Cultura

Papa: o modo que tratamos o corpo da mulher revela nosso nível de humanidade





Um vídeo especial produzido pelo Vatican News repropõe a reflexão feita por Francisco durante homilia de 1° de janeiro de 2020, Dia da Paz e Solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus. Palavras contundentes que ganham força neste dia dedicado à eliminação da violência contra as mulheres.

"O renascimento da humanidade começou pela mulher. As mulheres são fontes de vida; e, no entanto, são continuamente ofendidas, espancadas, violentadas, induzidas a se prostituir e a suprimir a vida que trazem no seio. Toda a violência infligida à mulher é profanação de Deus, nascido de uma mulher."

“Pelo modo como tratamos o corpo da mulher, vê-se o nosso nível de humanidade.”

Olhar com o coração é ver o irmão além de suas fragilidades

Assim o Papa Francisco, na missa pela Solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus, e Dia Mundial da Paz,  de 1° de janeiro de 2020, convidou a nos aproximarmos de Nossa Senhora, mãe e mulher, que teceu a humanidade de Deus: "se quisermos tecer de humanidade a trama dos nossos dias, devemos recomeçar da mulher", acrescentou ainda o Pontífice em homilia. Palavras contundentes ao recordar das mulheres violentadas que ganham força neste 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, instituído pela ONU.

A campanha brasileira "Una-se"

Em uma ação dentro dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas – uma iniciativa internacional encabeçada pelo secretário-geral das Nações Unidas desde 2008 – a ONU Brasil começou no último domingo (20), Dia da Consciência Negra, a campanha “Una-se! O Brasil das Mulheres". Até o dia 10 de dezembro, as agências que fazem parte da ONU Brasil mobilizarão governos, parlamentos, sistema de justiça, empresas e sociedade civil para debater e construir "o Brasil das mulheres", um país que seja diverso, justo e seguro, onde todas as mulheres e meninas possam viver suas vidas livres de violência e de discriminação.

“A violência contra as mulheres e as meninas é uma grave violação de direitos humanos. Precisamos escutar e fazer ecoar as vozes das mulheres defensoras de direitos humanos, que têm trabalhado arduamente, em todos os lugares, para que todas as mulheres e meninas vivam suas vidas livres de violência", afirma a coordenadora residente das Nações Unidas no Brasil, Silvia Rucks.

Enfrentamento e prevenção: Lei Maria da Penha

Entre os mecanismos de enfrentamento e prevenção à violência que devem ser celebrados através da campanha, destaca-se a Lei Maria da Penha, a mais importante legislação sobre violência contra mulheres no país. A Lei Maria da Penha é um dos maiores exemplos do esforço coletivo de feministas e defensoras de direitos humanos e trouxe inúmeros avanços no país.

Outro exemplo importante é a decisão do Supremo Tribunal Federal de 2019, que prevê maior proteção a mulheres lésbicas, bissexuais, trans e travestis contra discriminação com base em orientação sexual e identidade de gênero, por analogia ao crime de racismo. De grande importância é também a decisão do STF de 2022, que estabeleceu jurisprudência para a aplicação da Lei Maria da Penha para mulheres trans e travestis.

Apesar dos avanços, ainda existem lacunas na proteção integral de direitos humanos de todas as mulheres e meninas no Brasil. As leis existentes não abarcam contextos de violência contra mulheres no ambiente de trabalho, nos meios de comunicação, contra as ativistas que defendem direitos humanos, em contextos de deslocamento, sejam eles forçados ou voluntários, ou nos casos de violência perpetrada por atores estatais.

"A violência contra mulheres e meninas não afeta todas elas da mesma forma. Por isso, precisamos de soluções e iniciativas específicas para que possamos construir esse Brasil das mulheres, que seja realmente de todas as mulheres e meninas", completa Silvia Rucks.

 

- Francisco nomeia duas mulheres para a cúpula vaticana

 

O Papa nomeou Raffaella Giuliani secretária da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra e Antonella Sciarrone Alibrandi subsecretária do Dicastério para a Cultura e a Educação.

 

Aumenta o número de mulheres em cargos de responsabilidade na Cúria Romana e em órgãos relacionados. As nomeações papais, desta sexta-feira (25/11), colocam em primeiro plano as figuras femininas. Trata-se da dra. Raffaella Giuliani nomeada secretária da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, e a professora Antonella Sciarrone Alibrandi nomeada subsecretária do Dicastério para a Cultura e a Educação.

 

Raffaella Giuliani é romana, casada e autora de muitos textos sobre as catacumbas. Em 16 de setembro passado, o Papa a nomeou "Magister" da Pontifícia Academia Cultorum Martyrum.

 

Antonella Sciarrone Alibrandi nasceu é milanesa e professora de Direito Econômico na Faculdade de Ciências Bancárias, Financeiras e de Seguros da Universidade Católica do Sagrado Coração, em Milão. É presidente da Associação de Professores de Direito Econômico e membro de várias entidades como a Associação Europeia para o Direito Bancário e Financeiro.

 

O Papa nomeou presidente da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, o mons. Pasquale Iacobone, e secretário da Pontifícia Academia de Santo Tomás de Aquino, o professor Luca Tuninetti, decano da Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Urbaniana.

 

- O Papa: vivemos um cenário sombrio que requer uma obra reparadora

Francisco enviou ao Festival de Doutrina Social da Igreja, em Verona, uma mensagem de apoio, convidando a promover uma cultura do encontro e da confiança, que é o caminho "para sair da lógica da guerra que vê no outro o inimigo, a ameaça, o usurpador".

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes da 12ª Edição do Festival de Doutrina Social da Igreja que teve início, nesta quinta-feira (24/11), na cidade italiana de Verona. Confiança e paixão: este é o "sinal duplo" que Francisco nos convida a seguir num percurso que ele define como "mais necessário do que nunca".

A importância de "construir" em tempos de conflito

O bem comum não é uma mera possibilidade, mas "o cimento sobre o qual construir uma sociedade justa, verdadeira e bonita". O Papa o recorda nesse texto em que acolhe a escolha do tema deste ano: “Construir a confiança. A paixão do encontro". Em seguida, o pensamento se volta para a atual conjuntura histórica, minada pela escuridão que resulta dos efeitos nefastos das guerras.

Vivemos numa época de grandes conflitos que parecem negar essa atitude de confiança nos outros, sustentada por um sentimento de segurança e tranquilidade. Pensemos nos muitos conflitos em andamento no mundo - estamos na terceira guerra mundial! - e na pobreza resultante, no sofrimento, nas vítimas inocentes, no futuro negado às crianças... Um cenário sombrio, que exige uma intervenção decisiva com uma obra reparadora. Neste sentido, o verbo que vocês escolheram, construir, é muito apropriado, ressalta o Papa. 

E aqui volta a metáfora dos artesãos, construtores de paz, beleza e confiança.

A confiança não pode existir sem o outro

A seguir, Francisco ressalta que não se pode transcurar a planificação e confiar no acaso.

A planificação representa a capacidade de colocar ordem nas ideias, nas iniciativas, nos impulsos apaixonados, respeitando o tempo para que tudo se realize e os tempos de cada pessoa. Somente assim a construção realizada poderá resistir às tempestades da história. E o sinal da confiança será a indicação necessária para manter toda a estrutura firme.

O Papa cita as palavras do profeta Jeremias que, diz, “indica aquele além que permite não permanecer escravos de interesses partidários e ter uma perspectiva que supera limites e contradições”. Depois, se pergunta em quem o homem de hoje confia.

O encontro deve se tornar nosso maior desejo

O encontro é a base da confiança e a paixão é aquela "centelha que aquece os corações e faz abrir os braços ao outro", insiste o Papa, recordando a solicitação, contida na Fratelli tutti, a ir além de si mesmos.

Esta é a dimensão que nos permite transformar o egoísmo em fraternidade, a indiferença em paixão, as espadas em arados e as lanças em foices. Esta é a estrada para sair da lógica da guerra que vê no outro o inimigo, a ameaça, o usurpador, e para traçar possíveis caminhos de paz, sublinha ainda Francisco.

O Papa conclui sua mensagem, convidando a "promover e alimentar", cada um em seu âmbito, esse tipo de cultura, seguindo o exemplo do pe. Adriano Vincenti que, "com paixão", projetou o Festival atual.

 

Fonte: Andressa Collet - Vatican News