Cultura

O Papa aos jovens: a verdadeira beleza é sempre fecunda, impele a sair de si





"Sei que vocês estão participando ativamente do Pacto Educativo Global, que lancei três anos atrás, como uma aliança aberta a todos com o objetivo de educar e nos educar na fraternidade universal", escreve Francisco aos jovens participantes do Pacto Educativo Global Ursulino, convidando-os para o encontro da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa 2023.

O Papa Francisco enviou uma mensagem, nesta sexta-feira (30/09), aos participantes do Pacto Educativo Global Ursulino.

Dirigindo-se aos jovens estudantes, o Pontífice ressalta no texto que ficou sabendo das iniciativas realizadas por eles, e das que estão planejadas para o futuro, "no que diz respeito à defesa do meio ambiente, a sustentabilidade, a fraternidade humana e a atenção aos mais pobres e vulneráveis". "Isso dá muita honra a vocês. Significa que vocês não estão "dormindo", mas são jovens espertos. Sei que vocês estão participando ativamente do Pacto Educativo Global, que lancei três anos atrás, como uma aliança aberta a todos com o objetivo de educar e nos educar na fraternidade universal", disse ainda Francisco.

Na mensagem, o Papa sublinha aos jovens duas coisas importantes, referindo-se à jovem Úrsula que inspirou muitas jovens, incluindo Angela Merici que, em seu nome, criou a obra educacional das Irmãs Ursulinas.

A primeira, diz respeito ao ser, e o Papa diz aos jovens para eles fazerem emergir sua beleza. Não a beleza "de acordo com a moda do mundo, mas a verdadeira". "Num mundo sufocado por tanta feiura, que vocês possam levar aquela beleza que sempre nos pertenceu, desde o primeiro momento de criação, quando Deus criou o homem à sua imagem semelhança, e viu que era muito bonito. Essa beleza deve ser espalhada e defendida. Por isso, convido vocês a fazerem um "pacto global da beleza" com todos os jovens do mundo, porque não há educação sem beleza", sublinha Francisco.

"A beleza da qual estamos falando não é aquela voltada para si mesma. Falamos daquela beleza que nunca desvanece porque é um reflexo da beleza divina: o nosso Deus é de fato inseparavelmente bom, verdadeiro e bonito, e a beleza é uma das formas privilegiadas para chegar até Ele", frisa o Pontífice.

A segunda coisa, é sobre o fazer. "A beleza que Jesus nos revelou é um esplendor que se comunica, que age. Uma beleza que se encarna a fim de compartilhar. Uma beleza que não tem medo de se sujar, de se desfigurar para ser fiel ao amor da qual é feita. Vocês não podem permanecer como "belos adormecidos". Vocês são chamados a agir, a fazerem alguma coisa. A verdadeira beleza é sempre fecunda, impele a sair de si mesmo e se mover. Até mesmo a contemplação de Deus não pode parar no gozo de sua visão, como pensavam os três discípulos no Monte Tabor no momento da Transfiguração de Jesus: "Como é bonito estar aqui! Façamos três tendas...". É preciso descer do monte e arregaçar as mangas", ressalta o Papa.

"Se os jovens não mudarem o mundo, quem mudará?", pergunta Francisco. Mas como fazer isso? "Defendendo a beleza desfigurada de tantos excluídos do mundo, abrindo-se ao acolhimento dos outros, especialmente dos vulneráveis e marginalizados, olhando o outro diferente de mim não como uma ameaça, mas como uma riqueza, e defendendo a beleza ferida da criação, protegendo os recursos de nossa Casa comum, adotando estilos de vida mais sóbrios e ecológicos", responde o Pontífice.

A este propósito, Francisco os convida a ler a mensagem que escreveu aos jovens que se reuniram, em Praga, na "Conferência da Juventude da UE" em julho deste ano. "Tenho certeza de que vocês também encontrarão mais estímulos para o seu compromisso", sublinha ele.

A seguir, o Papa marcou um encontro com os jovens na Jornada Mundial da juventude em Lisboa 2023, "que promete ser um grande sinal de esperança e beleza para todos os jovens do mundo". Que através da intercessão de Santa Úrsula, "Deus abençoe a todos vocês, seus educadores e seus projetos". Abençoe também "todos os estudantes do mundo, para que eles nunca parem de sonhar um mundo melhor", conclui Francisco.

Mariangela Jaguraba

Papa à "Fraternidad Santo Tomás": o ensino é uma das obras de misericórdia espiritual

“Ao viver o seu carisma, realizado concretamente através da educação, é importante lembrar que o ensino é precisamente uma das obras de misericórdia espiritual”. São palavras do discurso entregue por Francisco aos membros da “Fraternidad de Agrupaciones Santo Tomás de Aquino” por ocasião do 60° aniversário de fundação. O encontro foi nesta sexta-feira (30) na Sala Clementina no Vaticano

O Papa Francisco recebeu na manhã desta sexta-feira (30) os membros da “Fraternidad de Agrupaciones Santo Tomás de Aquino” por ocasião do 60° aniversário de fundação. A “Fraternidad” é uma comunidade de leigos e sacerdotes que através da formação e do compromisso procura evangelizar e construir a pátria. Francisco entregou aos presentes o discurso preparado e falou de improviso. Eis o resumo do texto entregue: 

Missão dos leigos

Francisco iniciou seu discurso refletindo que uma das novidades do Concílio Vaticano II foi tomar consciência dos direitos e deveres dos leigos com relação à missão evangelizadora. “É sempre surpreendente – escreveu o Papa - ver como o Espírito Santo entra em cada realidade do ser humano através dos talentos que inspira nos discípulos de Jesus. E hoje vemos como sua ‘Fraternidad’ abraçou a mensagem conciliar e iniciou vários projetos para a evangelização da cultura, da juventude e da família, criando uma grande variedade de instituições educacionais, tais como escolas, universidades e residências universitárias em várias partes do mundo”. Além disso, continuou “a Fraternidad Santo Tomás de Aquino para sacerdotes e a Fraternidad Apostólica Santa Catarina de Sena para as consagradas são um serviço valioso para amadurecer os carismas do ensino em todos os fiéis, inclusive naqueles que se consagraram ao Senhor”.

Harmonia entre fé e razão

Citando o contexto histórico em que viveu o santo padroeiro, Tomás de Aquino, Francisco recordou que “ele também teve seus desafios”. “Naquela época, no século XIII, os escritos do filósofo grego Aristóteles estavam sendo redescobertos no Ocidente. Alguns estavam relutantes em estudar suas obras, pois temiam que seu pensamento pagão estivesse em desacordo com a fé cristã. No entanto, Santo Tomás descobriu que a maioria das obras de Aristóteles estavam em sintonia com a Revelação Cristã. Ou seja":

“Santo Tomás conseguiu mostrar que existe uma harmonia natural entre fé e razão. Quando nos damos conta desta riqueza, essencial para superar o fundamentalismo, o fanatismo e as ideologias, abre-se um amplo caminho para levar a mensagem da Boa Nova a diferentes culturas, sempre com propostas compatíveis com a inteligência humana e respeitosas da identidade de cada povo”

Santo Tomás e sua profunda relação com Deus

Prosseguindo sobre os testemunhos deixados pelo Santo continuou: “Santo Tomás nos deixou sua profunda relação com Deus, que se manifesta, por exemplo, em sua adoração a Jesus em sua presença real na Eucaristia”. "Sua espiritualidade o ajudou a descobrir o mistério de Deus, enquanto seus talentos lhe possibilitaram moldá-los por escrito. Este é um fato importante: para descobrir a presença do Senhor no mundo, nos acontecimentos, é necessário rezar, ter o coração unido com o de Jesus no sacrário". Concluindo seu pensamento disse: “É precisamente a fé e a razão, quando andam de mãos dadas, que são capazes de valorizar a cultura do ser humano, impregnar o mundo de sentido e construir sociedades mais humanas, mais fraternas e, consequentemente, mais cheias de Deus”. Dirigindo-se aos presentes disse ainda:

“Ao viver o seu carisma, realizado concretamente através da educação, é importante lembrar que o ensino é precisamente uma das obras de misericórdia espiritual”

Concluindo o Santo Padre sugeriu:  

“A educação oferece um sentido, uma narrativa para cada elemento da vida humana. Não termina com o compartilhamento de conhecimentos ou o desenvolvimento de habilidades, mas, como mostra sua etimologia, ajuda a realçar o melhor de cada pessoa, para polir o diamante que o Senhor colocou em cada um. A educação ajuda a garantir que este diamante deixe passar a Luz, que é Cristo (cf. Jo 8,12) e assim brilha no meio do mundo”. "Recordemos ainda - disse - que o Senhor nos faz participantes da sua luz, da sua própria natureza e, por isso, cada um dos seus discípulos e das suas discípulas, ilumina o mundo, afastando as trevas e transformando a realidade”.

Jane Nogara 

 

“Alegria, simplicidade e largo sorriso no rosto”: Papa recebe bispos do Estado de São Paulo

Da sinodalidade, passando pelas guerras, armas e missão: foram muitos os temas debatidos na audiência que o Papa Francisco concedeu esta manhã aos bispos das províncias eclesiásticas de Botucatu, Campinas e Ribeirão Preto, no âmbito da visita ad Limina do Regional Sul 1 da CNBB.

“Alegria, simplicidade e largo sorriso no rosto”: assim o Papa Francisco recebeu esta manhã, no Vaticano, os bispos do Regional Sul 1 da CNBB, segundo o arcebispo de Campinas, Dom João Inácio Müller.

Participaram do encontro, no âmbito da visita ad Limina, os prelados das províncias eclesiásticas de Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto.

De acordo com o bispo franciscano, o Pontífice ressaltou a importância de manter viva nas dioceses as obras de caridade, pois “nosso povo continua a precisar de ajuda, tem fome".

Outro tema foi a missionariedade. Deus é em saída e assim deve ser a Igreja: “Não podemos nos manter numa Igreja quadrada, só com projetos e achar que tudo tem que ser certinho. O Papa disse que não. A Igreja que caminha vê as situações que requerem intervenção, que se pare e se faça o que é necessário fazer”. Outro conselho do Papa, segundo Dom Müller, é olhar para Jesus, já que “quem não medita sobre Jesus não terá o caminhar de Jesus”. Isto implica acolher todas as pessoas sem discriminação e sem rigidez.

Sinodalidade, guerras e tradição

Por sua vez, o arcebispo metropolitano de Ribeirão Preto, Dom Moacir Silva, afirmou que para todas as questões apresentadas pelos bispos o Papa “sempre nos deu uma palavra de ânimo, de encorajamento, nos incentivando na missão”. E recordou as quatro proximidades na vida do bispo: com o Senhor, entre os irmãos no colégio episcopal, com os presbíteros e com o povo de Deus.

Já o bispo diocesano de Barretos, Dom Milton Kenan Júnior, citou outro tema na pauta: a sinodalidade. O Papa pediu que o Sínodo seja vivido como um momento para dar espaço para que todos possam falar, possam manifestar-se. A sinodalidade não é um parlamento, mas sim a experiência de ouvir o Espírito, deixar-se conduzir por Ele.

Dom Milton referiu que Francisco falou ainda a respeito das guerras que estão ocorrendo em diversas partes do mundo e a necessidade de a Igreja fazer o papel de intermediária, com uma “crítica bastante firme em relação às armas”.

Outro assunto foi tradição: “O tradicionalista desvirtua a tradição, porque a tradição é criativa, é fecunda quando é capaz de iluminar novos caminhos e perspectivas. O tradicionalista, por sua vez, se prende à tradição e deixa de abrir-se ao futuro”.

“Os bispos saíram bastante entusiasmados, impressionados com a disponibilidade e abertura do Santo Padre.”

Bianca Fraccalvieri 

 

Vaticano recebe grandes nomes do esporte para assinar Declaração do Esporte para Todos

O esporte de inclusão social orienta toda a Cúpula Internacional do Esporte que está sendo realizada no Vaticano com representantes da CBF, do Comitê Olímpico e Paralímpico Internacional, do Comitê Internacional e Brasileiro Pierre de Coubertien, da própria Unesco e da Caritas, além do delegado episcopal nomeado pelo Papa Francisco para os Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, dom Emmanuel Gobilliard. Na tarde desta sexta-feira (30), o evento se conclui com a assinatura de todos participantes.

Dois dias no Vaticano para se entrar em quadra e jogar a partida que vê o esporte como fator de inclusão social, a começar pelo Papa Francisco, que na manhã desta sexta-feira (30) recebeu o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, e o diretor geral Christoph de Kepper. Eles participaram da última sessão de discussão da Cúpula Internacional do Esporte, com convidados de relevância internacional, dedicada à "coesão", um dos três elementos que orientam o evento, além da questão da acessibilidade ao esporte e também de estar ao alcance de todos.

Na introdução ao tema e para coordenar o debate desta sexta-feira (30), na Aula Nova do Sínodo, estava Nelson Todt, professor brasileiro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e também presidente do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, além de vice-presidente da associação em nível internacional. Ele fez um breve discurso sobre a necessidade de reduzir a distância entre o esporte de base e o profissional, na convicação de que a unidade do esporte é um valor a ser preservado e cultivado.

A Declaração do Esporte para Todos

Os três grandes temas analisados em dois dias de evento fazem parte da "Declaração do Esporte para Todos" escrito por um grupo de trabalho formado por colaboradores dos promotores da Cúpula, isto é, pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, e pelo Dicastério para a Cultura e a Educação. Entre eles, também estava o brasileiro Nelson, como único representante da América Latina:

“A importância de um documento como esse é justamente não ser mais um documento é justamente não ser mais um documento, quando se perde, muitas vezes, pelo distanciamento que acaba acontecendo entre discurso e a prática. Este evento tenta diminuir essa distância e impulsionar aos representantes que estarão do mundo inteiro a desenvolver iniciativas em seus países.”

A Declaração é um convite concreto às 200 pessoas do mundo do esporte envolvidas na Cúpla a se comprometerem com ações dentro dos três elementos que fazem parte do documento: a coesão, a acessibilidade e o esporte ser adaptável a todos. Entre os envolvidos, está a Confederação Brasileira de Futebol, presente no evento através do presidente Ednaldo Rodrigues. Segundo ele, a CBF vem trabalhando no esporte como ferramente para o desenvolvimento integral da pessoa humana: "estamos numa cruzada contra o racismo, a violência e todo tipo de discriminação para que o futebol seja instrumento de uma cultura de paz na sociedade".

A assinatura será feita ao final da tarde desta sexta-feira (30), na Sala Paulo VI, com transmissão ao vivo do Vatican News, com comentários em português, a partir das 16h na Itália, 11h no horário de Brasília. E com a presença do Papa Francisco, enaltece Nelson:

"De certa forma ele já está envolvido tradicionalmente, através da sua própria história, já que ele é um fã de futebol, mas ele também vê a questão social, educacional e espiritual do esporte."

Andressa Collet 

Fonte: Vatican News