Toda mãe sabe que quando uma criança para de brincar é porque está doente ou algo incomoda a sua alegria. Logo ela pergunta: – O que foi? Na maioria das vezes o remédio é simples: um abraço, um carinho, uma lágrima enxugada. Depois, quando crescemos e nos tornamos jovens e adultos, as coisas mudam. Aprendemos a disfarçar as nossas tristezas e insatisfações. Chegamos a acreditar que a alegria se possa comprar. Pensamos de poder encontra-la no esquecimento, na diversão, numa garrafa de bebida, no fumo que nos faz voar, no barulho ensurdecedor de uma festa, no cansaço de quem não aguenta mais. Podemos iludir a nossa cabeça, mas não o nosso coração. Ele continua vazio; precisa de algo diferente, que não se compra e nem se vende, porque não tem preço. Não tem mesmo. O verdadeiro amor só pode ser doado e recebido de graça e livremente. Deve ser desejado e alimentado, nunca negociado. A alegria vai junta, vem da paz do coração, da certeza de termos amigos nos quais podemos confiar, que tudo em nossa vida tem um sentido, também as provações, os sofrimentos e as despedidas daqueles que amamos e que nos amaram.
Vivemos tempos sombrios, cheios de medos e incertezas. Guerras espalhadas pelo mundo, fome e miséria de milhões de seres humanos, violência dentro e fora de casa. Desemprego de muitos, disputas de poucos pelo poder, ganância de alguns, dúvidas sem resposta para a maioria dos pobres. Todos nos perguntamos se ainda podemos alimentar a esperança de algo melhor. Onde ficaram os sonhos e as promessas de progresso, de direito iguais, de dignidade para todos os povos e as etnias? Até o planeta chora por desastres ambientais e a ameaça do desaparecimento de inteiras espécies animais e vegetais. As nossas comunidades parecem encolhidas sobre si mesmas, saudosas de um passado que não volta mais e preocupadas com um futuro que ninguém sabe ainda como será.
Nas bodas de Caná, Maria disse a Jesus: – Não tem mais vinho. E ele fez que a água das purificações se tornasse um vinho diferente, surpreendentemente melhor. A festa da aliança nupcial entre Deus e o seu povo não acabou. A alegria iluminou novamente a casa de sorrisos e todos voltaram a cantar e a dançar.
No Círio deste ano queremos reavivar as nossas esperanças. Maria continua a interceder por nós. Cabe a nós, porém, colocar amor lá onde a vida parece definhar, espalhar alegria lá onde as mentiras e as intrigas produzem ódio, raiva e tristeza. Cada um de nós pode ser um construtor de paz, um semeador de alegria, uma testemunha feliz de esperança. Somos discípulos do Crucificado que Deus Pai ressuscitou. Ele venceu o mal e a morte. Ele é o Caminho para a paz, a Verdade que liberta da falsidade, a Vida que enche de alegria o coração. Nossa Senhora de Nazaré, rogai por nós. Que o “vinho novo” do amor não acabe, que nunca cansemos de espalhar alegria, esperança e a paz.
POR: DOM PEDRO JOSÉ CONTI