias vezes o Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I e abre uma nova fase de relações com o Patriarcado Ortodoxo de Moscou. Altamente simbólica foi a visita a Erfurt, no convento agostiniano de Martinho Lutero, e o encontro em Londres com Rowan Williams, da Comunidade Anglicana.
Enfim, todas as 24 viagens internacionais de Bento XVI deixam um sinal: daquele comovente no Líbano, onde encontra os jovens sírios refugiados, àquele histórico em Nova Iorque, onde reza no Ground Zero e fala às Nações Unidas. De Camarões ao Brasil, da Austrália a Cuba, o Papa visita nos seus 8 anos de Pontificado todos os 5 “continentes geográficos”.
Em Auschwitz, como filho da Alemanha
Difícil escolher um momento em tantos, mas claramente a visita de um Papa, “filho da Alemanha” ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, tem um valor extraordinário:
“Papa João Paulo II veio aqui como filho do povo polonês. Eu estou aqui hoje como filho do povo alemão e, justamente por isso, devo e posso dizer como ele: não podia não vir aqui. Tinha que vir. Era e é um dever perante a verdade e ao direito de tantos que sofreram, um dever diante de Deus, de estar aqui como sucessor de João Paulo II e como filho do povo alemão.” (29 de maio de 2006)
“Colaborador da Verdade”, como diz o seu lema episcopal, Papa Bento é também testemunha de Caridade. Os cristãos perseguidos em tantos lugares do mundo encontram nele um baluarte seguro. É o primeiro Pontífice a falar de “cristianofobia” e a denunciar as violações da liberdade religiosa, como acontece no Paquistão com a lei da blasfêmia.
Através do Cor Unum está na linha de frente para ajudar as populações atingidas pelas guerras e desastres naturais. Emocionantes as suas visitas aos pobres, aos idosos, aos doentes na Itália e no exterior, em especial, aos pequenos pacientes do Hospital Bambino Gesù, de Roma, e ao Hospital Caritas Baby, de Belém.
No Brasil, vai encontrar os jovens toxicodependentes da Fazenda da Esperança. Na Jordânia, nos Estados Unidos e na Espanha visita os portadores de deficiência dos centros de assistência. Gestos que enaltecem como, aos olhos de Deus, cada pessoa seja única e preciosa.
Um magistério global, das Encíclicas ao Twitter
De outro lado, justamente ao amor cristão dedica a sua primeira Encíclica Deus Caritas est (2006). Seguem, então, Spe Salvi, sobre a esperança, eCaritas in Veritate (2009), sobre o desenvolvimento humano integral. Essa chegou a ser lida pelos operadores de Wall Street: em meio à crise econômica mundial que começou nos Estados Unidos, oferece a reflexão original da Igreja para colocar a pessoa no centro das dinâmicas econômicas:
“Não devemos esquecer… como lembravo na Encíclica Caritas in veritate, que também no campo da economia e das finanças há intenção, transparência e busca de bons resultados compatíveis e que nunca devem ser dissociados.” (10 de dezembro de 2011)
Além das três Encíclicas, o Papa publica também 4 Exortações Apostólicas pós-sinodais e 19 motu proprio, entre eles, o Summorum Pontificum, sobre a liturgia e a histórica carta dirigida aos católicos chineses, de 2007.
Inovador é o seu livro-entrevista “Luz do mundo”, em que oferece a sua visão a 360° sobre os desafios da Igreja, e a trilogia sobre Jesus de Nazaré – um best seller mundial, no qual Joseph Ratzinger oferece a sua pesquisa de crente sobre a figura histórica de Jesus.
Mas o surpreendente é, sobretudo, a convicção com a qual o teólogo Bento se encaminha pelas estradas da comunicação, inexploradas por um Papa. Em ocasião da JMJ, envia um sms ao jovens do mundo inteiro, se conecta via satélite com os austronautas de uma estação espacial e assina um editorial para o Financial Times.
Sobretuto encoraja a mídia católica e vaticana a evangelizar o “continente digital”. E dá o bom exemplo abrindo, em 2012, a conta no Twitter, @Pontifex:
“Hoje somos chamados a descobrir, também na cultura digital, símbolos e metáforas significativas para as pessoas que possam ser de ajuda ao falar do Reino de Deus ao homem contemporâneo.” (28 de fevereiro de 2011 – Discurso ao Pontifício Conselho das Comunicações Sociais)
A Igreja se comprometa com as famílias feridas, na esteira do Concílio
E, ao homem contemporâneo, Bento XVI não deixa de lembrar da sacralidade da vida, da beleza do matrimônio natural entre um homem e uma mulher, da urgência da liberdade educativa. Aqueles valores que não mudam com o tempo e, por isso, “não são negociáveis”.
A família é um dos temas que mais importa ao Papa que vê com particular atenção os casais feridos, de quem viveu o drama de uma separação. Significativas também, considerando o caminho sinodal sucessivo a pedido de Francisco, as palavras que Bento XVI pronuncia no Encontro Mundial das Famílias em Milão, em 2012:
“Parece-me uma grande tarefa de uma paróquia, de uma comunidade católica, a de fazer realmente o possível para que eles se sintam amados, aceitados, que não estão ‘fora’, mesmo se não podem receber a absolvição e a Eucaristia; devem saber que, assim mesmo, vivem plenamente na Igreja.” (3 de junho de 2012)
Uma igreja que Bento XVI serviu por toda a sua vida, desde jovem e brilhante teólogo até como Sucessor de Pedro, tendo sempre como “bússola” o Concílio Vaticano II que – e são palavras suas – “permite à Igreja de proceder em mar aberto”. (AG/AC)
Fonte: Vatican News