Cultura

Papa aos formadores da AL: tenham proximidade, ternura, oração





O discurso improvisado de Francisco aos participantes do curso para Reitores e Formadores de Seminários da América Latina: "Proximidade, ternura e misericórdia, as três características do sacerdote". A recomendação de "discernir bem" durante a formação: "Se um formador não tem a capacidade de discernir, deveria dizer ao bispo 'mande-me para outro lugar'".

Proximidade, porque é triste ter padres "à frente de uma paróquia que gritam em alta voz" ou "que simplesmente vivem de três ou quatro coisas ou não sabem dialogar". Ternura, porque é feio ver sacerdotes “incapazes de acariciar uma criança, de beijar um idoso” ou que são “rígidos” para com quem vem pedir perdão na confissão. E sobretudo oração, porque “um sacerdote que não reza acaba no aterro”.

No discurso improvisado dirigido na quinta-feira, 10, mas divulgado hoje, aos reitores e formadores de seminários na América Latina, o Papa Francisco traça o retrato do bom sacerdote, aquele que é capaz de "proximidade, misericórdia e ternura", destacando também limites, perigos e eventuais tentações.

Depois de ter deixado de lado o discurso escrito de 12 páginas, entregando-o de qualquer forma aos presentes ("É uma coisa pesada, deixemos para lê-lo com calma"), o Papa, falando o tempo todo em espanhol, diz querer compartilhar "três ou quatro coisas que tenho no coração para a sua vida sacerdotal, especialmente para a vida dos formadores no seminário”.

Capazes de ternura

 

A primeira recomendação diz respeito ao comportamento e atitude em relação às pessoas:

Não podemos ter sacerdotes à frente de uma paróquia que gritam em alta voz, que sobrecarregam tudo, que vivem simplesmente de três ou quatro coisas e não sabem dialogar ou que são incapazes de acariciar uma criança, de beijar um idoso ou que simplesmente não vão 'perder tempo' em falar com os doentes, o que é perda de tempo, mas que estão nos planos paroquiais e tudo mais. Não, não está bem.

Discernir durante a formação

 

Francisco então se detém sobre o tema, sempre delicado e complexo, da formação. Aspecto da vida sacerdotal que sofreu várias mudanças ao longo do tempo: "No meu tempo - recorda - estávamos todos incluídos nem uma série, e a formação acontecia por série: 'Hoje é isto, isto, isto...'. E aquele que durou até o fim foi ordenado, enquanto os outros caíram em desgraça ou foram embora. Naquela época saíam assim excelentes sacerdotes, excelentes sacerdotes. Hoje já não é assim, porque é outra época, outra carne, outra matéria-prima. Há outros jovens, outras preocupações; então, bem, nós estamos lá para formar esses jovens”.

A tentação da rigidez 

Na formação se insinua uma tentação que é a da "rigidez", ou seja, todos aqueles jovens que vêm "com esquemas rígidos de formação". “Surgiram Congregações religiosas que são um desastre, que tiveram de ser fechadas pouco a pouco, Congregações de rígidos 'não, não, não...'”, revela o Papa.

Por trás dessa rigidez, esconde-se a verdadeira podridão.

Não às respostas prontas

 

Por isso, é importante “discernir bem”, durante toda a formação, sobre como acompanhar os jovens. “Se um formador não tem capacidade de discernimento, deve dizer ao seu bispo: 'Ouça, mande-me para outro lugar, não sou adequado para isso'”, afirma o Pontífice. E o discernimento pressupõe "silêncio", "oração", "acompanhamento", pressupõe "a capacidade de sofrer" e pressupõe "não ter uma resposta pronta".

Hoje as respostas prontas não servem para os jovens; devemos acompanhá-los, com uma doutrina clara, certamente, mas devemos acompanhá-los nas diferentes situações.

O declínio numérico

 

O Papa não deixa de falar sobre a questão da diminuição do número de vocações: “É um problema de número de seminaristas, não pode haver um seminário com quatro pessoas, não. 'Não os temos mais'. Juntem-se. 

Próximos das pessoas, misericordiosos no confessionário

 

Então, mais uma vez  - “é uma mania que eu tenho”, diz o próprio Papa - recomendação sobre a proximidade. O que se traduz concretamente em falar e agir com o "estilo de Deus", portanto "a proximidade". "Isso deve ser contagioso, ou seja, o sacerdote, o seminarista, o padre deve estar 'próximo'. Próximo de quem? Das meninas da paróquia? E alguns deles o são, são próximos, depois se casam, está bem. Mas próximo de quem? Próximo como?".

Deus é próximo com misericórdia e com ternura. E essas três coisas devem ser percebidas nos jovens. Devem ser sacerdotes que sejam homens bons, misericordiosos, mas com ternura.

De fato, para o Papa é um sofrimento encontrar “pessoas que vêm chorar porque confessaram e disseram de tudo a elas. Se você vai se confessar porque fez uma, duas, dez mil coisas erradas... agradeça a Deus e perdoe-as!”. E "se a outra pessoa se envergonha", não precisa maltratá-la: "Não posso te absolver porque estás em pecado mortal. Devo pedir permissão ao bispo...'. Isso acontece, por favor! O nosso povo não pode estar nas mãos de delinquentes! E um sacerdote que se comporta assim é um delinquente, em cada palavra. Goste ou não".

Rezar, sem se desistir

 

O Papa dirige depois aos padres uma exortação muito clara: "Rezem!"

Um sacerdote que não reza acaba no aterro. Talvez persevere até a velhice, mas na lixeira, ou seja, na mediocridade. Não me refiro ao pecado mortal, não, a mediocridade, que é pior que o pecado mortal. Porque o pecado mortal te assusta e vá imediatamente te confessar. A mediocridade é um estilo de vida, não muito, não muito... E se aproveita de tudo o que pode e assim se persevera até o fim. É nisso que cai o sacerdote que não reza. Rezem, seriamente, e peçam àqueles que vos acompanham espiritualmente para ensinar-vos a rezar. Tenham confiança na maneira como vocês rezam com o companheiro espiritual que têm. Por favor, não desistam disso.

Próximos dos bispos como filhos com o pai

 

Não se reza porque se deve rezar, mas "porque se deve sentir a necessidade de rezar", sublinha o Papa: "Quanto mais um sacerdote está empenhado, mais deve perder tempo na oração". Em outras palavras, é necessária uma "proximidade ao Senhor na oração". Além desta, são outras três as proximidades indicadas pelo Bispo de Roma. Em primeiro lugar, aquela ao bispo, proximidade - sublinha - não negociável:

Não há Igreja sem bispo. "Ele é um desgraçado." Também tu és um desgraçado. Em suma, entre os infelizes eles se entenderão. Mas ele é teu pai. E se não se tem a coragem de dizer a ele as coisas na cara, não se diz a nenhum outro, se fica calado. Ou se vá como homem ao teu bispo. ou peça ao Senhor para resolver o problema. Mas sejam próximos, procurem por ele. E o bispo deve ser próximo dos padres, sim.

Uma proximidade, portanto, como filhos, não como bajuladores que tentam conseguir alguma coisa. E isso implica "respeito". "Uma das coisas que vocês nunca devem se permitir fazer - adverte o Papa - é fazer como os dois filhos de Noé: rir alto com o pai bêbado. Façam como o terceiro: vão cobri-lo. É verdade que às vezes há são bispos, Deus não queira... Bem, o que farias, filho? Na vinha do Senhor há de tudo. Cubra-o, é seu pai. Sejam corajosos, falem com ele, mas não usem a carne ferida e pecaminosa daquele bispo para se divertir nos comentários com os outros ou para justificar suas coisas. Ele é teu pai."

Cuidado com os mexericos

 

A mesma proximidade serve entre os sacerdotes. Portanto, cuidado com os mexericos, "um dos vícios mais feios que nós clérigos temos", afirma Francisco. "Somos mexeriqueiros no coração! Coloquemo-nos na pele dos nossos companheiros... eles são seus irmãos! Se vocês não tem coragem para dizer as coisas na cara, engulam-nas, mas não as contem para ninguém como uma velha fofoqueira". Há "muitos" mexeriqueiros na Igreja: "Há muitos em toda parte. São muitos. Não criemos outros mexericos, porque isso arruína nossas vidas", recomenda o Pontífice. E conclui com uma solicitação final: "Proximidade com o povo de Deus".

Dói-me muito quando vejo sacerdotes tão engomados por ter esquecido o povo de onde foram tirados. Não se esqueçam dos seus colaboradores. E ensinem as crianças a amarem o seu povoado, de onde vieram... Não se esqueçam do cheiro do povo de Deus".

Salvatore Cernuzio - Cidade do Vatica

Fonte: Vatican News