Na tarde deste sábado (05/11), o Papa Francisco visitou a Escola do Sagrado Coração na cidade de Awali para um encontro com cerca de 800 jovens. No seu discurso Francisco disse que estava contente por ter visto o Reino do Bahrein, como um país de encontro e diálogo entre diferentes culturas e credos”. Em seguida dirigindo-se aos jovens presentes disse: “E agora tendo-vos diante dos olhos – vós, que não sois da mesma religião e não tendes medo de estar juntos –, penso que uma tal convivência das diferenças não seria possível sem vós; nem teria futuro!”. Ainda elogiando os jovens disse:
“Como se fôsseis inquietos viajantes abertos ao inédito, vós, jovens, não temeis confrontar-vos, dialogar, ‘fazer barulho’ e misturar-vos com os outros, tornando-vos a base duma sociedade amiga e solidária”
"Isto é fundamental nos contextos complexos e plurais em que vivemos: derrubar determinadas barreiras a fim de se inaugurar um mundo que seja mais à medida do homem, mais fraterno, ainda que isso signifique enfrentar numerosos desafios”. A partir dos testemunhos dos jovens que ocorreram antes de seu discurso Francisco disse que faria três convites: “não tanto para vos ensinar, mas sobretudo para vos encorajar”.
O primeiro convite que o Papa fez aos jovens foi o de abraçar a cultura do cuidado. “Cuidar”, disse, “significa desenvolver uma atitude interior de empatia, um olhar atento que nos leva para fora de nós mesmos, uma presença gentil que vence a indiferença e nos impele a interessar-nos pelos outros”.
“Este é o ponto de virada, o início da novidade, o antídoto contra um mundo fechado que, impregnado de individualismo, devora os seus filhos; contra um mundo enclausurado pela tristeza, que gera indiferença e solidão”
Disse ainda que como cristão, “penso em Jesus e vejo que a sua ação sempre esteve animada pelo cuidado. Cuidou as relações com quantos encontrava nas casas, nas cidades e pelo caminho: fixou as pessoas nos olhos, prestou atenção aos seus pedidos de ajuda, aproximou-se e tocou com a mão as suas feridas”. Reiterando mais uma vez a todos: “Amigos, como é bom tornar-se cultores do cuidado, artistas das relações!”. Advertindo que isso, como tudo na vida, “requer um treino constante". "Então", continuou, "não vos esqueçais de cuidar primariamente de vós mesmos: não tanto do exterior, como sobretudo do interior, da vossa parte mais escondida e preciosa. Qual é?" perguntou:
“A vossa alma, o vosso coração! Tentai escutá-lo em silêncio, criar espaços para estar em contacto com a vossa interioridade, para sentir o dom que sois, para acolher a vossa existência e não a deixar fugir de mão”
Ponderando em seguida para que não se tornem “turistas da vida” o Papa aconselha: “Falai com Deus. Falai-Lhe de vós mesmos e também daqueles que encontrais diariamente e que Ele vos dá como companheiros de viagem”. “Amigos, por favor, nunca vos esqueçais duma coisa: sois todos – sem exceção – um tesouro, um tesouro único e precioso. Por isso, não mantenhais a vida num cofre, pensando que é melhor poupar-se e que o momento de a gastar ainda não chegou!”. “Muitos de vós estão aqui de passagem, por motivos de trabalho e, frequentemente, por um prazo limitado. Mas, se vivermos com a mentalidade do turista, não agarramos o momento presente e corremos o risco de deixar de lado partes inteiras de vida”.
“Como é bom deixar um bom rasto no caminho, cuidando da comunidade, dos companheiros de escola, dos colegas de trabalho, da criação...”
Francisco continuou suas palavras afirmando que se abraçarmos a cultura do cuidado contribuímos para fazer crescer a semente da fraternidade. E aqui está o segundo convite que vos quero dirigir: semear fraternidade.
“Sede campeões de fraternidade. Este é o desafio de hoje para vencer amanhã, o desafio das nossas sociedades cada vez mais globalizadas e multiculturais”
Depois de advertir que se não trabalha com o coração, pode-se ampliar “as distâncias em relação aos outros e, assim, as diferenças étnicas, culturais, religiosas e outras tornam-se problemas e temores que isolam, em vez de ser oportunidades para crescer juntos. E, quando se mostram mais fortes do que a fraternidade que nos une, corre-se o risco do conflito”. "A vós, jovens, que sois mais diretos e mais capazes de gerar contactos e amizades, superando os preconceitos e as barreiras ideológicas, quero dizer: sede semeadores de fraternidade e recolhereis futuro, porque o mundo só terá futuro na fraternidade! É um convite que encontro no coração da minha fé".
Ao fazer o terceiro convite, relacionado com o desafio de fazer opções na vida, Francisco disse: “Como bem sabeis pela experiência de cada dia, não existe uma vida sem desafios a enfrentar. E perante um desafio, como numa encruzilhada, sempre é preciso escolher, entrar no jogo, arriscar, decidir. Mas isto requer uma boa estratégia: não se pode improvisar, vivendo só por instinto ou circunscrito a cada instante!”. E como fazer? “Trata-se de crescer na arte de se orientar nas escolhas, de tomar as justas direções”, acrescentou. Concluindo este ponto disse:
“O meu conselho é este: avançar sem medo, e nunca sozinhos! Deus não vos deixa sozinhos, mas, para vos dar uma mão, espera que Lha peçais. Acompanha-nos e guia-nos, não com prodígios e milagres, mas falando delicadamente através dos nossos pensamentos e sentimentos”
Mas para que isso aconteça “é preciso aprender a distinguir a Sua voz. Como? Através da oração silenciosa, do diálogo íntimo com Ele, guardando no coração aquilo que nos faz bem e dá paz. Por fim o Papa concluiu seu encontro com os jovens afirmando: “Amigos, esta aventura das opções, não a devemos realizar sozinhos. Por isso deixai que vos diga uma última coisa: procurai sempre – antes das sugestões da Internet – bons conselheiros na vida, pessoas sábias e fiáveis que vos possam orientar, ajudar. Penso nos pais e professores, mas também nos idosos, nos avós e num bom acompanhante espiritual. Cada um de nós precisa de ser acompanhado no caminho da vida!”.
E exortando: “Queridos jovens, precisamos de vós, da vossa criatividade, dos vossos sonhos e da vossa coragem, da vossa simpatia e dos vossos sorrisos, da vossa alegria contagiante e também daquele mínimo de turbulência que sabeis trazer a cada situação e que ajuda a sair do torpor de hábitos e esquemas repetitivos em que às vezes encaixilhamos a vida. Como Papa, quero dizer-vos: a Igreja está convosco e tem tanta necessidade de vós, de cada um de vós, para rejuvenescer, explorar novas sendas, experimentar novas linguagens, tornar-se mais jubilosa e hospitaleira.