Cultura

O Papa: estar com Jesus e sair para anunciá-lo, este é o sentido da nossa vida





"Não nos esqueçamos de que "estar" com Jesus e "sair" para anunciá-lo é também estar com os pobres, com os migrantes, com os doentes, com os presos, com os mais pequenos e esquecidos da sociedade", disse Francisco aos membros da Comunidade do Pontifício Colégio Pio Latino Americano recebida em audiência, nesta segunda-feira.

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (28/11, na Sala Clementina, no Vaticano, cinquenta membros da Comunidade do Pontifício Colégio Pio Latino Americano.

Em seu discurso, o Pontífice sublinhou que o período transcorrido, em Roma, pelos membros do Pontifício Colégio Pio Latino Americano é um "tempo de graça", concedido pelo Senhor, para que possam "aprofundar sua formação, não apenas no âmbito intelectual, acadêmico, mas também para viver a riqueza e a diversidade de toda a Igreja, que caracterizam os nossos povos da América Latina", para "onde voltarão para continuar sendo pastores do rebanho que Deus lhes confiou".

Ser discípulos e missionários

"Os primeiros cristãos provinham de diferentes povos e culturas. Foi o Espírito Santo que, descendo sobre eles, os fez ter um só coração e uma só alma, falar a mesma língua, a língua do amor, e ser discípulos e missionários de Jesus até os confins da terra", disse ainda o Papa, recordando Santo André apóstolo, cuja festa celebramos na próxima quarta-feira, 30 de novembro. A seguir, o Papa se deteve nos dois termos: discípulos e missionários.

O Evangelho de João mostra "que André foi um dos primeiros discípulos de Jesus. Diante da sua inquietação por conhecer o Mestre e o seu convite: «Vinde ver», ele foi, viu onde morava e ficou com ele naquele dia". "Foi ali que sua vida mudou radicalmente", frisou o Papa, convidando a renovar "todos os dias o nosso encontro com o Senhor, partilhar a sua Palavra, ficar em silêncio diante Dele para ver o que nos diz. Que Jesus tenha voz ativa em cada uma de nossas decisões! Somos seus ministros, pertencemos a Ele e Ele nos chamou para 'estar com ele'. Isso é o que significa ser seus discípulos".

"O encontro de André com Jesus não o deixou tranquilo e de braços cruzados, mas o transformou, não era mais o mesmo de antes, só podia ir e anunciar o que tinha vivido", frisou o Papa, recordando que a primeira pessoa que André encontrou para anunciar, foi seu irmão, Simão Pedro: «Encontramos o Messias», e o levou até onde estava Jesus. "Assim, André 'estreou' como missionário", sublinhou Francisco, recordando que também nos esperam "os nossos irmãos e irmãs, especialmente os que ainda não experimentaram o amor e a misericórdia do Senhor, para que anunciemos a eles a Boa Nova de Jesus e os conduzamos a Ele. Sair, mover-se, levar a alegria do Evangelho, isto é, ser missionários".

Caminho de ida e volta

A seguir, o Papa disse que "Marcos em seu Evangelho resume o chamado de Jesus para ser discípulos e missionários. Ele chamou os apóstolos 'para estar com Ele e enviá-los a pregar'. Estar com Jesus e sair para anunciá-lo". Francisco sublinhou esses dois verbos: "estar" e "sair".

Este é o sentido da nossa vida. É um caminho de "ida e volta", que tem Jesus como ponto de partida e chegada. Não nos esqueçamos de que "estar" com Jesus e "sair" para anunciá-lo é também estar com os pobres, com os migrantes, com os doentes, com os presos, com os mais pequenos e esquecidos da sociedade, para partilhar com eles a vida e anunciar a eles o amor incondicional de Deus, pois Jesus está presente naqueles irmãos e irmãs mais vulneráveis, ali nos espera de modo especial.

Francisco convidou os membros da Comunidade do Pontifício Colégio Pio Latino Americano a não se esquecerem de voltar a Jesus, "todas as noites, depois de um longo dia, mas atenção", voltar "para Ele, não para a tela do celular". O Papa disse que fica muito triste quando vê "um sacerdote bom, trabalhador que se cansa e se esquece de ir ao sacrário, e vai dormir porque está cansado". "Ele tem razão, tem que dormir, mas primeiro saúda, certo? Não seja mal-educado", sublinhou Francisco. O Pontífice se entristece também quando um sacerdote procura refúgio no celular. "Por favor, não sejam viciados nesse mundo de fuga. Não se viciem. Existem vários passos que vão tirando a força. Sejam viciados no encontro com Jesus. Ele sabe do que precisamos e tem uma palavra a nos dizer em todas as ocasiões", sublinhou o Papa.

Não cair no clericalismo

A seguir, Francisco disse que "a pastoralidade" não deve ser negociada, e que eles devem ser "pastores do Povo de Deus, não clérigos de Estado".

Não caiam no clericalismo, que é uma das piores perversões. Prestem atenção! O clericalismo é uma forma de mundanidade espiritual. O clericalismo é deformador, é corrupto, e leva a uma corrupção, a uma corrupção engomada, de nariz empinado, que separa do povo e faz você esquecer o povo de onde veio.

Segundo o Papa, cada vez que isso acontece a pessoa "se distancia da graça de Deus e cai na praga do clericalismo". Portanto, ser "pastores do povo, não clérigos de Estado", pedindo "a graça de saber estar sempre na frente, no meio e atrás do povo, envolvido com o povo".

O Papa concluiu, pedindo a Nossa Senhora de Guadalupe para que nos ajude no caminho do "discipulado-apostolado", nesse itinerário vital de "ida e volta" que parte de Jesus e vai aos irmãos, voltando com os irmãos ao encontro de Jesus.

Mariangela Jaguraba 

 

- Papa aos jovens: encorajo a sonhar alto, sejam poetas da paz

“Qual é o sonho de vocês para o mundo de hoje e de amanhã? Encorajo vocês a sonhar alto, como João XXIII e Martin Luther King. Que cada um de vocês se torne um ‘poeta da paz!’. Palavras do Papa Francisco aos jovens que participam do projeto da Rede Nacional das Escolas da Paz recebidos nesta segunda-feira (28) no Vaticano

Na manhã desta segunda-feira (28) o Papa Francisco recebeu na Sala Paulo VI cerca de 6 mil jovens estudantes que participam do encontro pela educação à paz e ao cuidado, projeto realizado pela Rede Nacional das Escolas da Paz. O programa de atividades de formação, será concluído em maio de 2023 com a participação de todos na Marcha Perugia-Assis para a apresentação de resultados e propostas. Recordando que o programa educacional "Pela Paz, pelo Cuidado" quer responder ao chamado do Pacto Educacional Global, dirigido três anos atrás a todos os que trabalham no campo da educação, o Papa exortou afirmando que estava “encantado ao ver que não só as escolas, universidades e organizações católicas estão respondendo a este chamado, mas também as instituições públicas, leigas e de outras religiões”.

O samaritano é um modelo

“Para que haja paz, como diz seu lema tão apropriadamente, é preciso ‘cuidar'. A paz sempre nos diz respeito! Como sempre nos diz respeito o outro, o irmão e a irmã, e devemos cuidar dele e dela”

Explicando que, “um modelo por excelência de cuidado é aquele samaritano do Evangelho, que socorreu um estranho que encontrou ferido ao longo da estrada. O samaritano não sabia se o infeliz era uma boa pessoa ou má, se era rico ou pobre, educado ou não, judeu, samaritano como ele ou estrangeiro; ele não sabia se aquele infortúnio 'tinha sido provocado' ou não. O samaritano não se fez muitas perguntas, ele seguiu a sua compaixão".

Dois exemplos de testemunhas

Em seguida Francisco disse que mesmo em nosso tempo, podemos encontrar valiosos testemunhos de pessoas ou instituições que trabalham pela paz e pelo cuidado com os necessitados. Como primeiro exemplo cita São João XXIII. “Ele foi chamado de ‘o Papa bom’”, disse Francisco, “e também de o ‘Papa da paz’, porque naquele difícil início dos anos 60 marcados por fortes tensões - a construção do Muro de Berlim, a crise de Cuba, a Guerra Fria e a ameaça nuclear - ele publicou a famosa e profética Encíclica Pacem in Terris. O próximo ano fará 60 anos, e é muito atual!"

“O Papa João se dirigiu a todos os homens de boa vontade, pedindo a solução pacífica de todas as guerras através do diálogo e do desarmamento”

Em seguida convidou todos os jovens a ler e estudar a Pacem in Terris, e a seguir este caminho para defender e difundir a paz. Ao mencionar o segundo “exemplo” aos jovens o Papa disse: “Alguns meses após a publicação dessa encíclica, outro profeta de nosso tempo, Martin Luther King, Prêmio Nobel da Paz em 1964, proferiu o discurso histórico no qual disse: 'Eu tenho um sonho'. Em um contexto americano fortemente marcado pela discriminação racial, ele fizera todos sonharem com a ideia de um mundo de justiça, liberdade e igualdade. Afirmando: 'Tenho um sonho: que meus quatro filhos pequenos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pela dignidade de sua pessoa'".

Sonhar alto

“E vocês, jovens: qual é o sonho de vocês para o mundo de hoje e de amanhã?”, é o desafio que o Papa lança aos jovens continuando:

“Encorajo todos vocês a sonhar alto, como João XXIII e Martin Luther King”

"E é por isso que os convido a participar, no próximo ano, do Dia Mundial da Juventude, em Lisboa em 2023. Aqueles de vocês que puderem vir, se encontrarão com tantos outros jovens de todo o mundo, todos unidos pelo sonho da fraternidade baseada na fé em Deus que é a Paz, o Pai de Jesus Cristo e nosso Pai. E se vocês não puderem vir fisicamente, convido a todos de qualquer forma a seguir e participar, porque agora, com os meios de hoje, isto é possível.

Poeta da paz

Por fim, depois de desejar um bom caminho no tempo do Advento, caminho feito de muitos pequenos gestos de paz, todos os dias: gestos de acolhimento, de encontro, de compreensão, de proximidade, de perdão, de serviço o Papa citou um poeta. "O poeta Borges [diz: Um poeta] termina, ou melhor, não termina um de seus poemas com estas palavras: 'Quero agradecer... por Whitman e Francisco de Assis que já escreveram este poema, pelo fato de que este poema é inesgotável e se mistura com a soma das criaturas e nunca chegará ao último verso e mudará de acordo com os homens'. Espero que vocês também aceitem o convite do poeta para continuar seu poema, cada um acrescentando aquilo pelo qual quer agradecer. Que cada um de vocês se torne um 'poeta da paz'!".

Jane Nogara

 

Papa Francisco concede entrevista à revista America Magazine

Francisco: “O catolicismo une o bom e o não tão bom. O povo de Deus é um só. Quando há polarização, entra uma mentalidade divisória, que privilegia uns e deixa de fora outros. O catolicismo está sempre em harmonia com as diferenças”.

O Papa Francisco concedeu uma entrevista à revista America Magazine, publicada nesta segunda-feira, 28 de novembro. Fundada pelos jesuítas em 1909, esta é primeira oportunidade da revista de poder falar face a face com o Papa. Já na introdução das perguntas uma constatação, que surpreende os leitores: o Papa sempre aparece alegre, feliz, mesmo no meio de crises e problemas. O que o faz tão feliz, tão sereno e alegre em seu ministério?

Francisco respondeu que não sabia que ele era sempre assim, acrescentando que quando está com as pessoas, está sempre feliz. Disse ainda que uma das coisas que para ele é difícil como Papa é não poder andar na rua, com as pessoas, porque ele não pode sair, é impossível andar na rua. Mas não vou dizer que estou feliz porque estou com a saúde boa – continuou -, ou porque me alimento bem, ou porque durmo bem, ou porque rezo muito. Estou feliz porque me sinto feliz, Deus me faz feliz, disse Francisco, acrescentando que confessa a cada 15 dias.

Falando em seguida sobre o reducionismo simplista que divide a realidade entre bons e maus, um tema que o Papa abordou no discurso ao Congresso dos EUA, há sete anos, afirmou que a polarização não é católica. Um católico não pode pensar de forma aut-aut e reduzi-lo tudo à polarização. A essência do católico é et-et. O catolicismo une o bom e o não tão bom. O povo de Deus é um só. Quando há polarização, entra uma mentalidade divisória, que privilegia uns e deixa de fora outros. O catolicismo está sempre em harmonia com as diferenças. Se observarmos como o Espírito Santo age, primeiro Ele faz desordem: pense na manhã de Pentecostes, a bagunça que foi feita ali. E então Ele traz a harmonia. O Espírito Santo na Igreja não reduz tudo a um único valor, mas faz a harmonia a partir das diferenças dos opostos. E esse é o espírito católico. Quanto mais polarização, mais você perde o espírito do catolicismo e cai em espíritos sectários.

Respondendo a uma perguntam sobre uma pesquisa feita em 2021 em quem os católicos confiavam como seus líderes na fé e na moral. Dos grupos que foram citados, a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos chegou em último lugar: apenas 20% dos católicos a consideraram "muito confiável". Os católicos classificaram melhor seus bispos locais: 29% os descreveram como "muito dignos de confiança".

Francisco disse que a pergunta é boa porque fala sobre os bispos, acrescentando que é enganoso fazer a conexão entre os católicos e a Conferência Episcopal. A Conferência Episcopal não é o pastor, o pastor é o bispo. Portanto, corre-se o risco de diminuir a autoridade do bispo quando se olha para uma Conferência Episcopal. A Conferência Episcopal é para unir os bispos, para trabalhar juntos, para discutir questões, para fazer planos pastorais. Mas cada bispo é o pastor. Não liquidifiquemos o poder episcopal, reduzindo-o ao poder da Conferência Episcopal. Porque é aí que as tendências lutam, mais de direita, mais de esquerda, mais daqui, mais de lá, e de alguma forma não há responsabilidade de carne e osso como a de seu bispo com seu povo, pastor, com seu povo. Franciso observou que Jesus não criou a conferência dos bispos, Jesus criou os bispos e cada bispo é o pastor de seu povo.

Outro tema tratado na conversa com America Magazine é a questão do aborto, um assunto muito politizado nos Estados Unidos. Francisco destacou que em qualquer livro de embriologia diz-se que um pouco antes do mês de concepção os órgãos do pequeno feto e o DNA já estão delineados. Antes mesmo que a mãe se dê conta disso. Portanto, é um ser humano vivo. Eu não digo uma pessoa, porque se discute sobre isso, mas um ser humano, afirmou o Papa, que fez duas perguntas: é justo eliminar um ser humano para resolver um problema? Segunda pergunta: é justo contratar um pistoleiro para resolver um problema? O problema é quando esta realidade de matar um ser humano se torna um problema político. Ou quando um pastor da igreja entra em uma categorização política. Sempre que um problema perde a pastoralidade – disse ainda Francisco -, esse problema se torna um problema político. E se torna mais político do que pastoral. Em outras palavras, que ninguém se aproprie desta verdade que é universal. Não pertence a uma ou outra parte. É universal. Quando vejo que um problema como este, que é um crime, adquire uma forte intensidade política, digo, há uma falta de cuidado pastoral na forma como abordamos este problema. Neste problema do aborto como em outros problemas, não devemos perder de vista o cuidado pastoral: um bispo é um pastor, uma diocese é o povo santo e fiel de Deus com seu pastor. Não podemos tratá-lo como se fosse uma questão civil.

Outro assunto tocado na entrevista é a questão dos abusos sexuais perpetrados por clérigos e que causou enormes danos à credibilidade da Igreja e ao seu esforço de evangelização.

O problema do abuso sexual é muito grave na sociedade, afirmou o Papa recordando que quando teve uma reunião com os presidentes das Conferências Episcopais há dois anos e meio, pediu estatísticas oficiais e 42-46% dos abusos ocorrem na família ou no bairro. Depois disso, no mundo do esporte, no mundo da educação e 3%, os padres católicos. Poder-se-ia dizer: "isso é bom, somos poucos". Não, se houvesse apenas um, é monstruoso. Uma das coisas mais monstruosas é o abuso de menores. O costume era aquele que ainda é usado nas famílias ou em algumas outras instituições: encobrir. A igreja fez uma escolha: não encobrir. E a partir daí, o progresso foi feito através de processos judiciais, através da criação da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores. O grande é o Cardeal O'Malley, de Boston, que teve a mentalidade de institucionalizar isto dentro da Igreja.

Quando as pessoas honestas veem como a Igreja cuida dessa monstruosidade, elas veem que uma coisa é a Igreja e outra são os agressores que estão dentro da Igreja e que são punidos pela própria Igreja. O grande responsável por tomar estas decisões foi Bento XVI. Uma das coisas que mais me preocupa é a pedo-pornografia: que é filmada ao vivo: em que país é filmada? O que as autoridades desse país fazem que permite isso? É criminoso, criminoso, sublinhou.

Papa com os jornalistas da revista "America Magazine"

Papa com os jornalistas da revista "America Magazine"

A entrevista prossegue com perguntas sobre a Ucrânia, o racismo, o lugar da mulher na Igreja, sobre o comunismo e sobre a China.

Quanto à Ucrânia, o Pontífice respondeu o motivo pelo qual não pronuncia o nome de Putin: “Quando falo da Ucrânia, falo do povo mártir, de um povo martirizado. Se há um povo martirizado, há alguém que o martiriza. Quando falo da Ucrânia, falo da crueldade, porque tenho muita informação da crueldade das tropas. (...) Certamente quem invade é o Estado russo. Isso é claro. Às vezes busco não especificar para não ofender e condenar de modo geral, mesmo que se sabe quem estou condenando. Não é necessário dar nome e sobrenome”.

Francisco mencionou todo o trabalho diplomático que a Santa Sé vem fazendo dentro e fora do Vaticano, através de telefonemas e visitas de seus cardeais à Ucrânia: “A postura da Santa Sé é buscar a paz e buscar o entendimento. E a diplomacia da Santa Sé está se movendo nesta direção e está sempre disposta a uma mediação”.

O Papa também é questionado sobre o que diria aos afroamericanos que sofrem racismo e o escasso empenho que a Igreja nos Estados Unidos está demonstrando neste quesito: “Diria que estou próximo ao sofrimento que estão vivendo, que é um sofrimento racial. E aí quem de alguma maneira deveriam se aproximar mais são os bispos locais. A Igreja tem bispos descendentes de afroamericanos. (...) Porém diria aos católicos afroamericanos que o Papa está consciente de seu sofrimento, que lhes quero bem e que resistam, que não vão embora. O racismo é um pecado contra Deus, intolerável”.

Outro tema citado é o das mulheres e o motivo pelo qual não podem ser ordenadas. Francisco responde que se trata de um “problema teológico”. “Creio que amputamos o ser da Igreja se considerarmos somente a via da ministerialidade. O caminho não é a ministerialidade. (...) A Igreja é mais do que um ministério, é todo o povo de Deus. A Igreja é mulher. A Igreja é esposa”.

O Papa explica que há três princípios: o princípio petrino, que é a ministeriaidade. O princípio mariano, que é o do esponsalício da Igreja (“é mariano porque Maria é superior a Pedro e marca toda esta linha mística da Igreja mulher”). E o princípio administrativo, onde a Igreja já está engajada com mudanças, como vem promovendo na cúpula do Vaticano.

“Por que uma mulher não pode entrar nos ministérios, na ordenação? Porque o princípio petrino não previa isso. Sim, é preciso estar no princípio mariano, que é o mais importante. A mulher é mais, se assemelha mais à Igreja, que é mulher e que é esposa.”

Francisco respondeu ainda a quem o acusa de socialista, comunista e marxista: “Eu procuro seguir o Evangelho. Iluminam-me muito as bem-aventuranças, mas sobretudo o protocolo sobre o qual seremos julgados: Mateus 25. Tive sede e me destes de beber, estive preso e me visitastes, estive doente e cuidastes de mim. Jesus então era comunista? O problema que está por detrás disto é o reducionismo sociopolítico da mensagem evangélica. Atrás dessas bem-aventuranças e de Mateus 25 tem uma mensagem que é própria de Jesus. E isto é ser cristão. Os comunistas roubaram de nós alguns valores cristãos (risadas). Alguns outros, é um desastre o que estão fazendo”.

Quanto à China e o “silêncio” sobre os direitos humanos, Francisco respondeu que o problema não é silenciar, mas sim dialogar. “Com a China eu optei pelo caminho do diálogo. É lento, tem seus fracassos, tem seus êxitos, porém não encontro outro caminho. (...) O diálogo sempre abre portas. Sempre.”

A entrevista se encerra com uma pergunta sobre seus 10 anos de pontificado e o que teria feito de maneira diferente ou se há coisas de que se arrepende. A resposta começou em inglês: “All, all (tudo, tudo). Tudo diferente. Porém fiz o que o Espírito Santo ia me dizendo que tinha que fazer. E quando não o fiz, me equivoquei”.

Silvonei José, Bianca Fraccalvieri

Fonte:  Vatican News