Um obrigado pelo compromisso de estar "com a África", que "não deve ser explorada, deve ser promovida" e um convite para seguir pioneiros corajosos como a freira idosa que o Papa conheceu na República Centro-Africana em 2015 e que ainda, no Congo, faz o parto de bebês como parteira; e para valorizar o "capital intelectual" dos jovens africanos que querem viver "um futuro como protagonistas" em seus países de origem. É um discurso apaixonado, uma expressão do seu amor pelo continente africano no qual anunciou que vai viajar ao Sudão do Sul no início de 2023, aquele que Francisco dirige a mais de 7 mil médicos e voluntários do Cuamm. Recebidos na Sala Paulo VI na manhã deste sábado (19) pelo aniversário de 70 anos, que caiu no auge da pandemia, da comunidade missionária fundada na cidade italiana de Pádua como um "colégio para receber jovens estudantes africanos de medicina".
Após a saudação do bispo da cidade do Vêneto, dom Claudio Cipolla, o Papa ressaltou que a dos Médicos com a África - Cuamm é "a melhor atitude"...
Porque há na imaginação, no inconsciente coletivo, essa atitude feia: a África é para ser explorada. E contra isso, o "não, estar com a África" de vocês. Assim, estar com a África é ser pela África.
É assim que Francisco define o de Cuamm, hoje liderado por Dante Carraro, "um caminho de partilha e serviço" que desde 1950 "atravessou quase todo o continente africano para levar assistência médica, sempre com vistas ao desenvolvimento e favorecendo a formação do pessoal local". E enfatiza a necessidade de ajudar a desenvolver o valioso "capital intelectual" do continente.
Há um mês, mais ou menos, tive um encontro com estudantes universitários de toda a África, via zoom. Fiquei surpreso com a capacidade intelectual desses jovens, homens e mulheres. Por favor, que não se percam; ajudem-nos a progredir, a avançar porque a África não deve ser explorada, deve ser promovida.
O Pontífice lembra que o primeiro compromisso dos Médicos com a África é dar aos nossos irmãos necessitados "o pão cotidiano", como pedimos a Deus no "Pai Nosso". E esse "pão" também é saúde.
A saúde é um bem primordial, como o pão, como a água, como a casa, como o trabalho. Vocês se comprometem para que não falte o pão cotidiano para tantos irmãos e irmãs que hoje, no século XXI, não têm acesso aos cuidados de saúde normais e básicos. É vergonhoso: a humanidade não é capaz de resolver isso, mas é capaz de levar adiante a indústria de armas que destrói tudo. Bilhões são gastos em armas, ou outros enormes recursos são queimados na indústria da efêmera e da evasão.
Infelizmente no mundo, comenta o Papa Francisco, "muitos homens e mulheres recebem apenas as migalhas" deste pão, porque nasceram em certos lugares do mundo. E ele pensa "em tantas mães, que não podem ter um parto seguro e às vezes perdem suas vidas; ou em tantas crianças, que morrem já na primeira infância".
O Papa, então, recorda países africanos "particularmente queridos", como a República Centro-Africana, onde foi em 2015 para abrir a Porta Santa, em Bangui, e o Sudão do Sul "onde, se Deus quiser, eu irei no início do próximo ano". Países que são "muito pobres e frágeis, que o mundo considera importantes apenas para os recursos a serem explorados e que o Senhor, em vez disso, considera como seus amados, nos quais Ele vos envia para serdes bons samaritanos, testemunhas do seu Evangelho".
Não tenham medo de enfrentar desafios difíceis, de intervir em lugares remotos marcados pela violência, onde as populações não têm a possibilidade de se curar. Estejam com eles! Se levar anos de trabalho, se houver decepções e fracassos para alcançar resultados, não se desanimem. Perseverem com serviço persistente e diálogo aberto a todos como ferramentas para a paz e a resolução de conflitos.
O Papa então enfatiza que o estar com a África do Cuamm é também "colaboração com as Igrejas locais e com as instituições dos países onde atua, sempre com o objetivo de compartilhar e promover o povo da África", e o encoraja "a continuar trabalhando junto às congregações religiosas missionárias, generosamente engajadas no setor da saúde na África". Unindo forças e "apoiando a inovação social inspirada no Evangelho, explorando também novas formas de financiamento de serviços de saúde para os mais pobres".
Olhando para a pandemia de Covid, "a guerra e a grave crise internacional" que estão colocando todos sob tensão, Francisco também lembra as condições de seca, vistas no Quênia, que também se torna "uma tragédia mental". Dramas que na África têm "consequências dramáticas" porque "as populações já são muito pobres e há uma falta de sistemas de proteção social".
A África está retrocedendo e a pobreza está piorando. Os preços dos alimentos estão subindo em todos os lugares, levando à fome e à desnutrição; o transporte médico está bloqueado devido ao custo excessivo do combustível; medicamentos e suprimentos médicos estão em falta em todos os lugares. É uma "guerra" oculta, que ninguém fala e parece não existir, e que em vez disso tem um impacto mais severo, especialmente sobre os mais pobres.
O Pontífice pede, portanto, que o Senhor, ajude a África e aqueles que trabalham para os africanos, a atravessar esta "noite" com coragem, olhando para "aqueles pequenos rebentos de esperança que já vislumbramos e dos quais vocês mesmos são testemunhas".
Agradeço vocês por serem uma voz do que a África está vivendo; por trazer à tona os sofrimentos escondidos e silenciosos dos pobres que encontram em seu compromisso diário. E peço-lhes que continuem a dar voz à África, ao que não se vê, às suas lutas e esperanças, para agitar a consciência de um mundo às vezes focalizado demais em si mesmo e pouco no outro. O Senhor ouve o grito do seu povo oprimido e nos pede para sermos artesãos de um novo futuro, humildes e tenazes, com os mais pobres.
Finalmente, o convite para ter "atenção especial aos jovens" da África: para favorecer o emprego, pois eles estão ansiosos para "viver o próprio futuro como protagonistas sobretudo em seus países de origem". E o Papa Francisco recorda novamente a emoção do encontro via zoom com os jovens africanos, sua "inteligência e inquietação".
Ajudem-nos a avançar: são um tesouro, são muito inteligentes, mas não os deixe sentir que seus projetos não podem ir adiante por causa das condições geográficas, sociais, econômicas que os bloqueiam - ou culturais, aliás.
As novas gerações, ele continua, podem criar "novas pontes entre a Itália e a África". E isto acontece "quando os jovens se encontram, confrontam-se e se abrem para o mundo sem medos e sem preconceitos".
Vocês podem envolver as universidades nesta aventura, de modo que os cursos de formação, pesquisa e inovação previstos para jovens italianos também sejam dirigidos à juventude africana. É nesse intercâmbio que se constrói líderes capazes de orientar os processos de desenvolvimento humano integral.
O Papa conclui com a imagem do encontro em Bangui, em 2015, com a freirinha há mais de 50 anos na África, na República Democrática do Congo, que como parteira fez mais de 2 mil partos, e adotou legalmente uma órfã - como uma "freira corajosa".
Ela ainda vive, ainda vive, lá na República Democrática do Congo, ainda com a canoa todos os sábados, vai às compras em Bangui e retorna. Ela continua a ser parteira. Uma vida escondida para dar vida. Eu só quero deixar esta fotografia. Pensemos nos muitos e muitas que, como esta freira, passaram suas vidas na África para ajudar a criar os africanos. Sigam em frente, sejam corajosos com esses pioneiros que temos diante de nós.
Alessandro Di Bussolo
- Papa a Catholicos Mar Awa III: juntos por uma data comum para a Páscoa
"Não um estrangeiro nem um hóspede, mas um concidadão". De fato, "um irmão amado". O Papa Francisco pronuncia essas palavras ao encontrar Sua Santidade Mar Awa III, Catholicos e Patriarca da Igreja Assíria do Oriente. O Pontífice expressa sua gratidão "pelos laços tecidos nas últimas décadas" e recorda "o caloroso abraço em Erbil" com o Catholicos Mar Gewargis III, durante a viagem ao Iraque, no final da celebração eucarística. Em particular, Francisco agradece a Sua Santidade Mar Awa III "por ter dado voz ao desejo de encontrar uma data comum para os cristãos celebrarem a Páscoa":
E sobre isso eu gostaria de dizer - reiterar - o que São Paulo VI disse em seu tempo: nós estamos prontos para aceitar qualquer proposta, mas façam ela todos juntos. O 2025 é uma data importante: celebramos o aniversário do primeiro Concílio, mas é também uma data importante porque nesse ano celebraremos a Páscoa na mesma data. Mas, temos a coragem de acabar com esta divisão, que às vezes nos faz rir... "O seu Cristo quando ressuscita? O seu Cristo quando ressuscita?" Não. O sinal é um só Cristo para todos nós: somos corajosos e buscamos juntos. Eu estou disposto - mas, eu não, a Igreja Católica está disposta a seguir o que São Paulo VI disse. Entrem de acordo e nós vamos lá.
Francisco lembra então que, infelizmente, o Oriente Médio "ainda está ferido por tanta violência, tanta instabilidade e insegurança".
E muitos de nossos irmãos e irmãs na fé tiveram que deixar as suas terras. Muitos estão lutando para permanecer lá e eu renovo, com Vossa Santidade, o apelo para que gozem dos seus direitos, especialmente a liberdade religiosa e a plena cidadania. Nesse contexto, o clero e os fiéis das nossas Igrejas procuram oferecer um testemunho comum do Evangelho de Cristo em condições difíceis, e já experimentam uma comunhão quase completa em muitos lugares.
O Papa também se detém no caminho ecumênico: é "importante que nos aproximemos cada vez mais, não apenas retornando às nossas raízes comuns, mas também proclamando juntos ao mundo de hoje com o testemunho da vida e com palavras de vida, o mistério do amor de Cristo e da sua noiva, a Igreja". Então, Francisco também expressa um sonho:
Que a separação com a amada Igreja Assíria do Oriente, a primeira duradoura na história da Igreja, possa também ser - se Deus quiser - a primeira a ser resolvida.
A Igreja Assíria do Oriente é uma Igreja antiga. Os Atos dos Apóstolos relatam que "Partos, Medos, Elamitas e habitantes da Mesopotâmia" estavam presentes perto do Cenáculo no dia de Pentecostes. Eles foram os primeiros cristãos da Pérsia, onde, segundo a tradição, o apóstolo São Tomé e seus discípulos Addai e Mari pregaram mais tarde.
Em sua história de séculos, a Igreja Assíria do Oriente amadureceu, num contexto cultural predominantemente semítico e siríaco muito próximo das primeiras comunidades apostólicas, uma tradição original teológica e espiritual. No início da Idade Média, a Igreja Assíria do Oriente desenvolveu um extraordinário dinamismo missionário seguindo as várias rotas da seda através da Ásia Central, Índia e até mesmo da China. Tem o mesmo patrimônio teológico e litúrgico da Igreja caldeia e da Igreja sírio-malabar na Índia, ambas entrando em comunhão com a Igreja de Roma no século XVI. Desde suas origens, a história da Igreja Assíria do Oriente tem sido tragicamente marcada pela perseguição. Páginas dramáticas entrelaçadas com os períodos do Império Persa, depois do Império Mongol, e finalmente do Império Otomano.
Amedeo Lomonaco
- O Papa chegou no Piemonte e já está em família
O Piemonte abraça o Papa que, por um dia, reserva todo o tempo aos afetos familiares, em particular, com uma visita a sua prima Carla Rabezzana, que há poucos dias completou 90 anos e mora na localidade de Portacomaro, na região italiana do Piemonte. Ela acolheu o primo Jorge em frente ao apartamento e se acomodaram à mesa para o almoço deste sábado (19). Durante a tarde, depois de uma parada na casa de repouso local, a visita a outra prima, Delia Gai, que mora com outros parentes na pequena localidade de Tigliole, sempre em caráter privado.
Francesco chegou de helicóptero ao campo esportivo de Portacomaro Stazione, na província de Asti, pouco antes do meio-dia. Ele foi recebido pelo pároco da comunidade, Padre Luigino Trinchero. Depois de uma breve parada na igreja local, onde o Pontífice se deteve em oração na paróquia Bem-Aventurada Virgem dos Anjos - a paróquia dos seus avós - saudou centenas de pessoas que lotaram a estrada enquanto o Papa se dirigia de carro até a sua família. Eles acabaram participando dos primeiros momentos de uma visita estritamente privada neste sábado (19), que será seguida neste domingo (20) pelo primeiro momento público no Piemonte, com missa presidida na catedral de Asti. A celebração eucarística começa às 11h, hora local, 7h no horário de Brasília, com transmissão ao vivo do Vatican News, com comentários em português.
Fonte: Vatican News