O Papa Francisco voltou a fazer referência à Amazônia, que "se apresenta aos olhos do mundo com o todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério" (cf. Querida Amazonia 1), em carta dirigida nesta segunda-feira (10) à equipe de missionários "Igreja Argentina, Amazônia é tua Missão" no Vicariato Apostólico localizado na sede episcopal de Puerto Maldonado, no Peru, que atende 23 paróquias e uma população de mais de 350 mil habitantes. O trabalho local tem impulsionado a pastoral e o compromisso com os diferentes povos, comunidades nativas, ribeirinhas e jovens que se formaram nas cidades da região.
"Queridos amigos", começou o Pontífice escrevendo em espanhol, ao agradecer o testemunho que fizeram chegar ao Vaticano sobre o compromisso assumido naquele território. Francisco se demonstrou feliz pela disponibilidade dos missionários e "por assumir, em nome da Igreja, a tarefa evangelizadora que ocupa um lugar especial no meu coração". Tanto que o Papa visitou Puerto Maldonado em janeiro de 2018, o que, junto com o Sínodo Especial de 2019, ajudou a reforçar o compromisso dos missionários para traçar novos caminhos por uma Igreja amazônica e através da ecologia integral.
Assim, na carta enviada nesta segunda (10), o Pontífice transcreveu um trecho do que ele expressou na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazonia, destinada ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade, ao afirmar:
“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a carateriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos.”
O Papa finalizou a carta aos missionários assegurando que a presença deles naquele território, como a de tantos outros, "ajudará a tornar o sonho realidade. Sigam em frente!".
- Papa sobre atletas: com fadiga, mas aberto ao outro, não burocrata do esporte
Andressa Collet - Vatican News
O Papa Francisco escreveu o prefácio de um livro sobre esporte que chega às livrarias nesta terça-feira (11). A obra em italiano das Edições São Paulo (116p. a 14 euros) intitulada "Não é só fadiga, é amor - os campeões do esporte entre paixão e solidariedade" traz testemunhos de homens e mulheres de diferentes modalidades, coletados pelo Monsenhor Dario Edoardo Viganò e o jornalista Valerio Alessandro Cassetta. Eles abordam histórias pessoais e de sucesso, mas sobretudo de valores que orientam o dia a dia de um atleta de alto rendimento como a solidariedade, a lealdade, a gratidão, o perdão, a generosidade, a capacidade de se levantar depois de cada queda.
Uma rotina para se chegar ao pódio e ao sonho da vitória que não é percorrida sozinha, porque "sem um treinador, de fato, não nasce um campeão", escreve o Papa logo no início do prefácio. É preciso que alguém aposte nesse atleta, sendo um pouco visionário, mas também trabalhando muito sob o aspecto físico, sobretudo motivando, corrigindo sem humilhar, estimulando à resistência. Treinar é um pouco como educar, continua o Pontífice, criando uma relação entre esporte, vida e fé.
Francisco, então, recorda uma passagem da carta de São Paulo que diz: "vocês não sabem que dentre todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcance o prêmio" (1Cor 9,24). Esse é um convite, salienta o Papa, para se colocar em jogo, "não olhando o mundo da janela de casa".
Porém, quando a derrota chega, é preciso identificar o seu significado profundo, autêntico e nobre, fazendo um exame de consciência para se recarregar e voltar ao jogo, porque além do objetivo de ser campeão, conta também o percurso até lá. "Sem motivação e estímulo, não se pode enfrentar o sacrifício", afirma o Papa que acrescenta no prefácio:
“A fadiga faz parte do jogo, é um componente fundamental, é um peso que te quebra, te desgasta e te desestabiliza, mas a essa fadiga, que assume muitas formas, deve ser encontrado um significado. Um sentido. E então o seu jogo se tornará mais leve. O atleta que, na fadiga, vê além, é como o santo que não sente o fardo e olha ali onde os outros não veem...”
O livro, assim, traz entrevistas exclusivas com quem fez e está fazendo história no esporte italiano: os jogadores de futebol Giorgio Chiellini, Alessandro Bastoni, Ciro Immobile e Luca Mazzitelli; a campeã olímpica de marcha atlética, Antonella Palmisano; a campeã olímpica de ginástica artística Vanessa Ferrari; o campeão mundial de ciclismo da déc. 70, Francesco Moser; o atleta paralímpico ítalo-cubano com deficiência visual de lançamento de disco e de peso, Oney Tapia; a campeã olímpica de remo, Valentina Rodini; e o medalhista olímpico de esgrima, Enrico Berrè. Não são "funcionários do espetáculo e do sucesso", mas seres humanos que exploram os limites da dedicação, da esperança e da confiança que está presente em cada um de nós. E o Papa conclui o prefácio:
"Não sou ingênuo e sei bem que ao redor do mundo do esporte gira um mundo econômico muito importante. E eu estou ciente de que o fascínio de um esportista pode facilmente se transformar em um objeto gerador de lucro. Como recordavo em uma entrevista à La Gazzetta dello Sport, a riqueza corre o risco de adormecer a paixão que foi capaz de transformar um menino, uma menina comum, em uma extraordinária obra-prima. E acredito que um pouco de 'fome' no bolso seja o segredo para nunca se sentir apagado, para manter acesa aquela paixão que os seduziu quando crianças. De fato, é triste ver campeões que são riquíssimos, mas indiferentes, quase como burocratas do seu esporte."
“Este livro testemunha que um pouco de fome no bolso, um coração grande, um olhar atento aos outros, faz com que os campeões testemunhem uma vida jogada em primeira pessoa com paixão e capaz também de generosidade e abertura aos outros.”
Andressa Collet
- O Papa encerrará no Coliseu a oração pela paz organizada por Santo Egídio
Na presença do Papa, e de outros representantes das religiões mundiais, se concluirá o encontro internacional organizado pela Comunidade de Santo Egídio, em Roma, de 23 a 25 de outubro, sobre o tema "O grito da paz. Religiões e culturas em diálogo". A notícia foi dada pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.
O evento foi apresentado na Rádio Vaticano, nesta terça-feira (11/10). É o 36° promovido pela Comunidade no "Espírito de Assis", após o dia desejado por São João Paulo II, em 1986. Durante três dias, líderes religiosos, intelectuais, homens da cultura e da política se encontrarão para discutir sobre os grandes temas da atualidade devastada pela guerra que causa vítimas e destruição.
"Queremos nos libertar da prisão da guerra. Faremos ouvir nosso grito pela paz", disse o presidente de Santo Egídio, Marco Impagliazzo, apresentando o encontro na coletiva de imprensa, "uma paz sufocada não só na Ucrânia, mas em muitas partes do mundo". "Pela primeira vez os cristãos rezarão dentro do Coliseu com Francisco", disse Impagliazzo, informando que os mundos religiosos da Rússia e da Ucrânia foram convidados a participar da oração.
- Sessenta anos atrás o primeiro ato do Concílio, porta da Igreja aberta para o mundo
Já se passaram 60 anos da abertura do Concílio Vaticano II, um evento que mudou o rosto da Igreja. Um Concílio ecumênico, ou seja, universal, é a convocação feita pelo Papa para reunir o colégio dos bispos para enfrentar juntos, à luz do Evangelho, as novas questões colocadas pela história.
O Papa João XXIII foi quem anunciou o 21° Concílio da Igreja de Roma, em 25 de janeiro de 1959, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros: "Veneráveis Irmãos e Amados Nossos Filhos! Nos pronunciamos diante de vós, certamente tremendo um pouco pela emoção, mas ao mesmo tempo com humilde resolução de propósito, o nome e a proposta da dupla celebração: de um Sínodo Diocesano para a Urbe, e de um Concílio Ecumênico para a Igreja universal". Três anos mais tarde, em 2 de fevereiro de 1962, na Festa da Apresentação de Jesus no Templo, o Papa João anunciou a data de início desta grandiosa assembleia: "Esta data é 11 de outubro do ano de 1962; e é uma lembrança do Concílio de Éfeso, e precisamente a partida da igreja de São Pedro in Vincoli do padre Filipe - huius tituli presbyter - para Éfeso como representante do Papa Celestino”. A Igreja abre as fontes de sua doutrina para promover a concórdia, a paz e a unidade invocadas por Cristo.
Portanto o Concílio Vaticano II foi inaugurado em 11 de outubro de 1962. Naquele dia, mais de 3 mil participantes, entre os quais cardeais, arcebispos, bispos, superiores de famílias religiosas desfilaram na Praça São Pedro. Eles vieram de todo o mundo e representavam todos os povos da Terra. A Basílica do Vaticano transformou-se em uma Sala Conciliar. Neste grande espaço com momentos de grande intensidade, ressoaram as palavras do Papa João XXIII para a solene abertura: “As situações e problemas gravíssimos que a humanidade enfrenta não mudam; de fato – afirmou o Papa pronunciado seu discurso em latim – “Cristo continua sempre a brilhar no centro da história e da vida”. “Todas as vezes que são celebrados, os Concílios Ecumênicos proclamam esta solene correspondência com Cristo e com a sua Igreja e levam à irradiação universal da verdade, à reta direção”. “Agora, porém – sublinha o Papa João XXIII - a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a mais a validez da sua doutrina do que renovando condenações”. A Igreja é a Mãe amorosa de todos. O Concílio, através de apropriadas atualizações, dá um salto adiante no compromisso apostólico para apresentar a mensagem do Evangelho a todos os homens.
Outro momento gravado na história daquele dia da inauguração do Concílio Vaticano II foi a saudação, naquela mesma noite, que João XXIII dirigiu aos fiéis lotados na Praça São Pedro. Palavras ditas, espontâneas, que ficaram na história como "o discurso da Lua". A multidão em meio às luzes de mais de 100 mil tochas foi uma cena que comoveu o Pontífice, que decidiu olhar para fora da janela. Disse aos seus colaboradores mais próximos que só iria dar uma bênção. Mas depois, naquele momento tão excepcional para a vida da Igreja, pronunciou um discurso improvisado que tocou o coração de todos. "Queridos filhos, ouço suas vozes. A minha é apenas uma voz, mas condensa a voz do mundo inteiro; todo o mundo está aqui representado. Parece que até a lua antecipou-se esta noite – observai-a para o alto! - para contemplar este espetáculo". “Esta manhã", explicou o Papa João, "foi um espetáculo que nem a Basílica de São Pedro, que tem quatro séculos de história, alguma vez pôde contemplar". Em seguida, ressoam outras palavras que ficarão marcadas para sempre. "Quando regressarem à casa, vocês encontrarão seus filhos; façam uma carícia nas suas crianças e digam: ‘esta é a carícia do Papa’. Encontrarão algumas lágrimas por enxugar. Façam alguma coisa, digam uma boa palavra. ‘O Papa está conosco, especialmente nas horas tristes e de amargura’".
Os trabalhos do Concílio Ecumênico Vaticano II foram articulados em quatro sessões. Deste capítulo fundamental da história da Igreja resultaram quatro Constituições, nove Decretos e três Declarações. A Constituição Dogmática sobre a Igreja é o documento mais solene de todo o Concílio. Abre-se com as palavras "Lumen gentium" (luz dos povos): "Mas porque a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal. A Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, que inicia com as palavras 'Dei Verbum', toca nos próprios fundamentos da fé da Igreja: a palavra de Deus, a sua revelação e a sua transmissão. A Constituição 'Sacrosantum Concilium' delineia os princípios gerais para a reforma e promoção da liturgia. A Constituição sobre a Igreja no mundo contemporâneo consiste de uma primeira parte sobre a vocação do homem, e uma segunda parte sobre alguns problemas mais urgentes.
"Um evento de graça para a Igreja e para o mundo". Escreveu o Papa Francisco no prefácio do livro intitulado "João XXIII. Vaticano II um Concílio para o Mundo". "Do Concílio Ecumênico Vaticano II recebemos muito. Aprofundamos, por exemplo, a importância do povo de Deus, categoria central nos textos conciliares, recordada até 184 vezes, o que nos ajuda a compreender o fato de que a Igreja não é uma elite de sacerdotes e consagrados e que cada batizado é um sujeito ativo para a evangelização". Para Bento XVI, o Concílio Vaticano II foi um "novo Pentecostes". Esperávamos que tudo se renovasse", disse aos sacerdotes de Roma em 14 de fevereiro de 2013, "que viria verdadeiramente um novo Pentecostes, uma nova era na Igreja (...) sentia-se que a Igreja não estava indo adiante, que se reduzia, que parecia uma realidade do passado e não a portadora do futuro". E naquele momento, esperávamos que esta relação fosse renovada, que mudasse; que a Igreja fosse novamente uma força para amanhã e uma força para hoje". São João Paulo II em sua carta apostólica Novo Millennio Ineunte chama o Concílio de "a grande graça da qual a Igreja se beneficiou no século XX: nele nos é oferecida uma bússola segura para nos orientarmos no caminho do século que agora começa".
No encerramento do Concílio, em 8 de dezembro de 1965, em sua "saudação universal", São Paulo VI enfatizou que "para a Igreja Católica ninguém é estranho": "Eis que esta é a nossa saudação": Que ela acenda em nossos corações esta nova centelha da divina caridade; uma centelha que pode incendiar os princípios, doutrinas e proposições que o Concílio preparou e que, assim inflamada de caridade, possam realmente operar na Igreja e no mundo aquela renovação dos pensamentos, de atividade, dos costumes, da força moral e da alegria e esperança, que foi o próprio propósito do Concílio"
Amedeo Lomonaco
Fonte: Vatican News