Cultura

O Papa: a vocação ao sacerdócio é um dom que Deus dá à Igreja e ao mundo





Ao receber em audiência os participantes do Curso para Reitores e Formadores de Seminários da América Latina, Francisco ressaltou que é "necessária uma formação de qualidade para aqueles que serão a presença sacramental do Senhor no meio de seu rebanho" e que "os formadores educam com suas vidas, mais do que com suas palavras".

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (10/11), na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Curso para Reitores e Formadores de Seminários da América Latina.

Segundo o Pontífice, "toda formação sacerdotal, especialmente a dos futuros pastores, está no centro da evangelização, uma vez que nas próximas décadas serão eles que animarão e guiarão o santo Povo de Deus, para que possa ser em Cristo sacramento ou sinal e instrumento de união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano".

O Papa disse que é "necessária uma formação de qualidade para aqueles que serão a presença sacramental do Senhor no meio de seu rebanho, alimentando-o e cuidando dele com a Palavra e com os Sacramentos". A esse propósito, Francisco sublinhou que a Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, "O dom da vocação presbiteral", preserva a grande contribuição dada pela Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis "depois da 8ª Assembleia Geral Ordinária dos Bispos que abordou o tema: "A formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais". Este ano, celebra-se o 30° aniversário de publicação por São João Paulo da Exortação apostólica Pastores dabo vobis.

Segundo o Pontífice, "essa exortação oferece explicitamente uma visão antropológica integral, que leva em conta, de forma simultânea e equilibrada, as quatro dimensões presentes na pessoa do seminarista: humana, intelectual, espiritual e pastoral". Por outro lado, a Ratio fundamentalis reafirma a perspectiva do Papa Bento XVI, que com o motu proprio Ministrorum institutio "destacou que a formação dos seminaristas continua, de forma natural, na formação permanente de sacerdotes, ambos constituindo uma única realidade".

O Papa disse ainda que a atual Ratio fundamentalis descreve o processo de formação dos sacerdotes, desde os anos de seminário, como única, integral, comunitária e missionária.

A este respeito, enfatizou que a formação sacerdotal "tem um caráter eminentemente comunitário desde sua origem; a vocação para ao sacerdócio é um dom que Deus dá à Igreja e ao mundo, um caminho para santificar-se e santificar os outros que não deve ser seguido de maneira individualista, mas sempre tendo como referência uma porção concreta do Povo de Deus".

Segundo o Papa, um dos desafios mais importantes que as casas de formação sacerdotal enfrentam hoje "é o de serem verdadeiras comunidades cristãs, o que implica não só um projeto formativo coerente, mas também um número adequado de seminaristas e formadores que garantem uma experiência realmente comunitária em todas as dimensões da formação. Uma tarefa que os bispos devem assumir sinodalmente, em particular no nível de conferências episcopais regionais ou nacionais, tarefa para a qual vocês são chamados a colaborar com lealdade e proatividade".

Para isso, queridos sacerdotes formadores, é necessário renunciar à inércia e ao protagonismo e começar a sonhar juntos, não lamentando o passado, não sozinhos, mas unidos e abertos ao que o Senhor deseja hoje como formação para as próximas gerações de presbíteros inspirados pelas diretrizes atuais da Igreja.

Francisco disse ainda que a missão dos reitores e formadores de seminários "não é de formar "super-homens" que pretendem saber e controlar tudo e ser autossuficientes; pelo contrário, é formar homens que sigam humildemente o processo escolhido pelo Filho de Deus, que é o caminho da Encarnação".

A dimensão humana da formação sacerdotal não é, portanto, uma mera escola de virtudes, de crescimento da personalidade ou de desenvolvimento pessoal, mas implica também e sobretudo um amadurecimento integral da pessoa fortalecida pela graça de Deus que, levando em conta os condicionamentos biológicos, psicológicos e sociais de cada um, é capaz de transformá-los e elevá-los, especialmente quando a pessoa e as comunidades se esforçam para colaborar com ela de forma transparente e verdadeira. Em última análise, as motivações vocacionais autênticas, ou seja, o seguimento do Senhor e a instauração do Reino de Deus, são a base de um processo humano e espiritual.

Segundo o Papa, "uma das tarefas mais importantes no processo de formação de um sacerdote é a leitura gradual e religiosa de sua própria história". De acordo com Francisco, "é preciso estar conscientes do impacto formativo que a vida e o ministério dos formadores exercem sobre os seminaristas. Os formadores educam com suas vidas, mais do que com suas palavras".

De acordo com Francisco, "um dos indicadores de maturidade humana e espiritual é o desenvolvimento e a consolidação da capacidade de escuta e da arte do diálogo, que estão naturalmente ancorados a uma vida de oração, onde o sacerdote dialoga com o Senhor todos os dias, mesmo nos momentos de aridez e confusão".

Por fim, o Papa ressaltou que a formação sacerdotal tem como instrumento privilegiado o acompanhamento formativo e espiritual dos seminaristas, a fim de lhes assegurar uma vasta e variada ajuda da comunidade de formadores, apoiada por sacerdotes de diferentes idades e diferentes sensibilidades, segundo as competências específicas de cada um deles. Também contribuem no acompanhamento formativo outras pessoas que ajudem os seminaristas em seu crescimento humano e espiritual.

Mariangela Jaguraba

 

Papa recebe rei da Jordânia em audiência sobre refugiados, paz e Oriente Médio

Pela quarta vez desde o início do pontificado, Francisco encontra o Rei Abdullah II, acompanhado da esposa Rania. A audiência durou 25 minutos, quando também foi destacada a necessidade de continuar a preservar o status quo em Jerusalém.

O Rei Abdullah II e a Rainha Rania da Jordânia foram recebebidos na manhã desta quinta-feira (10) pelo Papa Francisco. Sucessivamente, o Rei se reuniu com o secretário de Estado, Card. Pietro Parolin, acompanhado por Dom Paul Richard Gallagher, secretário das Relações com os Estados e as Organizações Internacionais.

No decorrer dos colóquios na secretaria de Estado, ao expressar apreço pelas boas relações bilaterais existentes, fez-se referência à necessidade de continuar a desenvolver o diálogo inter-religioso e ecumênico, garantindo sempre que a Igreja Católica na Jordânia possa exercer livremente a própria missão.

Por fim, ao relevar a importância da promoção da estabilidade e da paz no  Oriente Médio, com uma particular referência à questão palestina e ao tema dos refugiados, reiterou-se a necessidade de custodiar e encorajar a presença cristã na região. A propósito, destacou-se a necessidade de continuar a preservar o status quo nos Lugares Santos em Jerusalém, local de encontro e símbolo de coexistência pacífica, em que se cultivam o respeito recíproco e o diálogo.

Na troca de presentes, o Pontífice recebeu uma cópia fotostática de um antigo Corão, incenso natural e uma ampola de água do local do Batismo. Já Francisco ofereceu aos reis uma medalha em bronze, com moldura de mármore, da Praça São Pedro e da colunata, os volumes dos documentos papais, a Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2022, o Documento sobre a Fraternidade Humana e o livro sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020.

Bianca Fraccalvieri 

 

O Papa: construir pontes com oração e Jesus Cristo

Ao encontrar nesta manhã (10/11) a Comunidade do Pontifício Colégio Nepomuceno, de Roma, destinado a sacerdotes de nacionalidade tcheca o Papa convidou a serem construtores de pontes: com oração e com Jesus Cristo, inspirados no Padroeiro São João Nepomuceno

Na manhã desta quinta-feira (10/11) o Papa Francisco recebeu a Comunidade do Pontifício Colégio Nepomuceno de Roma destinado a sacerdotes de nacionalidade tcheca. Francisco iniciou seu discurso afirmando que gostaria de compartilhar algumas reflexões com os presentes falando do Padroeiro do Colégio, São João Nepomuceno, pois nele se encontra uma raiz forte, uma raiz sempre viva, capaz de alimentar o presente e o futuro da comunidade, como fez em seu passado. 

Fiel ao segredo da Confissão

É sempre impressionante, continuou Francisco que ele tenha sido “morto porque queria permanecer fiel ao segredo da Confissão”. Disse "não" ao rei para confirmar seu "sim" a Cristo e à Igreja. “E isto”, disse o Papa, “faz pensar no que tantos sacerdotes e bispos tiveram que suportar ao longo da história sob vários regimes autoritários ou totalitários”, recordando que para eles “isso aconteceu particularmente durante os quarenta anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial”. Ainda falando sobre o Santo, Francisco disse: “Esta raiz de coragem e firmeza evangélica - que remonta ao seu santo padroeiro - jamais deve se tornar uma placa a ser colocada na parede, como um objeto de museu; não, ela deve permanecer uma raiz viva, porque sua seiva é necessária até hoje!”.

“Ainda hoje, na Europa e em todas as partes do mundo, ser cristão, e em particular ser ministros da Igreja, requer dizer ‘não’ aos poderes deste mundo a fim de confirmar o ‘sim’ ao Evangelho”

Ponderando em seguida que o testemunho de São João Nepomuceno nos recorda, hoje mais do que nunca, “a primazia da consciência sobre qualquer poder mundano; a primazia da pessoa humana, a sua dignidade inalienável, que tem seu centro precisamente na consciência, entendida não em um sentido meramente psicológico, mas em sua plenitude, como abertura à transcendência”. Desejando em seguida que o Colégio que leva o nome do grande sacerdote e mártir boêmio seja sempre “uma casa e escola de liberdade, liberdade interior, fundada sobre a relação com Cristo e com o Espírito Santo”.

Pontes com oração

Em seguida o Papa falou sobre um outro ponto de reflexão ao recordar que São João de Nepomuceno é o protetor das pontes, ele, que foi jogado da Ponte Carlos de Praga no rio Moldau coroando assim seu testemunho. Convidando a todos:

“Uma forma apropriada de honrar sua memória é então tentar, na vida concreta, construir pontes onde há divisões, distâncias, incompreensões”

Advertindo em seguida que isto “não pode ser feito sem a oração. As pontes são construídas a partir da oração, a partir da oração de intercessão: dia após dia, batendo insistentemente no coração de Cristo, são lançados os fundamentos para que duas margens distantes e hostis possam se comunicar novamente”. Continuando o tema o Papa lembrou que o ponto central para se construir pontes, é Jesus Cristo:

“Jesus Cristo é a ponte e Ele é o pontífice. É Ele que é nossa paz, é Ele que derrubou e derrubou e derruba os muros da inimizade. E é a Ele que devemos sempre dirigir e atrair pessoas, famílias, comunidades”

Acrescentando que “isto é o que fazemos no momento central de cada um de nossos dias, quando celebramos a missa. Não podemos e não devemos estarmos nós no centro, mas Ele!”.

Riqueza humana

Por fim o Papa recordou a presença no Colégio Nepomuceno, além dos sacerdotes da República Tcheca, de outros sacerdotes de diferentes países, inclusive da África e da Ásia. “E esta realidade”, disse, “que depende da diminuição da presença europeia, pode se tornar, se bem administrada, uma riqueza humana e formativa. Nesta diversidade vocês podem praticar melhor como ser ‘pontes’, servidores da cultura do encontro, capazes de captar no outro a peculiar originalidade e ao mesmo tempo a humanidade comum”.

Jane Nogara 

 

Escultura que convida o mundo a cuidar dos sem-teto é abençoada pelo Papa

A bênção de Francisco, antes da Audiência Geral desta quarta-feira (9), faz parte das iniciativas em vista do VI Dia Mundial dos Pobres do próximo domingo (13) quando o Pontífice vai celebrar uma missa na Basílica Vaticana. Que Maria nos "ajude especialmente a compartilhar nossa vida com os pobres", disse o Papa ao se dirigir aos peregrinos de língua espanhola na Praça São Pedro.

Antes mesmo de começar a Audiência Geral desta quarta-feira (9), o Papa Francisco abençoou a escultura "Sheltering" ("Abrigo", na tradução livre) que convida o mundo a cuidar dos moradores em situação de rua. Na oportunidade, estava inclusive o autor da obra, o artista figurativo Timothy Schmalz do Canadá, que já tem uma história consolidada na produção de estátuas religiosas em diferentes países, como a própria “Anjos sem o saberem” ("Angels Unawares"), sobre migrantes e refugiados, instalada na Praça de São Pedro em 2019, que também recebeu a bênção do Pontífice, e outras obras que repousam em igrejas históricas em Roma e no Vaticano. 

A escultura "Abrigo" e a Família Vicentina

A escultura, em tamanho real, é feita de bronze e mostra a figura de uma pessoa em situação de rua a ser coberta por uma manta, puxada por uma pomba em voo. A obra procura promover a "Campanha 13 Casas", da Família Vicentina, que procura ajudar material e espiritualmente as pessoas que sofrem com falta de moradia no mundo todo, tanto que já construiu mais de 2 mil casas e auxiliou cerca de 8.600 pessoas em 60 nações. O movimento católico global, com mais de 2 milhões de membros, é formado por diferentes congregações religiosas, associações laicas e caritativas inspirado pela vida e obra de São Vicente de Paulo, que "juntou todos os que pôde, ricos e pobres, humildes e poderosos, utilizou todos os meios para os inspirar com o sentido do pobre - a imagem privilegiada de Cristo - e exortou-os a ajudar".

A Família Vicentina se uniu para formar a Aliança FamVin com as pessoas sem-teto (FHA) que tem o objetivo de acabar com as pessoas em situação de rua, mudando a vida de 1,2 mil milhões de pessoas em todo o mundo, sejam elas refugiados, deslocados de casa, que vivem na rua ou moram em favelas em habitações inadequadas. Mark McGreevy, coordenador da FHA, comentou o descerramento da escultura: "a estátua faz uma declaração crucial sobre a falta de habitação: obriga-nos a estar conscientes das pessoas sem-teto que nos rodeiam. Antes de podermos resolver o problema da falta de moradia, temos de compreendê-lo, parar e ouvir as histórias dos sem-teto, envolvê-los nas soluções que proporcionem uma mudança a longo prazo... Ninguém deve ficar sem um lar". McGreevy lidera a FHA que, através da "Campanha 13 Casas", tem um plano ambicioso de alojar 10 mil pessoas em todo o mundo até o final de 2023 em mais de 160 países onde a Família Vicentina já trabalha.

Além disso, Tomaž Mavrič, superior geral da Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo e da Companhia das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo, explicou que "a inspiração de Jesus e de São Vicente de Paulo leva-nos a sonhar em grande, mas com profunda humildade. O sonho é que em algum momento da história toda a humanidade possa ter uma habitação digna, um lugar digno para chamar casa".

 

VI Dia Mundial dos Pobres

A bênção da escultura feita pelo Papa Francisco na Praça São Pedro antecede, assim, o VI Dia Mundial dos Pobres que será celebrado no domingo (13) a partir das 10h na Itália, 6h no horário de Brasília, com transmissão ao vivo do Vatican News em português. A celebração eucarística vai contar com a participação, como acontece tradicionalmente nessa data, de pessoas pobres. Ao final de cerimônia, na Sala Paulo VI, 1300 deles vão ganhar almoço que será oferecido pela Sociedade de Navegação Amigo. Mais uma oportunidade para compartilhar a vida com os pobres, como disse o Papa Francisco na Audiência Geral, ao saudar os peregrinos de língua espanhola:

“Eu os encorajo a continuar no caminho da fraternidade e da paz, abertos ao diálogo e ao encontro com os outros. Que Maria nos acompanhe nesse percurso e nos ajude especialmente a compartilhar nossa vida com os pobres, cujo Dia Mundial celebraremos no próximo domingo. Que Jesus o abençoe e que a Virgem Santa os proteja.”

Andressa Collet

Fonte: Vatican News