Cultura

Papa: deixar-se inquietar por quem se afastou, como Deus que sofre quando nos afastamos





"Recordemo-nos: Deus sempre nos espera de braços abertos, qualquer que seja a situação de vida em que nos perdemos. Como diz um Salmo, ele não adormece, ele sempre vela por nós."

Um Deus com coração de pai e mãe, que sofre quando nos distanciamos dele, quando nos perdemos, mas que continuamente vela por nós, espera o nosso retorno para nos ter em seus braços.

Jesus fazendo a refeição com os pecadores: escândalo para fariseus e escribas, ao mesmo tempo a revelação de que Deus "não exclui ninguém, deseja todos em seu banquete, porque ama a todos como filhos". 

Três parábolas da misericórdia que resumem o coração do Evangelho: Deus é Pai e vem nos procurar sempre que nos perdemos.

Inspirado no Evangelho de Lucas da liturgia do dia, o Papa convidou os milhares de peregrinos e turistas reunidos na Praça São Pedro para o Angelusdominical - a também a nós -, a prestar atenção na "inquietação pela falta",aspecto comum aos protagonistas das parábolas: um pastor que procura a ovelha perdida, uma mulher que encontra a moeda perdida e o pai do filho pródigo.

Os três - explicou Francisco - se fizessem alguns cálculos, poderiam ficar tranquilos: "ao pastor falta uma ovelha, mas tem outras noventa e nove; à mulher uma moeda, mas tem outras nove; e também o Pai tem outro filho, obediente, a quem se dedicar. Por que pensar no outro que se foi, para viver uma vida desregrada?" Mas em seus corações, "existe uma inquietação por aquilo que falta: a ovelha, a moeda, o filho que foi embora."

“Quem ama se preocupa com aqueles que faltam, sente saudades de quem está ausente, procura quem se perdeu, espera por quem se afastou. Porque quer que ninguém se perca.”

Irmãos e irmãs - disse o Papa - Deus é assim:

Ele não fica "tranquilo" se nos afastamos d'Ele, ele sofre, treme no seu íntimo; e sai a nossa procura, até que nos traga de volta em seus braços. O Senhor não calcula as perdas e os riscos, tem um coração de pai e de mãe, e sofre com a falta dos filhos amados. "Mas por que sofre se este filho é um desgraçado, se foi embora? Sofre, sofre. Deus sofre com a nossa distância e, quando nos perdemos, espera o nosso retorno. Recordemo-nos: Deus sempre nos espera, Deus sempre nos espera de braços abertos, qualquer que seja a situação de vida em que nos perdemos. Como diz um Salmo, ele não adormece, ele sempre vela por nós.

Como costuma fazer em suas reflexões, o Papa faz o convite para olharmos para nós mesmos e nos perguntarmos:

Imitamos o Senhor nisso, ou seja, temos a inquietação pela falta? Temos saudades de quem está ausente, dos que se afastaram da vida cristã? Carregamos essa inquietação interior ou permanecemos calmos e imperturbáveis ​​entre nós? Em outras palavras, quem falta em nossas comunidades, realmente nos faz falta ou fazemos de conta e não toca o coração? Quem falta na minha vida, realmente faz falta? Ou estamos bem entre nós, tranquilos  e felizes em nossos grupos -"não, vou a um grupo apostólico, muito bom...-, sem nutrir compaixão por quem está distante? Não se trata somente de estar “aberto aos outros”, é Evangelho! O pastor da parábola não disse: "Já tenho noventa e nove ovelhas, quem me faz ir procurar a perdida, a perder tempo?" Ao invés disso Ele foi.

Neste sentido, a exortação a fazermos uma reflexão sobre nossas relações:

Eu rezo por quem não acredita, por quem está longe, por quem está amargurado? Atraímos os distantes pelo estilo de Deus, este estilo de Deus que é proximidade, compaixão e ternura? O Pai pede que estejamos atentos aos filhos que mais lhe fazem falta. Pensemos em alguém que conhecemos, que está ao nosso lado e que talvez nunca tenham ouvido alguém dizer: “Sabe? Tu és importante para Deus”. "Mas, por favor, eu estou em situação irregular, fiz isto errado, mais isso..". Tu és importante para Deus: dizer isso. Tu não o buscas, mas Ele te busca.

Deixemo-nos inquietar, que sejamos homens e mulheres de coração inquieto, deixemo-nos inquietar por estas interrogações e rezemos a Nossa Senhora, mãe que não se cansa de nos procurar e de cuidar de nós, seus filhos.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

 

Francisco pede oração por sua viagem ao Cazaquistão: mundo tem sede de paz

"Será uma oportunidade para encontrar muitos representantes religiosos e dialogar como irmãos, animados pelo desejo comum de paz, paz da qual nosso mundo está sedento."

O mundo tem sede de paz: na terça-feira, 13 de setembro, o Papa inicia a 38ª Viagem Apostólica de seu Pontificado, que o levará ao Cazaquistão por ocasião do VII Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais, com o lema "Mensageiro de paz e unidade". No Angelus deste domingo, o pedido aos fiéis para que acompanhem com a oração sua peregrinação de diálogo e paz:

Depois de amanhã partirei para uma viagem de três dias ao Cazaquistão, onde participarei do Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais. Será uma oportunidade para encontrar muitos representantes religiosos e dialogar como irmãos, animados pelo desejo comum de paz, paz da qual nosso mundo está sedento. Desde já desejo dirigir uma cordial saudação aos participantes, bem como às autoridades, às comunidades cristãs e a toda a população daquele vasto país. Agradeço os preparativos e o trabalho realizado em vista da minha visita. Peço a todos que acompanhem com a oração esta peregrinação de diálogo e paz.

 

O programa da viagem

No dia 13 de setembro, o Pontífice parte para Nur-Sultan, capital do país. Após a cerimônia de boas-vindas no Palácio Presidencial, está agendada uma visita de cortesia ao presidente da República e um encontro com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático.

O "VII Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais" está programado para ter início em 14 de setembro, e será precedido pela oração silenciosa dos líderes religiosos. O Congresso, que reunirá mais de cem delegações de 50 países, tem como tema “O papel dos líderes das religiões mundiais e tradicionais no desenvolvimento espiritual e social da humanidade no período pós-pandemia”. Também no dia 14 de setembro, após encontros privados com alguns líderes religiosos, o Papa celebra a Santa Missa na praça da Expo em Nur-Sultan.

O dia 15 de setembro tem início com um encontro privado com os membros da Companhia de Jesus, que antecede a leitura da Declaração Final e a conclusão do Congresso. Após a cerimônia de despedida, programado o voo do Aeroporto Internacional Nur-Sultan em direção a Roma.

 

Nas pegadas de São João Paulo II

O Papa Francisco é o segundo Pontífice a visitar este país. São João Paulo II foi ao Cazaquistão em 2001, dez anos após a proclamação da independência do país.

O Cazaquistão, do ponto de vista étnico, é um dos Estados mais diversificados do mundo. Os habitantes são mais de 19 milhões. 70% são de fé muçulmana, 26% são cristãos, principalmente ortodoxos. Há cerca de 120.000 católicos.

A República do Cazaquistão proclamou sua independência em 16 de dezembro de 1991, a última das ex-repúblicas soviéticas a fazê-lo no contexto do processo de dissolução da URSS. “A data de 16 de dezembro de 1991 - disse o Papa Wojtyła durante a cerimônia de boas-vindas em 2001 - está gravada em caracteres indeléveis nos anais de sua história. A liberdade reconquistada reacendeu em vós uma confiança mais sólida no futuro e estou convicto de que a experiência vivida é rica de ensinamentos para avançar com coragem para novas perspectivas de paz e progresso. O Cazaquistão quer crescer na fraternidade, no diálogo e na compreensão, premissas indispensáveis ​​para “construir pontes” de solidariedade com outros povos, nações e culturas”.

 

- Papa recorda religiosa assassinada em Moçambique

Após a oração mariana, o Santo Padre recordou que a religiosa comboniana "serviu com amor durante quase sessenta anos" o povo do país africano. Do Pontífice também uma saudação especial ao querido povo da Etiópia, "que hoje celebra o seu tradicional Ano Novo".

Quase 60 anos de missão em Moçambique tiveram seu fim com uma morte trágica. A religiosa comboniana italiana, Irmã Maria De Coppi, missionária em Moçambique desde 1963, foi assassinada por um grupo terrorista na Missão Católica de Chipene, em 6 de setembro.

Após rezar o Angelus, o Santo Padre pediu que "seu testemunho dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo moçambicano". Ainda no sábado, na Sala Paulo VI, ao encontrar os catequistas reunidos em seu Congresso internacional, Francisco havia recordado os tantos catequistas e missionários mártires, "ainda hoje", "tantos"!:

 

Neste momento de oração, gostaria de recordar a Irmã Maria De Coppi, Missionária Comboniana, morta em Chipene, Moçambique, onde serviu com amor durante quase sessenta anos. Que o seu testemunho dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo moçambicano.

"A mulher da mansidão". Assim foi recordada a religiosa comboniana durante seu funeral em Moçambique, em 9 de setembro. Diante do caixão, o arcebispo de Napula, Dom Inácio Saure, recordou as palavras do profeta Ezequiel: "Que o pecador se converta e viva". O Estado Islâmico reivindicou o ataque. O bispo: se confirmado, seria mártir.

A comunidade comboniana de Chipene, no norte do país, foi atacada na noite de 6 para 7 de Setembro por um grupo armado. Irmã Maria De Coppi, 84 anos de origem veneziana, foi morta com um tiro. Duas outras religiosas da comunidade e dois padres fidei donum conseguiram escapar.

A saudação do Papa ao povo da Etiópia

Francisco enviou "uma saudação especial ao querido povo da Etiópia, que neste domingo celebra o seu tradicional Ano Novo": "Asseguro-vos as minhas orações e desejo a todas as famílias e a toda a nação o dom da paz e da reconciliação".

Entre a seca e os conflitos

Na Etiópia ainda são travados combates no norte do país, onde desde novembro de 2020 há um conflito sangrento entre a Frente de Libertação Popular Tigray (TPFL) e as forças do governo. Um conflito - como também aponta o Osservatore Romano - que agrava ainda mais a crise humanitária no país, já abalada por uma seca crônica, pela escassez de colheitas. Em particular, estima-se que pelo menos 7 milhões de crianças na Etiópia precisam de ajuda. O conflito na região de Tigray, com o cessar-fogo de março cada vez mais frágil, é uma das tragédias que dilacera o país: nos últimos dias um asilo em Makallè foi bombardeado, causando inúmeras vítimas.

Jackson Erpen 

 

Angelus: Krajewski leva proximidade concreta do Papa e da Igreja aos ucranianos

É a quarta vez que o cardeal polonês, prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade, dirige-se à Ucrânia para levar ajuda.

Contra-ofensiva do exército ucraniano no sul e leste do país, enquanto inúmeras cidades e povoados continuam a sofrer com ataques de mísseis e foguetes lançados da Rússia, que deixam um rastro de mortes e destruição. Mais uma vez, o pedido do Santo Padre para que Deus dê conforto e esperança à população ucraniana. Mas a proximidade do Papa aos ucranianos não é somente espiritual, a seu pedido, o cardeal Konrad Krajewski dirigiu-se novamente ao país do leste europeu:

 

Continuemos a rezar pelo povo ucraniano, para que o Senhor lhe dê conforto e esperança. Nestes dias, o cardeal Krajewski, prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade, está na Ucrânia para visitar várias comunidades e testemunhar concretamente a proximidade do Papa e da Igreja.

É a quarta missão do cardeal na Ucrânia, desde 24 de fevereiro. Desta vez, o purpurado polonês leva a proximidade e apoio concreto do Santo Padre às áreas de Odessa, Žytomyr, Charkiv, mas também a outros lugares no leste da Ucrânia. O esmoler doará o veículo que será usado na distribuição de ajuda aos pobres.

Em um comunicado do Dicastério para o Serviço da Caridade, divulgado nestes dias pela Sala de Imprensa da Santa Sé, é informado que a missão do esmoler pontifício é "visitar e apoiar várias comunidades de fiéis, sacerdotes e religiosos, e seus bispos, que por mais de 200 dias continuam nos lugares de seu ministério apesar dos perigos da guerra".

Jackson Erpen 

Fonte: Vatican News