Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: À caça do Paraíso





Reflexão para da Solenidade de Todos os Santos(as) | 06 de Novembro 2022 – Ano “C” 

O santo eremita Macedônio foi, um dia, surpreendido na sua solidão por um príncipe que, com um séquito numeroso, andava caçando na floresta vizinha.

 – Que fazeis nesta solidão, neste deserto? Perguntou o príncipe ao eremita. 

– Permita-me – replicou o eremita – que vos pergunte primeiro: Que fazeis aqui? 

– Como vedes, eu vim caçar. 

– E eu também, disse o eremita, eu também vim à caça. O que eu procuro, porém, é um bem eterno: ando à caça do Paraíso. O príncipe despediu-se e partiu, meditando seriamente naquelas estranhas palavras do santo eremita: “ando à caça do Paraíso”.

Neste domingo, celebramos a festa de Todos os Santos e Santas, os famosos e venerados e os conhecidos somente por Deus. Quando encontrei o diálogo acima, num livro escrito há mais de sessenta anos, pensei colocá-lo aqui. Pergunto: será que, hoje, ainda entendemos a vida cristã como uma “caça ao Paraíso” ou, dito com outras palavras, a busca da santidade – e também do “Paraíso” – interessam ainda aos cristãos de nossos dias? Espero que sim, obviamente, mas talvez precisamos refletir um pouco sobre o que entendemos com essas palavras fascinantes para alguns e desafiadoras para todos.

Provavelmente, aprendemos que a santidade é a condição para chegar ao Paraíso. Certo. Mas quem julga a santidade de uma pessoa e se ela merece ou não estar no Paraíso? Já aconteceu,

 muitas vezes, que o povo cristão considerasse alguém santo ou santa ainda em vida. Para outros, porém, foi a Igreja a reconhecer oficialmente as “virtudes heroicas” deles e eventuais fatos extraordinários considerados como frutos da intercessão daquela pessoa junto de Deus. No entanto é bastante fácil entender que, afinal, somente Deus, na sua infinita misericórdia, pode julgar quem merece ou não estar no Paraíso. Essa meta nunca será um direito adquirido, fruto das nossas obras; sempre será mais do que um prêmio, será um verdadeiro dom, com certeza, muito acima do esperado. 

Por isso, o Papa Francisco costuma convidar os jovens a serem, hoje, os santos de “calça jeans”, gastando a própria vida fazendo o bem com o seu jeito juvenil e a novidade que cada geração traz. Igualmente, ele fala sempre para prestarem atenção aos “santos da porta de lado”, ou seja, aqueles vizinhos ou vizinhas dos quais pouco ou nada sabemos, que nunca serão famosos, mas que, de fato, vivem uma autêntica santidade nas suas famílias, nos seus sofrimentos, nos seus serviços humildes e silenciosos. E o Paraíso? Também sobre isso podemos estar muito equivocados , sobretudo quando pensamos que seja algo que vai acontecer somente após a nossa morte, na outra vida, se ainda nela acreditamos, ou se for questão de ter do bom e do melhor, de “sombra e água fria”, ou seja, afinal, somente uma fartura de bens materiais e prazerosos.

A “vida plena”,  que novamente só Deus pode oferecer, será a plenitude daquilo que todos desejamos, mesmo sem ter plena consciência e até quando o buscamos por meios e caminhos errados. Falo da plenitude daqueles “frutos” do Espírito Santo que São Paulo apresenta na carta aos Gálatas e que já deveríamos produzir nesta vida; eis os primeiros três: amor, alegria e paz. Se gastamos a vida para multiplicar o desamor, a tristeza e as intrigas, estamos planejando o “inferno” para nós e para os que já tornamos infelizes neste mundo. Mas se praticamos o amor, espalhamos alegria e construímos a paz, já estamos antecipando um pouco daquilo que será a Vida Nova do Paraíso. Os bens materiais são dádiva de Deus, dos quais devemos ser sábios e fiéis administradores, ou seja, deveríamos usá-los e multiplicá-los para o bem nosso e dos nossos irmãos. Se for somente para nos enriquecer, quem sabe, até enganando e explorando os nossos semelhantes, talvez, possamos pensar  ter já alcançado o “paraíso” nesta vida, mas, bem sabemos, que nada levaremos das riquezas acumuladas na terra. As nossas mãos só poderão apresentar os tesouros de bondade doados aos pobres e desvalidos. Eles mesmos nos abrirão as portas do céu. Afinal, somos todos “caçadores” de felicidade. Onde? Já agora, por aqui, praticando o bem, mas incomparável e surpreendente será a felicidade do Paraíso. Ainda acreditamos e esperamos nisso?   

Por Dom Pedro José Conti

 

Fonte: Diocese de Macapá