O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (1°/09), na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da Associação italiana de Professores e Cultores de Liturgia, por ocasião de seus 50 anos de fundação.
No início de seu discurso, Francisco agradeceu às pessoas que, 50 anos atrás, "tiveram a coragem de tomar a iniciativa e dar vida a essa realidade". Agradeceu "aos que participaram neste meio século, dando sua contribuição para a reflexão sobre a vida litúrgica da Igreja", e "pela contribuição que a Associação deu ao acolhimento na Itália da reforma litúrgica inspirada no Concílio Vaticano II".
O Papa encorajou os membros da Associação italiana de Professores e Cultores de Liturgia a levarem adiante a atividade de estudo e pesquisa no diálogo entre os membros do organismo e com os outros, "pois a teologia também pode e deve ter um estilo sinodal, envolvendo as diversas disciplinas teológicas e das ciências humanas, "criando redes" com as instituições que, mesmo fora da Itália, cultivam e promovem estudos litúrgicos".
Segundo o Papa, nesse sentido é indispensável o propósito do organismo "de se manter à escuta das comunidades cristãs, para que seu trabalho nunca seja separado das expectativas e necessidades do Povo de Deus. Esse povo, do qual fazemos parte, sempre precisa ser formado, crescer, mas em si mesmo possui esse senso de fé, o sensus fidei, que o ajuda a discernir o que vem de Deus e que realmente o leva a Ele, também na esfera litúrgica".
A liturgia é obra de Cristo e da Igreja, e como tal é um organismo vivo, como uma planta que não pode ser transcurada ou maltratada. Não é um monumento de mármore ou bronze, não é uma coisa de museu. A liturgia está viva como uma planta, e deve ser cultivada com cuidado. E também, a liturgia é alegre, com a alegria do Espírito, não de uma festa mundana, com a alegria do Espírito. É por isso que não se entende, por exemplo, uma teologia fúnebre: não funciona. É alegre, porque canta louvor ao Senhor.
"Por esse motivo, o seu trabalho de discernimento e pesquisa não pode separar a dimensão acadêmica da dimensão pastoral e espiritual", frisou o Papa. "Uma das principais contribuições do Concílio Vaticano II foi a de tentar superar o divórcio entre teologia e pastoral, entre fé e vida".
Hoje, mais do que nunca, precisamos de uma visão elevada da liturgia, que não se reduza a examinar detalhe de rubrica: uma liturgia que não seja mundana, mas que faça elevar os olhos para o céu, para sentir que o mundo e a vida são habitados pelo Mistério de Cristo; e, ao mesmo tempo, uma liturgia com "pés no chão", propter homines, não distante da vida, não com aquela exclusividade mundana: não. Isso não tem nada a ver, mas séria, próxima das pessoas. Portanto, as duas coisas juntas: voltar o olhar para o Senhor sem virar as costas para o mundo.
A seguir, Francisco recordou Romano Guardini, "que se destacou por sua capacidade de difundir as aquisições do movimento litúrgico fora da esfera acadêmica, de forma acessível, para que todo fiel, começando pelos jovens, pudesse crescer no conhecimento vivo e experiencial do significado teológico e espiritual da liturgia". "Que sua figura e sua abordagem à educação litúrgica, tanto moderna quanto clássica, sejam um ponto de referência para vocês, para que seu estudo una inteligência crítica e sabedoria espiritual, fundamento bíblico e arraigamento eclesial, abertura à interdisciplinaridade e atitude pedagógica".
O progresso na compreensão e também na celebração litúrgica deve estar sempre arraigado na tradição, que sempre leva a pessoa adiante naquele sentido que o Senhor quer. Há um espírito que não é o da verdadeira tradição: o espírito mundano do retrocesso, agora na moda: pensar que voltar às raízes significa caminhar para trás. Não, são coisas diferentes. Se você volta às raízes, as raízes levam você para cima, sempre. Como a árvore que cresce a partir do que vem de suas raízes. Voltar às raízes, porque a tradição é a garantia do futuro. "Não somos pessoas que caminham para trás." Não. Ir adiante de acordo com a linha dada pela tradição.
Por fim, "a coisa mais importante: que seu estudo da liturgia seja imbuído de oração e experiência viva da Igreja que celebra, de modo que a liturgia "pensada" possa fluir sempre, como de uma linfa vital, da liturgia vivida", disse o Papa. "A teologia é feita com a mente aberta e ao mesmo tempo "de joelhos". Isso vale para todas as disciplinas teológicas, mas ainda mais para a sua, que tem como objeto o ato de celebrar a beleza e a grandeza do mistério de Deus que se doa a nós", concluiu Francisco.
Mariangela Jaguraba
- Papa a Padres de Schönstatt: diante de adversidades, portadores de esperança
"Agradeço ao novo Superior Geral, padre Alexandre Awi Mello, por suas amáveis palavras, bem como por seu serviço como secretário no Dicastério para os Leigos, a Família e Vida. E outros serviços anteriores, porque este o conhecemos ‘poldro’, foi meu secretário em Aparecida, depois meu guia no Rio de Janeiro, depois meu secretário aqui. Obrigado por sua colaboração durante estes últimos anos em comunhão com o Sucessor de Pedro, em favor de toda a Igreja. Desejo-lhe um ministério frutuoso nesta nova responsabilidade que lhe foi confiada."
Foram palavras do Papa Francisco ao receber na manhã desta quinta-feira, 1º de setembro, na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes do capítulo geral dos Padres de Schönstatt, com as quais agradeceu ao novo Superior Geral, o sacerdote brasileiro, Padre Alexandre Awi, por seu serviço nos últimos cinco anos junto à Sé de Pedro, felicitando-o nesta nova missão. O Santo Padre disse rezar ao Espírito Santo para que faça frutificar todos os esforços que os padres da comunidade de Schönstatt fizeram durante o Capítulo Geral.
Francisco ressaltou que "o sangue de Jesus derramado na cruz e oferecido como sacrifício de amor por todos nós constituiu uma relação irrevogável entre Deus e a humanidade: um pacto de amor, um pacto de salvação".
Vocês, queridos irmãos, realizam um belo serviço à Igreja e ao mundo, especialmente acompanhando as famílias nos vários acontecimentos e vicissitudes que atravessam, anunciando a todos os seus membros a beleza da "Aliança de Amor" que o Senhor estabeleceu com seu povo. Hoje em dia existem muitos casamentos em crise, jovens tentados, idosos esquecidos, crianças que sofrem. Vocês são os portadores de uma mensagem de esperança nestas situações sombrias que atravessa cada etapa da vida.
A este ponto de seu discurso Francisco foi enfático ao afirmar que "o mundo exige cada vez mais que demos respostas às interpelações e preocupações dos homens e mulheres de nosso tempo". Observou que "dentro das famílias, muitas vezes existe uma lacuna no entendimento entre os idosos e os jovens. Recentemente, nas catequeses de quarta-feira, afirmei que a aliança entre as gerações, ou seja, entre os mais velhos e os mais novos, é o que pode salvar a humanidade, porque desta forma se preserva a identidade pessoal e familiar”.
Maria cuida especialmente dos mais pobres
O Papa disse pensar no modelo que nos é oferecido pela Sagrada Família, e especialmente pela Virgem Maria, que cuida com um amor terno e comprometido de todos os seus filhos e filhas, especialmente os mais pobres, no corpo e no espírito.
No belo hino do Magnificat, continuou o Pontífice, Maria confessa as proezas do Senhor, que "derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias".
Francisco ressaltou a grande espiritualidade mariana que caracteriza a comunidade dos padres de Schönstatt:
A Bem-aventurada Virgem Maria, venerada com grande amor por cada um dos membros da comunidade Schönstatt sob o título da "Mãe Três Vezes Admirável", é um modelo basilar para todos, que impulsiona a construir pontes baseadas na caridade fraterna e na comunhão de bens com os mais necessitados, ao mesmo tempo em que nos dá sabedoria e coragem para sair ao encontro daqueles que se afastaram da amizade com o Senhor, para recuperá-los com o testemunho da nova vida em Cristo, que se caracteriza pela misericórdia.
Francisco concluiu exortando-os a prosseguir em seus apostolados, renovando-se sempre com a graça do Espírito Santo e tendo a coragem de abrir novos caminhos a serviço das famílias, para fazer resplandecer a beleza da Aliança estabelecida entre Deus e o homem, com a espiritualidade e a vivência dos valores cristãos.
O 1° de setembro marca uma data especial instituída pelo Papa Francisco em 2015 para coincidir com a data análoga da Igreja Ortodoxa, como o Pontífice lembrou em tuíte:
“Hoje celebramos o Dia Mundial de Oração pela Criação e o início do #TempodaCriação, que terminará em 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis.”
Na Audiência Geral desta quarta-feira (31), o Papa Francisco lembrou como é importante mudar o estilo de vida individual, parando com "os excessos consumistas" que acabam gerando abusos e destruição da natureza. Na sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, o Pontífice alertou sobre o único caminho possível para mudar a situação que vivemos de crise ambiental que é se arrepender e buscar novos estilos de vida no dia a dia, além de mudar os modelos de consumo e produção através do compromisso conjunto dos países.
Para a celebração da data e o início do tempo ecumênico de "conversão ecológica", Francisco divulgou uma mensagem ainda em julho em que pede para ouvirmos a "voz da criação". Um compromisso para todos os cristãos de diferentes Igrejas que estarão unidos em oração, reflexão e ações concretas por pouco mais de um mês, até outubro deste ano.
Igrejas, dioceses e paróquias em várias partes do mundo estão mobilizadas. A partir do Vaticano, acontece um evento ecumênico de abertura do Tempo da Criação nesta quinta-feira (01), organizado pelo Movimento Laudato si', com a participação, entre outros, da Irmã Alessandra Smerilli, secretária do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral. A iniciativa será transmitida ao vivo, via streaming, pelo canal do Vatican News no Youtube a partir das 15h na Itália, 10h no horário Brasília.
Nesta sexta-feira (2), acontece a oitava edição do "Cortile de Francisco", na cidade italiana de Assis, com o tema: "Eternidade e o tempo presente". Entre os participantes, estará o cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, e o cardeal Angelo Scola, arcebispo emérito de Milão.
Andressa Collet