Cultura

O Papa aos Cistercienses: na Igreja, todos os carismas são para evangelização do povo





Não há carismas que sejam missionários e outros que não o sejam. Todos os carismas, enquanto dados à Igreja, são para a evangelização do povo; claro que de maneiras diferentes, muito diferentes, de acordo com a "imaginação" de Deus.: disse o Papa aos os participantes do Capítulo Geral dos Cistercienses Trapistas, recebidos em audiência esta sexta-feira. Em seu discurso, Francisco refletiu sobre o sonho de comunhão, sonho de participação, sonho de missão e sonho de formação

O Papa Franciso recebeu em audiência, ao meio-dia desta sexta-feira, 16 de setembro, na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Capítulo Geral dos Cistercienses Trapistas - um grupo de 200 monges – cuja segunda parte está em andamento na Porciúncula de Santa Maria dos Anjos em Assis, região italiana da Úmbria.

Em seu discurso, ao agradecer ao Abade Geral pelas palavras que lhe foram dirigidas, o Santo Padre ressaltou que o novo Abade, logo após sua eleição, colocou-se em viagem para visitar as doze regiões em que se encontram os mosteiros da Ordem, "colhendo os sonhos dos superiores", sintetizados do seguinte modo: sonho de comunhão, sonho de participação, sonho de missão e sonho de formação.

Sonhos que, disse o Pontífice, imagino sejam objeto de discernimento nesta segunda parte do Capítulo. Francisco propôs algumas reflexões sobre estes quatro "caminhos", interpretando estes sonhos através de Cristo mediante o Evangelho e imaginando - em sentido objetivo, contemplativo – como Jesus sonhou estas realidades. "De fato, estes sonhos nos edificam como pessoas e como comunidade na medida em que não são nossos, mas seus, e nós os assimilamos no Espírito Santo", observou.

Comunhão

O Papa refletiu sobre sonhar com Jesus a comunhão de seus discípulos, a nossa comunhão enquanto "seus".

Esta comunhão - é importante deixar claro - não consiste em uma nossa uniformidade, homogeneidade, compatibilidade, mais ou menos espontânea ou forçada, não; consiste em nossa relação comum com Cristo, e n’Ele com o Pai no Espírito. Jesus não teve medo da diversidade que existia entre os Doze e, portanto, também nós não devemos temer a diversidade, porque o Espírito Santo gosta de suscitar diferenças e fazer delas uma harmonia. Ao invés, nossos particularismos, nossos exclusivismos, esses sim, devemos temer, porque causam divisões. Portanto, o sonho de comunhão de Jesus nos liberta da uniformidade e das divisões.

Participação

Refletindo sobre a participação, Francisco destacou que aí podemos contemplar o sonho de Jesus de uma comunidade fraterna, onde todos participam com base em uma relação filial comum com o Pai e como discípulos de Jesus.

Em particular, uma comunidade de vida consagrada pode ser um sinal do Reino de Deus, testemunhando um estilo de fraternidade participativa entre pessoas reais e concretas que, com suas limitações, escolhem a cada dia, confiando na graça de Cristo, viverem juntas.

Missão

Em seguida, o Pontífice afirmou que o Evangelho também nos traz o sonho de Jesus de uma Igreja toda missionária: "Ide e fazei discípulos todos povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o que vos tenho mandado" (Mt 28,19-20). Este mandato diz respeito a todos, na Igreja, destacou o Papa.

Não há carismas que sejam missionários e outros que não o sejam. Todos os carismas, enquanto dados à Igreja, são para a evangelização do povo; claro que de maneiras diferentes, muito diferentes, de acordo com a "imaginação" de Deus. Um monge que reza em seu mosteiro faz a sua parte para levar o Evangelho àquela terra, para ensinar às pessoas que lá vivem que temos um Pai que nos ama e neste mundo estamos a caminho do Céu.

Formação

Por último, o Santo Padre refletiu sobre o sonho da formação. Os Evangelhos nos mostram Jesus cuidando de seus discípulos, educando-os com paciência, explicando-lhes, em disparte, o significado de certas parábolas; e iluminando com palavras o testemunho de seu modo de vida, de seus gestos.

Por exemplo, quando Jesus, depois de ter lavado os pés dos discípulos, lhes diz: "Eu vos dei um exemplo para que também vós façais como eu vos fiz" (Jo 13,15), o Mestre sonha com a formação de seus amigos segundo o caminho de Deus, que é a humildade e o serviço. E quando, um pouco mais tarde, afirma: "Ainda tenho muitas coisas a dizer-vos, mas no momento não podeis suportar o peso" (Jo 16,12), Jesus deixa claro que os discípulos têm um caminho a fazer, uma formação a receber; e promete que o Formador será o Espírito Santo: "Quando Ele, o Espírito da verdade, vier, ele vos guiará em toda a verdade". E poderia haver muitas referências evangélicas que atestam o sonho de formação no coração do Senhor. Gosto de resumi-los como um sonho de santidade, renovando este convite: "Que a graça de vosso batismo dê frutos em um caminho de santidade". Que tudo esteja aberto a Deus e, para este fim, escolhê-Lo, escolhê-Lo sempre de novo. Não desanimeis, pois tendes o poder do Espírito Santo para torná-lo possível, e a santidade, no fundo, é o fruto do Espírito Santo em vossa vida.

Por fim, Francisco fez aos monges cistercienses os votos de que concluam da melhor forma seu Capítulo Geral, confiando-os à proteção da Virgem Maria, e abençoando todos eles e seus confrades espalhados no mundo inteiro.

Raimundo de Lima

 

Foi suprimida a Fundação Populorum Progressio, mas a missão continua

Em um Rescrito o Papa Francisco ordenou a supressão da Fundação e em seu lugar criou o Fundo Populorum Progressio: a Fundação muda sua forma - sublinhou Francisco na audiência ao Conselho de Administração - mas mantém a missão, permanecendo uma obra de caridade do Papa para os pobres da América Latina e do Caribe

A fim de "promover maiores laços com as Igrejas locais" e tornar mais eficazes os programas de desenvolvimento integral nas comunidades indígenas e afrodescendentes mais negligenciadas e pobres da América Latina, o Papa Francisco com um Rescrito em vigor a partir de hoje ordenou a supressão da Fundação 'Populorum Progressio', parte do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, e a criação de um Fundo com o mesmo nome, confiando-o ao CELAM, o Conselho Episcopal Latino-americano. O Pontífice explicou suas motivações em seu discurso aos membros do conselho de administração da Fundação reunidos hoje.

Desejando que a ajuda ao desenvolvimento de projetos continue sendo uma expressão da caridade do Papa, mas não tenha seu centro na Cúria Romana, e também na linha de simplificação, confiei ao CELAM a tarefa de nos ajudar na análise dos projetos e sua implementação. O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral manterá a responsabilidade pela administração do fundo, que estará vinculado ao serviço desta missão. 

Populorum progressio, uma história em evolução

Francisco tomou sua decisão - de acordo com o cân. 120 §1 do Código de Direito Canônico, especifica o Rescrito - na audiência concedida em 7 de setembro ao Prefeito do dicastério, Michael Czerny, a quem confiou a tarefa de emitir os regulamentos relativos ao novo Fundo. Esta foi a forma concebida por Paulo VI em 1969, no segundo aniversário de sua Encíclica Populorum Progressio, para ajudar os camponeses pobres e promover a reforma agrária, a justiça social e a paz na América Latina, de acordo com as diretrizes oferecidas pelos Episcopados do continente.

Em 1992, João Paulo II pensou em uma Fundação, como "um gesto de amor solidário da Igreja para com aqueles que estão abandonados e mais necessitados de proteção, como as populações indígenas, mestiças e afro-americanas". Trinta anos depois, a escolha de Francisco faz parte da reforma da Cúria Romana, que "encontrou sua expressão na Praedicate Evangelium" e está dando origem a "uma série de mudanças necessárias", acrescentou o Papa.

Um Fundo com a mesma missão e obra de caridade do Papa

Expressando sua gratidão àqueles que durante os últimos trinta anos trabalharam para a Fundação Populorum Progressio, "que agora muda sua forma", Francisco sublinha que o novo Fundo "mantém sua missão e continua sendo uma obra de caridade do Papa". Aponta ainda que "muitas famílias na América Latina e no Caribe sobrevivem em condições subumanas" e que o Documento Final de Aparecida fala dos excluídos, que "não são apenas 'explorados', mas ‘supranumerários’, descartados’". E recorda que a Assembleia Eclesial do Continente, ainda em desenvolvimento, "foi uma oportunidade para escutar o grito dos pobres", enquanto o Sínodo na Amazônia deu a conhecer a "realidade da exclusão em que vivem as comunidades indígenas e afro-descendentes". Citando a Fratelli tutti, o Pontífice acrescenta então que "diante das várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros", é necessário "reagir com um novo sonho de fraternidade e de amizade social que não se limite às palavras".

Ao percorrermos o caminho sinodal, devemos crescer como uma Igreja "samaritana" que conforta, se compromete e se abaixa para tocar as feridas da carne sofredora de Cristo no povo. Ele queria se identificar com os mais pobres e marginalizados, e nos oferecer a sua presença misericordiosa neles.

Envolvendo ativamente os pobres

O desejo do Papa é que "as iniciativas de solidariedade mostrem que é possível mudar, que a realidade não está bloqueada" e que, se empreendidas com sabedoria e coerência, motivem muitos. Assim, Francisco reitera que os pobres devem estar envolvidos em projetos que lhes dizem respeito.

Os pobres não devem ser vistos como destinatários de obras de caridade. Eles devem ser uma parte ativa do discernimento das necessidades mais urgentes.

Uma só família ao lado dos últimos

Para Francisco, é importante que nos libertemos "da mentalidade paternalista, que amplia a disparidade entre os que são chamados a formar uma só família". Por fim, o Papa renovou sua gratidão a todos aqueles que serviram na Fundação Populorum Progressio, expressando também "gratidão às organizações internacionais que colaboraram" e encorajando-as "a dar continuidade a este compromisso". E concluindo seu discurso, o Pontífice evocou a Virgem Maria para que "com seu carinho e ternura de mãe", ela pudesse nos exortar "a estar perto dos mais pobres e esquecidos, que Deus certamente não esquece".

Fonte: Vatican News